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21 de maio de 2017

O CAMINHO EM RETIRADA DA LAGUNA - 09 - MARCHAS E COMBATES 28, 29, DE MAIO 1867

CAPITULO XVIII

AS FORÇAS EM OPERAÇÕES NO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO

No Acampamento à margem  esquerda do Rio Miranda: mortes Camisão, Juvencio, mulheres, colericos, afogados. As laranjas, cabo Calixto, fazenda Jardim. A enchente do Miranda.  A missão do Capitão Rufino. Major Gonçalves, o novo comandante. 
Dias 28, 29 de maio 1867
O falecimento do Comandante Coronel Camisão



Parte I

O Comando das Forças em transição, até o falecimento dos Comandantes Camisão e do Sub comandante Juvêncio


1- Às vistas entre o Rio Miranda e a Estância do Jardim, o rio não permite passagem



A nossa posição parecia daí em diante desesperada.

Os paraguaios, de observação em torno de nós, dir-se-ia, como o declarou o El Semanario de Assunção, anexo a esta narração, que gozavam tranquilamente do espetáculo do nosso aniquilamento pela moléstia e pela fome. 
 A Cavalaria Paraguaia acompanhando o movimento das Forças Brasileiras. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Tínhamos com efeito diante de nós caudaloso rio a transbordar[1], o qual cortava-nos a única via de salvação. 

A estação de abril a setembro não é a das chuvas, mas, como se a própria natureza se ligasse contra nós, os aguaceiros desde o dia 13 de maio tinham sido tais que o Miranda crescera de modo assustador, bramindo e espumando nas raízes descobertas das árvores da margem e não dava esperança de se lhe poder descobrir um vau senão muitos dias depois. Entretanto, era o único meio que a coluna tinha para passar. 

Não podíamos pensar em construir uma ponte quando mal tínhamos gente suficiente para o serviço das guardas; gente aliás muito capaz ainda de ardor e de energia em um combate, mas não em um trabalho manual contínuo, qual requer uma construção material.
Passagem no Passo do Rio Miranda por onde passava a estrada entre Nioaque e Bela Vista até 1938. Acesso entre o local das sepulturas e a Fazenda Jardim. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Estávamos, pois, sob os olhos dos paraguaios, conforme uma expressão desses domadores de animais, “como gado encurralado e destinado ao corte”.

A despeito, todavia do aspecto ameaçador da torrente, alguns ousados nadadores, compelidos pela fome, lançaram-se no rio e contra tudo quanto era dado esperar. Depois de muito esforço, alcançaram a outra margem e não descobriram aí vestígios do inimigo.
Rio Miranda com nível do leito acima do normal, nas imediações entre as atais cidades de Jardim e Guia Lopes da Laguna, pouco acima da antiga estrada e passo que ligava Nioaque a Bela Vista. 2005. Imagem José Vicente Dalmolin

O que acharam foi a tranquila morada do nosso valoroso guia, encravada em grande e formosa plantação de laranjeiras, realização tão agradável quanto completa das promessas do velho e de todas as magnificências que nos referira do seu pomar.
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Notas de Referências:
[1] NE – O Rio Miranda.
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2- Aventurando-se pelo caudaloso rio e chegando a Estância do Jardim

Para logo um dos nossos que primeiro explorou esse lugar de promissão e que pensando nos companheiros de infortúnio teve a audácia e o mérito de atravessar de novo o caudal sem demora, veio com uma narração animada de quanto tínhamos diante de nós, inflamar aqueles que haviam conservado algum vigor de iniciativa e como a ausência já demasiado sensível do chefe deixava a todos tal ou qual liberdade, correram muitos confusamente para a beira do rio afim de procurarem passar. 

Muitos o tentaram, os mais fracos ou os mais infelizes, traídos pelas próprias forças, desapareceram no torvelinho[2]. Outros, em maior número, tornaram à margem donde tinham saído e contemplando daí os felizes ocupantes da margem oposta, ficaram com isso como tomados de desesperação que deu quase o derradeiro golpe nos últimos restos de disciplina que sobrevivera a tantos desastres.

Movimento das águas do Rio Miranda sobre fortes chuvas. Local entre as duas pontes de acesso aos atuais municípios de Guia Lopes da Laguna e Jardim. No fundo da imagem a primeira ponte construída em 1938 que substituiu o antigo passo, que era por dentro do leito do rio, acesso entre aa Fazenda Jardim (margem direita) e as sepulturas (margem esquerda). Imagem José Vicente Dalmolin, 2005.
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Notas de Referências:
[2] NE – Espécie de redemoinho na correnteza das águas do rio principalmente quando está acima do nível normal. Movimento em rotação na forma espiralada das águas.
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3- O Coronel Camisão, enfraquecido, mas sempre comandante

O comandante, no próprio couro em que estava estendido quase agonizante, dava ainda ordens, umas, é certo, incoerentes e inexequíveis, mas outras lúcidas e práticas. Ordenou que o Corpo de Caçadores[3] Desmontados, o único que não estava ainda inquinado de desorganização, passasse o rio o mais depressa que pudesse e indo guarnecer a outra margem, impedisse que o pomar fosse saqueado, até que ele próprio já pudesse apresentar-se dissera, e proceder a justa distribuição de quanto ali se achava.
O Coronel Camisão, mesmo enfermo, ainda procurava comanda as ações das Forças acampadas a margem esquerda do Miranda. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.
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Notas de Referências:
[3] NE – Nesta ocasião o Corpo de Caçadores a Cavalo, agora à pé, pois já não mais havia montarias, era comandado pelo então Capitão Pedro José Rufino.
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4- A missão do Capitão Rufino e do Corpo de Caçadores

Conforme esta prudente determinação, o capitão José Rufino teve de fazer passar a sua gente reunida. Pensou a princípio em construir uma jangada, mas os materiais e ainda mais os operários faltavam. A impaciência apoderou-se dele. Podia contar com toda a sua gente, afeita aos seus hábitos de austera disciplina e que não sabia outra cousa mais que obedecer-lhe.
Capitão Pedro José Rufino. Teatro ao ar livre, campos da Fazenda Jardim. José Vicente Dalmolin, 2016. 12º Jornada Cívica Cultural da Retirada da Laguna.

Viu-a porfiar entre si para facilitar a passagem dos seus oficiais e ele próprio foi o primeiro a meter-se dentro de um couro levantado e preso pelas quatro pontas em forma de saco, o que chama-se ali pelota[4], e que um nadador puxa por meio de uma corda que prende entre dentes. Pôs-se destarte à frente de toda essa massa tumultuosa de homens. Nós não os perdíamos de vista. Quando estavam no meio da torrente, ainda os ouvíamos, entre o marulho das águas, acoroçoarem-se[5] uns aos outros.
Transposição do rio Miranda, demonstração efetuada pela marcha cívico cultural, Retirada da Laguna, em julho de 1999, empregando uma Pelota feita de couro de boi, na qual foram transportadas laranjas. Dessa forma reviveu-se o episódio das laranjas, cujo consumo, permitiu a cura dos doentes coléricos.

Houve, ao que nos pareceu então, um momento de luta e de hesitação que fez-nos tremer por eles, mas reapareceram logo, dirigindo-se para a outra margem, posto que com grande desvio.

Vimo-los afinal chegar a salvo ao porto da fazenda, era uma consolação e uma esperança.
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Notas de Referências:
[4] NE – "Pelota é uma pequena embarcação, como um bote, feita de couro, que foi utilizada para a travessia de arroios ou navegação de pequenos cursos d'agua. Nela transportavam-se utensílios e mercadorias . Raramente continha alguma pessoa no seu interior e era guiada por uma corda que poderia estar tracionada por seu condutor que seguia a nado fora dela , ou alguém na outra margem. A pelota é de origem marroquina e foi levada para o Brasil pelos espanhóis, tendo-se difundido entre os indígenas". Este meio de transporte foi largamente empregado pelas Forças Em peração no Sul da Província de Mato Gosso, conforme deixou registrado o autor no Livro a Retirada da Laguna. Adaptado de (https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelota) 2016.
[5] NE – Animar; encorajar.

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5- Os enfermos coléricos 

O cólera entretanto, longe de diminuir, atacava-nos com violência nova. O número dos doentes continua em aumento e receávamos que quando o rio baixasse a ponto de tornar-se vadeável, não tivéssemos remédio senão abandonar segundo grupo de moribundos à mercê de um inimigo implacável. Só o pensar nisso causava-nos a angústia de um pesadelo. 

Todo o corpo de artilharia acabava de desaparecer.

Depois dos mais fracos que foram os primeiros a sucumbir, tocava agora pelo contrário a vez aos mais vigorosos. Eram-nos arrebatados como para se acabar com a arma que nos salvara, nada, entretanto que pudesse pô-los em condições mais propícias para evitarem ou combaterem a enfermidade, fora esquecido pelos seus chefes.

O tenente Nobre de Gusmão dava contínuo exemplo de dedicação para com os doentes e os soldados, imitando-o, tinham tomado o hábito de cuidados mútuos ignorados pelos outros corpos.
Os enfermos contaminados pelo vibrio cholerae, o cholera morbus, ainda muito padecem no acampamento à margem do rio Miranda. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Tal era o estado cada vez mais deplorável em que veio achar-nos o dia 28 de maio. Íamos de tempos em tempos examinar o nível da água para vermos se baixava, visto que essa era a nossa única via de salvação. Nada tínhamos que comer e mal podíamos obter a peso de ouro algumas laranjas que os nadadores mais intrépidos traziam com largos intervalos. 

Este foi, de resto, o único alívio a que não pareceram insensíveis o coronel Camisão e o tenente-coronel Juvêncio, na sede de agonizantes que a água simples ainda mais irritava.

6- A angústia pela enchente do Miranda e os afogamentos

O ajuntamento à beira do rio era cada vez mais considerável depois da passagem do corpo de caçadores. Todos os movimentos dele na outra margem eram acompanhados com a vista e comentados e a espaços um ou outro lançava-se a nado ou arriscava-se em um couro para procurar reunir-se lhe, apesar das ordens já dadas. 

A morte de vários soldados que ainda se afogaram, tinha já mostrado a necessidade de maior rigor nessa proibição. Mas nem proibições nem considerações foram capazes de deter um capitão do Batalhão Nº. 20º que se meteu todo vestido dentro de uma pelota puxada por dois nadadores, supunha poder contar com eles, mas no meio do rio, tendo-lhes faltado as forças, entregaram-no a correnteza das águas. Vimo-lo envidar muitos esforços para conservar-se na superfície da água, depois ir a pique e desaparecer pouco a pouco com gritos de desesperação aos quais, em falta de socorro, uniam-se os da multidão reunida no lugar donde saíra.

Pouco depois um nadador que vinha da margem oposta disse que quase morrera com a força da corrente que parecia irresistível no centro, fazendo-nos perder assim a esperança que nos trouxera súbito abaixamento das águas. Tornamos a convencer-nos de que não haveria tão cedo vau praticável e o desânimo dos soldados não teve mais limite.

O receio porém era infundado. Pois é condição comum a todas as correntes de água, depois de terem sido demoradas nos transbordamentos pela própria expansão, adquirirem na ocasião em que tornam aos seus leitos, adquirem velocidade ainda maior, posto que efêmera e continuando a diminuir se não renovarem as chuvas, serem dentro em pouco restituídas a sua velocidade ordinária.

7- Acomodando-se no acampamento improvisado

Entretanto e por causa diversa da afluência dos soldados para a beira d'agua, margem do rio, gradativamente o nosso acampamento estava ficando deserto. 

Os doentes em busca de lugar fresco, tinham transposto algumas braças de um pântano que cercava-nos o campo e indo por si mesmos acomodar-se adiante, em um bosque bastante copado, aos lados de uma estrada aberta, que era a da Colônia de Miranda.
Nos acampamentos improvisados, à margem do Rio Miranda. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Os amigos e parentes que haviam-nos acompanhado todos agasalhavam-se ai como se estivessem em casa. Vários soldados tinham-se já metido pelo mato atrás de alguma caça e ouviam-se lhes os tiros que disparavam ao longe. 

Pareceu-nos a princípio que era o inimigo, mas não sabíamos já o que fosse feito dele. 

Desaparecera ou para nos preceder na outra margem, descobrindo alguma passagem ou para preservarem-se do contato da epidemia que arrastávamos conosco.

8- A morte de mulheres 

Nesse mesmo dia 28 de maio morreram algumas mulheres, mais abandonadas ainda do que os outros doentes, mais privadas de socorros e em razão da sua natural fraqueza mais assinaladas com o selo da última miséria.
Mulheres ainda padecem no acampamento à margem do Miranda. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo

9- A ausência de Comando

A autoridade entre nós quase não existia.

Fora desde o começo muito incerta nas mãos do coronel Camisão, enquanto tivera iniciativa a tomar e alternativas entre as quais escolher, tornara-se é certo, mais firme quando tínhamos apenas revezes a suportar. Afinal elevara se porventura até ao heroísmo, quando com uma abnegação cujo esforço custou-lhe certamente a vida, abandonou os seus doentes para salvar o corpo de exército. Tendo-o o cólera atacado, tudo caminhara depois ao acaso. Reconhecia-se que novo chefe era indispensável.
O Coronel Camisão já não tinha mais saúde e forças para comandar. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

10- As despedidas do Comandante Coronel Carlos de Moraes Camisão, dia 29 de maio, aos 46 anos de idade *1821+1867

No dia 29 de maio tornou-se evidente que o coronel morreria. 

O sofrimento tinha por várias vezes dominado essa dignidade que ele tanto zelara!

Dizia:

__ “Já que dizem que a água é mortal, deem-me! 

__ “Quero morrer”! 

Caiu em um estado de torpor e de sonolência!

O corpo cobriu-se lhe de manchas roxas!
O Coronel Camisão em sonolência à caminho do desenlace físico. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

As sete horas e meia fez um esforço supremo. Levantou-se do couro em que estava deitado, apoiou-se no capitão Lago e perguntou-lhe onde estava a coluna, repetiu ainda que a salvara. 

Depois, voltando os olhos já vidrados para o seu camarada:
O Camarada Salvador pegando a espado do Comandante. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

__ “Salvador[6], disse com voz de comando, dá-me a minha espada e o meu revolver”.

__ “Tentou afivelar o talim e nessa mesma ocasião, deixou-se cair no chão, murmurando:
O comandante Camisão segurando a sua espada. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

__ “Mandem seguir as Forças, eu vou descansar”. 

__ Il rendait l'âme! E entregou a Alma!
O Comandante Carlos Moraes Camisão, efetivamente, deixa o Comando das Forças em Operações no Sul da Província de Mato Grosso – 1º de Janeiro à 29 de maio de 1867. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.
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Notas de Referências:
[6] NE – Muitos dos oficiais, entre eles o próprio Alfredo Taunay, tinham uma pessoa que lhes servia em suas atividades, afazares, dando apoio, carregando e cuidando dos seus pertences. Entre as denominações dadas encontramos como “camaradas”, “empregados dos oficiais”. O “Salvador” citado pelo autor Taunay, era um desde que atendia ao Coronel Camisão.

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11- As despedidas do Subcomandante Tenente-Coronel Juvêncio Manoel Cabral de Menezes aos 46 anos de idade, 29 de maio *1821+1867

A alguns passos, em uma barraca aberta a todos os ventos, estava o tenente-coronel Juvêncio. Cobrara alguma voz e saía da horrível tortura das câimbras, mas queixava-se de violenta dor no fígado. O tenente Catão, a quem ajudávamos como podíamos, fazia-lhe continuamente aplicações novas, sem aliviá-lo. Os nossos nomes estavam-lhe constantemente nos lábios para nos recomendar a família. Ao meio dia sossegou, caiu em uma letargia entrecortada de estremecimentos e expirou às três horas, depois de nos entregar para a mulher e para os filhos um saco de couro que continha algumas economias da campanha.

12- O sepultamento dos comandantes

O coronel foi enterrado em uma cova que se tinha aberto debaixo de uma alentada árvore no meio do mato, com o seu uniforme e as suas insígnias e em outra cova logo à direita foi o corpo do Tenente-Coronel Juvêncio colocado pelos seus colegas da comissão de engenheiros e por alguns oficiais do Corpo de Artilharia.
Sepultamento do Coronel Camisão. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Teremos sempre presente essa lúgubre cerimônia que ainda tornava mais merencória a escuridão do bosque e da noite. Eram quase sete horas quando de lá voltamos. Os desgraçados chefes repousam[7] na margem esquerda do rio Miranda a pouca distância da entrada da mata na altura em que está, na margem direita, a Estância do Jardim.
Oficial prestando continência, nas despedidas aos comandantes. Imagem captada do Filme Alma do Brasil, 1932 – Retirada da Laguna. Direção: Líbero Luxardo.

Se os seus túmulos[8] não forem profanados, devemos esperar que um dia uma cruz de matéria duradoura com uma inscrição indique à memória o chão que recebeu essas nobres vítimas do dever[9].

Entretanto providências avisadamente combinadas seguiram de perto a morte do comandante da expedição.
A Catacumba atual, 2015, Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, onde estiveram os restos Mortais dos dois comandantes, Camisão e Juvêncio até o ano de 1940. 
O Coronel Camisão
“O Coronel Camisão é a figura curiosa de soldado que, na campanha de Mato Grosso, resgatou a preço de dedicação e nobreza, o erro que lhe atribuíram. Ele está em atitude meditativa ao mesmo tempo que prova possuir uma grande força d'alma. Com uma das mãos empunha a espada, com a outra, o mapa. Na atitude e no gesto, denota uma grande força de espirito, própria de grande chefe, que sem soçobrar diante da terrível difamação que lhe assacaram, maquina investir o território inimigo quaisquer que fossem as consequências”. Epopeia de Mato Grosso, no Bronze da História. Capitão Cordolino de Azevedo. 1926.

Atualmente os restos mortais do Coronel Camisão, assim como Juvêncio e outros encontram em criptas dentro do Monumento aos Herois da Laguna e Dourados, Praça General Tibúrcio, Rio de Janeiro desde o ano de 1941. Imagens do Livro Menomento Histórico do Cemitério dos Herois da Laguna, Imagem José Vicente Dalmolin e Edmilson Lima de Souza, 2017.
Tenente-Coronel Juvêncio Manoel Cabral de Menezes
Artista plástica Regina Célia Piovezan de Oliveira Gayoso

4ª Companhia de Engenharia e Combate Mecanizada de Jardim – MS.
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Notas de Referências:
[7] NE – Os restos mortais do Guia Lopes, Coronel Camisão, TC Juvenvio ficaram sepultados neste local, atualmente conhecido como “Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna” entre 1867 até 1940. A partir desta data foram transferidos para a Praça General Tibúrcio, Monumento aos Heróis da Laguna e Dourados, Rio de Janeiro.
[8] NE – Em tempos modernos nascem dois Monumentos: Monumento Históricos aos Heróis da Laguna e Dourados, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro e o Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, Jardim, Mato Grosso do Sul.
[9] NE – Estevão de Mendonça - Datas Matogrossenses - I Volume 2ª Edição 1973 P. 259. Livro Heroes Esquecidos - Fazendo O Itinerário da Retirada da Laguna - General Alfredo Malan, 1926 - Original da Biblioteca Gen. Tasso Fragoso, Vol. 376. Visconde de Taunay Dias de Guerra e de Sertão, editora comp. melhoramentos de S. Paulo (weiszflog irmãos incorporada) São Paulo • cayeiras • setembro de 1927. Affonso de E. Taunay. pag 141. Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, Edmilson Lima de Souza e José Vicente Dalmolin. Registram os documentos:, ler no final do Capítulo
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Parte II
Assume o Comando dos sobreviventes das Forças em Operações no Sul da Província de Mato Grosso

13- A escolha do novo Comandante, o Major José Thomaz Gonçalves, 29 de maio 1867

Cumpria que uma rivalidade que poderia surgir não conservasse a autoridade por muito tempo flutuante[10]. A questão dos postos de comissão fora, é certo, prejulgada por dois avisos do Ministério da Guerra[11], datados do ano anterior. O governo neles declarara não ter aprovado que o Tenente-Coronel de Comissão Enéas Galvão, que era apenas tenente no quadro do exército, tivesse sob suas ordens, como comandante interino de uma brigada, oficiais mais antigos que ele e até capitães. O posto efetivo na 1ª linha era pois evidentemente uma condição de preferência e o mais antigo capitão de toda a coluna em expedição era José Thomas Gonçalves, demais a mais major de comissão, assim, parecia ser o único que devia nos termos das instruções ministeriais, suceder ao tenente-coronel Juvêncio, substituto natural do comandante em chefe, mas que já não existia também.

Para prevenir qualquer dissidência na eleição, os tenentes Napoleão e Marques, por pedido de todos, foram ter com o tenente-coronel de comissão Enéas[12] e convenceram-no da conveniência que havia, nas nossas circunstâncias afim de arredar todas as delongas, em que ele alegasse moléstia, em virtude da qual passasse a outrem momentaneamente o comando do seu batalhão.

A facilidade que mostrou em sacrificar pretensões pelo menos especiosas que teriam podido criar embaraços, conquistou-lhe os elogios de todos os seus companheiros de armas.

Ao meio dia reuniu-se o conselho dos comandantes[13], o Major José Thomas Gonçalves, sem o menor preâmbulo para firmar o seu direito e com esse tom de confiança que subjuga, com esse aspecto de superioridade reconhecida a que se prestava a sua fisionomia animada e inteligente, anunciou a morte do coronel Camisão e a do tenente-coronel Juvêncio seu imediato designado, do que resultava para ele, José Thomaz Gonçalves, autorização de assumir o comando, como oficial mais antigo em posto. Nada lhe foi objetado. Foi então apresentada a participação de moléstia do tenente-coronel de comissão Enéas, assim como a da entrega do comando do seu corpo ao seu imediato, o major de comissão José Maria Borges.

Esta sucessão no poder, regulada pela razão e pelo direito e habilmente subtraída ao jogo das paixões que podiam despertar-se, teve inteira sanção na aprovação de todo o corpo de exército.
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Notas de Referências:
[10] NT - Pelos documentos publicados em outra parte deste livro ter-se-ia visto que o desejo patriótico do autor foi realizado pelo mesmo ministro que, tendo já mandado verter para o idioma nacional esta obra, quis assim perpetuar duplamente a memória destes homens e destes feitos, lustre e honra da pátria. (Do tradutor.)
[11] NE – Ler em anexo o parecer do Ministério da Guerra de 23 de Novembro de 1866. 
[12] Antônio Enéas Gustavo Galvão. Foi comandante do Batalhão Nº 17º de Voluntários da Pátria. Ler o documento em Anexo sobre seus questionamentos a este fato, expedido à Margem esquerda do Rio Aquidauana, 12 de Junho de 1867.
[13] NE – Ler em anexo a ata de Conselho dos comandantes dos Corpos de 29 de maio de 1867 sobre esta reunião e escolha do novo comandante.
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14- O novo comandante, em comando das Forças em Operação no Sul da Província de Mato Grosso

O rio Miranda, entretanto, baixara e oferecia já um vau continuo, posto que ainda dificílimo em razão da rapidez das águas. O novo comandante lembrou-se de garantir a comunicação de uma margem para a outra por meio de um cabo fortemente atado às árvores de ambas as margens.

15- As laranjas terapêuticas

Apenas estabeleceu-se esse vaivém, as laranjas chegaram-nos copiosamente. A abundância delas produziu o primeiro e benéfico efeito de distender estômagos havia muito tempo vastos, pois eram às vezes devoradas com casca e tudo, tal era a fome e sede ardente que nos acabrunhavam. A sua maturidade e doçura convidavam além disso ao abuso pelo que o princípio medicinal, que reside na essência da fruta obrou mais eficazmente: a epidemia diminuiu e quase cessou. 

Dever-se-á enxergar nisto mera coincidência? 

Mas isso mais ou menos fora-nos anunciado por Lopes e é certo que vimos coléricos, a mor parte dos quais sararam, levar largas horas a devorar montes de laranjas de que mal deixavam alguns restos.
Imagem do transporte de laranjas em Pelotas da Fazenda Jardim, do Guia Lopes, margem direita, (Guia Lopes da Laguna-MS.) para os enfermos que se encontravam no acampamento estacionado na margem esquerda do Miranda, (Jardim-MS). Evento da 10ª Marcha da Retirada da Laguna, 2014. Imagem José Vicente Dalmolin

16- Cabo Calixto de Andrade Medeiros, o colérico abandonado e salvo da morte, 30 de maio, surge no acampamento

Ainda nesse dia vimos chegar ao acampamento, quase nu e semelhante a um cadáver[14], um dos míseros abandonados no dia 26 de maio, que encontrando no próprio excesso de terror o resto de força vital que o salvou, viera à noite arrastando-se em nosso encalço pelos mais espessos cerrados. Entretanto nem sempre conseguira evitar os paraguaios, mas estes, vendo o estado em que o pusera a enfermidade, extenuado demais a mais de fome e de sede contentavam-se, para divertirem-se, com espancá-lo e como ele pedia-lhes que o não matassem:

__ “Nós não matamos cadáveres! Respondiam-lhe: quem nós queremos é o teu comandante”! 

E atiravam o infeliz ao chão com o golpe das lanças. Assim foi restituído à nossa expedição, depois de sofrimentos a que poucos organismos poderiam resistir.
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Notas de Referências:
[14] NE - O único sobrevivente daquela chacina praticada pela Cavalaria Paraguaia foi o Cabo Calixto que mais tarde descreveu aquela tragédia. Quanto as narrativas aqui posta pelo autor do Livro A Retirada da Laguna, Alfredo Taunay, há pontos de divergência, conforme uma reportagem, entrevista realizada com Calixto na cidade de Estrela do Sul, Agosto de 1919, por Godofredo Rangel.

E publicada na Revista do Brasil, n. 55, Julho de 1920 - S. Paulo.) e republicado por Lobo Viana no Livro A Epopeia da Laguna publicado em 1938. O qual reproduzirei também nos anexos.
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Parte III
Transcrição de documentos[15] referentes a construção dos túmulos do Coronel Camisão, Juvencio e Guia Lopes em 1874 e a sucessão do comando do Coronel Carlos de Moraes Camisão para o Major de Comissão José Thomaz Gonçalves, 29 de maio 1867

Documento Nº 32 - sobre a ordem para a construção do pequeno monumento aos comandantes

Alfredo Taunay, “como official de gabinete do ministro da Guerra, Conselheiro João José de Oliveira Junqueira, consegui a ordem de se erigir, um monumento, modesto embora a memoria daqueles dous officiaes Carlos Moraes Camisão e Juvêncio Cabral de Meneses, no lugar em que haviam sido sepultados.

A Commissão de limite entre Brasil e Paraguay deu cumprimento as ordens expedidas, conforme se vê no seguinte documento que aqui deixo transcripto na integra:

N. 440 – Commissão de limites entre Brasil e Paraguay, 
Assumpção 31 de outubro de 1874 – 

Ilmo. e Exmo. Snr. – 

O monumento a memoria dos benemeritos commandantes e imediato das forças brasileiras que operaram no Sul de Matto-Grosso, acha-se levantado a margem esquerda do Rio Miranda, junto ao passo do Jardim, no alto de uma collina e a 16 legoas do passo de Bella Vista, no Apa.

É de Marmore e a sua base de pedra e cal.

A lapide, que está assentada em plano inclinado, sobre quatro peças também de marmore, olha para a estrada da retirada das forças que passa a 50 metros a distancia. 

Contem a seguinte inscrição:


A MEMORIA DOS BENEMERITOS CORONEL

CARLOS DE MORAES CAMISÃO

E TENENTE-CORONEL

JUVENCIO MANUEL CABRAL DE MENEZES,

COMMANDANTE E IMMEDIATO DAS FORÇAS EM OPERAÇÕES

AO SUL DESTA PROVINCIA,

FALLECIDOS NO DIA 29 DE MAIO DE 1867,

NA MEMORAVEL RETIRADA DAS MESMAS FORÇAS.

O GOVERNO IMPERIAL MANDOU ERIGIR ESTE MONUMENTO 1874.

As sepulturas estavam intactas e não tinham sido abertas como me informaram e foram reconhecidas pelo sobrinho do fallecido pratico José Francisco Lopes, Gabriel Lopes, que morava actualmente na fazenda do Jardim e acompanhou as forças.

O monumento está dividido interiormente em dous compartimentos, contendo um os restos do commandante e o outro do immediato. Assignala este compartimento um afresco dentro do qual se acha um castello de metal dourado, que mandei collocar ao lado dos ossos, como distinctivo da corporação a que pertenceu o ilustre finado.

No outro compartimento mandei collocar uma granada de calibre 4. La Hitte, que ahi encontrei como distinctivo da arma do distinto commandante das forças.

Ao lado do monumento, mandei fazer uma sepultura de pedra e cal e nella foram depositados os restos do destemido pratico das forças, José Francisco Lopes, conforme os desejos da sua viuva.

Entre os dois jazidos fiz construir outro e nelle encerrar ao ossos que se achavam espalhados de outros bravo alli falecidos.

Mandei cercar as sepulturas com mourões e levantar no vertice da construcção uma grande cruz de madeira de lei.

Este pequeno cemiterio assignala, pois esse remoto lugar, onde succumbiram tantos valentes defensores da Patria.

Deus Guarde a V. Excia.

Ilmo. E Exmo. Snr. Conselheiro João José de Oliveira Junqueira.
Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Guerra.

O Coronel Rufino Enéas Gustavo Galvão”,
(Visconde de Maracaju) 
______________

Documentos nº 33 sobre o parecer do Ministério da Guerra 

1ª Diretoria Central 
1ª Seção Rio de Janeiro.

Ministério da Guerra, em 12 de Junho de 1866. 

Em resposta ao ofício que V. Sª me dirigiu em data de 2 de Janeiro último, sob n. 35, comunicando haver criado uma segunda Brigada nas Forças sob seu comando, declaro a V. S,ª as razões alegadas em seu dito ofício não podendo justificar aquela criação por quanto foi esta fundada em bases hipotéticas, nem as Forças por seu número constituir uma Divisão. 

Entretanto, se as Forças de seu comando se reunirem outras de Mato Grosso, conforme lhe declara o respectivo Presidente, fica V. S.ª autorizado para nessa hipótese criar a Divisão composta de duas Brigadas, devendo estas ser em todo caso Comandados por oficiais do Exército ou de 1ª linha de patentes superior e não por oficiais de comissão ainda que sejam do Exército, salvo se, como oficiais do Exército, porém, de patente superior as outras. 

Deus Guarde a V. S.ª

Angelo Muniz da Silva Ferraz 

Sr. José Antonio da Fonseca Galvão.

Conforme. 
O Alferes Francisco Amaro de Moura,
Secretário Militar
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Documento nº 34 - Ata da reunião dos Comandantes dos Corpos oficializando o nome do novo Comandante, Major José Thomaz Gonçalves

Ata da reunião dos comandantes de corpos e os assistentes do ajudante e quartel mestre general, junto ao comando das Forças, para deliberarem sobre as determinações a tomar em vista do falecimento do coronel Carlos de Moraes Camisão e do melindroso estado de saúde de seu sucessor no comando das mesmas Forças 

Aos vinte e nove dias do Mês de Maio do Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e sessenta e sete, no Acampamento das Forças em Operações no Sul da Província de Mato Grosso, junto à margem esquerda do Rio Miranda, havendo-se reunido os Comandantes dos diversos Corpos componentes das mesmas Forças, e os Assistentes do Ajudante e Quartel Mestre General junto ao Quartel do Comando, com o fim de deliberarem sobre as determinações a tomar em relação as dificuldades em que se achavam as precipitadas Forças em consequência do falecimento do Ilustríssimo Senhor Carlos de Moraes Camisão e do melindroso estado de saúde do seu sucessor no Comando das mesmas, atestado pelos dois facultativos da Junta Médica, o Ilustríssimo Senhor Tenente Coronel Juvêncio Manoel Cabral de Menezes, dificuldades agravadas pela epidemia que grassa horrorosamente nas fileiras de oficiais e soldados, obrigando a muitos destes a deserção por ocasião de uma retirada em extremo dificultosa pelo mau caminho que tomamos, supondo-o mais curto e de mais recursos, resolveram os mesmos Comandantes e Assistentes que assumisse interinamente o Comando das Forças o Major de Comissão José Thomaz Gonçalves, por assim lhe competir por direito de antiguidade, havendo previamente dado parte de doente o Ilustríssimo Senhor Tenente Coronel de Comissão Antônio Enéas Gustavo Galvão, o qual passou o comando do Batalhão número dezessete de Voluntários da Pátria ao Major de Comissão José Maria Borges. 

Nessa ocasião os mesmos Comandantes de Corpos e Assistentes, impelidos pela dura e imperiosa necessidade em lançar mão para sustento da Força, dos bois que conduzem a Artilharia e mesmo com o intento em deduzir a imensa bagagem, a qual impossibilita a continuação da Retirada sobre Nioac, resolveram inutilizar duas bocas de fogo, dois armões, dois carros manchegos, uma galera e uma forja de campanha, afim de levar o pessoal cada vez mais dizimado pelo Cholera Morbus e deserções, ainda quando com prejuízo de todo o material que acompanha presentemente esta expedição.

E para constar se lavrou a presente ata, a qual vai assignada por todos os Comandantes de Corpos e dos respectivos Assistentes e por mim foi escrita e registrada.

Assignados:

Antonio Enéas Gustavo Galvão, Tenente Coronel em Comissão, Comandante do Batalhão número dezessete de Voluntários.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão. 

João Thomaz de Cantaria, Major de Comissão. 

Pedro José Rufino, Capitão Comandante interino do Primeiro Corpo de Caçadores a Cavalo. 

Joaquim Ferreira de Paiva, Capitão Comandante interino do Batalhão nº 20º. 

Bacharel Antonio Florencio Pereira do Lago, Capitão Assistente do Ajudante General. 

Bacharel José Eduardo Barbosa, 1º Tenente de Engenheiros, Assistente do Quartel Mestre General. 

Amaro Francisco de Moura, Alferes de Comissão, Secretário Militar.

2.º Tente. Bel. Alfredo d'Escragnolle Taunay.
Secretario Militar.
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Documento nº 35 - onde o Tenente-Coronel Eneas Galvão registra suas justificativas quanto a abdicação do Comado das Forças e do Batalhão de Infantaria nº 17º dos Voluntários da Pátria

Ofício dirigido ao Presidente da Província de Mato Grosso, Dr. José Vieira Couto de Magalhães, pelo Tenente Coronel em Comissão Antonio Enéas Gustavo Galvão

Ilmo. Exmo. Sr. Dr. José Vieira elo Couto Magalhães. 

Já deve V. Exc.ª pela correspondência oficial estar a par da nossa Retirada do Forte de Bella Vista e das ocorrências havidas durante ela. 

Limitar-me-ei a apresentar a V. Exc.ª. algumas considerações que me forçaram a seguir para a Côrte afim de apresentar-me ao Exmo. Sr. Ministro da Guerra.

Falecendo no dia 29 do mês próximo passado o Exmo. Sr. Coronel Camisão Comandante destas Forças, e no mesmo dia o seu imediato o Sr. Tenente Coronel de Engenheiros Juvêncio Manoel Cabral de Menezes, tinha de recair o Comando em mim, porém, sabendo que o Major de Comissão José Thomaz Gonçalves, Comandante interino do Batalhão nº 21º de Infantaria, que é Capitão de Linha, quisera que não se sujeitava ao meu comando (não obstante já ter sido meu comandado como Capitão mandante do mesmo Batalhão quando eu Comandante da 1ª Brigada,) por ter, segundo dizia o referido Major, um Aviso do Ministério da Guerra, em que declarava não poder eu comandar Brigada na qualidade de Tenente Coronel de Comissão, devendo em consequência recair nele o mencionado comando, e não desejando que em circunstâncias tão graves aparecesse rivalidade alguma motivada pelo Comando a que nenhum de nós ainda temos direito, entendi dever dar parte de doente, sendo no dia seguinte publicado pelo referido Major em sua Ordem do dia, o Aviso do Ministério da Guerra de 11 de Junho de 1866, o qual o falecido Exmo. Comandante das Forças nunca tinha mandado publicar.

Não entro na apreciação do mencionado Aviso, apenas exponho a V. Exc.ª. que tendo eu de dar parte de pronto, deveria assumir o Comando de meu Batalhão, neste caso reaparecia a questão, visto que como Tenente Coronel em Comissão não poderá sujeitar-me ao Comando de um Major também de Comissão; preferi, pois, a bem da disciplina, seguir para a Côrte, e espero que V. Exc.ª. não tome a minha retirada como apreço e amizade que devo ao Batalhão 17º porém, sim pela necessidade de resolver dúvidas que muito me vexariam se aparecessem.

Aqui fica o Batalhão 17º sempre merecedor da estima de todos os Corpos desta Força tendo muito trabalhado , e se distinguido nos ataques dados ao inimigo. Muito sofreu com o Cholera Morbus, tendo perdido cerca de 80 homens; está muito necessitado de tudo e principalmente de descanso.

Tomo a liberdade de remeter a V. Exc.ª. a cópia da ata assignada pelos Comandantes dos Corpos, por ocasião do falecimento do Comandante das Forças, e bem assim, a Ordem do dia deste comando, na qual vem transcrito o Aviso do Ministério da Guerra. Reitero a V. Exc.ª. o meu profundo respeito e consideração.

De V. S.

Muito respeitosamente ao amigo e obrigado

Antônio Enéas Gustavo Galvão.
Margem esquerda do Rio Aquidauana, 12 de Junho de 1867.
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Notas de Referências:
[15] NE – Todos os documentos são transcrições publicadas por Lobo Viana em suas pesquisas em 1938, do Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, no Livro A Epopeia da Laguna. Outros documentos são cidados as fontes.
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