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7 de maio de 2017

LAGUNA, COMBATE DE 6 MAIO 1867 - 11 ISLA ACÂRÂBEBO

CAPÍTULO IX
Combate de 6 de maio 1867 na Invernada da Laguna, Paraguay

Visita histórica Dr. Armando Arruda Pereira, 1924
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Introdução
Agora, transcrevo literalmente como foi a visita deste engenheiro paulista e suas impressões registradas no livro publicado em 1925, pelo título Os Heroes Abandonados. Não Confundir com o Livro os Heroes Esquecidos publicado em 1926 pelo General Alfredo Malan.

As modificações acrescidas são de atualização ortográficas.

Isla Acârâbebo - Islã Akãrabelo – Isla Akãravevo - Capão Acanebebe – Acampamento Paraguaio – Combate de 6 de maio 1867

Quanto as denominações atribuídas a este episódio ou local de confronto direto entre as Forças Brasileiras em Operação no Norte da República do Paraguai e Forças do Exército paraguaio em 6 de maio de 1867 encontrei atributos seguintes:

a) Atribuído ao local na região da então Invernada Laguna de criação de gado do governo do Paraguai;

b) Denominação dada pelo Brasil é do ataque ao acampamento das tropas do Paraguai antes de efetuar o início do Recuo das Forças desta região e sucedeu no dia 6 de maio.

c) Atributo linguístico dado pelo exército paraguaio, no idioma Guarani, para este local e episódio assemelham-se a outros, Nhandipá, Cambaracê. Deste modo, há diversas grafias que foram aportuguesadas ou espanholada atribuindo significados:
  • Capão Acanebebe – 1874 Carta da Comissão de Limites de fronteira, referente a estrada da Retirada.
  • Isla Acârâbebo – 1925, Armando Arruda Pereira, Heroes Abandonados em peregrinação histórica pela região de Laguna.
  • Islã Akãrabelo – Acy Vaz Guimaraes. 1998. Mato Grosso do Sul: história dos municípios. Campo Grande, 1998.
  • Isla Akãravevo – 1999 – Em banner com o mapa do roteiro da Retirada da Laguna exposto aos visitantes e participantes da Marcha Cívico Cultural da Retirada da Laguna, com o Título Croqui Retirada da Laguna em 1867, com o emblema do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizada, de Bela Vista, MS.
d) Quanto ao significado:
  •  “Isla”, literalmente significa “Ilha”. Capão de mato em regiões mais altas, tendo ao redor áreas mais úmidas. Já que a topografia e o solo deste local favorece no período das chuvas um acúmulo das águas nos locais mais baixios onde a vegetação é basicamente constituída por macegas e em pontos mais altos constitui por vegetação de arbustos. São ilhas de matos no meio de diversas lagoas. Segundo Arruda, “capões de mato isolados no campo”. 
  • “Acâ” do Guarani “Akâ” significa literalmente cabeça. 
  • Quanto ao restante do prefixo da palavra “râbebo”, “ravevo”, rabelo”, nebebe” no momento não consegui concluir a pesquisa linguística no idioma guarani. Mas foi o próprio Dr. Armando Arruda que recolheu e registrou o significado em 1924, “Quer isto dizer em Guarany "cabeça oca ou vazia" e, se levarmos em conta que o Coronel Camisão era calvo, cremos seja essa explicação correta, isto é, queriam os paraguaios dizer que era uma “cabeça oca” a do chefe que se atrevia a avançar pelo Paraguai a dentro”.
Ymbú-Guassú e acârâbebó

“Queríamos atingir esses dois lugares, situados em território Paraguaio, pontos extremos a que chegaram os nossos soldados que se dirigiam à Laguna.

Organizamos uma comitiva e num domingo, fizemos atravessar, para o outro lado do Apa, o Ford de nosso simpático amigo Don Alfredo Perrupato, negociante paraguaio estabelecido em Bela Vista brasileira, e para lá nos dirigimos.

Faziam parte da comitiva conosco, o Coronel Pericles de Albuquerque, comandante do 10.º Regimento de Cavalaria, o Dr. Marcello F . de Lima engenheiro da Companhia Construtora de Santos, residente da obra dos quarteis de Bela Vista, o sr. Osorio Escobar, nosso amigo e que foi servindo de guia , o chofer e um paraguaio.

Estavam as estradas péssimas e quase intransitáveis para automóvel, dando-nos muito que fazer logo no início.

Foi necessário que entrassem em ação, várias vezes, o enxadão e a pá. Furamos, pouco depois da subida, três ou quatro camarás de ar. Tudo parecia conspirar contra a nossa boa vontade e plano de atingir Ymbú-Guassú.

Parecia que até em tempo de paz, agora que somos amigos, o Paraguay não queria que estrangeiros pisassem o seu solo. Já ia ficando tarde para voltar, e, como o nosso amigo coronel Pericles tinha que estar em Bela Vista naquele mesmo dia, desistimos de continuar a nossa tentativa, adiando-a para ocasião mais oportuna.

Foi em 15 de Março de 1924 que fizemos a passagem do nosso auto, tomando parte na comitiva os mesmos da primeira vez, com exceção do coronel.

Saímos pela manhã bem cedo, atravessamos o Apa e, logo depois de alguns minutos de caminho, já melhorado pela primeira investida, passamos o Apa-mi sobre uma ponte de madeira. 

A terminação "mi" em guarany quer dizer pequeno, pouco; enfim, expressa o diminutivo.

Sentíamos já uma satisfação enorme, porque intimamente íamos relembrando a marcha da coluna, e, quando refletíamos que trilhávamos aquelas mesmas estradas, era um consolo para todos os trabalhos da excursão, por mais penosos que fossem.

De um lado, à direita, íamos sempre avistando aquela majestosa e histórica silhueta que é o cerro Margarida, e à esquerda já divisávamos o cerro Acanguê (em guarany "bico de peito"), que cada vez se tornava mais visível e parecido com a sua significação na língua do país, ao passo que o cerro Margarida perdia, por completo, a sua forma conhecida para quem o avista de frente, quando em Bela Vista. Agora, tomava a forma de um pedaço de serrote quebrado com vários dentes pontiagudos, quando visto da cidade brasileira, a cerca de 10 léguas distante, tem a forma de enorme pirâmide, isolada no meio daqueles campos infinitos.

Com cinco e meias léguas castelhanas (léguas de cinco quilômetros) , passamos pela sede da estancia conhecida pelo nome de "Arroyo Primero" e, logo depois, atravessamos esse carrego e um galho do mesmo. Nesse ponto a estrada se bifurca, isto é, a estrada velha, aquela pela qual foram as tropas, dirige-se para o banhado "Estero Panhete", e a estrada nova atravessa o carrego San Lorenzo, indo para a estancia do mesmo nome, propriedade da Compagnie Crédit Foncier du Paraguay.

Por indicação do amigo Perrupato, ali devíamos pernoitar, pois se dava muito com o administrador da Companhia e, como já estivesse caindo a tarde, somente no dia seguinte poderíamos atingir os lugares desejados.

Havíamos caminhado apenas sete léguas castelhanas.

Foi junto à confluência do San Lorenzo com o Arroyo Primero, que as nossas tropas fizeram o acampamento, tendo seguido até Ymbú-Guassú e Acârâbebó apenas as colunas de combate e reconhecimento.

Lá não estava o administrador e sim o capataz chefe, alemão de origem, porém falando corretamente o guarany. Foi muito gentil conosco. Osorio, que fala guarany como qualquer paraguaio, entrou em palestra com Don Guilherme e logo tivemos o que jantar e teto para dormir.

Da frente da casa da fazenda avistam-se os capões de mato Ymbú-guassú e Acârâbebó. O primeiro é formado por dois capões, um grande e outro pequeno; o segundo é um grande capão que tem formato de um coração.

Estão separados um do outro cerca de um quilometro e meio, sendo que Acârâbebó fica para a esquerda de quem dá as costas à frente da casa da fazenda.

No Paraguay chamam "Isla" aos capões de mato isolados no campo.

Na manhã seguinte pusemo-nos a caminho cheios de satisfação, e, depois de percorrer cerca de 2 quilômetros de estrada, desviamo-nos para a esquerda, através do campo, em direção á Isla de Ymbú-guassú, tendo deixado á direita uma estrada que vai a Concepción e também á LAGUNA, sendo que dali até Laguna ha cerca de trinta léguas.

Fica Ymbú-guassú a oito léguas, mais ou menos, da cidade de Bella Vista paraguaia.

Foi nesses capões de mato que os nossos soldados desalojaram o inimigo das trincheiras que haviam construído e existem muito bem visíveis até hoje.

Começa uma delas dentro do capão grande e vai em direção Oeste-Este até o meio do capão pequeno, dominando a planície de qualquer dos lados. A outra sai do capão grande em rumo Sul-Norte, mais ou menos uns oitenta a noventa passos.

Pisamos com verdadeiro prazer aqueles fossos e os percorremos em toda a extensão. A vegetação está quase que igual por cima, de modo que só nos apercebemos das trincheiras visitando todo o capão de mato, ávidos de encontrar algum objeto.

As nossas tropas, segundo narra Taunay, mal tinham desalojado os paraguaios e estavam empenhadas em recolher os destroços abandonadas, quando foram acossadas por enorme horda de cavalarianos que se haviam escondido numa baixada e volviam céleres, caindo de chofre sobre os nossos.

Entrou a nossa artilhara em ação, contendo-os logo, e pouco a pouco as nossas tropas caíram para a retaguarda, apoiando-se no outro capão de mato, que é a “Isla de Acârâbebó”.

Quer isto dizer em guarany "cabeça oca ou vazia" e, se levarmos em conta que o Coronel Camisão era calvo, cremos seja essa explicação correta, isto é, queriam os paraguaios dizer que era uma “cabeça oca” a do chefe que se atrevia a avançar pelo Paraguai a dentro.

Foi nesse capão que as nossas Forças descansaram, pois há um filete de água limpa que corre para o Estero Panhete. No pequeno mato de Ymbú-guassú a busca que fizemos só deu como resultado acharmos uns arcos de barril. Notamos que o chão havia sido revolvido em vários lugares. 

Afirmaram-nos, entretanto, que, se cavássemos a trincheira, acharíamos destroços daquele tempo.

Em Bela Vista, contaram-nos, também, que dentro do Estero Panhete existe um canhão abandonado.

Caso seja verdade, só poderá ser canhão paraguaio, parque os nossos eram quatro, e quatro foram entregues, em Aquidauana, pelos sobreviventes da Epopeia Gloriosa.

O croqui que fizemos melhor elucida a nossa descrição, e juntando-o aqui é esse o nosso intuito.

Voltamos satisfeitos de termos passado umas horas nesses lugares regados com o sangue de soldados dignos e bravos. Pela nossa imaginação passavam os nomes de Camisão, Juvêncio, Guia Lopes, Taunay, Enéas Galvão, Lago, José Thomaz Gonçalves, comandante do 21º, Pedro José Rufino, Catão Roxo, Antônio Cunha, Ferreira de Paiva, Costa Pereira, os oficiais de artilharia Thomaz Cantuaria, Marques da Cruz, Napoleão Freire, Nobre de Gusmão e tantos outros de que nos fala Taunay.

Glória a eles e aos humildes soldados filhos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás e Amazonas!

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