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4 de setembro de 2017

A MARCHA DAS FORÇAS EM OPERAÇÕES AOS SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO PORTO CANUTO, RIBEIRÃO CORRENTES À CUIABÁ
12 DE JUNHO A 19 DE OUTUBRO DE 1867

CAPÍTULO XXIV


1. Contexto

O contexto Histórico geral deve-se entender que até o ano de 1977, o Mato Grosso constitui um território uno.

Entretanto contextualizando aos dias do século XXI a primeira etapa da marcha que foi de Porto Canuto e Córrego Correntes nas margens do rio Aquidauana e deste até o Rio Taquari e rio Correntes[1], divisor de limites entre os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A segunda etapa do rio Correntes ao São Lourenço, Coxipó e Cuiabá são território Mato-grossense. 

Assim no período[2] de 11 de junho a 15 de julho de 1867 as Forças estiveram acampados em Porto Canuto, margem esquerda do Aquidauana, atualmente município de Anastácio-MS. e marcharam até a margem esquerda do Ribeirão Correntes, atual município de Dois Irmãos do Buritis-MS.

Ilustração tipo de Acampamento. Lobo Viana, A Epopeia da Laguna, 1938.

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Notas de Referêcias:
[1] Importante não confundir o córrego Correntes, margem esquerda do rio Aquidauana, com o Rio Correntes, afluente do rio Itiquira e localiza-se no Norte do Mato Grosso do Sul. 
Correntes. Rio, afluente, pela margem esquerda, do rio Itiquira, no município de Sonora. Bacia do rio Paraguai. Suas nascentes se localizam numa altitude em torno de 660 metros. Sua extensão é de 240 km. Depois de percorrer aproximadamente 3 km, no município de Sonora, passa a ser divisa com o estado de Mato Grosso; posteriormente desloca-se para o município de Corumbá. Na carta topográfica Morro Formoso, do Ministério do Exército, o rio Correntes aparece com o nome de Piquiri. Entretanto, o nome oficial é Correntes, como aparece no art. 2.º da Lei Complementar n. 31, de 11-10-1977 (que criou o Estado de Mato Grosso do Sul), e em mapas do IBGE. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. IHGMS. 2014. 
[2] Não obtive até esta escrita o período exato da permanência em Porto Canuto e quanto demorou a marcha entre estre Porto até o acampamento no Ribeirão Correntes, afluente do Aquidauana.
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2. À margem do córrego Correntes, afluente do rio Aquidauana



De 15 de julho a 26 de agosto de 1867, estiveram acampados nas margens do Córrego Correntes, na confluência com o rio Aquidauana, hoje município de Dois Irmãos do Buriti, aguardando ordens para definir os rumos que os remanescentes dos Retirantes da Laguna dariam para as novas operações militar. Seguir para Cuiabá ou retornar as origens Goiás, Minas, São Paulo?



A 17 de julho de 1867, as Forças acampadas as margens do Córrego Correntes[3], afluente do Aquidauana, o comandante Major José Thomaz Gonçalves, recebe o comunicado oficial do Presidente da Província de Mato Grosso Dr. José Vieira Couto de Magalhães pelo mensageiro Alferes Justiniano Candido da Cunha Barbosa, onde trazia orientações ainda direcionada ao Coronel Camisão, certamente ainda não sabiam da sua morte.

Para esta época dos idos de 1867 as comunicações e o transporte entre o Sul e o Norte da Província de Mato Grosso eram precárias. Ainda mais neste período do conflito entre as duas Nações cujos núcleos populacionais encontravam-se todos alterados. Duas eram as vias de acesso para as comunicações e transportes: a fluvial permitia navegação de canoas até barcos ou navios movidos à vapor através de uma extensa rede hidrográfica das Bacias do Paraguai e do Paraná; a outra aberta por acesso terrestre de Leste a Oeste e de Sul a Norte, algumas de tráfego boiadeira, carreteira, cavalares, pedestre; ora por relevos acidentados, planos, secos, alagadiços; ora cortando rios através dos vaus e varadouros; ora as estradas margeando o leito de rios.

As estradas terrestres além de terem que atravessar regiões pantanosas, havia os vaus de caudalosos rios. Quão mais penosa ainda no período das chuvas.
Ilustração tipo de Acampamento. Lobo Viana, A Epopeia da Laguna, 1938.
Mapa extraído Revista Trilha da Retirada da Laguna, 2003. 

A Cavalaria era sem dúvida a mais ágil e rápida. As comunicações dependiam das correspondências escritas e conduzidas por estafetas, que percorriam pontos distantes à cavalo, levando e trazendo as cartas e outros documentos. Era o serviço de correios. Entre Nioac e Cuiabá e vice-versa podia demorar dias, semanas ou meses. Estava condicionado as condições climáticas, a resistência e disponibilidade de animais, assim como dos mensageiros condutores. Algumas notíciais podiam ser conduzidas verbalmente por mensageiros designados.

Para se ter uma visão histórica, a primeira estação telegráfica que chegou à Nioac foi inaugurada o ano de 1905, pelo então oficial do exército brasileiro Cândido Mariano Rondon.

No dia 26 de julho, o Comandante Major Gonçalves inicia o encaminhamento de diversas comunicações entre as Forças e a Capital da Província. Entretanto pela demora entre a chegada e o envio das correspondências criou alguns embaraços de compreensão e tomada de decisões como pode ser lida em algumas das correspondências.

Recordando que entre 12 e 16 de junho diversas correspondências, cópias foram expedidas para Cuiabá e Rio de Janeiros com relatórios de todos os acontecimentos, correspondências estas secretariadas pelo Tenente Alfredo Taunay e pelo Alferes Amaro. 

Embora sejam poucas as publicações que registram a sequência da Marcha das Forças que Operaram no Sul da Província de Mato Grosso, após concluída a oficial Retirada da região do território do Paraguai, conhecida por Invernada da Laguna, à margem do Aquidauana, Porto Canuto, 12 de junho, até as novas missões na Capital da Província e consequentemente o desfecho final na retomada de Corumbá, Coimbra e descida até Assunção.

Quero fazer um destaque importante, que neste contexto, além dos Batalhões, de infantaria, Corpo de Artilharia, havia o Primeiro Corpo de Caçadores a Cavalo comandado pelo Capitão Pedro José Rufino, o mesmo Corpo de Cavalaria que contribuiu na Fundação da cidade de Nioaque, que lutou na defesa contra a invasão paraguaia em 1864, voltou a enfrentar os paraguaios em 1867 e em 1871 retorna novamente à Nioaque, em total ruinas, contribuíndo na sua reconstrução.

A povoação de Nioaque, jamais teria evoluído, superada as duas destruições pelo Exército paraguaio, ter alcançado o apogeu social, político, econômico, militar até o início do século XX sem a presença da Corporação Militar.

Os documentos[4] aqui transcritos, foram publicados pelo Professor Lobo Vianna, no ano de 1938, no Livro A Epopeia da Laguna, e pertenciam ao Arquivo Público de Mato Grosso, já que se trataram de correspondências com o governo da Província. Mantive o conteúdo original, salvo atualização ortográfica e ajustes tipográficos. 

Este esboço descritivo consta ainda de ilustrações diversas de cunho sempre didático. Acrescido de notas explicativas. E diversos outros registros recolhidos por Taunay e outros autores. É claro tem um cunho pessoal.

Finaliza com recortes do reencontro das Forças de Mato Grosso com as demais na região de Assunção.

Necessita aprofundar estudos, acrescentar informações e ratificação de outras. Mas é o que recolhi!
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Notas de Referêcias:
[3] Correntes. Córrego, afluente, pela margem esquerda, do rio Aquidauana, no município de Dois Irmãos do Buriti. Bacia do rio Paraguai. Sua foz se localiza na porção sul do distrito de Palmeiras. 
História. O nome Correntes deve ter origem na fazenda homônima, que ocupava aquela vasta região. A atual estação ferroviária de Palmeiras também teve como nome originário Correntes. O então tenente Taunay e pequena comitiva passaram pelo córrego Correntes em junho de 1867. Às margens dele e perto do rio Aquidauana, em lugar elevado, estacionou a tropa remanescente da Retirada da Laguna, de 19 de junho a 26 de agosto de 1867, quando seguiu, por terra, para Cuiabá. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. IHGMS. 2014. 
[4] Os documentos são referências para esta reconstituição. Nos anos de 1984 e 1988 estive realizando diversas consultas ao Arquivo Público em Cuiabá, entretanto não foi possível disponibilizar acesso a estes documentos e outros nos objetos da pesquisa, pela ausência de pessoal responsável para acompanhar tais consultas. 
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3. Documento primeiro, a dificuldade de comunicação

No ofício seguinte de 23 de julho, no acampamento de Correntes, podemos colher as seguintes informações:

a. Dirigida ao Coronel Camisão;
b. Acreditava-se que havia tido sucesso com a operação da invasão da região do Apa;
c. De Cuiabá dirigia-se uma Expedição para a Retomada de Corumbá e Coimbra ocupada pelo Paraguai;
d. O envio de Escolta para Nioac para verificar que não havia mais a presença das tropas do Paraguai;
e. A falta de cavalos;
f. Estabelecendo um ponto para o envio das correspondências, o mangabal, no Taquari.
Imagem adaptada do Google Earth Pro 2017. José Vicente Dalmolin

“Ilmo. e Exmo. Sr. 

Neste acampamento chegou a 17 a parada enviada por V. Exc.ª com destino ao Forte de Bella-Vista, trazendo um ofício para o finado Exmo. Coronel Carlos de Moraes Camisão.

A notícia vinda então por ela, de achar-se V. Exc.ª. à testa da briosa expedição que ora descia a atacar Corumbá e Coimbra, é por sem dúvida um fato tão brilhante que o País registrará com gosto.

Com fé viva na Providência Divina, a Qual em sua Eterna Justiça, protege a causa do Brasil, o segundo Corpo de Operações desta Província terá, por sem dúvida, a esta hora plantado nos muros de Corumbá e Coimbra o pavilhão Nacional, cobrindo do mais justo orgulho ao chefe daquela Expedição. 

Depois do que levei ao conhecimento de V. Exc.ª. em meu oficio sob nº 1, do próximo passado, nenhum acontecimento tem havido digno de menção. 

Conforme participei em minha confidencial escrita em resposta a de V. Exc.ª., fiz seguir duas “escoltas de pombeiros[5]” com destino ao ponto de Nioac, explorando num deles o caminho da Serra que conduz à Vila de Miranda.

Tanto uma como a outra já voltaram, trazendo-nos a notícia de se achar abandonado aquele ponto.

A falta absoluta de cavalhada com que de a muito lutam estas Forças, já para o campeio de gado e mesmo para o serviço de pombeiros, veda a continuação daquelas paradas, que hoje, mais do que nunca, se tornam necessárias para bem se conhecer as posições de um inimigo que dispõe de excelente cavalaria. Torno patente a V. Exc.ª mais esta necessidade, e ouso reclamar a sua preciosa atenção para medida de alta monta. 

Quanto ao que determina em seu precitado ofício sobre a remessa da correspondência para o Mangabal, faço ora seguir para esse destino as três praças ultimamente chegadas, tencionando mandar de quinze em quinze dias estafetas para o mesmo ponto. 

Deus guarde a V. Exc.ª.

Quartel do Comando interino das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, junto à margem esquerda do Ribeirão das Correntes 23 de Julho de 1867.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Dr. José Vieira Couto de Magalhães. Presidente desta Província.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante interino”
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Notas de Referêcias:
[5] O termo “escolta de pombeiros” – escolta, é um grupo de força armada que é selecionado para acompanhar, proteger algo ou alguém que vai para uma investigação, averiguação. Pombeiros, um designativo ao pombo-correio, que leva ou traz uma mensagem, uma informação. É uma guarnição militar no cumprimento de uma missão de averiguação.
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4. Documento segundo, o Comandante em busca de alternativas na Colônia Militar de Itapura, Província de São Paulo

Em 3 de agosto, ainda em Correntes, o comandante Major Gonçalves comunica ao Presidente da Província de Mato Grosso sobre o envio de uma comissão sob o comando do Alferes Manoel Climaco para Província de São Paulo com a finalidade de conseguir suprimentos para as tropas, de fardamentos às munições.

Busca o ponto de apoio na Colônia Militar de Itapura[6]. Atualmente Itapura é um Município do Estado de São Paulo. Foi uma Antiga colônia militar, ou base naval fluvial, criada por decreto imperial de 1858, nas proximidades do Salto Itapura, às margens esquerda do Rio Tietê, próximo a foz deste no Rio Paraná.

“Ilmo. e Exmo. Sr. 

A falta de munições me obriga a mandar em comissão até a Capital de S. Paulo o Alferes Manoel Climaco dos Santos Souza, no intuito de acudir também a outras ingentes necessidades, que tanto têm entorpecido a ação destas Forças, criando milhares de dificuldades. 

Mando, outrossim, aquele oficial até o Estabelecimento Naval do Itapura, com o incluso ofício por cópia para o Diretor Capitão Tenente José Mariano de Azevedo, e rogo a V. Exc.ª. se digne aprovar esta minha deliberação. Dei já ao Governo Imperial conhecimento deste meu ato. 

Deus Guarde a V. Exc.ª. 

Quartel do comando interino das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, junto a margem esquerda do Ribeirão das Correntes, 3 de agosto de 1867. 

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Dr. José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão, Comandante interino”.

Continuação:
No ofício levado pelo mensageiro ao Major José Mariano de Azevedo, Diretor da Colônia Militar do Itapura continha as explicitações:

a. Fardamentos, medicamentos, abarracamentos, munições, arreios, espadas, ou lanças para montar e armar uma pequena Força de Cavalaria;
b. Relata a informação de que quando as Forças que atuaram de Nioaque à Laguna no Paraguai, havia sido solicitado e enviado do Governo imperial suprimentos para atender as necessidades das operações militares;
c. Dois pontos fluviais ou portos Itapura no rio Tietê, Província de São Paulo e Santa Rosa, no Rio Brilhante, no alto da Serra de Maracaju, Província de Mato Grosso.

Deste o ano de 1850 o Porto Santa Rosa[7] era uma base juntamente com o ponto do Nioaque, na confluência com o Urumbeva que através de um varadouro permitia as comunicações e transporte de mercadorias via fluvial entre os rios da rede Hidrográfica do Paraná, a Leste e os afluentes Rio Paraguai a Oeste.

“Quartel do Comando interino das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, junto a margem esquerda do Ribeirão das Correntes, 2 de agosto de 1867.

Ilmo. Sr. 

Sendo de urgentíssima necessidade nestas Forças, não só fardamento para as praças que se acham em completo estado de nudez pela perda de suas bagagens, tanto as deixadas em Nioac, como as que seguiram para a frente em carros, por ter sido tudo destruído pelo inimigo, como de munições de guerra, com especialidade de cartuchames para Carabinas à Minié e Espingardas raiadas.

E constando a este comando que nessa Colônia se deve achar o Tenente reformado João Manoel da Costa, contratador de cargas para estas Forças, que regressava do Porto de Santa Rosa com o seu carregamento, em consequência das falsas notícias espalhadas por ocasião da nossa Retirada da República inimiga, sou a rogar a V. Sª. haja de determinar àquele Tenente que quanto antes dê cumprimento ao seu contrato, fazendo seguir tudo ou parte do fardamento e munições que conduzia, muito especialmente os artigos acima referidos, ficando-lhe salvo o direito de qualquer reclamação perante o Governo Imperial. 

Por esta ocasião devo declarar a V. Sª., no caso de que o contratador não queira ou não possa dar imediatamente comprimento às suas ordens, que V. Sª. deverá tomar a si essa incumbência, contratando diretamente e com a máxima presteza a condução daqueles objetos para este acampamento, ou mandai-os por no dito Porto de Santa Rosa, onde este comando os mandará receber e conduzir, devendo neste caso, prevenir-se dessa circunstância, marcando o prazo aproximado da competente chegada ali. Confiando no zelo pelo serviço, na atividade com que desempenhará qualquer comissão que lhe for confiada, e mais que tudo no seu patriotismo como brasileiro e militar, espero que V. Sª. dará o mais cabal cumprimento ao presente pedido, não deixando seus irmãos de armas em presença do inimigo sem os recursos indispensáveis a bem cumprir seus penosos deveres.

Para mais presteza faço seguir até esse ponto como portador do presente, o Alferes Manoel Climaco dos Santos Souza, oficial inteligente e ativo, para, de comum acordo com V. Sª, fazer parte da comissão que lhe é incumbida, devendo esse oficial, no caso de virem as cargas por terra, acompanhá-las, e no caso contrário, trazer-me com presteza a notícia do ponto e chegada dos objetos, para tratar-se do competente meio de transporte.

Deus Guarde a V. Sª.

Ilmo. Sr. 
Major José Mariano de Azevedo, Digno Diretor da Colônia Militar do Itapura. 

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante interino das Forças.
O Alferes Amaro Francisco de Moura.
Secretário Militar”.
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Notas de Referêcias:
[6] Atualmente Itapura é um Município do Estado de São Paulo. Foi uma Antiga colônia militar, ou base naval fluvial, criada por decreto imperial de 1858, nas proximidades do Salto Itapura, às margens esquerda do Rio Tietê, próximo a foz deste no Rio Paraná.
Itapura teve como missão principal a defesa da Barra do Tietê, facilitada pela sua localização, muito próxima à fronteira, no Noroeste da então Província de São Paulo com a Província de Mato Grosso. 
A instalação da Colônia Militar de Itapura esteve a cargo de Antônio Mariano de Azevedo, primeiro tenente-engenheiro da armada e também primeiro comandante da Colônia. 
Teve grande importância estratégica no período da Guerra do Paraguai. Depois entrando em decadência. Extintos o arsenal e a base da Marinha em 1870, a administração passou ao Exército que promoveu a colonização baseada na pequena propriedade e no trabalho livre. A tentativa fracassou e rápida foi a decadência do núcleo, desativado em 1896. Mais tarde, nas proximidades foi levantada nova Vila. Mais informações:
http://www.estacoesferroviarias.com.brhttp://www.cidades.ibge.gov.brhttp://www.memorialdosmunicipios.com.br
[7] Porto de Santa Rosa, disponibilizo algumas informações logo abaixo. 
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5. Alguns informes sobre o Porto de Santa Rosa

Sobre o Porto de Santa Rosa, no Rio Brilhante, reuni algumas informações de relevância não apenas histórica, mas estratégicas militar e econômica.

Entre os anos de 1848 e 1849, Joaquim Francisco Lopes, Irmão de José Francisco Lopes, O Guia Lopes, comandou uma Expedição, financiada pelo Barão de Antonina, João da Silva Machado, Senador do Império, que entre outras finalidades, uma delas era a de explorar a melhor via de comunicação fluvial entre afluentes do rio Paraná, com os afluentes do rio Paraguai.

Este empreendimento entre as Províncias do Paraná, pelos rios Tibagi, Paranapanema, Paraná, e a de Mato Grosso pelos rios Ivinhema, Brilhante, Nioaque, Miranda, até o Paraguai.

Em 8 de abril de 1849 foi sinalizado na confluência ente os rios Nioaque e Urumbeva a fundação de um Porto, batizado como São João de Antonina, o que deu origem a cidade atual de Nioaque.

Em outro ponto, no Rio Brilhante, atualmente no município de Maracaju, foi balizado outro porto denominado de São José de Monte Alegre. Este Porto se converterá em “Porto de Santa Rosa”. O nome “Rosa” está associado a família do Patriarca dos “Pereiras da Rosa” originário de Faxina, estabeleceram nesta região por volta de 1850. Após a conclusão da Guerra com o Paraguai o veterano Capitão Muzzi ali se estabelecera.

“O Rio Brilhante recebia sempre a visita do pequenino vapor Tamanduateí saído do salto de Itapura – SP para alegrar com seus apitos os sertanejos das fazendas da vacaria”. (Acyr Vaz Guimaraes. Nioaque. História dos Municípios de Mato Grosso do Sul)

No documento terceiro de 7 de agosto de 1867, o Major Thomaz Gonçalves registra no ofício a navegação do vapor:

“...embarcado e pelo porto de Santa Rosa, como veio primitivamente no pequeno vapor do mencionado estabelecimento...”.

a) Outros destaques sobre a estratégica deste ponto de Santa Rosa:

Na ocasião da invasão da Província de Mato Grosso pelo Paraguai em 1864/65, o comandante Coronel Francisco Isidoro Resquin, registrou[8]:

“Al siguiente día, o sea el 31 de Deciembre (1864), fue ocupado el punto militar Nioac, y “después de haber despachado destacamento a los puertos de los Ríos Brillante y Vacarías, marchó el coronel Resquín sobre la Villa de Miranda...”

Sobre o efetivo no Distrito Militar de Miranda em Agosto de 1864[9] o relatório militar brasileiro registra a presença de:

“— Posto de S. Rosa, do corpo de cavalaria, 3.”

Alfredo Taunay[10], registrou os pontos ocupados e os efetivos paraguaios no planalto da Serra de Maracaju: 

b) Força Inimiga

“Duas extensas cartas, cuja íntegra remetemos, que receberam os moradores deste lugar do cidadão João Brunswick Barbosa, prisioneiro dos paraguaios em sua fazenda, desde o ano passado, deram-nos informações do estado a que se acham reduzidos os inimigos e da força espalhada em diversos pontos: 

Tem eles nas colônias de Dourados e Miranda 100; 
No Brilhante 100; Sete Voltas 10; Vacaria 100; Agua Fria 30; 
Nioac 500; 
Taquarussú 200; 
Porto do Souza 200. 

Ao todo 1.240 homens, a que se devem acrescentar os 50 de Miranda que vieram para o Espenidio e Souza e outros que existem junto do Apa e morro do Canastrão, onde possuem boa cavalhada. Desde o Porto do Souza até o de Maria Domingas, os paraguaios têm ultimamente lançado fogo a todos os campos e desbastado as margens, parecendo ter assim conhecimento dos próximos movimentos de nossa força.
Morros, 16 de abril de 1866”.

As Extremidades entre o Porto no Rio Nioaque e o Porto no Rio Brilhante está como divisor de águas o relevo da Serra de Maracaju. 

O Porto de Nioaque via Rio Miranda permitia acesso a Vila de Miranda, Corumbá, Cuiabá.

O Porto de Santa Rosa, via rio Brilhante, Ivinheima permitia ligação com as províncias de São Paulo e Paraná.

As do leito do Brilhante permitia a navegabilidade além das canoas até pequeno barco a vapor no período de acúmulo de águas nas ocasiões das chuvas.

No leito do rio Nioaque até o rio Miranda permitia a navegabilidade por canoas entre as Vilas de Nioaque e Miranda. A partir da Vila de Miranda, até Corumbá e deste a Cuiabá pelos rios Miranda, Paraguai, Cuiabá permitia a navegação de barcos movidos por máquina à vapor.

O trecho mais crítico era o percorrido à pé, carretas, montarias em cavalos ou muares através de uma passagem do alto com o baixo da Serra de Maracaju, denominado de “Varadouro”. Esta distância de aproximadamente oito léguas ou 52 km.

O Mapa sinaliza em linha reta o trecho balizado entre as duas Bacias Hidrográficas, a Leste o rio Brilhante que se conecta com o Rio Paraná e a Oeste, a confluência dos rios Urumbeva e Nioaque que se conectam com o Rio Paraguai. Este trecho entre os dois pontos dos rios é denominado “Varadouro” e era percorrido via terrestre. O Balizamento dos dois portos, deu origem a cidade de Nioaque.



Visão contemporânea da rede hidrográfica sinalizando a Leste no Rio Tietê o Porto Naval fluvial e Colônia Militar de Itapura, no Tietê, São Paulo e a Oeste no ponto do Rio Brilhante, o Porto de Santa Rosa, Mato Grosso. Mapa didático, José Vicente Dalmolin
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Notas de Referêcias:
[8] Datos Históricos de la Guerra del Paraguay contra la Triple Alianza. General Francisco Isidoro Resquin, 1875. Imprensa Militar 1971 Original disponível em http://www.portalguarani.com – acesso maio 2017 
[9] A Guerra da Tríplice Aliança Contra o Governo da Republica do Paraguay 
(1864-1870). Por L. Schneider. I º VOLUME – Capítulo IV. Tradução Manoel Thomaz Alves Nogueira Notas POR J. M. DA SILVA PARANHOS 
Ex-Secretário da Missão Especial do Brasil no Rio da Prata, membro do Instituto Histórico e Geographico do Brasil. RIO DE JANEIRO H. GARNIER — LIVREIRO-EDITOR 71, RUA DO OUVIDOR 1902 
[10] Visconde de Taunay. Em Matto-Grosso invadido. 1868-1867. Pag. 133. Editora Melhoramentos de S. Paulo. Edição de 1929 
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6. Documento terceiro, pairam dúvidas em seguir marcha para Cuiabá

Correspondência expedida e recebida, 7 de agosto de 1867. Este ofício entre o comandante Major Gonçalves e o Presidente da província é quase um Relatório do qual se extrai algumas considerações:

a. O presidente orienta que as Forças se dirijam para o Norte na direção do rio Taquari/Paraguai para inibir ações dos paraguaios, tendo o ponto central na ilha do mangabal;
b. Deslocamento de uma Força militar de Cuiabá em direção a Corumbá, dar apoio a esta;
c. As comunicações sejam dirigidas aos TC Antônio Maria Coelho;
d. Pairam dúvidas ao comando das Forças estacionadas se devem ou não seguir marcha para o Norte, tendo em vista a demora da chegada das comunicações;
e. Relata as condições que se encontram os combatentes, faltando tudo, ainda mais depois do abandono do ponto de Nioac, que havia sido definido como o ponto operacional militar depois de ter deixado a Vila de Miranda em janeiro de 1867;
f. Reforça a solicitação encaminhada ao comandante da Colônia Militar de Itapura;
g. Registra informações do vestígio de partidas paraguaias na região do rio Canindé, entre Nioac e a Colônia Militar de Miranda e as preocupações quanto a possíveis investidas e reocupação de territórios que já haviam sido abandonados.

“Ilmo. e Exmo. Sr. 

Tenho a honra de acusar recebido o ofício de 6 do corrente, (agosto) que V. Exa. se serviu dirigir a este comando em 5 de Junho próximo passado, comunicando que mandara ocupar com um forte Corpo as fazendas existentes entre os rios Taquari e Paraguai, tendo como ponto central as do Mangabal[11], em consequência de estarem os Paraguaios tirando grandes recursos de gado no baixo Paraguai e que no dia 10 do corrente mês seguia para ali uma segunda expedição, apoiada pela flotilha, e composta de 2 outros Corpos, e bem assim, que se achava criado um correio postal daquele ponto à Capital da Província.

Naquele ofício ordena também V. Exc.ª. que este comando não só se ponha imediatamente em comunicação com essa Força, dirigindo a sua correspondência ao Ilmo. Sr. Tenente-coronel de Comissão Antônio Maria Coelho, como que, no caso de não esperar prontos e seguros resultados da posição que ocupa, se aproxime deste ponto o mais breve possível de modo a operar a junção com aquelas Forças. 

Sobre a última parte daquele ofício, este comando pede respeitosamente a V. Exc.ª vênia para expor-lhe as circunstâncias em que se acham atualmente estas Forças e o estado da fronteira, e se, à vista das mesmas, deve ou não, seguir para o Taquari a incorporar-se às que se acham no Mangabal, visto que, pela data do mesmo ofício, a sua direção à Nioac antes da partida destas Forças para o Apa, tomada da Bella Vista e Retirada dali, demonstra ser essa providência tomada anteriormente àqueles acontecimentos dos quais V. Exc.ª teve notícia e acusou posteriormente em onze do dito mês, ordenando nessa ocasião que se avançasse, se fosse possível.

Como já tive a honra de expor a V. Exc.ª. em meu ofício nº 8 de 3 do corrente, com a Retirada do território inimigo e subsequente abandono do mesmo, do ponto militar de Nioac, estas Forças ficaram reduzidas ao último estado de penúria, sem abarracamento, fardamento e mesmo armamento, e munições, e tendo as praças quase nuas, e apenas com 100 cartuxos pouco mais ou menos para cada soldado, sem um cavalo, quer para rondas dos campos adjacentes ao acampamento e fronteira, quer para a pega e costeio do gado para consumo das mesmas, dificuldade com que sempre tem lutado, e mesmo sem uma espada, lança e arreios capazes para este serviço e aqueles.

À vista do que, fiz seguir em Junho citado um oficial à Província de S. Paulo para conseguir uma cavalhada ali invernada com destino a estas Forças, e no dia 5 deste um outro não só para coadjuvar o Diretor do Estabelecimento Naval do Itapura na remessa do carregamento contratado com o Tenente reformado João Manoel da Costa, que para ali regressara do Porto de Santa Rosa, em Maio próximo passado, pelas más notícias que correram por ocasião da Retirada que efetuamos, carregamento vindo da Corte[12] com destino a estas Forças, e constante de fardamento, abarracamento[13], munições, medicamentos, cujos objetos solicitei que viessem por terra ou pelo dito porto de Santa Rosa.

Onde neste caso deveria mandá-los receber e conduzir para o acampamento, com toda segurança, como para trazer da referida Província arreios, espadas, ou lanças para montar e armar uma pequena Força de cavalaria para o serviço acima indicado, em razão de nos acharmos em presença do inimigo, que tendo recebido um grande reforço, como ainda ontem fui bem informado por uma diligência confiada a um paisano de critério que mandei até o Canindé[14] e que encontrou vestígios de um grande acampamento inimigo à margem esquerda do rio Nioac, pouco além do ponto desse nome, que foi calculado ser de mais de 2.000 homens de Cavalaria e Infantaria, que naturalmente veio a nosso alcance, e pode nos dar um assalto e dificultar ainda mais a aquisição do gado, se porventura fracionar sua gente, força de cavalaria em pequenas partidas pelos campos das fazendas desse distrito de que é bastante conhecedor, e afugentar os poucos fazendeiros que por aqui ainda há, que dê certo abandonarão as fazendas no momento em que as Forças se retirarem. 

Ocorrência que incontinente constará ao inimigo, o qual tornará a ocupar permanentemente com essas pequenas partidas, como já o fez, os pontos de que esteve de posse, e sem receio algum, arrebanhará o resto do gado que não pode ou não teve tempo de conduzir quando se retirou, tirando daqui mais facilmente os recursos de que carecem para suprir as suas necessidades, sem ser necessário levar embarcado, como acontece, com os que puder obter no Baixo Paraguai, evitando-se também que aquele grande carregamento venha a ser presa do mesmo, se porventura viesse embarcado e pelo porto de Santa Rosa, como veio primitivamente no pequeno vapor do mencionado estabelecimento.

Este comando, Exmo. Sr., está cônscio de que estas Forças, nada poderão fazer sem reforço e muito porém, especialmente sem cavalaria, arma especial para se operar nesta fronteira, mas a sua permanência aqui, fará o inimigo dividir as suas forças com receios de uma nova tentativa por este lado, obrigando a ter no Apa uma grande guarnição, que sem dúvida enfraquecerá o Exército do Sul, de onde saiu naturalmente o reforço que lhe veio, dando lugar a que o nosso Exército desse ponto combata com menos esses soldados, que assim ficarão inativos, além de também não poderem se estabelecer com pequenas forças nos pontos que outrora ocuparam e dali tiraram os recursos que conservam, não porque estas Forças a isso lhes possa positivamente obstar, mas pelo receio de internar-se, sabendo que existem mais de 1.000 homens, posto que de Infantaria e com 4 bocas de fogo, que podem causar-lhes dano, como já o fez, quando se ofereça ocasião para isso.

Este comando pede ainda uma vez respeitosamente a V. Exc.ª. desculpa de talvez não ter bem compreendido a ordem que lhe foi dada, a qual será executada imediatamente, se V. Exc.ª. julgar que as ponderações que ora faço não são dignas de serem atendidas, visto que, soldado é severo cumpridor de ordens, sei a elas me subordinar, quando não existam circunstâncias imperiosas como as que apresento a V. Exc.ª, que podem não ser de boas consequências para o país; e desaprovando a Retirada das Forças desta fronteira, mesmo por V. Exc.ª, que a não estar longe, quem sabe, a não ordenaria, recaindo sobre mim grande responsabilidade, o que desejo todavia evitar, aguardando novas ordens a respeito; para o que faço seguir como portador deste, em uma montaria, até o Mangabal, 3 praças à disposição de V. Exc.ª a quem afianço, que dentro de 3 dias depois da data da ordem de V. Exc.ª., se for naquele sentido, me porei em marcha para o ponto indicado, onde demonstrarei que o único desejo que tenho é de bem desempenhar os meus deveres, concorrendo com meu fraco contingente para expulsar do solo da Pátria o bárbaro inimigo que há quase 3 anos, escurece uma das mais belas Estrelas do Pavilhão Nacional, hoje confiada à ilustrada administração de V. Exc.ª., a quem Deus Guarde.

Quartel do Comando interino das forças em operações ao Sul da Província de Mato Grosso, junto à margem esquerda do Ribeirão das Correntes, 7 de agosto de 1867. 

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Dr. José Vieira Couto de Magalhães, Digno Presidente da Província de Mato Grosso.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante interino”.
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Notas de Referêcias:
[11] Mangabal, no rio Taquari, no município de Coxim. Bacia do rio Paraguai. Localiza-se próximo da margem direita do rio Taquari quando este inicia seu trajeto na planície do Pantanal. Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. IHGMS. 2014.
[12] Corte, neste contexto político refere-se ao Rio de Janeiro, Capital do Império do Brasil, onde ficava também a residência do soberano D. Pedro II e das pessoas que vivem na sua companhia, auxiliares diretos da administração pública. A Corte Imperial. 
[13] Abarracamento, em contexto de operação militar, são barracas, abrigos de campanha, construção de barracas, instalação ou alojamento em barracas, conjunto de barracas, acampamento militar temporário. Nas operações militares desta Força ou Expedição que atuaram no território mato-grossense combatendo contra forças do Exército do Paraguai 1867, em virtude das diversas adversidades enfrentadas, quando deu-se por encerrada a ação de Retirada de Laguna em 12 de junho, a carência era absoluta alimentos, fardamentos, medicação, munições, montarias e até barracas para servir de abrigo durantes os pousos ou acampamentos. 
[14] Rio Canindé, afluente do rio Nioaque. 
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7. Documento quarto oficializando o nome do Major Gonçalves como comandante das Forças e direcionando à Cuiabá

Em 20 de agosto 1867, recebimento do ofício do Dr. José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província de Mato Grosso, sendo portador o alferes Justiniano Cândido da Cunha Barbosa cujo teor era a oficialização do Major José Thomaz Gonçalves como comandante das Forças em Operação ao Sul da Província. Neste comunicado também determina a marcha em direção à Capital.

O comandante também notifica o início da transposição da margem esquerda para a direita do Rio Aquidauana para dar início a marcha na direção Norte.

“N. 11. - Ilmo. e Exmo. Sr. 

Acaba de chegar a este acampamento o Alferes Justiniano Cândido da Cunha Barbosa, portador do ofício de V. Exc.ª., sob n. 9, de 30 de julho último.

Cumprindo, como interprete dos meus comandados um dever de gratidão, agradeço, em nome deles, a V. Exc.ª. a apreciação de justiça que se dignou fazer-lhes pelos esforços que empregaram em prol à defesa de Honra Nacional e estou contente em assegurar a V. Exc.ª que os soldados desta Coluna, já tão experimentados pelos sofrimentos que a sorte adversa lhes tem proporcionado, ambiciosos desejam mais uma vez tomar parte na luta de civilização que o País sustenta contra o Governo do Paraguai.

Recebi a portaria pela qual V. Exc.ª se dignou nomear-me comandante destas Forças.

Como me cumpria, dei voz de marcha a estas Forças, começando desde já, os Corpos a efetuar a transposição do rio Aquidauana.

Tenho dado as necessárias providências afim de que ela se efetue com a presteza recomendada por V. Exc.ª.

Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, junto à margem esquerda do Ribeirão das Correntes, 20 de agosto de 1867.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Dr. José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante”.
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8. Documento quinto, do Aquidauana ao Taquari, deste ao São Lourenço

26 de agosto a 7 de outubro 1867

Iniciaram a marcha à 26 de agosto de 1867 para Cuiabá

Aproveitando o período da estiagem das chuvas para marcharem pelos rios pantaneiros, transpõem da margem esquerda para a direita do rio Aquidauana, buscando o rio Taquari no rumo norte.

No dia 17 de setembro acamparam à margem esquerda do Rio Taquari.

No dia 19 de setembro deixando o pouso no rio Taquari e marchando para as margens do rio São Lourenço.

No dia 4 de outubro acamparam à margem do São Lourenço, em uma fazenda de mesmo nome.

Nesta ocasião, o comandante solicita ao Presidente da Província fardamentos para os soldados para que possam chegar à Capital com certa decência na apresentação. 

“N. 12. A. Ilmo. e Exmo. Sr. 

Tenho a satisfação de participar a V. Exc.ª. que me acho de pouso neste ponto, tencionando levantar amanhã o acampamento destas Forças e chegar no dia 15 do corrente a essa Cidade.

Saindo das Correntes no dia 26 de agosto passado, chegamos com 19 dias de marcha à margem esquerda do rio Taquari, onde dois dias foram de falha, efetuando-se nesse lapso de tempo a passagem daquele caudaloso rio.

No dia 19 do mesmo mês seguimos viagem formando pouso no dia 4 do corrente à margem esquerda do rio S. Lourenço, começando-se na manhã do dia seguinte a efetuar a transposição desse rio, havendo-se concluído esse serviço hoje pela manhã.

Empenhado em dar inteiro cumprimento às ordens de V. Exc.ª., tenho empregado para esse fim todos os esforços possíveis, conseguindo, pelo desejo que nutrem os meus comandados em bem servir ao País, atravessar em 36 dias tão grande distância, procurando sempre que posso poupar ao soldado as fadigas de uma jornada tão longa por sertões ingratos e baldo de todos os recursos.

Até hoje, felizmente, não me têm faltado gêneros para a distribuição da etapa possível nesta parte da Província e espero que até essa Cidade não sentiremos falta deles.

Julgo, porém, dar a V. Exc.ª participação de que a nossa soldadesca acha-se completamente desprovida de roupas, a tal ponto, que a decência veda hoje ao maior número de praças a entrada em qualquer Povoação.

Dando conhecimento disso a V. Exc.ª, tenho em vista cumprir o meu dever, rogando a V. Exc.ª se sirva dar suas ordens como mais acertado julgar em sua alta inteligência.

Aproveito a ocasião para apresentar a V. Exc.ª. os meus protestos de respeito e distinta consideração. Deus Guarde a V. Exc.ª.

Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, acampamento na Fazenda S. Lourenço, 7 de outubro de 1867.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante”.
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9. Documento sexto, A divisão das Forças em dois grupos, os imunizados e os que não haviam contraídos a varíola

À 11 de Outubro 1867, acampados na Fazenda Mimoso, 

No primeiro ofício, em correspondência ao Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente da Província de Mato Grosso obtém-se as informações seguintes:

a. O surto da epidemia da varíola na capital da Província;
b. Marchando do São Lourenço em 7 de outubro em direção ao Rio Mimoso. Neste ponto, o comandante recebeu ordem para dividir as tropas em dois grupos, o primeiro dos oficiais e soldados que estivessem sido vacinados contra a varíola ou os que já haviam contraídos esta enfermidade, imunizados e outro grupo os que não se encontravam imunizados.
c. Depois da inspeção médica constatou-se 276 soldados e 8 oficiais imunizados. Os imunizados formaram um Destacamento, e sob o comando do Capitão Antônio Dias dos Santos, deveriam marcharam à frente para Cuiabá.
d. Notifica as proximidades do rio Cuiabá e faz nova solicitação de suprimentos para as tropas;
e. Menciona ainda a Baía do Felix, no córrego de mesmo nome, afluente do rio Cuiabá e a Fazenda Barreiro por onde passaram.

No segundo documento, o Major Gonçalves, dirige-se ao Capitão Antônio Dias dos Santos tendo sido nomeado Comandante da Força constituída pelos considerados imunes diante da varíola, que deverá estacionar na Baía do Felix, determina que seja observado seis itens em uma Instrução ao novo comandante.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

Só ontem à tarde me veio as mãos o ofício de V. Exc.ª. de 23 de setembro último, me determinando que, mandando proceder pelos médicos nas praças e Corpos que compõem a Força sob o meu comando um minucioso exame, não faça seguir para essa Capital se não aqueles que já tiveram sido vacinados ou tiverem tido bexigas, medida essa empregada no intuito de evitar o contagio da peste da varíola que com a mais espantosa intensidade se tem desenvolvido nessa Cidade.

Hoje pela manhã efetuou-se aquela inspeção e concluído aquele trabalho, encontraram os facultativos da Junta Militar 8 oficiais e 276 praças naquelas condições, pelo que determinei que formassem todos um destacamento comandado pelo Capitão Antônio Dias dos Santos, oficial ativo e capaz de prover a suas necessidades no ponto em que tiverem de estacionar.

Achando-nos afastados da fazenda dos Barreiros 27 léguas e me parecendo que V. Exc.ª, apontando aquele lugar como o melhor ponto de estação, não tinha conhecimento de acharmo-nos tão próximos dessa Capital e compreendendo eu que além da facilidade das comunicações com essa cidade e localidade da Baía do Felix, sendo muito próximo das Fazendas situadas em Cima da Serra e nas margens do rio Cuiabá, fácil será ao Comandante daquela Força o provimento de gado e mantimentos precisos para o sustento dela; tomo, por isso, a deliberação de mandá-lo para ali aguardando, entretanto, as ulteriores deliberações que V. Exc.ª. se servir tomar.

Junto passo às mãos de V. Exc.ª. a inclusa cópia das Instruções que deixo ao Comandante daquele contingente.

Havendo dissolvido a Repartição Fiscal em consequência do mau estado de saúde do Chefe da mesma e do seu 2º oficial, os quais inspecionados seguiram para o Rio de Janeiro em Junho próximo findo, e existindo aqui apenas dois empregados de Fazenda, o Major Pagador da Caixa Militar e um primeiro oficial, não despacho por isso adiante quem possa substituir a alguns dos que ali tem falecido, sem que prejudique ao serviço desta Repartição que de há muito luta com a falta do pessoal tão necessário para ter-se em dia a escrituração a seu cargo. 

Deus Guarde a V. Exc.ª. 

Quartel do comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso. Acampamento na Fazenda do Mimoso, 11 de outubro de 1867.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante.

Continuação:

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Ao Capitão Antônio Dias dos Santos.

“Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso.
Acampamento na Fazenda do Mimoso, 11 de outubro de 1867.

Tendo sido V. Sª nomeado Comandante da Força que tem de estacionar na Baía do Felix, determino-lhe que observe as seguintes Instruções:

Primeiro: Tratará, ao chegar àquele ponto, da edificação de ranchos com as comodidades precisas para o aquartelamento das praças, devendo ter em maior consideração o parecer do facultativo quanto à escolha que fizer da localidade.

Segundo: A proporção que da retaguarda forem chegando todos aqueles que pertencerem a estas Forças ou nelas se acharem empregados, será de seu maior cuidado mandá-los apresentar logo ao Cirurgião encarregado da Enfermaria, fazendo seguir tão somente para a frente aqueles oficiais e praças que forem dados por vacinados ou tiverem sido algum dia atacados de varíola.

Terceiro: Mandará contratar com um ou mais fazendeiros próximos daquele ponto o fornecimento de gado e mantimentos precisos para o sustento da Força, passando-lhes recibos da quantidade, qualidade e preços dos gêneros que comprar para aquele fim.

Quarto: No caso de, por quaisquer circunstâncias, os condutores de gêneros destinados para estas Forças não poderem seguir daquele ponto para a Capital desta Província, V. Sª. fará uma arrecadação de todos eles distribuindo-os de preferência, como etapa, às praças de seu comando.

Quinto: Entender-se-á sobre todas as ocorrências que se derem, com Exmo. Sr. Coronel Comandante interino das Armas, a quem deverá ser dirigida toda a sua correspondência.

Sexto: Finalmente, zelará pela manutenção da disciplina e pela conservação do armamento de seus soldados.

Certo de que V. Sª. dará mais esta vez uma prova de sua dedicação, inteligência e interesse pelo serviço público espero que serão cumpridas fielmente as presentes instruções, tendo sempre em vista a economia bem entendida dos Cofres Nacionais.

Deus Guarde a V. Sª. 

Ilmo. Sr. Capitão Antônio Dias dos Santos. 

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante das Forças.
O Alferes Amaro Francisco de Moura.
Secretário Militar.
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10. Documento sétimo, Acampamento no Aricá[15], e a chegada à Cuiabá 19 de outubro de 1867.

Do sr. José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante
Ao Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.
Margem do Aricá, afluente do rio Cuiabá

Este ofício trás as seguintes resoluções:

a. Um certo descontentamento que gerou entre os componentes das Forças por ocasião da divisão em dois grupos, os que já haviam passados pela virose da varíola ou também conhecida por Bexiga, assim imunizados, dos demais que supostamente não haviam contraído a tal enfermidade.
b. A decisão em unir os dois grupos;
c. O parecer da repartição da Saúde de que não havia necessidades desta separação.
d. “Quanto ao dia da nossa chegada nessa Capital, espero formar pouso no dia 18 de outubro no Coxipó, tencionando no dia seguinte pelas 8 horas da manhã fazer a entrada nessa Cidade”.

Nº 14 - Ilmo. Exmo. Sr.
Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.

Havia já recebido pelo Doutor Carlos José de Souza Nobre o ofício de V. Exc.ª. de 11 do corrente, quando se me apresentou, vindo dessa Capital, o Alferes do 1º Corpo de Caçadores a Cavalo, Manoel Rodrigues Bemfica. 

Depois de ter ouvido aquele Cirurgião conforme me recomendou V. Exc.ª. resolvi consultar o parecer da Repartição de Saúde a respeito da permanência do contingente que mandei estacionar na Baía do Felix. 

Ponderando, em ofício ao chefe da mesma Repartição, que havendo as Forças sob meu comando atravessando alguns pontos da Província, onde a peste de varíola se tem desenvolvido com grande intensidade não enxergava inconveniente em ela, seguirem todas reunidas para essa Cidade, visto como tardia me parecia o emprego de semelhante medida.

Foram os médicos da Junta de parecer que toda a Força não poderia mais evitar o contagio da peste, visto como desde a Fazenda de Santa Luzia temos deixado não pequeno número de bexiguentos e que depois de nos acharmos neste ponto não poderia inspirar cuidado a continuação da nossa marcha. Conformando-me inteiramente com a opinião da referida Junta, mandei já ordem ao Capitão Antônio Dias dos Santos para se pôr em marcha com a Força que ficou sob seu comando, e tão depressa ela chegue a farei reunir a seus Corpos. Devo participar a V. Exc.ª. que muito influiu a tomar eu esta deliberação a repugnância que observei nos nossos Soldados ao separarem-se de suas fileiras, repugnância que mais tarde se manifestou com a apresentação de grande número deles que declararam quererem seguir a seus companheiros qualquer que fosse o destino que lhes reservasse a sorte.

Nesta ocasião, com o Doutor Nobre, faço seguir a apresentar-se a V. Exc.ª. o Tenente Assistente do Quartel Mestre General Bacharel Catão Augusto dos Santos Roxo, segundo a ordem verbal que recebi pelo Alferes Rodrigues Bemfica. Quanto ao dia da nossa chegada nessa Capital de que me mandou também V. Exc.ª. falar, eu espero formar pouso no dia 18 do corrente no Coxipó, tencionando no dia seguinte pelas 8 horas da manhã fazer a entrada nessa Cidade, se o contrário não me for determinado por V. Exc.ª.

Junto passo às mãos de V. Exc.ª o mapa[16] da Força sob meu comando.
Deus Guarde a V. Exc.ª. 

Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso. 
Acampamento no Aricá, 15 de outubro de 1867.

Ilmo. e Exmo. Sr. 
Doutor José Vieira Couto de Magalhães, Presidente desta Província.
José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante”.

Deste modo, no dia 19 de outubro de 1867, As Forças que Operaram ao Sul da Província chegaram à Cuiabá.

Uma longa marcha, se considerarmos de 12 de junho, no porto Canuto, oficializado o fim da Retirada da Laguna, teve-se que percorrer ainda uma imensidão de território até 19 de outubro de 1867.

Segundo Taunay[17] o percurso entre o Porto Canuto, margem esquerda do rio Aquidauana à Cuiabá, foi de 165 léguas. 

De Canuto à Correntes 5 léguas.

De Correntes à Cuiabá 160 léguas

Se tomarmos como referência que a medida antiga da légua, equivalia a 6.600 metros ou 6,6 quilômetros, a distância percorrida foi de aproximadamente de 1.089 km.

Sendo da Confluência do Correntes no Aquidauana à Capital Mato-grossense o percurso de aproximadamente 1.056 km, 26 de agosto à 19 de outubro de 1867.

Quanto ao desfecho final desta Força Militar brasileira, os remanescentes de Laguna, e com que se encontravam refugiados nos Morros à margem do Aquidauana, fugitivos de Nioaque nos primeiros dias de junho no comando de José Antônio Dias e Silva depois de chegarem à Cuiabá, sabe-se que a partir dos anos de 1868 até o final do conflito em 1870 foram incorporadas as demais corporações militar da Província de Mato Grosso e prosseguem agora por via fluvial, realizando a Retomada das posições ocupadas pela invasão paraguaia, entre outras Corumbá[18], Coimbra. 
Panorama da Marcha das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, em contexto atual entre Porto Canuto e Córrego Correntes, margem do rio Aquidauana, no Mato Grosso do Sul à Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso, entre 26 de agosto a 19 de outubro de 1867. Imagem adaptada do Google Earth Pro 2017, José Vicente Dalmolin.

Aos poucos, já em 1869 entram em Assunção, encontrando-se com as outras corporações do Exército Imperial que avançavam do Sul. E participam dos momentos finais do confronto entre as duas Nações, Brasil e Paraguai. 

Sobre o Primeiro Corpo de Caçadores a Cavalo, sob o comando do Capitão Pedro José Rufino: Em virtude da ordem do dia, n.º 53 de setembro de 1868, do Barão de Melgaço, Presidente da Província e Comandante das Armas, embarcou o Corpo para Corumbá, viagem que teve início no dia 20 e desembarcou a 1.° de outubro onde aí permanecera até o final da Guerra da Tríplice Aliança e o Paraguai.

Em virtude da Ordem do n. º 20 de 9 de abril de 1870, a 18 de junho embarcou para Vila de Miranda, desembarcando a 6 de julho, seguindo depois para Nioaque.

O Senhor Presidente da Província louvou o Primeiro Corpo de Caçadores, em nome do Governo Imperial, pela resignação com a que sofrera as privações, lutando com a peste, a fome e a Guerra na retirada das tropas do Norte do Paraguai e vários oficiais e praças, o Governo Imperial condecorou com a medalha da Constância e Valor, criada para as Forças que operavam no Sul de Mato Grosso.

A 1. ° de fevereiro de 1871, o Boletim Regimental n.º 01 do Primeiro Corpo de Cavalaria, ainda com sede em Nioaque, publicou o Decreto n. º 4.572 de 12 de agosto de 1870, que aprovando o Plano de Organização do Exército, após a Guerra do Paraguai, dava essa denominação ao antigo e agora extinta o Primeiro Corpo de Caçadores a Cavalo.

Continuou a comandar a unidade recentemente organizada, o já então Capitão José Rufino, que a constituiu com o remanescente do seu glorioso Corpo de Caçadores a Cavalo.
Quartel em Nioac, reconstruído a partir de 1871 do Primeiro Corpo de Cavalaria.

Este Corpo de Cavalaria mais tarde será transformado no 7º Regimento de Cavalaria Ligeira, permanecendo em Nioaque até o ano de 1906, posteriormente transferido para a cidade de Bela Vista-MS., na fronteira com o Paraguai. Atualmente convertido no 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado.

De caráter ilustrativo, à seguir imagens de algumas medalhas que pertencera a Antônio Francisco Xavier[19], natural de Goiás, ingressara como Voluntário as Forças que Operaram em Mato Grosso, incorporando como Praça de Cavalaria chegara ao Posto de Major. Foi genro do Coronel Pedro José Rufino, vivera em Nioaque por muitos anos e deixara uma descendência ilustre ainda hoje não só no território do Mato Grosso do Sul, mas em todo Brasil.

Serviu em Nioaque por muitos anos, casando-se e deixando uma parentela de descendentes. Foi casado com a Senhora Amabeni de Souza Rufino, filha legitima do Coronel de Cavalaria Pedro José Rufino e Anna Joaquina Rufino. Deste casamento tiveram os seguintes Filhos: General Mário Xavier, Antônio Francisco Xavier, Pedro Xavier, Heitor Xavier, Rodolfo Xavier, General Paulo Xavier, Maria Xavier, Aurora Xavier, Otacília Xavier, todos já falecidos.



Medalhas de condecoração recibidas pela sua participação no episódio da Guerra do Paraguai, Campanha no Mato Grosso.
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Notas de Referências:
[15] Rio Aricá é um afluente do rio Cuiabá. Localizado no Estado Mato Grosso, Município Santo Antônio do Leverger.
[16] No último item abaixo há uma análise deste documento e a sua reprodução. 
[17] Visconde de Taunay. Em Matto Grosso Invadido. Depoimento Valioso, p. 89. Edição de 1929. 
[18] Oficialmente A Retomada de Corumbá ocorreu em 13 de junho de 1867. Em 1867, enquanto o Coronel Camisão ocupava o Paraguai pelo Apa, o presidente da província de Mato Grosso, Couto Magalhães, decidiu pela retomada do território para o Império Brasileiro e iniciou os preparativos militares elaborando a estratégia das operações, que ficou sob o comando do então tenente-coronel Antônio Maria Coelho. 
No dia 15 de maio de 1867 teve início a ação militar para a Retomada de Corumbá com a partida das tropas do Porto de Cuiabá, acampando em nas proximidades de Corumbá no dia 12 de junho. Já no dia 13 depois de confronto entre os dois exércitos, reocupam posições sobre a cidade de Corumbá. 
Em virtude das dificuldades nas comunicações, através das correspondências escritas, entre as Forças do Comando do Coronel Camisão com as Forças de Cuiabá, nenhuma e nem outra ficaram sabendo à curto prazo os acontecimentos. A Retirada da Laguna e a Retomada de Corumbá, conforme pode ser lido na correspondência inicial. 
[19] Antônio Francisco Xavier, um pouco do memorial poderá ser lido neste Blog de minha propriedade onde há diversos outros Diplomas: http://nioaquehistorias.blogspot.com.br/2016/04/coronel-antonio-francisco-xavier.html

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11. Documento oitavo, o mapa do efetivo das Forças em Operações na Província de Mato Grosso, antes de chegar em Cuiabá
Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso. 
Acampamento no Aricá, 15 de outubro de 1867.

O autor da Obra A Retirada da Laguna, Edição francesa[20] de 1891, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, em nota de rodapé no último Capítulo registra:

“ No dia da invasão do território paraguaio, isto é, em abril de 1867, o efetivo da coluna era de 1.680 soldados.
No dia 11 de junho, foi reduzido para 700 combatentes. Nós tínhamos perdido 980 soldados para cólera e fogo. 
Além disso, morrera um grande número de índios, mulheres e homens comerciantes (mercadores) ou homens de serviço (camaradas) que haviam acompanhado o movimento agressivo da coluna”.

No documento terceiro, de 7 de agosto o comandante Gonçalves registra que o efetivo das Forças no acampamento do ribeirão Correntes era:

“conservam, não porque estas Forças a isso lhes possa positivamente obstar, mas pelo receio de internar-se, sabendo que existem mais de 1.000 homens, posto que de Infantaria e com 4 bocas de fogo, que podem causar-lhes dano, como já o fez, quando se ofereça ocasião para isso”.

Quando deu-se oficialmente concluída a Marcha de Retorno da Invernada da Laguna, Paraguai, em 12 de junho de 1867, podemos considerar que os sobreviventes se dividiram em três grandes grupos humanos:

O primeiro grupo humano foi o dos que permaneceram no território sul mato-grossense aguardando o término oficial do Conflito em 1º de março de 1870, os habitantes da região, os índios, os refugiados fugitivos do Paraguai, moradores dos arredores das fazendas.

O Segundo grupo, incluído Taunay, Tc Enéas Galvão, camaradas, e acompanhantes seguiram em direção ao Rio de Janeiro.

E o terceiro grupo marcharam para Cuiabá, capital da Província. De acordo com o mapa, registra apenas o efetivo militar. 

Como em outros documentos, não informa o acompanhamento de outros civis que seguiram a marcha com as Forças, entre elas as poucas mulheres sobreviventes e outros acompanhantes.

As forças militares estavam organizadas em:
Comando das Forças;
Bateria Provisória de Artilharia;
Corpo de Caçadores a Cavalo nº. 1;
Batalhão de Infantaria nº. 20;
Batalhão de Infantaria nº. 21;
Batalhão de Voluntários da Pátria Nº. 17;
Companhia de Enfermeiros;

Extração de alguns dados:

Mapa do efetivo presente das Forças em Operação na Província de Mato Grosso, acampamento nas margens do rio Aricá grande, 15 de outubro de 1867

1. Comando das Forças:
Major Comissão Comandante 1
Assistente do Ajudante General 1
Assistente do Quartel Mestre General 1
Secretário 1
Escriturário 1

2. Engenheiro
1º Tenente 1

3. Repartição de Saúde 
Cirurgião-mor de brigada 1
Primeiros Cirurgiões 2
Farmacêuticos 1

4. Estado Maior
Major 1
Ajudante 2
Quartel-Mestre 0
Secretário 1

5. Estado Menor
Sargento Ajudante 3
Ditos Quartel-Mestre 3
Espingardeiro 0
Coronheiro 1
Corneta-Mor 2
Mestre de Música 2
Músicos 27

6. Oficiais 
Capitães 12 
Tenentes 7
Alferes 15

7. Inferiores
Primeiros Sargentos 23
Segundos Ditos 28
Furriéis 19

8. Inferiores - Outros 
Cabos 116 
Anspeçadas 94
Soldados 546
Cornetas 20
Clarim 1

9. Agregados
Sargento Quartel-Mestre 4 
Espingardeiro 1
Pífaro 1
Tambor 1
Primeiro Sargento 2

10. Adidos
a) Estado Menor
Sargento-Ajudante 0
Ditos Quartel-Mestre 1
Mestre de Música 1
Corneta-Mor 9
Músicos 0

11. Adidos 
b) Oficiais
Capitães 6
Tenentes 10
Alferes[21] 29

12. Adidos
c) Inferiores
Primeiros Sargentos 10 
Segundos Ditos 18
Furriéis[22] 10

13. Adidos[23]
d) Outros
Cabos 41
Anspeçadas[24]
Soldados 266
Cornetas 9

TOTAL DE PESSOAL 1.355 militares 

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Notas de Referências:
[20] “Au jour de l'invasion du terriloire paraguéen, c'est-à-dire en avril 1867, l'effectif de la colonne était de 1,680 soldats. Le 11 juin, elle était réduite à 700 hommes de combat. Nous avions donc perdu 980 soldats par le choléra et par le feu. En outre, il était mort une grande quantité d'Indiens, de femmes et d'hommes ou marchands ou garçons de service qui avaient accompagné le mouvement agressif de la colonne’’ LA RETRAITE DE LAGUNA. Paris 1891.
[21] Alferes antigo posto militar, comparado com atual posto de segundo tenente ou subtenente. 
[22] Furriel, antigo posto militar correspondente ao atual terceiro-sargento. Graduação da categoria de sargento, nas armas do Exército, imediatamente superior ao posto de cabo e inferior ao de segundo-sargento. 
[23] Adido militar encarregado de determinadas funções em ligação com as autoridades de comando. 
[24] Graduação de praça, imediatamente superior a soldado e inferior a cabo. Não mais existe no exército brasileiro.
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   12.      Alguns registros por Visconde de Taunay sobre os Mato-grossenses no Paraguai no final da Guerra entre 1869/1870

O mesmo autor que participou das Forças que operaram no Sul da Província de Mato Grosso e deixou uma monumental Obra literária entre outras “A Retirada da Laguna”, “Inocência” , “Ierecê a Guaná” finda a Retirada de Laguna, foi o então 2º Tenente de Artilharia encarregado pelo  comandante chefe das Forças em operações em Mato Grosso, Major José Thomaz Gonçalves, de levar ao Governo Imperial as partes oficiais relativas à campanha. Foi por seu intermédio que se teve no Rio de Janeiro, e no resto do Brasil, notícia da epopeia da campanha de abril a junho de 1867 com a ocupação da região do Apa até a Invernada da Laguna no território da República do Paraguai, onde os nossos soldados, exauridos de forças, mas nunca de ânimo, salvaram as bandeiras e os canhões que o Brasil lhes confiara.

Em princípios de 1869, havendo se deixado o comando das Forças Brasileiras, no Paraguai, o glorioso Caxias, foi por decreto de 22 de março deste ano nomeado comandante em chefe de todas as forças brasileiras o Marechal do Exército Conde d'Eu, que requisitou o ainda remanescente da Campanha no Mato Grosso o Oficial para servir no seu Estado Maior secretariando os acontecimentos em Curso.

Destaca-se duas obras “A Campanha da Cordilheira, Diário do Exército e Recordações de Guerra e de Viagem. E destas obras, destaco alguns registros.

a) Orientações ao Presidente da Província de Mato Grosso, guarnecendo a região do Fecho dos Morros

 “Ao presidente da província de Mato Grosso comunicou Sua Alteza[1] que as forças existentes naquela capital, achando-se debaixo do seu comando, deviam quanto antes se mover em direção ao sul, ficando o mais forte dos Batalhões no Fecho dos Morros para substituir o batalhão de pontoneiros[2] que atualmente lá se acha, e seguindo o resto da coluna até Assumpção onde virá formar um corpo de reserva.

Ficou também recomendada a remessa de todo o material do hospital. Pediram-se os cacolets[3] que se achassem em depósito, dos que haviam sido, do ponto dos Baús, mandados para a capital pela expedição de Mato Grosso.

Um tipo de Cacolet empregado para o transporte de  doentes ou feridos. https://fr.wikipedia.org/wiki/Cacolet.

Os cacolets[4], invenção do Barão Larrey na campanha do Egypto e o melhor meio para a condução dos feridos e doentes nas ultimas expedições do sul da Argélia na Kabylia (1846), provaram muito bem durante a diuturna marcha daquela Força que, depois de uma viagem de dois anos e meio pelas províncias de S. Paulo, Minas, Goiás e Mato Grosso, invadiu o Norte do Paraguai.

Foram igualmente requisitadas as bocas de fogo raiadas e correspondentes petrechos, sendo tudo embarcado com brevidade nos vapores que estiverem disponíveis.

Algum Oficial de engenheiros, atualmente em Cuiabá, deverá vir concluir as fortificações iniciadas no Fecho dos Morros[5]...” Visconde de Taunay, A Campanha da Cordilheira, Diário do Exército, p. 47 e 48. Vol.1. Comp. Melhoramentos de São Paulo, Edição de 1926. Sexta-feira, 14 de maio 1869.

Antigo mapa da localização da região conhecida como Fecho dos Morros. Imagem  Enciclopédia das Aguas de Mato Grosso do Sul. Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Mato Grosso do Sul, 2014.
(Mapa (de 1869), do Fecho dos Morros. (Em Mello, II, p. 77).

b) Orientando ao Presidente da Província de Mato Grosso para deslocar as Forças Militares para Assunção.

“A presidência de Mato Grosso declarou Sua Alteza que  toda a força de linha existente em Cuiabá deve quanto antes descer para Assunção, ficando tão somente no Fecho dos Morros o 2º Batalhão de Artilharia e 120 praças da guarda nacional designada, por isso que, estando aquela província livre da invasão e desassombrada do receio de inimigo, não convinha ter para guarnição praças de linha, fazendo excepção às demais províncias do Império...”. Visconde de Taunay, A Campanha da Cordilheira, Diário do Exército, p. 121. Sexta-feira, 25 de junho 1869.

c) Alfredo Taunay reencontra seu Camarada vindo com as tropas de Mato Grosso

Já então me servia como camarada o meu fiel soldado da tão penosa campanha de Mato Grosso, o Floriano Antônio Alves ou Floriano Antônio dos Santos, não me lembra bem mais qual o seu apelido de família.
Vindo por água, com o Batalhão 21, de Cuiabá, estava em Assunção, quando por lá passei.

Procurou-me e entrou logo no meu serviço, dando-me um alegrão a sua presença, que me reportava sempre aos terríveis, mas assim mesmo saudosos tempos do Coxim, Morros, Miranda e Nioac.

Era, aliás, excelente camarada, comodista decerto, mas sobremaneira entendido na sua especialidade e no lidar com animais de cangalhas, preparar um pouso, armar barracas, etc.
E o que era mais, estimava-me deveras do que me deu não poucas provas. Carregava a minha guaiaca[6] cheia de libras esterlinas e nunca me faltou uma única peça de ouro. Basta este simples fato, para deixar bem claro o grau de confiança, que me merecia”.
P. 76. Recordações de Guerra e de Viagem. Edições do Senado Federal – Vol. 99. Visconde de Taunay. Brasília – 2008

d) Libertando Prisioneiros de Mato Grosso

 “Muito me agradou o aspecto interior de Assunção, cercada de verdejantes outeiros e com alguns edifícios vistosos, o palácio novo de López ainda não concluído então, a catedral e outros; em fim, certa feição de verdadeira capital.
Em sua residência (palacete Resquin) hospedou o Conselheiro Silva Paranhos, o Conde d’Eu, o Polidoro e alguns de nós.
Enorme  afluência de mulheres e gente que vinha pedir esmolas ou transporte para Mato Grosso, antigas famílias prisioneiras do tempo da primeira invasão, em dezembro de 1864.
Fui encarregado de arrolar essa gente, dando-lhes passaporte e passe para a viagem gratuita até Corumbá ou Cuiabá, o que foi trabalho não pequeno”.

“Não alcançamos nesse dia 6 de agosto 1869 Valenzuela, apesar de todos os desejos e da acentuada impaciência do Conde d’Eu; ficamos acampados junto ao arroio Ipocu.

Apenas chegamos ao povoado perto dele, afluíram em massa mulheres e crianças, além de muitos patrícios nossos prisioneiros, agarrados nos começos da invasão de Mato Grosso, em fins de dezembro de 1864 e janeiro do ano seguinte de 1865.” p. 55

“No dia 9 agosto acampamos a légua e meia daquele ponto e vieram ter conosco muitos índios chanés, presos na invasão paraguaia do Mato Grosso. Tive o prazer de trocar com eles algumas frases aprendidas nos Morros, os tão saudosos Morros”… p 55

O espetáculo que oferecia a singular procissão dessas mulheres que haviam resistido às mais apuradas necessidades e que enfim atingiam o dia ardentemente desejado de sua libertação, era comovente e ao mesmo tempo altamente curioso. Aí se viam representantes de nomes familiares em todas as peças oficiais do Paraguai e conseguintemente sobremaneira bajulatórias a López e ofensivas ao Brasil, caminhando a pé, quase nuas, carregando na cabeça o que havia a custo escapado do naufrágio de suas fortunas. A mãe do bispo Palacios com sua filha Carmelita, célebre pelos seus desmandos nos saques das povoações de Mato Grosso, as senhoras Decoud, Haedo, Aquino, Bedoya, Barrios, irmã do general, a mulher do infeliz cônsul português Leite Pereira, a francesa Duprat com sua filha Mme. Lasserre, muitas mulheres escravas e criadas, crianças, etc., foram se apresentar à Sua Alteza, que ordenou distribuição de alimentos e fê-las acomodar, umas em casas, outras ao redor da igreja no vasto alpendre que a circunda.” Pag. 90 Recordações de Guerra e de Viagem. Visconde de Taunay
Edições do Senado Federal – Vol. 99. Brasília – 2008

e) Efetivo de Tropas

O grande total das forças brasileiras no Paraguai era de 26.020 homens, além de pequenas parcelas no Fecho dos Morros, divisa de Mato Grosso, Cerrito...

f) Fechando o cerco contra a Fuga de Lopes

Livre como se achava o curso do Paraguai determinara o Conde d’Eu que o Coronel Hermes, com uma brigada, ocupasse Corumbá, fizesse Vigiar por patrulhas volantes, espias e índios cadiueus ambas as margens do grande rio, guardar as embocaduras do Miranda e do Taquari e por meio de cruzeiros observar a margem esquerda do Paraguai, desde a confluência do Miranda até o Apa, em cujas cabeceiras se dizia encontrar então o acossado ditador. Devia aliás o Hermes em tudo ouvir o presidente de Mato Grosso que então era pela terceira vez, creio, o ilustre e benemérito Augusto Leverger, Barão de Melgaço, cujos conhecimentos topográficos da província tão notáveis eram.” P 98  (fins de 1869. Recordações de Guerra e de Viagem.
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Notas de Referências:
[1] O Tratamento “Sua Alteza” refere-se a Luís Filipe Maria Fernando Gastão, conde d'Eu , Louis Philippe Marie Ferdinand Gaston; de origem francesa,  Neuilly-sur-Seine, 28 de abril de 1842.  Gastão era neto do rei Luís Filipe I da França, tendo renunciado aos seus direitos à linha de sucessão ao trono francês em 1864, quando do seu casamento. Tornou-se príncipe imperial consorte do Brasil por seu casamento com a última princesa imperial, D. Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, filha do imperador do Brasil, Dom Pedro II. Faleceu quando voltava ao Brasil para celebrar o centenário da independência brasileira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1922.Adaptado de https://pt.wikipedia.org.
[2] No Brasil não é utilizado o termo "pioneiro", tradução literal da palavra inglesa: "pioneer", cuja acepção na terminologia militar brasileira corresponde à de pontoneiro. Um pontoneiro , construtor de pontes, é um especialista em operações de transposição de cursos d'água; cuja missão corresponde à instalação de pontes e pontões e à utilização de vários tipos de embarcações.
O primeiro batalhão de pontoneiros foi criado durante a Guerra do Paraguai, em 07 de outubro de 1865, em Uruguaiana, pelo Conde de Porto Alegre. E foi esse batalhão, juntamente com o Batalhão de Engenheiros, que realizou as estratégicas ações de apoio à épica transposição do Chaco. Em 1881 a designação de pontoneiro reaparece como uma especialidade do Batalhão de Engenheiros. Adaptado de https://pt.wikipedia.org/.
[4] Cacolets, em Português pode ser traduzido literalmente por « Cangalha »  Le cacolet est une sorte de bât, constitué de deux sièges à dossier, en osier, fixés sur une armature adaptée au dos de l'animal porteur, pour le transport de deux personnes de part et d'autre. https://fr.wikipedia.org/wiki/Cacolet.
Cacolet: A chair, litter, or other contrivance fitted to the back or pack saddle of a mule for transportation of the sick and wounded. https://civilwartalk.com
[5] “Fecho dos Morros. Ilha, no rio Paraguai, cerca de 25 km ao norte da cidade de Porto Murtinho, localizada 18 km a montante da foz do rio Tarumã; 2 km ao oeste do morro Pão de Açúcar e ao norte do morro São Pedro. Bacia do rio Paraguai. A altitude da ilha é de 155 metros. Os guaicurus chamam essa ilha de Ocrata-Huetirah.
História. O Tratado de Limites, de 9 de janeiro de 1872, entre o Brasil e a República do Paraguai, estabeleceu, em seu art. 1.º, que a referida ilha é domínio do Brasil. Posteriormente, o Decreto n. 19.018, de 3 de dezembro de 1929, também entre os dois países signatários, ratificou o referido limite.
Moreira Pinto (verbete) cita a ilha Fecho dos Morros, sendo abundante de caça, peixe e muito fértil. Ali está uma guarda brasileira, o primeiro posto militar do Estado, desde a foz do Apa, do qual dista 120 km, Esta guarda foi estabelecida em 29 de junho de 1850 e logo em outubro desalojada pelos paraguaios, que a 14 desse mês, de ordem de Carlos Lopes, a surpreenderam com uma força de 400 homens, atacando como de costume e do de seus predecessores, sem declaração de guerra, falsa e inesperadamente. Compunha-se a guarnição de um Oficial, o tenente Francisco Bueno da Silva e 25 praças. Perdeu três homens e a posição, e os atacantes nove mortos, inclusive um alferes, conforme a parte oficial do chefe da expedição.
Em 1947, Melo e Silva, assinalava: Lá no fundo, como dois seios túmidos, gigantescos, daquela terra que se debruça morrendo sobre o dorso do (rio) Paraguai, erguem-se o Fecho dos Morros e o Pão de Açúcar, balizas eternas, que indicam ao sertanejo as águas que rematam os confins chaquenhos do Brasil”.  Fonte: Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul, 2014. Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
[6] Guaica. Cinto de camurça ou couro macio em que se guarda dinheiro, junto a carne. Nota do autor.
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    13.      Considerações Finais

Escreveu Taunay:
“Em abril de 1865, partiu do Rio de Janeiro com destino a Santos, por terra, o Corpo Expedicionário, ou antes, seguiram alguns contingentes de infantaria, recrutados no Rio, S. Paulo e Goiás, aos quais se anexaram o corpo de artilharia do Amazonas e algumas viaturas para transporte de munições, víver e bagagens.

Após uma marcha penosa, exaustiva de 594 quilômetros, em que a deserção e a varíola abriram profundos claros nas fileiras, atingiu ela a cidade de Uberaba, em Minas Gerais, onde se reuniram alguns outros contingentes de infantaria, voluntários policiais, oriundos uns de Minas, Mato Grosso e outros de Goiás e São Paulo, que o coronel José Antônio da Fonseca Galvão pôde recrutar e organizar.
O efetivo da tropa inclusive o reforço recebido, orçava por uns 2.500 homens, subdivididos em duas Brigadas.

Entendeu mui judiciosamente o coronel Manuel Pedro Drago, então no comando do Corpo Expedicionário, que esse efetivo era por demais insuficiente para o empreendimento de operações de certa responsabilidade.

O Objetivo da nossa marcha havia sido a princípio Cuiabá e para isso caminháramos para o Norte.
Em, Santa Rita do Paranaíba, porém, Drago, recebera ordem expressa do Governo de deixar aquela direção e seguir para o Oeste, em rumo ao Distrito Militar de Miranda, na zona Sul de Mato Grosso, ainda ocupada pelos paraguaios.  Assim, pois,  buscávamos o Coxim e, por isso, cortávamos  de Leste para Oeste, a parte meridional de Goiás, planos todos errados.
Antes de chegarmos ao Coxim, o Galvão, não sei por conselho de quem, dividiu a Comissão de Engenheiros em dois grupos, um dos quais acelerou a marcha para chegar logo ao Coxim e outro para explorar o caminho do Piquiri.  Creio que esta divisão foi indicada pelo presidente de então, Barão de Melgaço, Augusto Leverger”.

Este projeto inicial das Forças que era dirigir-se para a Capital da Província 1865/1866 somente foi retomado oficialmente em 26 de agosto e efetivado a 19 de outubro de 1867.

Mesmo considerando  todos os tipos de adversidades, carências,  impostas pela distância; topografia; vias de tráfegos; epidemias, as mortes, intempéries climáticas com chuva, sol, frio, tempestades; rios caudalosos, pântanos e brejos; escassez de gêneros alimentícios, fardamentos, abaramentos, cavalhada, armas, munições além dos confrontos com tropas do Paraguai, entendo que no  conjunto da operação militar os propósitos que era de socorrer a Província de Mato Grosso, e Ofensiva pelo Norte da República na região demarcada pelos rios  Aquidauana, Miranda e Apa, atendeu ao preposto de Guerra.

1º Na primeira etapa foi retomado todos os pontos terrestres que estavam sobre o Controle do Paraguai desde 1864 até 1867, de Coxim à Vila de Miranda; da Vila de Miranda à Nioac; de Nioac ao Porto de Santa Rosa, Colônia Militar de Dourados; Da Colônia Militar de Miranda à fronteira com a República no limites pelo rio Apa. No território Paraguaio ocupando o Forte de Bella Vista, adentrando cerca de 35 km  até as terras da Invernada da Laguna. Além destes pontos a outros diversos que estavam ocupados por destacamentos paraguaios em  rios, portos, fazendas, cruzamentos de estradas.

A 2ª etapa pode ser marcada pelo recuo da invernada da Laguna a Fazenda Jardim, deste ponto à Nioac, desde ao rio Taquarussu e por fim deste à Porto Canuto na margem do rio Aquidauana.
Mesmo com a Retirada das Forças das áreas ocupadas, as tropas paraguaias acabaram mantendo-se recuadas à fronteira e não voltando a reocupar novamente. Neste sentido, considero que a operação militar brasileira garantiu a retomada do território antes invadido e ocupado, agora novamente ao Brasil.

Uma Terceira etapa operacional foi o do reagrupamento dos sobreviventes da incursão ao Paraguai com as tropas que se encontravam alojadas no norte mato-grossense, em Cuiabá. De Corrientes  à Capital. Operação bem sucedida.

Uma quarta etapa, agora sobre percurso fluvial e com base naval, reocupam as posições às margens dos Rios Cuiabá ao Paraguai, pontos como Corumbá, Fecho dos Morros, Coimbra.
Por fim, depois de praticamente quatro anos de conflito, as forças brasileiras estacionadas na Província de Mato Grosso se encontram com as forças oriundas pelo Sul  estacionadas na capital Assunção.

É a conclusão das operações que desarticularam estanha campanha entre a Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Não entre em mérito de vencedores ou vencidos. No entanto estas quatros Nações tem no contexto da sua História Nacional o estudo que os envolveram nesta ocasião.  Cada qual conta a sua versão política, militar, econômica, geopolítica, ganhos e percas.

A nós brasileiros e mato-grossenses dos dois Estados temos o dever cívico e moral de respeitar e reverenciar a memória de todos os engajados nesta Força, homens e mulheres, brancos, negros, índios; cães, cavalos, muares, bois... dos que foram sacrificados  no cumprimento de um dever ou mesmo os que sobreviveram e continuaram os trabalhos de reconstrução do Mato Grosso e do Brasil.

Nos dizeres da pena de Taunay:

“Saibamos morrer! Dirão os sobreviventes, o que fizemos?!” (Guia Lopes, José Francisco Lopes)

"Deixo viúva e seis órfãos. Terão como única herança um nome honrado!". (TC Juvencio Manuel Cabral De Menezes)

“E eu também, disse, vou morrer”!
__ “Não podia ser senão assim”!
__ “Mas salvei a expedição”! (Coronel  Carlos de Moraes Camisão)