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10 de maio de 2017

O CAMINHO EM RETIRADA DA LAGUNA - 02 - MARCHA E COMBATES DE 9 e 10 DE MAIO DE 1867

CAPITULO XI
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES AO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
A Marcha e Combates das Forças em Retirada da Invernada da Laguna, Paraguai

PARTE I – Do Arroyo Apa-mi Paraguai ao Rio Apa margem Brasileira, 9 a 11 de maio 1867

Panorama atual da estrada, entre o Arroyo Apa-mi, afluente do rio Apa, em território do Paraguai por onde marcharam as tropas brasileira na invasão e Recuo da Invernada da Laguna à margem do rio Apa, fronteira entre os dois países, em maio de 1867. Atual Bella Vista Norte – PY e Bela Vista – MS. BR. Imagem adaptada do Google Earth Pro 2017. José Vicente Dalmolin


1- No pouso, pânico, alarme falso

Algumas horas depois, cerca de meia noite, ouvimos um fragor horrível, dominado por este grito único:

__ “Cavalaria paraguaia”! As sentinelas avançadas fizeram fogo.

No meio deste alarme o que nos impressionou no momento em que abrimos os olhos, descobrindo a cabeça, foi a formosa e pura Constelação do Cruzeiro do Sul que tínhamos saudado como amiga e protetora do Brasil, antes de adormecer; prosseguira em seu curso inclinando-se para o horizonte, imagem de calma suprema diante das vicissitudes de que éramos mesquinhos ludibrio[1].

O acampamento tornara-se teatro de geral confusão, tiros de espingarda rasgavam as trevas, pondo a descoberto formas fantásticas, quer de homens de revólver e espada em punho, quer de animais, estes ainda mais perigosos, procurando por toda a parte caminho no meio da sua excitação furiosa, ao passo que os homens que os guardavam, não podendo já contê-los, pejavam[2] os ares de imprecações.

Infundado terror apoderara-se do gado no sítio em que estava preso, foi o que começamos a compreender e desde que ficou averiguada a causa do pânico, puseram-se todos a rir, tornando-se essa hilaridade sucessivamente universal; pois a vida de guerra é cheia de contrastes os mais inesperados.

Mas o extremo frescor das noites de inverno na América do Sul, ainda entre os trópicos, obrigou-nos a voltar para os nossos esconderijos improvisados, onde o sono reconquistou todos os seus direitos durante as horas que decorreram ainda até amanhecer.
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Notas de Referências
[1] NE – Engano; embaraço; iludido.
[2] Ne – Encher; sobrecarregar.
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2- Em Retirada, Recomeçando à marcha em direção à Bella Vista

Aos primeiros albores pusemo-nos de novo em marcha, expostos ao fogo das peças do inimigo e sem que nos demorássemos em responder-lhes; os nossos atiradores levavam de vencida quanto encontravam diante de si e não esperdiçavam os tiros. Três cavaleiros tinham caído logo em começo da descarga de fuzilaria e os seus cadáveres haviam ficado abandonados na estrada, por isso que os companheiros não tinham tido tempo de levantá-los e arrastá-los na carreira, como fosse um desses corpos reconhecido como pertencente a um trânsfuga[3] brasileiro que evadira-se de Nioac muito antes da guerra, os restos desse miserável não puderam ser subtraídos, apesar de todos os esforços dos nossos oficiais, ao furor dos soldados, que uns após outros, a proporção que iam passando, feriam-no com a espada ou com a baioneta.

Encaminhávamo-nos para as ruinas de Bella Vista e ante nós abria-se alongado vale quase plano, tendo à direita uma linha de outeiros de suave declive. O inimigo pudera aproveitar contra nós essa disposição do terreno; mas chegamos a tempo de utilizarmo-la, ocupando a primeira dessas elevações; daí o nosso fogo manteve os paraguaios em distância enquanto marchávamos, e as nossas outras peças iam assim sucessivamente ocupar os pontos que melhor nos podiam cobrir. Esta manobra, pela precisão com que foi diversas vezes repetida, levou-nos sãos e salvos até um último cabeço que domina o Apa e Bella Vista. Ali nos estabelecemos, naquela manhã de 9.
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Notas de Referências
[3] NE- Desertor; mudar de lado; traidor.
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3- Reminiscências ter que abandonar o ponto conquistado do território do Paraguai

Ainda aí estávamos dentro da fronteira do Paraguai e sentíamos profundo pesar por ter de deixá-la; tínhamo-la transposto havia tão pouco tempo para efetuarmos uma diversão que reputávamos de grande importância e até indispensável à causa da pátria. Estávamos como corridos de vergonha ao ver os nossos sonhos de glória tão depressa dissipados; a presa escapava-nos e não queríamos ainda compenetrar-nos de que houvesse absoluta necessidade de largá-la de mão.

Deveríamos ver de contínuo em nossos sonhos essa formosa região aberta diante de nós sob esse formoso céu e donde nos retirávamos no momento em que acabávamos de mostrar ai a superioridade das nossas armas? Faltavam-nos munições, é certo; mas não poderíamos recebê-las de um momento para outro? Não as mandáramos, havia tanto tempo, pedir a Nioac? Se elas chegassem, dizia um oficial a seus camaradas, o coronel que ainda não pôde resolver-se a pronunciar a palavra “Retirada”, ordenaria imediatamente que voltássemos contra o inimigo. Transvoávamo-nos no meio desses vãos pensamentos, sem lhes ligarmos maior importância.

4- Nas memórias do Guia Lopes, José Francisco Lopes

Um homem, porém, recolhia avidamente essas conversações, era o nosso infortunado guia; pensativo, sombrio e sem uma só palavra para pessoa alguma depois que retrogradávamos, andava absorto na contemplação dos sofrimentos de toda a sua família, reduzida ao cativeiro, exposta a ser torturada, sendo-o já porventura, mulher, filhos, parentes, amigos.

A marcha para frente afigurara-se lhe iniciativa que, uma vez tomada sob a consagração do patriotismo e da humanidade, era por sua natureza irrevogável, embora nos custasse a vida a todos nós! Agora que falava-se em voltar, em penetrar de novo no Paraguai, tornara-se outra vez ardente e expansivo; ia do comandante que fechava-se no silêncio, aos oficiais, destes aos soldados, asseverando que se incumbiria de abastecer o corpo de exército, que confiassem na sua experiência, que nos conduziria por caminho só dele conhecido a lugar seguro onde o esperássemos, que estávamos enganados se acreditávamos que ele tivesse exaurido completamente a sua estância, que tinha ainda algumas reservas, que tudo sacrificaria.

Ele já tudo sacrificara. Admirávamos a sua alma generosa; mas eram evidentes as suas ilusões e as suas exagerações, destruindo-se por si mesmas, contribuíam para abrir-nos os olhos acerca da verdade.

5- As notícias de Nioac são desesperadoras e aproximação das carretas dos mercadores

Se nos pudessem restar algumas dúvidas, a nossa impotência absoluta para tentar qualquer cousa ficaria demonstrada pelas notícias que nos trouxe então, um dos nossos oficiais, Victor Baptista, que vinha da colônia de Miranda reunir-se a nós com uma escolta de doze soldados.

Não tinha visto os paraguaios, mas quanto ao objeto da nossa preocupação principal ou para melhor dizer, única, disse-nos que nenhuma remessa de munições se fizera de Nioac e que apenas bom número de carretas do comércio carregadas de mercadorias tinham chegado até a Machorra, que lá estavam ainda algumas paradas à nossa espera e que as outras, em maior número, haviam tornado atrás ao saberem dos nossos combates com o inimigo e duvidando tornarem a ver-nos.

A Machorra, como já vimos, fica a légua e meia de Bella Vista em território brasileiro e podíamos calcular que os inimigos, principalmente ocupados conosco e com o que pudéssemos fazer, não teriam ainda chegado até lá. Suspender a nossa marcha para retardar a deles, permanecer além do Apa e fazer, entretanto, que os mercadores tornassem a tomar o mais depressa possível a estrada de Nioac, tais foram, pelo que pudemos julgar, as ideias do coronel que por elas deixou-se dominar até a paixão; considerava uma desonra ver apoderarem-se de tão rica presa os inimigos que, precedendo-nos sempre, alcançá-la-iam antes de nós e não deixariam mais tarde de erigi-la em troféu. Fez, pois, saber aos diferentes corpos que só levantaríamos acampamento no dia 11, isto é, dois dias depois.

Embalde vários oficiais deram-se pressa em ir representar-lhe que, para levar-se ao cabo uma retirada já comprometida pela fome que nos ameaçava, havia urgência em atravessar o Apa antes que os inimigos no-lo tornassem intransitável sem sacrifícios de todo o gênero, de tempo principalmente, os quais nos deitariam infalivelmente a perder. Ele já não discutia; encerrou-se nesta só alegação, que a dignidade do corpo de exército estava interessada em mostrar que a retirada efetuava-se tanto sem precipitação como sem temor.

6- A preocupação com as carretas dos mercadores, em Machorra

Faltava-lhe mandar à Machorra ordem aos nossos mercadores para que voltassem à Nioac e foi nisso principalmente que patenteou-se a sua funesta obstinação em um propósito assentado; pois, tendo mandado chamar o tenente Victor Baptista, portador das notícias, perguntou lhe qual seria o melhor meio de pôr-se em comunicação com o comboio e quem poderia ser mandado a ter com ele e como este valente oficial não hesitou em propor-se a si mesmo, aceitou-lhe o oferecimento e manteve-o, sem querer ouvir observação alguma das que se lhe fizeram acerca dos inconvenientes de arriscar assim um homem de certa ordem e de tal dedicação, e cuja perda podia acarretar desânimo ao corpo de exército. Mostrou-se inabalável, tendo como única resposta para tudo, que o filho de Lopes serviria de guia, tomando por atalhos que conhecia e que eram impraticáveis para a cavalaria.

A sua ordem foi executada. Dois dos nossos refugiados do Paraguai, os irmãos[4] Hippolyto e Manoel Machado, levados pela confiança que lhes inspirava a companhia do filho de Lopes, juntaram-se ao tenente Victor e partiram-se todos quatro, deixando-nos na maior ansiedade.
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Notas de Referências
[4] NE – Embora o autor refere-se aos dois irmãos pelo sobrenome de “Ferreira”, mas na verdade é “Machado”. Conforme documento expedido pelo Coronel Camisão, “Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, na Colônia de Miranda, 13 de Abril de 1867, para Albano de Souza Ozorio, Vice-Presidente da Província de Mato Grosso. Este documento fora publicado pela primeira vez em 1901 pelo O Archivo, Revista histórica editada na Capital Mato-grossense, Cuiabá. O General Lobo Vianna, reproduziu-o em anexo a sua Obra a Epopeia da Laguna. Foi transcrito no Capítulo V como documento nº 07 neste blog.
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7- A morte dos dois irmãos ex-prisioneiros e fugitivos Hypolito José Machado e Manoel Francisco Machado

Meia hora apenas tinha decorrido quando ouvimos distintamente ao longe tiros de espingarda. Estremecemos! Os nossos olhos estavam fitos no ponto em que os ausentes tinham desaparecido; a nossa atenção não se desviou dali um instante. Afinal vimos o filho de Lopes[5] sair sozinho do bosque do rio, correndo para nós seminu e ensanguentado.

Apenas cobrou alento, referiu o que se tinha passado, os paraguaios tinham-nos cercado; o tenente Victor Baptista e os dois irmãos Machado[6] tinham sido degolados; ele mesmo escapara graças a um cerrado de espinhos aonde se atirara e donde por milagre conseguira ganhar o rio.

Este fatal acontecimento consternou a todos; o que não experimentaria o desafortunado coronel, com um caráter como o seu, tão acessível as angústias do arrependimento e do remorso! Mas dominou a sua comoção, não disse uma palavra; e dentro em pouco ouviram-no ordenar aos engenheiros que construíssem uma ponte sobre o Apa para passarem as forças.
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Notas de Referências
[5] NE - O Filho de Lopes, Guia Lopes, tinha o mesmo nome do pai, José Francisco Lopes Junior.
[6] NE – Nos originais trata por Ferreira.
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8- Em Retirada, a transposição sobre o rio Apa, do Paraguai para o Brasil

Por falta de material e de utensílios, apenas foi possível fazer uma pinguela e ainda essa vacilante e pouco segura; felizmente a altura das águas diminuíra sensivelmente e todo o rio podia ser transposto a vau.
Panorama atual no Apa, proximidades da antiga passagem. Atualmente neste local são realizadas as solenidades das Marchas Cívicas-Culturais da Retirada da Laguna, que teve início em 1999, por onde marcharam as tropas brasileira na invasão e Recuo da Invernada da Laguna, fronteira entre os dois países, em maio de 1867. Atual Bella Vista Norte – PY e Bela Vista – MS. BR. Imagem adaptada do Google Earth Pro 2017. José Vicente Dalmolin.

A passagem da coluna começou às seis horas da manhã seguinte; foi lenta e difícil. Os soldados atravessavam a água erguendo as armas e a bagagem acima da cabeça, ao passo que opunham resistência à força da corrente.

Os doentes, os oficiais, os músicos e as mulheres serviram-se da pinguela. Se a sorte quisesse que os inimigos se lembrassem de postar a sua artilharia em uma esplanada que nos dominava ou simplesmente de espalhar atiradores em volta de nós, ainda nos teriam feito pagar caro, a saída, a invasão do seu território, mas tinham adoptado outra combinação; haviam-se dividido em dois grupos, um dos quais esperava-nos na frente, enquanto o outro dispunha-se a cair sobre a nossa retaguarda no momento em que visse o rio de permeio entre ela e o corpo de exército; cousa que não puderam levar a efeito, por terem sido sempre conservados em distância pelo fogo incessante e habilmente dirigido daquelas de nossas peças que, da esplanada onde fora o nosso acampamento, varriam todos os arredores.

Após os Batalhões do centro e seus canhões, fez-se passar o gado sob a direção de dez ou doze homens comandados pelo capitão da guarda nacional Silva Albuquerque.
Passagem do Rio Apa. Trilha entre o Forte de Bella Vista, Paraguai para o território brasileiro na passagem sobre o rio Apa. Local onde passaram as Forças Brasileiras que avançararm e Retiraram-se da Invernada da Laguna em maio de 1867. Da Margem Esquerda – Bella Vista Norte Paraguai. Para Margem Direita Bela Vista – MS. Brasil
3º Encontro Internacional de História, outubro 2011. José Vicente Dalmolin

A nossa retaguarda com as peças que tinham coberto toda a passagem, atravessou a água por sua vez, sob a proteção de uma bateria que acabava de ser colocada defronte da margem paraguaia.

9- Em Retirada, de volta ao solo brasileiro, a organização da Forças

Às nove horas e meia, quando nos achamos todos em território brasileiro, a nossa ponte improvisada foi cortada por alguns homens que para isso conservara o tenente Catão e o corpo de exército pôs-se de novo em marcha, perlongando com a margem que o forte de Bella Vista, deixado atrás de nós em ruínas, conservara outrora sob o seu fogo.

O Batalhão de Voluntários do tenente-coronel Enéas Galvão tomou a testa da coluna e o Nº. 21º de Infantaria, comandado pelo major José Thomaz Gonçalves, foi formar a retaguarda, tendo de permeio os corpos do centro, à direita o Nº. 20º comandado pelo capitão Ferreira Paiva e à esquerda o corpo de caçadores sob as ordens do capitão José Rufino. Toda esta força cobria duas linhas de carretas no meio das quais iam as mulas que levavam os nossos restos de víveres e de munições com alguma bagagem dos oficiais e afinal o grupo dos doentes e convalescentes e o das mulheres, depois ia o gado. As nossas últimas juntas de bois puxavam as peças, a de Marques da Cruz no ângulo direito, a de Nobre de Gusmão no ângulo esquerdo, a de Cantuaria na extrema direita da retaguarda e a de Napoleão Freire na extrema esquerda.

O comandante com parte do seu estado-maior estava atrás do Nº. 20º Batalhão e fora das linhas, fiscalizando tudo e mandando a todo o momento e a todos os pontos os seus oficiais de confiança e os seus ajudantes de campo, afim de regularizar o movimento. Duas vezes o comandante dos Voluntários na vanguarda foi advertido de que por demasiado ardor os seus atiradores isolavam-se da coluna com grande risco para todos, como não tardou que os fatos o mostrassem.

Passagem do Rio Apa. Ponte móvel engenharia brasileira.
Da Margem Esquerda – Bella Vista Norte Paraguai

Para Margem Direita Bela Vista – MS. Brasil
3º Encontro Internacional de História, outubro 2011. José Vicente Dalmolin

Avançávamos e os nossos olhos despediam-se de Bella Vista, derradeiro adeus e para sempre. Muitos dos que estavam então conosco já não existem hoje e o que os que sobreviveram podem desejar é não tornarem mais a esse teatro de tamanhas desditas. Um pedaço de muralha branca, único destroço ainda de pé do que fora a fortaleza dessa fronteira, já deixava de ser visível; só se avistava a copa da mata do Apa.

A planície era de todos os lados descoberta e accessível ao olhar, exceto em um ponto alguma distância em nossa frente, que os exploradores não tinham reconhecido; uma como escarpa mascarava ali o que vimos ser uma depressão profunda do solo, embaixo de uma ladeira suave que tomava a subir para a Machorra, cujo caminho seguíamos. O sol ascendia; eram onze horas.
José Vicente Dalmolin – A margem esquerda do Rio Apa.
3º Encontro Internacional de História, outubro 2011.
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PARTE II
Transcrição de Relatórios sobre a marcha e os combates ocorridos no dia 9 de maio de 1867

Documento nº 24
Parte do Tenente-Coronel em Comissão Antonio Enéas Gustavo Galvão, Comandante do Batalhão 17º de Voluntários da Pátria

Número vinte e nove.
Quartel do Comando do Batalhão 17º de Voluntários da Pátria.

Acampamento no Forte de Bella Vista, República do Paraguai, 9 de maio de 1867.

Ilmo. Exmo. Sr.

Determinando-me V. Exc.ª para dar conta minuciosa do comportamento e parte que tomaram na marcha de hoje o Batalhão 17º de Voluntários, de meu comando e a boca de fogo que por V. Exc.ª foi posta à minha disposição, fazendo eu a vanguarda elas Forças, corre-me o dever de comunicar a V. Exc.ª que, às seis horas da manhã, ocupando o meu lugar, mandei avançar a linha de atiradores composta de setenta praças, quatro oficiais, três inferiores e dois cornetas, sendo trinta do Batalhão, vinte de Infantaria, que foram postas à minha disposição, e bem assim, um oficial do mesmo Batalhão, um inferior e um corneta e as restantes pertencentes a este Batalhão, cuja linha, encontrando outra de Infantaria inimiga em número de cinquenta e apoiada por Cavalaria, começou a fazer fogo matando logo os nossos atiradores três Paraguaios, que ficaram em direção do caminho por onde fomos passando, continuando a nossa marcha tiroteando sempre, não só com a Infantaria inimiga, como com cavaleiros que se apresentaram para cujo fim mandei reforça-la, e retirando-se os atiradores inimigos ao atravessarmos o córrego, que dista pouco menos de meia légua deste Forte, deu-me V. Exc.ª. ordem para que os atiradores, reforçados pelos Índios e mais duas Companhias do Batalhão Vinte, acelerando a marcha, fossem se aproximando do Forte, ocupando as melhores posições, ou ocupando-o no caso de não haver resistência, e assim prosseguimos a nossa marcha até este acampamento.

O tiroteio do inimigo, que durou talvez mais de hora, foi renhido, como V. Exc.ª. mesmo em pessoa observou; a linha inimiga muito sofreu, como sou informado, ficando muitos Paraguaios mortos, levando eles os feridos e os mortos que podiam à cavalo.

O pequeno número de mortos que temos tido nestas forças, creio que é devido ao pouco alcance das armas inimigas, e fico pasmo de ter a Cavalaria só carregado por uma vez ao nosso pequeno Corpo de Caçadores a Cavalo, e este mesmo disseminado no serviço de atiradores.

É também de meu dever levar ao conhecimento de V. Exc.ª. que muito se distinguiram no renhido fogo de atiradores o Tenente Raymundo Fernandes Monteiro Junior e Alferes João José da Luz, Rufino Simões de Miranda e Affonso Augusto da Silva Pêgo, e bem assim, os Primeiros Sargentos Antonio Eulogio Vaz e Segundo dito João Ferreira da Costa, todos deste Batalhão, bem como o Alferes do Batalhão Vinte de Infantaria, Manoel da Silveira Miró.

Enquanto ao Batalhão, conservou-se sempre em boa ordem e com firmeza, e da mesma maneira toda a guarnição da boca de fogo, a qual no princípio da marcha foi comandada pelo Primeiro Tenente João Baptista Marques da Cruz, e do meio para o fim pelo segundo Tenente Cesario de Almeida Nobre de Gusmão, por ter aquele oficial ficado com uma boca de fogo ocupando uma posição.

Deus Guarde a Vossa Excelência.

Ilmo. Exmo. Sr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Comandante em Chefe destas Forças.

Antonio Enéas Gustavo Galvão,
Tenente-Coronel em Comissão Comandante.

2º Ten. Bel. Alfredo d' Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
Passagem do Rio Apa. Lado brasileiro. Soldado brasileiro uniforme do período do Império.
Margem Esquerda – Bella Vista Norte Paraguai
Margem Direita Bela Vista – MS. Brasil
3º Encontro Internacional de História, outubro 2011. José Vicente Dalmolin
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Documento nº 25
Parte do Major José Thomaz Gonçalves, Comandante Interino do Batalhão 21º de Infantaria

Ilmo. e Exmo. Sr.

Às 6 horas da manhã de hoje, marchando a Força, iam seguindo na vanguarda o Batalhão nº 17º de Voluntários, na esquerda do Corpo de Caçadores a Cavallo, na direita o batalhão n. 20 de infantaria e na retaguarda e Batalhão 21º de meu Comando.

A princípio a marcha se efetuou sem a maior novidade, encarregando-se a linha de atiradores da vanguarda de fazer com que o inimigo que se achava estendido na nossa frente se fosse retirando, deixando livre a passagem para a Força. O inimigo que tinha a sua artilharia, como sempre, na nossa retaguarda, pouco depois de sairmos do acampamento, fez alguns tiros sobre a Força, os quais vieram cair junto do meu Batalhão, não havendo, felizmente, perda alguma e não respondendo a nossa Artilharia a esses tiros em razão de estar o inimigo encoberto na baixada, atrás do córrego não tendo o inimigo depois disso dado mais tiro algum de artilharia, vindo, porém, como sempre, estendido pela frente, flanco e retaguarda da Força, sofrendo fogo de nossa Artilharia, de nossos flanqueadores, sempre que se apresentava ensejo favorável.

A marcha continuou até o fim sem maior novidade, graças ao auxílio eficaz da nossa Artilharia que protegeu toda a marcha, colocando-se nas eminências, protegida pelos Batalhões de Infantaria nºs 20º e 21º e só as abandonando quando o grosso da Força e toda bagagem se achavam fora do alcance do fogo inimigo.

Os oficiais e praças do meu Batalhão portaram-se com a mesma coragem e valor que têm mostrado nos dias antecedentes, mostrando muita atividade o Alferes de Comissão Joaquim Bonifacio Ferreira da Silva que comandou a linha de atiradores da retaguarda, continuando na marcha de hoje, unida e protegida pelo meu Batalhão a boca de fogo comandada pelo distinto 1º Tenente Napoleão Augusto Muniz Freire.

Deus Guarde a V. Exc.ª.

Acampamento do Batalhão nº 21º de Infantaria, na Bella Vista República do Paraguai, 9 de maio de 1867.

Ilmo. e Ex. Snr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Comandante das Forças em Operações.

José Thomaz Gonçalves, Major de Comissão Comandante interino.

2º Ten. Bel. Alfredo d' Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
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