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17 de outubro de 2016

A INVASÃO DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO – 1864-1866 GUERRA DO PARAGUAI PARTE 1ª

 “A INVASÃO DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO PELO PARAGUAI, 
AS LUTAS DE DEFESA E AS RETIRADAS”.


OBSERVAÇÃO:
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CAPA:

Representação  das ilustrações

1. Gravura que ilustra as instruções expedidas por Francisco Solano Lopes aos soldados e Marinheiros em Assunção declarando a Guerra e a Invasão da Provincia de Mato Grosso. (En El Centenario de La Epopeya Nacional – Rogidos de Leones, Debujos de Walter Binifazi, escritos de Juan A. Meza.  Assunción 15 de agosto de 1968, Artes Graficas  Zanphiropolos.  Independencia Nacional, n.º 640.   Assunción,  Paraguay)
2. Bandeiras da República do Paraguai, frente e a do Império do Brasil.
3. Mapa ilustrativo do caminho percorrido pelas tropas das expedições paraguaias  por seus comandantes: Urbieta, Resquim, Barrios.

O Artigo é uma releitura de antigos escritos com imagens ilustrativas, notas rodapé e estruturação didática temática.

Representa também uma alusão aos 152 anos do início do conflito que envolveu as duas Nações no século XIX.

Este artigo não tem nenhum caráter ideológico, somente relembrar fatos, narrativas, leituras feitas por outros autores no período pós-guerra.

Hoje Brasil e Paraguai, são duas nações coirmãs, trabalhando juntas pelo desenvolvimento nas diretrizes do MERCOSUL e pela vasta fronteira e também pelas populações que habitam entre os dois territórios.
PARTE PRIMEIRA
A INVASÃO DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO PELOS PARAGUAIOS

Resumo dos principais subtítulos

Ignorância em que estavam as autoridades da província brasileira de Mato Grosso a respeito dos acontecimentos do Rio da Prata e do Paraguai.
Falta de noticias do resto do Império.
Nas proximidades da fronteira só havia uma guarnição de 600 homens.
Solano Lopez resolve invadir essa província.
Proclamação que dirige ás tropas expedicionárias (14 de dezembro de 1864).
Barrios nomeado comandante em chefe da expedição.
Partem da Assumpção e da Conceição 4.200 homens e 12 peças de artilharia ás ordens imediatas de Barrios, e seguem pelo rio transportados por 10 navios de guerra, contra Nova Coimbra, Albuquerque e Corumbá.
Avançam por terra, atravessando o Apa, 5.000 homens e 6 peças, ás ordens de Resquin, contra as povoações de Dourados, Miranda e Nioac, e contra a vila de Miranda.
Barrios diante da fortaleza de Nova Coimbra, defendida apenas por 155 Brasileiros às ordens de Porto Carrero, e protegida pela" canhoneira Anhambahy (26 de dezembro).
Estranha inação da esquadrilha paraguaia, nada empreendendo contra essa canhoneira.
Bombardeamento e ataque de Nova Coimbra pelos Paraguaios (27 e 28 de dezembro).
Brilhante resistência dos Brasileiros.
Repelem um, assalto (28 de dezembro).
Falta de munições no forte.
A posição era insustentável.
Evacuação desse ponto durante a noite de 28 para 29.
Terror espalhado pela inesperada noticia da invasão paraguaia: evacuação de Corumbá
pelos Brasileiros (2 de Janeiro).
Operações da coluna de Resquin.
O major Urbieta com 220 homens cerca a colônia de Dourados (29 de dezembro) onde se achava o tenente Antônio João Ribeiro o qual recusa render-se e morre heroicamente.
Resquin chega á colônia de Miranda (29 de dezembro), e encontra a deserta.
Barrios faz ocupar Albuquerque (1º de Janeiro) também abandonada pelos habitantes.
Resquin persegue o corpo de cavalaria de Mato Grosso, comandado pelo tenente coronel Dias da Silva (130 homens), que resiste desde o Rio Feio até á ponte do Desbarrancado (31 de dezembro) e consegue escapar.
Barrios ocupa Corumbá (3 de Janeiro), e Resquin entra em Nioac (2 de janeiro).
Evacuação da vila de Miranda pelos Brasileiros (6 de Janeiro).
Resquin ocupa a vila de Miranda (12 de Janeiro).
Três vapores paraguaios perseguem a canhoneira Anhambahy e dela se apoderam no rio S. Lourenço (6 de Janeiro).
Os Paraguaios ocupam o porto de Dourados.
Devastações e barbaridades que praticam.
Desordem e confusão entre os habitantes que fugiam.
Muitos são capturados.
Proclamação do presidente de Mato Grosso, Albino de Carvalho.
O chefe de esquadra Leverger é nomeado comandante superior da guarda nacional.
Providencias para a defesa da capital da província.
Toda a guarda nacional é mobilizada.
Acampamento entrincheirado de Melgaço, perto de Cuiabá.
Inação dos Paraguaios.
Não atacam a capital da província e limitam-se a guardar o território conquistado.
Apenas uma força paraguaia avança até á povoação do Coxim e destroem os depósitos que ali tinham os Brasileiros (24 a 30 de Abril).
Indignação que produz em todo o Brasil a noticia das barbaridades praticadas pelos invasores.
Impossibilidade de, pelas grandes distancias, remeter o governo prontos socorros a Mato Grosso.
Providências adotadas pelo governo imperial.
Marcham tropas do Rio de Janeiro, S. Paulo, Minas e Goyaz, em socorro de Matto-Grosso.
O governo imperial compreende que pelo sul e não pelo norte e que deve ser atacado o Paraguay.
SUMÁRIO GERAL: TÍTULOS E SUBTÍTULOS

1. A Ignorância em que estavam as autoridades da província brasileira de Mato Grosso a respeito dos acontecimentos do Rio da Prata e do Paraguai.
2. A Organização de Defesa Militar na Província de Mato Grosso.
3. Comunicado ao Presidente da Província sob uma possível ameaça do Paraguai contra o Brasil.
4. A Capital da Província, Cuiabá, sem comunicação com a Capital do Império, Rio de Janeiro.
5. Solano Lopez resolve invadir a Província de Mato Grosso.
5.1 A expedição compunha-se dos seguintes Vasos (Semanário):
5.2 Ataque fluvial ao Forte de Coimbra, Albuquerque, Corumbá, Estaleiro ou Porto de Dourados.
5.3 Ataque terrestre, a Colônia Militar de Dourados, Colônia Militar de Miranda, Povoação de Nioaque, Planalto de Maracaju (vizinhança dos rios Dourados, Brilhante, Vacaria, Santo Antônio, Feio, Desbarrando, Miranda, Apa, Aquidauana, Coxim) Vila de Miranda, Povoação e Coxim.
6. Os Combates no Forte de Coimbra.
7. A Retirada do Forte de Coimbra.
8. A Retirada para Dourados, Albuquerque, Corumbá, Sará, Rio São Lourenço.
9. Os combates no Rio São Lourenço, afluente do rio Cuiabá, e a tomada do navio brasileiro Anhambahy
10. A fuga e Retirada para Cuiabá, Capital da Província de Mato Grosso.
10.1 A Ocupação e confronto militar na Colônia Militar de Dourados
11.  A Ocupação Via Terrestre.
11.1 Confronto nos Rio Feio, Desbarrancado, Santo Antônio.
1.2 As fugas, retiradas, dispersão da população e das tropas militares brasileiras.
12. As Comunidades Indígenas no sul da Província no contexto da época, lutas, resistências e participações.
13. A Situação na Capital da Província do Mato Grosso Cuiabá e região Norte.
14. O Comando da Província de Mato Grosso, Cuiabá e Região Norte  passa para o General Augusto Leverger
15. O Departamento do Alto Paraguai, assim ficou denominado a parte da Província do Mato Grosso no período que esteve sob a ocupação das Tropas Paraguaias, situação geral do domínio. Populações da Província.
16. A reação na Capital do Império, Rio e Janeiro,  sobre a ocupação da Província de Mato Grosso.
17. A Organização de Tropas para a defesa da Província de Mato Grosso, via terrestre.
18. A organização e o envio de Tropas brasileiras para a região Sul do Império e o desfecho do domínio paraguaio.
19. A Segunda Fase das Operações no teatro da Guerra na Província de Mato Grosso.
20. Mapas e imagens antigos e atuais ilustrativos em anexo dos principais locais onde ocorreram conflitos desta primeira fase de ocupação paraguaia da Província de Mato Grosso. (anexos)
21. Sugestões de Leituras Complementares.

Epopea De Matto Grosso No Bronze Da História
Capitão Cordolino De Azevedo, 1926.



A INVASÃO DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO – 1864-1866
GUERRA DO PARAGUAI
PARTE 1ª

Introdução

Oficialmente considera o período do conflito geral da guerra do Paraguai – Tríplice Aliança (Argentina, Brasil, Uruguai) e o Paraguai 12 de Novembro 1864 com o aprisionamento do navio mercante brasileiro Marques de Olinda com o presidente da Província do Mato Grosso e o fim com o aprisionamento e morte do presidente do Paraguai, Francisco Solano Lopez em, 1º de Março de 1870.

Os Historiadores, Pesquisadores, Documentários de Multimídia, Tratados Acadêmicos, Trabalhos de Jornalistas, Autodidatas de diferentes nacionalidades e concepção ideológicas tratam a questão por denominações de Guerra do Paraguai; Guerra do Brasil; Guerra da Prata, Guerra da Tríplice aliança (Brasil, Argentina, Uruguai) contra o Paraguai; conflitos Sul Americano entre outros.

No ato da (re)leitura deve ser levada em consideração a nacionalidade do Pesquisador se Brasileiro, Paraguaio, Argentino, Uruguaio, Norte Americano, Britânico, Alemão, Francês...

Outro aspecto considerável é a formação acadêmica do Pesquisador, que nem sempre é o de Historiador: Há trabalhos produzidos por militares de diferentes patentes e formação e por civis de diferentes formações acadêmicas e exercício profissional, professores, acadêmicos, sociólogos, historiadores, jornalistas, diplomatas, empresários de ramos diversificados, e muitos autodidatas.

Outro elemento a não ser desconsiderado é a época, o tempo, o momento histórico, político, econômico, religioso, cultural em que o pesquisador está contextualizado.

E por fim a metodologia empregada para a pesquisa na analise do fato histórico que produzirá a leitura final.

O que tem a ver tudo isso?

O “Fato Histórico, o Acontecimento” curiosamente,  mesmo  sendo de épocas seculares ou até milenar, é sempre dinâmico  nas suas (re)leituras, análises, interpretações e conclusões. Deste modo, o “Fato Histórico” permite diversificados olhares.  São Paradoxos e Paradigmas dentro da Dialética da sociedade que é sempre constituída de contradições “Prós e Contras”; “Mitos, Heróis, Cultos, Vítimas, Fanatismo, Nacionalismo, Pragmatismo, Ideologias, Dominador, Dominados”...

O Escritor perpassa nos seus escritos um pouco das suas convicções pessoais, um pouco do momento Histórico em que vive e da origem das fontes onde ele busca os “fatos Históricos” para a sua releitura.

Deste modo, o leitor(es) irão encontrar diversas narrativas interpretativas para o “todo” ou para “partes” do “fato histórico”.  Não é exagero afirmar, que a (re)leitura do fato histórico, é sempre de uma lógica subjetiva, porque permite a Dialética ideológica.

Quando o fato Histórico é o de uma Guerra onde estiveram envolvidos nações, populações, espaço geográfico, interesses ideológicos, políticos, econômicos diversos permite sempre novas leituras ou olhares, ainda que os personagens sejam os mesmos.

Do ponto de vista da formação do cidadão  e da cidadania é positivo, desde que não venha a ser utilizada para manipular a população para um fanatismo, nacionalismo extremista, xenofobia, hostilizações.

Diante do Exposto, tratarei pela denominação “Guerra do Paraguai”, termo mais usual no Brasil.

Também delimitarei a exposição somente sobre “partes” de “fatos Históricos” que aconteceram na então Província de Mato Grosso, compreendendo no contexto atual, os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, do Império do Brasil. A Divisão Geográfica do Mato Grosso só ocorreu Oficialmente em 11 de outubro de 1977, até então, todos os acontecimentos são tratados como Parte Geográfica da Província/Estado de Mato Grosso.

O subtema que delinearei tem como focalização “A INVASÃO DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO PELO PARAGUAI, AS LUTAS DE DEFESA E AS RETIRADAS”.

No Contexto Histórico é dada toda a ênfase à “Epopeia da Retirada da Laguna”, imortalizada pelo Oficial da Comissão de Engenharia “Visconde de Taunay” e demais documentos e relatórios militares.  A análise  histórica que proponho é sobre o primeiro período da Guerra e da Invasão da Província de Mato Grosso, antes da chegada das Tropas que vieram de diversas partes do Império para a defesa da região. Acontece que no período compreendido a Dezembro de 1864/Setembro 1866, o domínio total era de posse da Republica do Paraguai.   A primeira força que pisou o território de Mato Grosso foi a coluna de Goiás, composta de 1 batalhão e 1 esquadrão de cavalaria, ao mando do tenente coronel Mendes Guimarães. Essa força acampou no Coxim no dia 7 de Setembro, e ali aguardou a chegada das tropas que marchavam de Minas e S. Paulo, as quais, depois de terem atravessado o território das Províncias de S. Paulo; Minas e Goiás penetraram, em Novembro, no de Mato Grosso, e reuniram-se aos goianos, em 20 de Dezembro, no Coxim.  (Ver imagem 66, visão panorâmica da cidade de Coxim, no Norte  de Mato Grosso do Sul, foi invadida  pelas tropas paraguaias em operação na região. Vista também da confluência dos rios Coxim e Taquari)

Nesta primeira fase da Guerra houve várias reações e retiradas, por tropas militares, escravos, indígenas, mercadores, prestadores de serviços, eclesiásticos, populações não militar habitantes das áreas rurais, Colônias, Povoações, Vilas, Fortes, Presídios, Aldeamento indígena.

Trata-se de três artigos:

1. A Invasão da Província do Mato Grosso pelas Tropas Militares da República do Paraguai e as reações dos militares, autoridades e populações brasileiras existentes na época e as Retiradas.

2. O Segundo Artigo tratará da reocupação da Província por forças brasileiras. Reação iniciada com a chegada das Tropas Brasileiras oriundas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Goiás e a incorporação de tropas existentes na Província incluindo civis.

3. O Terceiro Artigo abordará algumas das consequências deste conflito para a Província de Mato Grosso; tais como demarcação da fronteira, a reocupação populacional das terras e nascimento e cidades; a convivência entre brasileiro e paraguaio e vice versa dentro do Estado de Mato Grosso do Sul e a recuperação das memórias por militares, civis e turismo históricos. Políticas públicas pela memória dos monumentos Históricos referentes aos diversos episódios históricos aos mato-grossenses e sul-mato-grossenses.

Não abordarei as questões motivadoras do conflito e nem o desenrolar pela região sul do País.  Há uma literatura muito vasta para o leitor que queira mais informações.  Em nosso blog  disponibilizamos diversos informes, textos, imagens e vídeos.

Os apontamentos que serão transcritos são uma adaptação da obra citada  e de outras referências da minha coleta de dados. Com ressalva as notas de rodapé, as demais partes dos textos são transcritos nos termos originais do final do século XIX.  Os “topônimos” também são preservados a grafia original. Que o leitor não entenda o texto como “erros”, pela historicidade, adotamos preservar os “Termos dos Originais”.

Também a Estrutura didática e as ilustrações são de minha inclusão.

A Estrutura do Texto está dividida em duas partes:

A primeira parte do Texto é uma descrição geral dos fatos de registros históricos com subdivisões de subtítulos, notas explicativas, notas de rodapé e algumas imagens de caráter ilustrativas.

Na Segunda parte será inserido um conjunto de imagens ilustrativas, geralmente dos tempos atuais, das principais localidades onde ocorreram os eventos relativos a esta fase do conflito.


1 A Ignorância em que estavam as autoridades da província brasileira de Mato Grosso a respeito dos acontecimentos do Rio da Prata e do Paraguai.

“Tendo Solano Lopez dado tão decisivo passo, não podia já hesitar em proceder militarmente”. Ouvira dizer que no Estado Oriental  os Brasileiros principiavam a se entender com o general Flores e que era provável o ataque de Montevidéo. Com sua esquadra, ou com as tropas que essa esquadra transportasse, não podia coadjuvar os Orientais Blancos  pela superioridade de forças da esquadra brasileira reunida no Rio da Prata.

Se não era seu plano anexar ao Paraguay a província de Matto-Grosso, pelo menos a invasão por esse lado seria hábil, e efetiva a diversão em favor do governo de Montevidéo. Solano Lopez contava que as forças brasileiras, operando contra Paysandú, ao saberem dos apuros daquela província, não prosseguissem no Estado Oriental, e que o governo imperial cuidaria antes de defender o solo pátrio. Em ambos os casos, quer como conquista permanente, quer como momentânea diversão era a campanha de Matto-Grosso um hábil cálculo. O ditador  sabia perfeitamente que a província estava indefesa (1);

♣ ♣ ♣ ♣ ♣

Explicações:

(1) Era presidente da província de Matto-Grosso o general Albino de Carvalho, que desde Março de 1864 instava por sua demissão. Seu sucessor, como já vimos, partira do Rio de Janeiro em meados de Outubro, e fora aprisionado a bordo do Marquês de Olinda .

Em Matto-Grosso, porém, era este facto ignorado quando se efetuou a invasão.

Para a defesa do vastíssimo território dessa província, cuja linha de fronteiras compreende mais de 400 léguas, havia apenas uma guarnição de 875 homens, disseminados por muitos e importantes pontos, como consta do último mapa enviado em 14 de Agosto de 1864 pelo presidente da província (acompanha o oficio n. 120, e guarda-se no arquivo da repartição do ajudante general do exército).

Dessa força estavam doentes 150;
Presos por sentenciar 88;
Sentenciados, 6;
Total 241.

Deduzindo-se este algarismo:

Restavam 631 praças, mas destas, 41 estavam ausentes, com licença no Rio de Janeiro, S. Paulo, Goyaz, Bahia e Pernambuco, ou em marcha, fora da província.

Ficavam, pois, apenas 590 homens, inclusos todos os oficiais e até 147 empregados nas secretarias, arsenal, condução de malas do correio, camaradas, etc. Abatidos estes, restavam tão somente 442 homens prontos.

Com razão dizia ao presidente o comandante das armas, em oficio de 13 de Agosto de 1864:

 — “... Nunca chegou esta província ao estado em que presentemente se acha de desfalque de força... O total da força necessária para todo o serviço da guarnição deve ser de 3.879...” E fazia ver que em muitos lugares as guardas não podiam ser rendidas, e que nenhum corpo podia fazer com regularidade os exercícios recomendados pelo governo.



A força estava dividida pelos seguintes corpos (Mapa de 14 de Agosto):



♣ ♣ ♣ ♣ ♣

2 A Organização de Defesa Militar na Província de Mato Grosso


A Província dividia-se em 5 Distritos Militares, e a força pronta estava assim distribuída por eles:

I- DISTRITO MILITAR DA CIDADE DE CUYABÁ

(Destacamentos em Cuyabá, Sant’Anna do Parnahyba, Chapada, Piquiry ou Barreiros, S. Lourenço, Delamare, Estiva, Sangrador Grande, Rio Grande, Pasto Nacional, Poconé, Diamantino, Fábrica da Pólvora, e partidas volantes):

— Estado maior, 1; corpo de saúde 3; repartição eclesiástica, 2; 2º batalhão de artilharia, 58; corpo de artilharia de Matto-Grosso, 0; companhia de artífices 0; corpo de cavalaria, 18; batalhão de caçadores, 61. Total, 143.

II- DISTRITO MILITAR DA CIDADE DE MATTO-GROSSO

 (Destacamentos em Matto-Grosso, forte do Príncipe da Beira, Casalvasco, Campo de S. Xavier, Arraial de S. Vicente, S. Ignez, Lavrinhas, Estivas, e partidas volantes):

 — Corpo de saúde, 1; repartição eclesiástica, 1; companhia de artífices, 1; batalhão de caçadores, 71. Total 74.

III- DISTRITO MILITAR DE VILLA-MARIA:

 (Destacamentos em Villa-Maria, Escalvado, Corixa, Lages, Pederneira, Onças, Jaurú, e Fazenda Calçava):

 — Corpo de saúde, 1; repartição eclesiástica, 1; corpo de artífices, 1; batalhão de caçadores, 58. Total, 61.

IV- DISTRITO MILITAR DO BAIXO-PARAGUAY:

— Corumbá: Corpo de saúde, 1; 2º de artilharia, 2; corpo de cavalaria, 1; batalhão de caçadores, 1. Total, 6.

— Nova-Coimbra: estado maior, 1; corpo de artilharia de Matto-Grosso, 43; companhia de artífices, 1; batalhão de caçadores, 1. Total, 46.

— Albuquerque: corpo de artilharia, 14.

— Coxim, ou Taquary: corpo de artilharia, 15.

— Bahia Formosa, 0;

 — Em todo o Distrito, 80 (sendo: corpo de saúde, 1; 2º de artilharia, 2; corpo de artilharia 72; artífices, 1; cavalaria, 1; caçadores, 2).

V- DISTRITO MILITAR DA VILLA DE MIRANDA:

— Nioac: corpo de saúde, 1; repartição eclesiástica, 1; corpo de artilharia de Matto-Grosso, 2 (Total, 4).

— Colônia de Dourados: 2º de artilharia, 5; corpo de cavalaria, 12; batalhão de caçadores, 1. Total, 18.

— Villa de Miranda: corpo de saúde, 1; 2º de artilharia, 9; corpo de cavalaria, 31. Total 41.

 (Ver imagem 63, visão panorâmica da cidade de Miranda, Oeste de Mato Grosso do Sul, foi invadida  pelas tropas paraguaias em operação na região. Vista também do desenho do Quartel feito por Taunay, em 1867, imagem 64)



Figura 1 - Vila de Miranda, 1867. Imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar

Figura 3 - Vila de Miranda, 1867. Imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar.

 Figura 3 - Vila de Miranda. Imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impresso Militar.

Figura 4 - Imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna
Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar. Vila de Miranda, 1867


— Fazenda de Bitione : corpo de cavalaria, 5.

— Cavalhada: corpo de cavalaria, 2.

— Colônia de Miranda: companhia de artífices, 1; corpo do cavalaria, 7; batalhão de caçadores, 3. Total 11.

— Posto de S. Rosa; corpo de cavalaria, 3.

— Piquiry, 0.

— Em todo o Distrito, 84 (sendo: corpo de saúde, 2; repartição eclesiástica, 1; 2º de artilharia 14; corpo de artilharia, 2; companhias de artífices, 1; cavalaria, 60; caçadores, 4).

Total nos 5 distritos: 442 - (Note-se que esta distribuição de forças é do mês de Agosto, e que não ficam compreendidos entre estes 442 homens os doentes, empregados e presos. (Ver tabela  anterior.)


Era comandante das armas o coronel Carlos Augusto de Oliveira.


A força naval, comandada pelo capitão de fragata P. C. de Castro Menezes, consistia em uma flotilha composta dos seguintes vapores:




Total:

— 5 pequenos vapores prontos, com 132 cavalos, 134 homens, e 2 bocas de fogo (Relatórios da Marinha de 1864 e 1865).

No Relatório de 1864, da repartição da marinha (antes de romper a guerra), lê-se a seguinte nota sobre esses vapores, sem excetuar o Anhambahy:

 — “Estes navios não podem ser considerados de guerra: só poderão servir para paquetes ”.

E no mapa da força naval do Império publicado em 1873 figuram eles como “lanchas a vapor”.

Referindo-se ao triste estado da província, e às diminutas forças de que dispunha, disse o presidente Albino de Carvalho (Relatório com que passou a administração, em 30 de Agosto de 1865, ao chefe de esquadra Leverger, contendo a Sinopses da invasão paraguaia em Matto-Grosso):

“...Isto quer dizer que a província estava desarmada ou indefesa, sendo certo que esse estado de coisas e suas consequências não podem atribuir-se à falta de previsão e energia do governo local, porque muitos atos oficiais, arquivados na secretaria da presidência, e de mais de uma administração, provam o contrário. Limito-me, pois, a citar em meu abono dois únicos:

— “O ofício reservado que dirigi ao ministério da marinha sob n. 1, em 23 de Setembro de 1863, e o que enderecei ao ministério da guerra, ostensivamente, sob n. 162 datado em 14 de Agosto de 1864...”


3 Comunicado ao Presidente da Província sob uma possível ameaça do Paraguai contra o Brasil.


Em 10 de Outubro de 1864 recebeu o presidente de Matto-Grosso um ofício reservado em que o ministro do Brasil em Assumpção lhe comunicava a ameaça feita pelo ditador Lopez, e lembrava-lhe a conveniência de prevenir-se a província para o caso de um rompimento.

Em consequência disso no dia 13 de Outubro, o comandante das armas, que infelizmente era um velho valetudinário, partiu de Cuyabá com a pouca força de linha existente nessa capital e dirigiu-se à fronteira do Baixo-Paraguay.

O presidente chamou a serviço ativo 231 guardas nacionais, para suprir à ausência da força de linha, ordenou que os pequenos vapores Jaurú, Corumbá e Cuyabá fossem estacionar junto ao forte de Coimbra, e fez marchar para a fronteira meridional quase todos os militares empregados, muitos enfermos que convalesciam e todos os destacamentos de linha, excetuando apenas os das fronteiras de Villa-Maria (hoje cidade de Cáceres) e da cidade de Matto-Grosso; (fronteira com a Bolívia), aliás bem pequenos, e os de Sant’Anna do Parahyba, Rio-Grande, Sangradouro, Estiva, S. Lourenço e Taquary, também insignificantes.

Apesar disso só foi possível reunir na extensa linha exposta aos ataques dos Paraguaios, isto é, na fronteira do Baixo Paraguay (Nova Coimbra, Albuquerque e Corumbá) - 364 homens dos dois corpos de artilharia, e da companhia de artífices, sem contar os guardas nacionais; e no Distrito militar de Miranda (linha do Apa e serra de Maracajú, sendo povoações mais próximas às colônias de Dourados, Miranda e Nioac e a vila de Miranda) 219 homens do corpo de cavalaria e de caçadores. Total, 583 homens de linha pouco mais ou menos.

Thompson , que se admira da facilidade com que Lopez ocupou a parte meridional dessa remota província, deveria declarar de que modo poderiam menos de 600 Brasileiros fazer frente com vantagem a 9.200 Paraguaios, apoiados por uma força naval respeitável.

Veja-se sobre esses algarismos a tabela citada acima.  O Relatório do presidente Albino de Carvalho, e o Relatório que no mesmo ano de 1865 foi apresentado à assembleia provincial pelo novo presidente Leverger, e no qual se encontra um interessante histórico da invasão; vejam-se também os relatórios dos ministérios da guerra e marinha, de 1864-1865 e 1866.

A guarnição de Nova Coimbra compunha-se de 46 homens. O comandante das armas elevou-a logo a 115 praças e; deixando em Corumbá o 2° batalhão de artilharia a pé, partiu para a vila de Miranda, para onde fez seguir o casco do batalhão de caçadores, a fim de servir de apoio ao 7º batalhão da guarda nacional recentemente criado e ainda por organizar. Comandava a fronteira de Miranda o tenente-coronel Dias da Silva e a do Baixo-Paraguay o tenente-coronel Porto Carrero.

O comandante das armas, depois de uma curta inspeção em Miranda, regressou a Corumbá e deu começo a algumas obras de defesa.

Ninguém acreditava, porém, que Lopez realizasse a sua ameaça, e menos que invadisse a província sem prévia declaração de guerra.

A guarda nacional de toda a província, mal fardada e sem armas, compunha-se de 6.279 homens de infantaria, dos quais 1.144 pertenciam á reserva. (Relatório do ministério da justiça, de 1865, anexo H).

O autor da Notícia sobre a província de Matto-Grosso, tratando da invasão paraguaia, observa à pag. 272:

— “... Que providências podia dar o presidente Albino de Carvalho, achando-se a província sem recurso algum, exaustos, havia muito tempo, os cofres públicos, obrigado o presidente a pedir dinheiros para que a tesouraria pudesse acudir a pagamentos miúdos e indispensáveis, e, sobretudo, sem a menor explicação do governo imperial, porque desde 26 de Agosto de 1864, nunca mais chegou à província um correio, nunca mais um ofício do governo, senão a 13 de Abril de 1865. Sete meses e 18 dias esteve a província sem ter uma comunicação, ignorando todos os acontecimentos que se tinham dado com o Paraguay, e conhecendo apenas a triste realidade, isto é, que sem dinheiro, sem gente, sem recursos, estava invadida pelo inimigo grande parte de seu território, e o resto devia sê-lo mais dia, menos dia”.

4 A Capital da Província, Cuiabá, sem comunicação com a Capital do Império, Rio de Janeiro.

Em ofício n. 198 de 3 de Dezembro de 1864, dizia o presidente de Matto-Grosso ao ministério da guerra (Arquivo da Repartição do Ajudante General):

— “... Não sei que direção tem tomado os nossos negócios no Rio da Prata e no Paraguay, e por isso rogo instantemente a V. Ex. que fixe a sua atenção para esta província e dela cuide com toda a eficácia”.

Os seguintes trechos do oficio n. 201 de 17 de Dezembro de 1864, escrito um mês depois da tomada do paquete Marquês de Olinda, mostram melhor ainda o abandono em que estava Matto-Grosso:

— “... Foram esses ofícios (refere-se a ofícios de 11 e 30 de Novembro que recebera do comandante das armas e do chefe da flotilha, escritos em Corumbá) foram esses ofícios trazidos pelo vapor Alpha, chegado a esta capital no dia 10 deste mês, e deles se colige não ter havido na dita fronteira até a última data novidade alguma; ter chegado ao porto de Corumbá uma escuna saída de Buenos-Aires no dia 4 de Outubro, havendo passado pela Assumpção no dia 29, onde ainda se conservava o nosso ministro; ter esta escuna encontrado o paquete Marquês de Olinda, que ia em descida, abaixo da Assumpção; e finalmente que até o dia 30 do mês passado ainda não havia chegado à Corumbá o paquete que se esperava de Montevidéo.

 — Não tendo o paquete saído de Montevidéo a 20 de Setembro trazido correspondência oficial da corte, e não havendo chegado o de 3 de Novembro, aqui estou há quase, 5 meses sem receber ordens, instruções e nem auxílios do governo, achando-se esta província nos maiores apuros por estar sem dinheiro algum o cofre da tesouraria, e eu nos maiores embaraços em tão apuradas circunstâncias.

 Rogo, pois, a V. Ex., se digne providenciar com urgência acerca do que acabo de expor, dar a esta presidência com urgência à cerca do que acabo de expor, dar a esta presidência  ordens, e orientá-la acerca do que se tem passado com relação aos negócios do Rio da Prata e do Paraguay, que possam interessá-la, e do que lhe cumpre fazer...”

Este ofício, escrito em 17 de Dezembro, era dirigido ao Conselheiro Brusque, que deixara o poder, com o gabinete Zacarias, de que era membro, desde o dia 30 de Agosto.

A 17 de Dezembro não se sabia ainda em Matto-Grosso que aquele ministério havia sucedido o de 31 de Agosto, presidido pelo conselheiro Furtado!


5 Solano Lopez resolve invadir a Província de Mato Grosso .

Sabia que a parte povoada do Brasil só ao cabo de alguns meses poderia prestar apoio a essa remota região; tinha entusiasmado o exército em seu campo de manobras, e com segurança antevia um feliz desenlace da campanha. O fardamento e equipamento das tropas eram novos e fulgurantes; abundantes as provisões; a estação propícia. Não duvidou, pois, destacar as mais antigas e melhores tropas de Cerro Leon, da Conceição, assim como de todas as guarnições ao norte de Assumpção, para a fronteira septentrional, donde se devia empreender a invasão da província inimiga por terra e pelo rio. O embarque das tropas chamadas de Cerro Leon efetuou-se em Assumpção no dia 14 de Dezembro de 1864 e desta data é também a seguinte ordem do dia do presidente:

“Soldados! Foram baldados todos os meus esforços para conservar a paz. O Império do Brasil, pouco conhecedor do vosso valor e entusiasmo, nos provoca à guerra: a honra e a dignidade nacional, e a conservação dos mais caros direitos manda que a aceitemos”.

“Em recompensa de vossa lealdade e longos serviços, fixei minha atenção em vós, escolhendo-vos dentre as numerosas legiões, que formam os exércitos da República, para que sejam os primeiros a dar uma prova da pujança de nossas armas, recolhendo os primeiros louros que devemos reunir aos que nossos maiores colocaram na coroa da pátria nas memoráveis jornadas de Paraguary e Tacuary (2).

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Explicações:

(2) Em Matto-Grosso e em todo o Brasil e Rio da Prata eram os soldados paraguaios tidos em grande desprezo.
Ninguém os supunha capazes da selvagem intrepidez e da inexcedível disciplina que ostentaram durante esta guerra.

Os únicos feitos militares de que se orgulhavam eram as vitórias de Paraguary e Taquary obtidas em 1811 sobre o general argentino Belgrano; mas tais combates não podem ser apresentados como padrão de glória para o Paraguay, porque os argentinos foram vencidos, sim, mas por forças, mais de dez vezes superiores. "Um Almanaque Paraguaio, publicado em tempo de Carlos Lopez, mencionava também a vitória do Pão de Açúcar, em 1850. — Taquary, Paraguary e Pan de Açúcar, tais eram os três combates e as três vitórias dos paraguaios antes desta guerra.

— A intitulada vitória do Pão de Açúcar foi alcançada por 800 paraguaios contra uma guarda brasileira de 25 homens, que se retirou combatendo (14 de Outubro de 1850).

Perdemos 3 homens e os agressores 1 oficial e 8 soldados. O governo imperial contentou-se com as explicações dadas por Carlos Lopez, que então era nosso aliado. Em sua retirada o pequeno destacamento, comandado pelo tenente F. Bueno da Silva, foi protegido pelos índios Guaycurús, dirigidos pelos capitães Lixagota e Lapagate, e pouco depois os mesmos índios, incorporados à guarda que saía do Pão de Açúcar, apoderaram-se pôr surpresa do forte paraguaio denominado Olympo ou Bourbon, “Enquanto estes Índios”, diz Ferreira Moutinho na sua Notícia sobre a província de Matto-Grosso (S. Paulo, 1869, 1 vol.). “enquanto estes índios, às ordens do capitão J. J. de Carvalho vingavam a afronta feita ao destacamento brasileiro (a mais brilhante ação da província de Matto-Grosso, pela resistência tenaz que opuseram 25 homens contra mais de 400), um cacique da mesma tribo, o capitão Quidanani, invadia por Miranda o Paraguay, e no Apa tomava aos agressores gados, cavalos, etc. Estes fatos deram lugar a que o governo descansasse, e os cuiabanos se julgassem garantidos, por acreditarem que os Guaycurús sós poderiam repelir qualquer ataque do Paraguay”.




Figura 5 – Representação de um índio da Nação Guaicurus, conhecido como índios cavaleiros, guerreiros, modo próprio de montar e combater com a lança. Assim, dominaram outras Nações indígenas e impuseram sua dominação por diversas regiões  de Mato Grosso do Sul,  pantanal e fronteira com o Paraguai. Foto do Monumento do Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande - MS. 10 de março 2016, JVD.



No protocolo da conferência de 12 de Março de 1856 (anexos ao relatório do ministério dos negócios estrangeiros de 1856) entre os plenipotenciários visconde do Rio-Branco e Berges, encontram-se os seguintes trechos relativos à ocorrência do Pão de Açúcar, no Fecho dos Morros:

“... O presidente de Matto-Grosso não entendeu bem as, recomendações da legação imperial, e julgou que reduzindo àquela guarnição a 25 homens, satisfazia ao governo da República. O governo da Repblica duvidou sempre, segundo se deve crer, de que o pedido da legação fosse atendido pelo presidente, e mandou a expedição que teve o conflito com a guarda brasileira. Eis, pois, como se deu o facto.

Procedeu de um ato do presidente de Matto-Grosso, fundado sim em uma ordem do governo imperial, mas ordem antiga, que não tinha sido renovada, nem era intenção do mesmo governo imperial levar a efeito em tais circunstâncias. Então achava-se pendente uma negociação entre os dois governos, a qual compreendia o reconhecimento dos respectivos limites; e ia abrir-se a luta com o general Rosas, cuja causa ganharia com a divisão e rompimento entre seus adversários. Se não fossem estas circunstâncias”, acrescenta o Senhor visconde do Rio-Branco, “o governo imperial não toleraria, como tolerou, o ato de força do governo da República; e o representante do Império na Assumpção, dando os passos conciliatórios que deu, não deixou de ressalvar o direito do Império aquele ponto e ao território que lhe é contíguo”.

Também, sobre este fato, PEREIRA PINTO, Apontamentos para o Direito Internacional, III, 439 e seguintes.

♣ ♣ ♣ ♣ ♣


5.1 A expedição compunha-se dos seguintes Vasos  (Semanário):




A esses navios se incorporaram dias depois, em Conceição e em Coimbra, mais três vapores, o Salto de Guayrá (quatro peças), o Rio Apa (3 peças) e o Marquês de Olinda, (8 peças) o que elevou a 51 o número de canhões da esquadra.

O capitão de fragata Meza comandava a esquadrilha.

O Semanário de 17 de Dezembro, noticiando a partida da expedição, disse o seguinte:

— “Es la segunda vez que las fuerzas nacionales dejan las playas de la Asuncion para dirigirse á vindicar ai Norte los derechos de la Republica. Em 1850 la ocupacion del território paraguaio por fuerzas brasileiras obligó a nuestro gobierno a enviar una pequena expedicion que dió por resultado el desalojo del cerro de Pan de Açúcar...”  E lembrava a mesma folha que o patacho Rozario fora um dos vasos empregados nessa campanha, de que o leitor já tem notícia pela nota anterior.

A divisão que nos navios acima indicados partiu da capital, às ordens de Barrios, era destinada a apoderar-se de Coimbra, Albuquerque e Corumbá, para, de acordo com a que seguiu por terra atacar depois Cuyabá.  Compunha-se de 4 batalhões de infantaria (batalhões 6, 7, 10 e 30) com 3.200 homens, 12 peças raiadas e foguetes à congréve de 24, e de uns 1.000 homens de cavalaria que embarcaram em Conceição. No dia 22 o Salto de Guayrá partiu da capital conduzindo mais o batalhão 27. O general Resquin em seu depoimento de 20 de Março de 1870 declarou que essa divisão compunha-se de 4.000 e tantos homens.

A 2ª divisão, às ordens de Resquin, constava de 5.000 homens principalmente de cavalaria, com 6 peças. Marchou da Conceição por terra, atravessando o Apa, para atacar as colônias de Dourados, Miranda e Nioac e a vila de Miranda.

Quanto às forças paraguaias, são estes os dados que encontramos no Relatório do ministério da guerra de 1865. As duas colunas que invadiram Matto-Grosso, segundo esses dados, elevavam-se, pois, a uns 10.000 homens das três armas com 18 bocas de fogo.

Thompson diz que a coluna de Barrios apenas se compunha de 3.000 homens e 2 baterias, de campanha, e a de Resquin de 2.500. Mesmo assim eram imensamente  superiores às forças que tínhamos na fronteira. Barrios só tinha diante de si, pela estrada fluvial, o pequeno vapor Anhambahy, o forte de Nova Coimbra com diminuta guarnição (tenente coronel Porto Carrero), a povoação de Albuquerque, inteiramente desguarnecida, e a de Corumbá, onde se achava o coronel Oliveira, com 23 bocas de fogo, das quais muitas incapazes de servir, e 244 praças (Tabela de 11 de Novembro), sem falar em uns 50 guardas nacionais e cerca de 100 paisanos que tomaram armas depois do ataque de Coimbra.

Admitindo, pois, que a coluna paraguaia que atacou por esse lado apenas se compusesse de 3.000 e tantos homens com 12 peças, protegidos por uma esquadrilha que montava mais de 40 bocas de fogo, reconhecer-se-á ainda assim que era impossível aos chefes brasileiros resistir à invasão.

O Distrito Militar de Miranda por onde penetrou Resquin com 2.500 homens e 6 peças, Segundo Thompson, ou com 5.000 homens, segundo o Relatório do ministro Ferraz, estava guarnecido por 129 homens de cavalaria (praças do exército e voluntários reunidos às pressas), pelo casco do batalhão de caçadores, com 89 praças, inclusíve os músicos, e por alguns guardas nacionais e paisanos que tomaram armas no momento do perigo. (Ver imagens 19, 20, 21, 25, 28 mapas da invasão das tropas paraguaias terrestres e fluvial)


5.2 Ataque fluvial ao Forte de Coimbra, Albuquerque, Corumbá, Estaleiro ou Porto de Dourados.


 (Na carta descritiva do Tenente Coronel Dias, publicada no Jornal do Comércio de 2 ou de 27 de abril de 1865.)

— A divisão Barrios atacou, protegida pela esquadra, o forte de Coimbra nos dias 27 e 28 de Dezembro, sendo repelida pela pequena guarnição brasileira. Na noite de 28 para 29 o coronel Porto Carrero evacuou o forte. Senhor desta posição, Barrios ocupou sem resistência Albuquerque, Corumbá e Dourados, e a esquadra inimiga apoderou-se da canhoneira Anhambahy (6 de Janeiro). (Ver imagens 35, 36, visão panorâmica da Região onde está localizado o Forte de Coimbra, Brasil)


5.3 Ataque terrestre, a Colônia Militar de Dourados, Colônia Militar de Miranda, Povoação de Nioaque, Planalto de Maracaju (vizinhança dos rios Dourados, Brilhante, Vacaria, Santo Antônio, Feio, Desbarrancado, Miranda, Apa, Aquidauana, Coxim) Vila de Miranda, Povoação e Coxim


— A divisão de Resquin saiu da Conceição em 26 de Dezembro, atravessando o Apa em “Bella Vista ”, enquanto o capitão Urbieta, com 220 homens de cavalaria (segundo Caballero) tomava a direção de Chiriguelo e passava por Cerro Corá, dirigindo suas marchas para a colônia militar de Dourados, que não deve ser confundida com o porto de Dourados, sobre o rio Paraguay. "Urbieta foi sair em Ponta Porã, a umas 12 léguas de Dourados, e no dia 29 de Dezembro cercou essa colônia, onde só tínhamos um destacamento de 15 homens às ordens do tenente de cavalaria Antônio João Ribeiro, natural de Cuyabá . Esse valente oficial; recusando render-se, respondeu desabridamente aos Paraguaios e morreu como um herói, sendo facilmente suplantados pelo inimigo os poucos soldados que comandava.

(Ver Figura 6 - Visão Panorâmica da "da cidade de Bella Vista Norte" -  do Departamento de Amambay, Paraguai.  E Figura 32 imagem da Estancia Arroyo Primero, mais conhecida por Fazenda Laguna, onde travaram combate brasileiros e Paraguaio em 1867, culminando no Episódio “A Retirada da Laguna”.


Na noite do mesmo dia 29 Resquin caiu sobre a colônia de Miranda, que achou deserta, e no dia 31 seguiu para Nioac.

Na marcha avistou o corpo de cavalaria de Matto-Grosso que se adiantara às ordens do tenente-coronel Dias da Silva. Essa força compunha-se de 11 praças de linha e de 19 paisanos armados. Dias da Silva, perseguido desde o Rio Feio, cortou a ponte do Desbarrancado, onde sustentou um vivo tiroteio com o inimigo, cobrindo-se de honra por essa ocasião o capitão Pedro José Rufino e o intrépido voluntário Gabriel Barbosa (TAUNAY, Retirada da Laguna, cap. III).

Os Paraguaios perseguiram por 2 léguas a nossa força, mas vendo que a não alcançavam, voltaram ao Rio Feio, e no dia 1º  de Janeiro (1865) continuaram a marcha sobre Nioac, cujos habitantes haviam abandonado a povoação. Ali entrou Resquin no dia 2 de Janeiro, seguindo depois para a vila de Miranda, abandonada desde o dia 6 por ordem de Dias da Silva.   (Ver Nioaque,  imagem 61, visão panorâmica do antigo quartel de Cavalaria reconstruído em 1872 e a direita o pequeno oratório ou igreja; imagem 60 localização dos antigos Quartéis, imagem 59 vista da cidade, imagem 58 vista do rio Nioaque, fudos do atual  Quartel 9º GAC, saída para as Colonias Militares Miranda, Dourados, Fazenda, Paraguai, imagem 57, Região do Rio Canindé, onde tinha estrada carreteira de acesso as Colônias e Fazendas, também por onde passaram tropas paraguaias e brasileiras, mais detalhes no  Segundo Artigo. )


No dia 9, estando em marcha sobre essa vila, reuniu-se lhe o capitão Urbieta, depois de ter devastado as vizinhanças dos rios Dourados, Brilhante e Vacaria. No dia 12 entrou Resquin na vila de Miranda, e foi acampar pouco depois em Eponadigo a algumas léguas de distância.

Mais tarde, em virtude de ordens de Lopez, Resquin enviou uma expedição a Coxim.

Essa força, às ordens do capitão Aguero, composta de 1 companhia de rifleiros, 1 esquadrão de cavalaria e 2 peças ligeiras, apenas se demorou em Coxim 5 dias (24 a 30 de Abril) destruindo um pequeno depósito de víveres, que ali encontrou, e caminhou pela estrada de Cuyabá até à fazenda de Luiz Theodoro, 6 léguas aquém do rio Piquiry. A retirada fez-se com muita dificuldade; os pantanais tinham tomado água e a cavalhada foi dizimada pela peste própria daquelas localidades.

Um ano depois, quando a força brasileira desceu para Miranda por esse mesmo caminho, viam-se inúmeros vestígios da passagem e as ossadas de muitos animais que ali sucumbiram. (TAUNAY, Scenas de viagem, Cap I).


— Estes apontamentos, sobre a marcha dos Paraguaios são extraídos dos que obtivemos do general Caballero que servia às ordens de Resquin, e combinam com as partes oficiais dos chefes paraguaios publicadas no Semanário e com a descrição que se encontra no Relatório do presidente Leverger, barão de Melgaço.



Figura 7 - Mapa da localização Geográfica dos principais pontos ocupados pela invasão militar do Paraguai. Cópia extraída do Volume 2- referência citada no início em Nota.




Continua Francisco Solano Lopez:

“Vossa subordinação e disciplina, e vossa constância nas fadigas me respondem pela vossa bravura e pelo brilho das armas que a vosso valor confio”.

“Soldados e Marinheiros! Levai este testemunho de minha confiança aos companheiros que em nossas fronteiras do norte se vão reunir a vós; marchai serenos ao campo da honra e, colhendo glória para a pátria e honra para vós e nossos companheiros de armas, mostrais ao mundo inteiro quanto vale o soldado paraguaio”!


De Assumpção partiram 3.000 homens com 2 baterias de campanha em 5 vapores, 3 escunas e alguns navios de reboque. Além disso estavam anexas a esta expedição algumas chatas (baterias flutuantes), que eram propriamente grandes barcos de fundo raso destinados à navegação fluvial. (Ver imagem 29, Visão Panorâmica de Assunção, Capital da República do Paraguai)

Cada chata ia munida de uma grande peça, cuja boca chegava apenas ao lume d’agua, sendo por isto perigosa para os grandes vasos. Estas chatas prestaram relevantes serviços na defesa do Paso de La Pátria e de Humaitá, e podem com mar tranquilo ser aplicadas à defesa das costas. Como ficam quase à flor d'agua, e a cabeça do artilheiro só um pouco sobressaem à borda, não é fácil atingi-las com as peças dos navios. O próprio presidente Solano Lopez comandou de Cerro Leon até Assumpção o 6º e 7º batalhões porque neles e no comandante do 7º, major Luiz Gonsalez depositava especial confiança. Antes do embarque houve uma revista, para que as tropas pudessem ostentar suas novas blusas de cor escarlate.

Os dois batalhões eram alcunhados no Paraguay “orelhas pequenas”. Por essa designação se queria indicar a origem europeia pelo lado paterno ou materno.

Segunda divisão de tropas pos-se em marcha da cidade da Conceição, seguindo para, o norte o curso do rio Paraguay, para atravessar por terra a fronteira brasileira e percorrer o território, litigioso entre o Rio Apa e o Rio Branco (3).

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Explicações:

(3) Era a 2ª divisão, comandada pelo então coronel Resquin. Não devia ir até o chamado Rio Branco, mas em outra direção, marchando contra as colônias militares de Dourados, Miranda e Nioac, e contra a vila de Miranda. Os paraguaios davam a denominação de Rio Blanco a uma sanga ao sul do Nabilek, na margem esquerda do Paraguay, quase na altura do forte Olympo ou Bourbon , e pretendiam que dali, para leste, devia partir a linha divisória. O governo imperial considerou até 1865 justamente litigioso o território compreendido entre a linha reclamada pelo Paraguay e a do Apa, tanto que as rondas brasileiras iam encontrar-se com os piquetes paraguaios e havia a proibição de criar estabelecimentos na chamada costa do Apa.

 Em 1849 tendo ido a família de Gabriel Lopes , mineiro, abrir uma fazenda a poucas léguas do rio Apa, foi ela aprisionada e internada na República do Paraguay, donde só saiu depois de enérgica intervenção diplomática. Hoje pelos tratados da Assumpção, ficou aquela bela região pertencendo definitivamente ao Brasil, cuja linha divisória segue o curso do Apa e já foi assentada por uma comissão de engenheiros .

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A viagem da esquadrilha durou 12 dias, porque os vapores tinham que rebocar grande peso; mas realizou-se, do mesmo modo que a marcha na melhor ordem. Os navios, penetrando nas águas brasileiras, além do forte paraguaio da fronteira, Olympo (antes Bourbon), avistaram no dia 26 o forte brasileiro de Nova-Coimbra. (Ver imagem 34, visão Panoramica da localização do Forte Olimpo, no Paraguai)

Esta fortificação, cuja forma atual foi traçada no ano de 1797 (4), só ficou concluída em 1802. Está situada 40 pés acima do mais elevado nível das inundações do rio, à margem direita, isto é, do lado do Grand-Chaco.

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Explicações:
(4) Foi reedificado então por ordem do capitão general Caetano Pinto de Miranda Montenegro. Consistia antes numa estacada. Fizeram-se muralhas de pedra e cal na ponta do Monte da margem direita, dominando dois compridos estirões do rio Paraguay.

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A história das colônias espanholas já faz menção de um forte nesta região em fins do século XVII. A fortificação deste ponto, indicado pela sua posição estratégica, só teve importância em 1775, quando, não se sabe com que direito, o capitão-general de Matto-Grosso, Luiz de Albuquerque (5), mandou erigir um presídio neste lugar que era inconteste veemente possessão espanhola.

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 Explicações:

(5) Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres.

— O Sr. Schneider observa que este lugar “era incontestavelmente possessão espanhola”.
Não se pode exigir desse escritor um perfeito conhecimento das longas e intrincadas discussões que sustentaram as cortes de Lisboa e Madrid a respeito dos limites de suas colônias na América. O tratado de 13 de Janeiro de 1750 descreveu a mútua fronteira pelo meio do rio Paraguay, desde a foz do rio Corrientes, que era o Jejuy, na lat. 24º 12', até à foz do Jaurú, lat. 16° 24'.

Eis a letra do tratado:

“... Desde esta boca” (do Iguaçu na margem esquerda do Paraná) “prosseguirá pelo álveo do Paraná acima até onde se lhe ajunta o rio Igurey pela sua margem Ocidental.

Desde a boca do Igurey continuará pelo álveo acima até encontrar sua origem principal; e dali buscará em linha reta pelo mais alto do terreno a cabeceira principal do rio mais vizinho, que deságua no Paraguay pela sua margem oriental, que talvez será o que chamam Corrientes, e baixará pelo álveo deste rio até a sua entrada no Paraguay, desde a qual boca subirá pelo canal principal que deixa o Paraguay em tempo seco; e pelo seu álveo até encontrar os pântanos, que forma este rio, chamados a Lagoa de Xaraes, e atravessando esta Lagoa até a boca do Jaurú...”

Reconheceu-se, porém, na demarcação, que o contra vertente do Igurey era o Jejuy, que entra no Paraguay pela lat. de 24° 7’, e que ficando a cidade da Assumpção em 25° 16' 40", a linha divisória apenas passava a 1° e 9' acima daquela cidade. À vista disso começaram os comissários espanhóis a sustentar que não havia rio Igurey, e que o designado por esse nome não podia ser outro senão o Igúatemy, que desemboca na margem direita do Paraná em 23° 47' de lat., acima do Salto das Sete Quedas, devendo, portanto, a linha divisória seguir pelo seu contra vertente Ipané-Guazú, cuja foz fica em 23° 30’ de lat.

Reagiram os comissários portugueses, argumentando com o tratado, com o mapa geográfico de 1749, pelo qual os negociadores haviam descrito a fronteira, e com as instruções dadas pelas duas cortes, que mandavam tomar por divisa o primeiro rio caudaloso que acima do Iguaçu entrasse no Paraná por sua margem Ocidental, estando nesse caso o Igurey, ao sul do Igúatemy. Essas e outras desinteligências não deram lugar a que se concluísse a demarcação, e o tratado de 12 de Fevereiro de 1761 veio anular o de 13 de Janeiro de 1750, voltando a questão de limites ao estado anterior, e tomando-se por base as posses que tinham nessa época as duas coroas.

O tratado preliminar de 1° de Outubro de 1777 repetiu a fronteira desde o rio Paraná até o Paraguay nos mesmos termos em que tinha sido descrita no de 13 de Janeiro de 1750, mas continuando as mesmas dúvidas levantadas pelo comissário espanhol Azara, combinaram as duas cortes em 1778, na hipótese de não haver rio algum conhecido no país com o nome de Igurey, em adoptar a linha do Igúatemy e do Ipané Guazú. Este acordo foi condicional, e ficou nulo desde que Portugal pude logo depois demonstrar a toda a luz que existia o rio Igurey, abaixo do Igúatemy.

Em 1777 já a Espanha havia adiantado estabelecimentos na margem esquerda do rio Paraguay desde o Jejuy até o Ipané-Guazú, e continuou a fazê-los dali para o norte, em direção ao Apa, mesmo depois do tratado preliminar de 1777, não obstante as reiteradas reclamações do governo português, sempre desatendidas.

À vista deste procedimento, o capitão general Luiz de Albuquerque sugeriu ao governo a ideia de em represália, tomarem os portugueses posse da margem direita do Paraguay desde o Jaurú até o Fecho dos Morros, ao norte do Apa, ponto tido como o mais próprio para fechar a navegação do Paraguay, e impedir que os espanhóis continuassem a avançar para o norte.

Para levar a efeito essa justa represália, aproveitou o capitão general a ousadia de subirem os Índios do Paraguay em 20 canoas, no mês de Maio de 1785, até o marco do Jaurú, aprisionando e matando em uma fazenda 16 pessoas. No mesmo mês fez descer de Cuyabá uma expedição de canoas armadas, com 250 homens, às ordens do capitão Mathias Ribeiro da Costa, munido este de instruções para ocupar o Fecho dos Morros. Tendo, porém, esse oficial chegado ao lugar denominado — Estreito de S. Francisco, — onde o rio Paraguay corre apertado por duas eminências, tomou-o pela paragem indicada em suas instruções, e ali estabeleceu o presídio de Nova Coimbra (1775), aos 19° 55' de lat. austral. Em seguida, mandou-o mesmo capitão general, em 1778, fundar a povoação de Albuquerque, hoje Corumbá, e providenciou de maneira a sustentar-se como de Portugal o território da margem direita do Paraguay, desde Nova Coimbra até o Jaurú, do mesmo modo porque a Espanha conservava como seu o território que se estende ao norte do Jejuy (tratado de 1750, repetido pelo de 1777), ou, pelo menos, ao norte do Ipané-Guazú (acordo condicional celebrado em virtude das dúvidas levantadas pelos demarcadores espanhóis). Do engano que impediu ir a expedição ocupar o verdadeiro Fecho dos Morros, resultou fundarem os espanhóis o forte Bourbon ou Olympo (1792), acima desse lugar e abaixo de Nova Coimbra, e o fortim de S. José na margem esquerda do Apa, invadindo também a nossa fronteira oriental à mão armada e em plena paz, como o fizeram em 1796 e 1797. Para obstar semelhantes procedimentos, mandou o capitão general Caetano Pinto de Miranda  Montenegro, em 1797, estabelecer o presídio de Miranda, à margem do rio do mesmo nome, galho do Emboteteú  ou Mondego , perto do sitio em que existiu a chamada cidade de Xerez, fundada em 1580 pelos “Hespanhóes”, e destruída no século XVII pelos Paulistas. Deste presídio se abriram comunicações por terra com o de Nova Coimbra, cujas fortificações começaram a ser levantadas no mesmo ano de 1797.  Foi também de Miranda que partiu, durante a guerra de 1801, a expedição dirigida pelo capitão Francisco Rodrigues do Prado, que apoderou-se do fortim de S. José, no Apa (1° de Janeiro de 1802), aprisionando os oficiais e soldados que o defendiam, e destruindo-o completamente.

Assim estavam as coisas quando cessou na América o domínio de Espanha e de Portugal, constituindo-se as suas colônias em Estados independentes. E fora de dúvida, pois, que os novos Estados só podem alegar direito aos territórios sobre que exercem perfeita soberania.

Se Portugal, em vista do último tratado, que é o de 1777, não podia ocupar o sítio em que levantou Nova Coimbra, também a Espanha não podia reter o território que se estende ao norte do Jejuy ou Corrientes que é o contra vertente do Igurey.

O nosso direito à margem ocidental do Paraguay até a Bahia Negra, assim como à setentrional do Amazonas desde a boca mais ocidental do Japurá, chamada Avatiparana, até Tabatinga, vem de represália, por haverem os espanhóis avançado, por um lado, ao norte do Jejuy e mesmo do Ipané-Guazú, e por outro lado, aquém do canal Cassiquiare, pelo Rio Negro abaixo, afluente do Amazonas. Essas represálias foram ordenadas pelo marques de Pombal. —  (PEREIRA PINTO. A pontamentos para o Dir.Int., III; BARÃO DA PONTE RIBEIRO, Mgm., publicada no Rel. do Min. dos Neg. Estr. de 1870;  Protocolos das conferências de 1856 entre o V. do Rio Branco e Berges (anexos ao Rel. do Min. dos Neg. Estr. 1857) : LEVERGER, Breve memória relativa à corográfica de Matto-Grosso, Rev. do Inst. XXVIII; R. FRANCO DE ALMEIDA SERRA, Mem., Rev. do Inst. II). (Ver Imagem 37, visão panorâmica da foz do rio Miranda no Rio Paraguai, Mato Grosso do Sul, Brasil)

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Nova-Coimbra tem seis bastiões e percebe-se que em outro tempo se teve em vista posterior aumento; possui sólidas muralhas revestidas, e logo depois de sua conclusão, em 1802, resistiu a um ataque de 600 soldados espanhóis (6). No interior estão alojados
os soldados da guarnição e os condenados. Algumas famílias de lavradores e soldados casados moram fora, sob a proteção das muralhas .


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Explicações:

(6) Em 1801, e não em 1802, foi Coimbra atacada pelos espanhóis às ordens do governador do Paraguay, general Lázaro Rivera Espinosa, e brilhantemente defendida pelo ilustre coronel de engenheiros Ricardo Franco de Almeida Serra, que apenas tinha às suas ordens 42 homens. Intimado para render-se, respondeu ele que “a desigualdade de forças fora sempre um estímulo que animava os Portugueses ao combate”.  Lázaro Rivera, com a sua esquadrilha e 600 homens de desembarque, atacou o forte desde 16 até 24 de Setembro, mas retirou-se para a Assumpção sem nada haver conseguido. (Veja Rev. do Inst. II e XX; PEREIRA PINTO, Direito Internacional, III; CORRÊA DO COUTO, Dissertação sobre o atual governo do Paraguay).

“Consiste a fortificação , que é de figura irregular, em baterias que com dez canhoneiras, oferecem fogos cruzados sobre o rio; e dois pequenos baluartes, cujas muralhas são muitos baixas e asseteiradas , bem como as cortinas que unem os ditos baluartes entre si e com as baterias. Estas tão somente são em terreno horizontal; tudo o mais estende-se pelo morro acima em ladeira assaz íngreme, e o interior do forte fica completamente descoberto” (LEVERGER, Bolero da navegação do rio Paraguay, Rev. do Inst., XXV).



Figura 8 - Forte de Coimbra. Imagens extraídas dos Relatórios do Gen. Malan, anos 1924-1926. Arquivo do Exército.


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Estava armado, como todos os fortes da fronteira brasileira e pouco antes um pequeno vapor de guerra trouxera da capital, Cuyabá, munições de guerra. Esse vapor, o Anhambahy, estava ainda ancorado diante do forte (7). À exceção de algumas barracas baixas e cobertas de folhas de palmeiras e de uma casa para os poucos oficiais ali existentes, não havia no interior do forte edifício algum. Suas peças dominavam o apertado canal de 1350 pés, que os navegantes chamam Estreito de S. Francisco.


Figura 9 - Vista Panorâmica do Forte de Coimbra. Imagem Google Earth Pro 2016. Data da imagem 07/07/2003. Adaptação e copilação JVD.

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Explicações:

(7) Além do Anhambahy estava junto a Nova Coimbra o pequeno vapor Jaurú, que o coronel Porto Carrero expediu imediatamente para Coimbra com a notícia da invasão dos Paraguaios.

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6. Os Combates no Forte de Coimbra


Este estreitamento do rio Paraguay, que em geral é largo, torna o forte de grande importância.
A guarnição consistia em 155 soldados sob o comando do tenente coronel Porto Carrero (8), que às suas ordens tinha, entre outros oficiais, o capitão Conrado e o 2º tenente Oliveira Mello (9).


Figura 10 - imagem blog  - guerradoparaguaimatogrossodosul.blogspot.com.br – Forte de Coimbra e o rio Paraguai. 2014


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Explicações:

(8) O coronel Porto Carrero, sendo capitão, estivera antes no Paraguay como instrutor de artilharia do exército dessa República, por ocasião das desinteligências com Rosas. O próprio Solano Lopez fora seu discípulo e o chamava — “mi maestro”. O tenente Willagran Cabrita, morto por uma bala paraguaia em 10 de abril de 1866 na ilha da Redenção, em frente a Itapirú, foi também instrutor do exército paraguaio, e era ajudante de Porto Carrero. Na mesma época tínhamos no Paraguay como encarregado de negócios do Brasil um outro engenheiro distinto, o general Pedro de Alcântara Bellegarde.

(9) O comandante do Forte era o capitão Benedicto de Faria, mas, apresentando-se ali o tenente coronel Porto Carrero comandante do corpo de artilharia de Matto-Grosso e do Distrito militar do Baixo Paraguay, assumiu este chefe o comando e foi quem dirigiu a defesa. Além do tenente coronel e daquele capitão, estavam em Coimbra mais 10 oficiais, todos do corpo de artilharia da província: o major Rego Monteiro os capitães Ferreira Souto e Augusto Conrado, o 1º tenente Camargo Bueno os 2º Tenentes  Monteiro de Mendonça, Paulo Corrêa, Ferreira da Silva, Oliveira Barbosa, Fernandes de Andrade e Oliveira Mello, e o 2º cirurgião Pereira do Lago. Ao todo, 12 oficiais, 1 cirurgião, 9 sargentos e 93 cabos e soldados, ou 115 praças. (Ofício 108 de 22 de Setembro de 1865 do presidente de Matto-Grosso ao ministro da guerra, e a informação dessa data do tenente coronel Porto Carrero).

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Além dos soldados havia 17 presos, 10 indígenas da tribo Lixagota , 4 empregados da alfândega e 4 lavradores da povoação de Albuquerque (10), que se agregaram para a defesa, de modo que no total podiam dispor de 190 homens nas muralhas, dos quais 35 eram artilheiros para o serviço de 5 peças de calibre 12. Tal é a força mencionada por Ferraz, ministro da guerra, em seu relatório de 1866, ao passo que o tenente coronel Porto-Carrero em sua parte oficial enumera para cima de 300 homens. (11)  Em todo o caso a guarnição não era suficiente para resistir por muito tempo a um rigoroso e bem combinado ataque.

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Explicações:

(10) Segundo a informação de 22 de Setembro citada, tínhamos em Coimbra 115 homens de guarnição. O coronel Porto Carrero diz, em sua parte oficial de 30 de Dezembro, que essa guarnição foi coadjuvada por 10 índios cadiuéos da tribo do capitão Lixagota, por 4 vigias da alfândega, por 3 ou 4 paisanos de Albuquerque e por 17 presos. Ao todo, 150 homens. Na informação de 22 de Setembro, porém, diz que foi coadjuvado por 5 guardas nacionais de Albuquerque, 5 guardas da alfândega de Corumbá, 1 paisano, 1 operário contratado, 1 sargento e 9 cabos e soldados presos, além de 8 presos de justiça. São, pois, 30 homens. Com os 10 índios do capitão Lixagota, são 40 auxiliares, o que eleva a 155 o número dos defensores do Forte.

(11) Há engano do autor Porto Carrero não diz semelhante coisa em sua parte oficial.


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A esquadra paraguaia ancorou na noite de 26 para 27, abaixo do Forte, fora do alcance, das peças, e principiou logo a desembarcar tropa e artilharia em ambas as margens do rio. O coronel Barrios, cunhado do presidente Lopez e comandante em chefe da expedição, aproveitando-se de um espesso nevoeiro, enviou às 8 1/2 da manhã do dia 27 uma chalupa até junto da fortaleza e o coronel Vicente Dappy (12), comandante das tropas de desembarque, intimou ao comandante do forte que se rendesse; mas recebendo a merecida resposta militar, regressou para os navios e dirigiu o desembarque que durou até às 2 horas da tarde. Durante a noite as tropas de desembarque com seus atiradores, achegaram-se o mais possível do forte e o comandante Porto Carrero recolheu os postos avançados logo que pode reconhecer a grande superioridade do inimigo. A canhoneira imperial Anhambahy começou a acender as fornalhas, mas quando a nevoa deixou perceber a esquadrilha ancorada postou-se no meio do canal e descarregou sua artilharia com visível resultado, sobre as tropas desembarcadas.


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Explicações:

(12) Este nome aparece na parte oficial de Porto Carrero, mas não havia oficial algum paraguaio assim chamado. O chefe da expedição era o coronel Vicente Barrios. Sua assinatura, na intimação enviada ao forte, foi mal decifrada, e dali veio este — Vicente Dappy, — que também figura no relatório do ministério da guerra de 1866.

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Essa canhoneira só tinha 2 peças de 32 e não podia aceitar combate com 5 vapores de guerra. Estes também não a procuraram antes de desembarcarem toda a tropa e ficarem desimpedidos. A fortaleza e a canhoneira nada podiam conseguir contra às tropas desembarcadas, que avançavam encobertas por espesso bosque de tamarineiros. Quando alguma coluna por momentos se tornava visível, recebia logo uma descarga.

Em ambas as margens do rio descreviam os Paraguaios longos circuitos para encobrirem a marcha. Os navios paraguaios, que primeiro se desembaraçaram da tropa, aproximaram-se do forte e atiraram algumas bombas, mas sem proveito, porque os projetis arrebentavam diante das muralhas.

Ao meio dia devia estar completo o cerco pelo lado de terra, porque os navios suspenderam o fogo. Então a infantaria, que se tinha chegado o mais possível do caminho coberto, começou o fogo de fuzilaria, respondido com vigor pelas 2 baterias. O combate durou até às 7 horas da noite de 27 e cessou por causa da escuridão, recolhendo-se de novo para bordo a maior parte da tropa; disposição esta inexplicável em tais circunstâncias, porque Barrios não podia ignorar a fraqueza da guarnição, nem recear uma sortida. Apesar do vigoroso fogo de artilharia e fuzilaria, não houve no forte um só ferido ou morto: todos os defensores, porém, estavam extenuados de fadiga.

Na manhã do dia 28 puseram os Paraguaios em ação as suas baterias flutuantes, dando-lhes melhores posições do que na véspera, e o Anhambahy, não ousando afrontar essas peças de 68, conservou-se tranquilo, reservando-se para a inevitável retirada da guarnição, porque pela disposição dos Paraguaios, na manhã de 28, se percebia o plano de um ataque mais vigoroso  em que aproveitassem as vantagens da localidade.

De feito fizeram durante  toda a manhã um vivo fogo dos navios e de duas baterias colocadas atrás de um mato de cactos e tamareiras, e em seguida empreenderam o assalto. Muito sofreram os, assaltantes, por imperícia ou por conhecerem pouco o terreno, pois em toda a esplanada floresciam cardos (Cereus, Echinocactus e Mamillarias) tão cerrados, que impediam uma rápida avançada até ao caminho coberto. Cada passo para diante era embaraçado pelo mato de espinhos, e o fogo do forte produzia grande estrago. Desde esse primeiro combate deram os Paraguaios mostras de indomável coragem e daquela pertinácia, que se não desmentiu no decurso de toda a guerra. Apesar de consideráveis perdas, pois só no espaço livre da esplanada foram achados mais de 100 cadáveres (13), avançaram até ao fosso e só pararam diante de uma muralha de pedra de 14 pés de altura (14), que não podiam galgar sem escadas e outros meios de assalto. Houve descargas de ambos os lados, naturalmente sem efeito decisivo, e por fim o coronel Barrios mandou tocar a retirada. Durante esta pausa, só interrompida pelos gemidos dos Paraguaios prestados entre os cactos, avistavam-se do forte colunas inimigas, compostas das três armas, atravessando o rio. Das participações oficiais  que tivemos de ambos os lados, não é possível averiguar se eram as tropas que tinham ficado a bordo, ou as que logo no primeiro desembarque foram para a margem esquerda do rio ou se finalmente  a divisão que por terra marchara da Conceição (15). Em todo o caso à vista desse reforço era provável segundo ataque, quer a noite ou na manhã seguinte, tanto mais quanto com estas tropas se podiam montar terceira bateria contra o forte.

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Explicações:

(13) O Semanário publicou a parte de Barrios sobre o ataque e ocupação de Coimbra mas não a relação de mortos e feridos, a que este documento se refere.

Somente alguns dias depois declarou em um dos seus artigos que Barrios havia tido em Coimbra 42 mortos, 164 feridos e 1 prisioneiro ou 207 homens fora do combate.
Não deve merecer grande fé tal declaração, porque o Semanário procurou sempre com maior cuidado diminuir as perdas dos seus.
Mas quando mesmo fosse apenas essa perda do inimigo, é fora de dúvida que os defensores de Coimbra 115 praças e 40 guardas nacionais, paisanos, índios, presos militares e da justiça souberam servir das armas de que dispunham.

(14) Inexato. Não havia fosso e a muralha atacada apenas tinhas uns 5 pés de altura e em alguns lugares menos.

(15) Essa não era, porque segui direção diversa, invadindo por Bela Vista e Dourados.

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Apenas o inimigo se retirou às 7 horas da tarde, o tenente-coronel Porto Carrero mandou que dois piquetes comandado pelo Capitão Augusto Conrado e pelo 2º tenente Oliveira Mello, saíssem auxiliando reciprocamente, a recolher os feridos e apanhar alguns prisioneiros para que se pudesse ter conhecimento da força, recursos e intenções do inimigo.

Trouxeram 18 feridos para o forte e 85 espingardas abandonadas, e contaram mais de 100 cadáveres no espaço que ousaram explorar, porquanto os Paraguaios estavam no mato e daí se ouviam os gemidos dos feridos.

Interrogados os prisioneiros, e não se colhendo informações seguras, o comandante, à vista da comunicação recebida, vendo que as munições já eram escassas para o dia seguinte, reuniu em conselho, de guerra todos os seus oficiais e o comandante do vapor Anhambahy, capitão-tenente Balduino de Aguiar, para deliberar a respeito da possibilidade de uma ulterior defesa. Soube-se então que desde o dia 28 teria havido falta de munições se 70 mulheres, refugiadas no forte, não tivessem gasto a noite inteira em fazer cartuchos, o que não era já possível, por causa do cansaço.

Não se podia esperar, à vista do desguarnecimento da província, que viessem tropas de socorro, e possuindo os Paraguaios todos os meios de ataque, era de prever a final rendição do forte e perda da guarnição inteira. Com todos esses contratempos só se conseguiria, sustentando a posição, uma Vitória brilhante para o inimigo, ao passo que pela evacuação podia-se ao menos salvar alguma gente para resistir em outros pontos. O comandante do Anhambahy, pos seu navio às ordens do coronel, e às 11 horas da noite efetuou-se o embarque na melhor ordem, sem ser pressentido ou ao menos molestado pelos Paraguaios, nem ficar um só Brasileiro abandonado (16).


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Explicações:

(16) Barrios em sua parte oficial diz que à guarnição abandonou a bandeira que flutuava no forte, e a do corpo de artilharia de Matto-Grosso. Inteiramente inexato.

A bandeira do forte foi levada para Cuyabá pelo coronel Porto Carrero, e a do corpo de artilharia chegou à mesma capital no dia 30 de Abril quando ali entrou o 2° tenente Oliveira Mello. A única bandeira tomada pelos paraguaios em Matto-Grosso foi a do vapor Anhambahy. Barrios só enviou de Coimbra pedaços de uma bandeira velha, que por esquecimento não foram inutilizados. Tudo isso foi resgatado em Dezembro de 1868 pelo duque de Caxias depois da Vitória de Lomas Valentinas.


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A evacuação desse Forte é um fato curioso para a história militar: 8 navios paraguaios, entre eles 5 vapores (17) e algumas chatas, não ouvem, em um ponto tão estreito do rio o movimento do vapor brasileiro e deixam-no evadir-se com toda a guarnição.


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Explicação:

(17) Eram já então 8 vapores, 2 escunas , 1 patacho  e 2 lanchões.


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Este acontecimento singular só se explica por não haver um único dos navios do coronel Barrios subido o rio até acima do Forte, e demonstra que, apesar da superioridade numérica, havia medo das peças da fortaleza. É verdade que sem especial conhecimento da localidade não se pode julgar imparcialmente, e por isto, nos limitamos a notar o fato.

A respeito das circunstâncias particulares do assalto de 28, sabemos pelas relações paraguaias, que a guarnição do forte arremessou granadas de mão sobre os assaltantes que avançaram até ao fosso (18), e que o coronel Luiz Gonzalez, com os 750 homens 1 do 6º batalhão, tentando o assalto, perdeu 200 homens, entre mortos e feridos, e recebeu um ferimento.

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Explicações:

(18) Diz isso Barrios, mas nem havia fosso, nem a guarnição serviu-se de granadas.

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Durante a noite arranjaram paus, táboas e escadas para se renovar no dia seguinte com todo o vigor o assalto. Na tarde de 28 tinham conseguido sete Paraguaios com extraordinário esforço galgar a trincheira, mas foram todos mortos pelos Brasileiros. Com o material do corpo dos pontoneiros e com as escadas esperava Gonzalez pela superioridade do número, anular os esforços da defesa. No entanto adiaram os chefes paraguaios o assalto para o dia 29 e mandaram as colunas avançar às 2 horas da tarde (19), ficando, porém, assombrados, encontrarem o forte completamente deserto. Instrumentos e bagagens não levaram os Brasileiros, mas em compensação não deixaram um só morto ou ferido, porquanto o fogo dos Paraguaios, ainda que muito ativo, não ocasionara perdas nem dano sério à fortificação.

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Explicação:

(19) Há engano. Logo na manhã de 29 os Paraguaios viram das alturas próximas, que o forte estava abandonado. Avançaram às 2 horas, mas no dia 28 e não 29.

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Era um sucesso favorável, mas não uma Vitória. E certamente honrosa a resistência durante três dias de uma guarnição insignificante pelo número e não afeita à guerra (20), contra um inimigo habilmente fanatizado, pelo menos dez vezes mais numeroso (21) e provido de todos os meios, mas também não deixa de ser honroso o ataque paraguaio do dia 8, nem que malogrado, porque só merece a censura de ter sido empreendido sem o material de assalto (22). Barrios enviou a notícia do triunfo para Assumpção, onde produziu grande júbilo, e sem perda de tempo seguiu com a expedição contra Albuquerque e Corumbá.

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Explicações:

(20) Por decreto n. 3492 de Julho de 1865 foi concedida uma medalha aos oficiais, praças e voluntários que compuseram a guarnição do forte Nova-Coimbra nos dias 26, 27 e 28 de Dezembro de 1864. A fita, da largura de dois dedos, tem duas listras encarnadas nas extremidades e listra preta no centro. A medalha tem no anverso a inscrição.
— Valor e Lealdade; e no reverso, — 26,27 e 28 de Dezembro. Forte de Coimbra, 1864. — Uma bombardeira da esquadra imperial tomou o nome de Forte de Coimbra.

(21) Os Paraguaios tinham junto a Coimbra força mais de 30 vezes superiores ao número dos defensores do Forte.

(22) Precisamos retificar a narrativa que da expugnação de Coimbra faz o Sr. Schneider. Se ele conhecesse todos os documentos oficiais, tanto de fonte brasileira como paraguaia, e, sobretudo, se pudesse ter visto uma planta de Coimbra e da região vizinha, compreenderia logo que os paraguaios e o seu general Barrios não merecem louvores, pois diante da fraca é insustentável fortificação brasileira mostraram-se neste primeiro ensaio de suas armas escandalosamente inábeis e pusilânimes.

Na obra de Moutinho (Notícia sobre a província de Matto-Grosso) e na de Bossi (Viagem pitoresco) encontrará o leitor, que quiser informar-se por miúdo dos fatos, uma vista de Coimbra, e no Arquivo Militar a planta da fortificação.

Coimbra é dominada por duas eminências a cavaleiro, uma à margem direita, pela retaguarda da fortificação, e outra à margem esquerda, pela sua frente. Esta última é conhecida pela denominação de Morro Grande ou da Marinha, e havia sido fortificada ligeiramente pelo chefe da esquadra Leverger quando em 1855 estivemos a ponto de romper com o Paraguay.

O Forte, que era de figura irregular, estava assentado na base da íngreme montanha da direita, de sorte que apenas as baterias que davam sobre o rio tinham a conveniente altura, e esta ia diminuindo à proporção que a muralha se afastava da margem. Como o terreno se eleva consideravelmente, construíra-se no fundo do forte uma simples muralha ou parapeito aberto em seteiras, com uns 5 pés de altura, o qual subia pela montanha, e fechava, entre a plataforma do forte e o cimo do cerro, um espaço não pequeno de ladeira. Para se chegar das baterias à extremidade superior desse parapeito, que ficava em nível muito mais alto que as baterias, abriram-se em muitos lugares degraus no solo. Hoje Coimbra está reedificada, e é provável que não se ache no mesmo estado em que os paraguaios a encontraram em 1864.

Como estava então era posição insustentável, pois não havia fortificação alguma nem no cimo do morro da direita nem nas alturas da margem esquerda. Destas e do rio podia o forte ser batido de frente, varrendo também a artilharia inimiga toda a ladeira compreendida pelo parapeito asseteirado, isto é, tomando pela retaguarda os defensores do parapeito, que assim ficavam pelas costas expostos desde os pés até a cabeça. Ao mesmo tempo, ocupando o inimigo o cimo da montanha em cuja base estava o forte, podia muito a seu alvo fulminar pela retaguarda as baterias que dão sobre o rio e todo o recinto da fortificação. Um assalto era cousa simples, porque o parapeito não tinha fosso e era da altura de um homem.

Descendo o monte com o impulso da carreira; e sofrendo apenas o fogo de fuzilaria de 80 homens, únicos que o coronel Porto Carrero pudera distribuir pelas seteiras da retaguarda, porque 35 estavam ocupados com 5 peças montadas em bateria sobre o rio, e os 40 restantes sustentavam o fogo de fuzilaria em seis banquetas da mesma bateria, parece incrível que o famoso 6º batalhão paraguaio, dirigido por Luiz Gonzalez, e que, segundo Thompson, contava 750 homens, não houvesse tomado, logo no primeiro ímpeto, o parapeito do fundo, com o que estaria tomada toda a fortificação. Essa força, como se vê, investiu o forte tendo sobre os nossos vantagem imensa, mas os paraguaios, e com eles Barrios, Meza e Gonzalez, mostraram diante de Coimbra uma timidez inconcebível.

Certas circunstâncias podem talvez explicar o fato. Além de serem os assaltantes soldados novos, que nunca haviam entrado em fogo, chegaram a Coimbra supondo encontrar ali o capitão Benedicto de Faria com 40 e tantos homens apenas, e acharam-se na presença do coronel Porto Carrero, que tinha no Paraguay grande nomeada como oficial bravo e excelente artilheiro, e o prestígio de haver sido instrutor do exército paraguaio, mestre de muitos dos seus oficiais e amigo particular e companheiro de casa de Solano Lopez em Humaitá e no Passo da Pátria. A expedição de Barrios havia ancorado no dia 25 a curta distância do forte, para dar lugar a que se lhe reunissem os navios mais atrasados, e do sítio que então ocupavam ouviram os invasores um fogo bem sustentado de artilharia e fuzilaria. Barrios ordenou que um dos seus vapores se adiantasse para reconhecer o forte, e os exploradores voltaram com a notícia de que a guarnição fazia exercício e atirava ao alvo. Com efeito, apesar de não acreditar no rompimento do Paraguay, o coronel Porto Carrero quis preparar para a defesa os seus soldados, que, perfeitos no manejo das armas de infantaria, pela maior parte deixavam muito a desejar como artilheiros, e no dia 25 fez um exercício geral, simulando-se que o forte era atacado, tomando toda a guarnição seus postos de combate, e atirando-se a bala sobre alvos colocados na margem fronteira e em vários pontos da margem direita.

Estes alvos, que no dia 27 ainda se achavam em seus lugares, infundiram verdadeiro terror aos paraguaios, particularmente nos seus navios, que não ousaram de modo algum transpô-los.

Na noite de 26 de Dezembro fundeou a expedição uma légua abaixo de Coimbra, e só ao romper do dia 27, dissipado o nevoeiro, às 5 horas da manhã, foi avistada pelas sentinelas e vigias do forte. O coronel Porto Carrero distribuiu pelo modo acima indicado os seus soldados e os auxiliares, em número de 155 homens ao todo, e dispôs-se para o combate, fazendo partir para Corumbá o pequeno vapor Jaurú, com a notícia da invasão e de achar-se entre os navios, inimigos o paquete Marquês de Olinda, armado com 8 peças de artilharia.  Às 8 1/2 da manhã, recebeu a intimação de Barrios, e dentro de 10 horas, começou o desembarque dos paraguaios nas duas margens.
O Anhambahy, passando pelo forte, atreveu-se a avançar, e, às 10 1/2, com os seus 2 rodízios de 32, produziu grande estrago nas forças que marchavam pela margem esquerda a ocupar a fralda do Morro da Marinha, fronteiro ao forte, e que constavam de infantaria e duas baterias de artilharia montada, com 12 peças. Às 10 3/4 adiantou-se vagarosamente, e como que hesitando, a esquadrilha paraguaia. O Anhambahy retrocedeu então, colocando-se acima do forte. Às 11 horas a esquadrilha de Meza rompeu de longe um inútil bombardeamento, sem que os nossos respondessem porque os projetis paraguaios apenas chegavam a meia distância. Quando a artilharia inimiga se aproximou da margem fronteira, na borda do Morro da Marinha, até onde avançara encoberta pelo mato, o Anhambáhy e o forte começaram o fogo, às 2 horas da tarde.

No forte estavam montadas, 11 pecas, mas apenas 5 trabalhavam porque só tínhamos 35 artilheiros disponíveis, que, felizmente, eram tão destros em sua arma como o resto do corpo de artilharia de Matto-Grosso o era no uso da espingarda e da baioneta.

Os paraguaios que haviam desembarcado na margem direita, apareceram no cordão de mato que circunda o forte, com mostras de quererem assaltá-lo, pois conquanto fizessem fogo de fuzilaria por detrás das árvores, avançaram por vezes, com passo incerto, mas retrogradaram sempre, pelo fogo das 5 peças do forte e das 2 do Anhambahy, que atiravam por elevação, e pela incessante fuzilaria das banquetas e das seteiras do parapeito. “O vapor Anhambahy”,  confessa Barrios em sua parte oficial,  “coadjuvou muito a defesa”;  e, referindo-se aos nossos atiradores, diz que o fogo de fuzilaria era “increible”.

O fogo do inimigo foi pessimamente dirigido, a ponto de não termos nos 2 dias de bombardeamento, um só ferido. As balas das peças volantes estabelecidas na fralda do morro fronteiro e as dos navios causaram grandes estragos, tanto no dia 27 como no 28, entre os próprios paraguaios que se achavam em terra.

À noite Barrios fez reembarcar a gente que tinha na margem direita, isto é, no lado em que se acha Coimbra. Não havia procedido ao mais ligeiro reconhecimento, o que lhe seria facílimo, e por isso receou que o coronel Porto Carrero tivesse guarnição suficiente para fazer alguma sortida.

No forte apenas havia 12.000 cartuchos embalados, e destes mais de 9.000 foram consumidos no dia 27. Foi preciso que 70 mulheres, que se achavam no forte, e alguns soldados e oficiais, que puderam deixar os parapeitos, trabalhassem a noite inteira em preparar cartuchame para a infantaria. Assim (diz a participação oficial do coronel Porto Carrero) pode a guarnição no dia 28 dispor de 6.000 e tantos cartuchos, tendo sido necessário machucar com pedras e pequenos cilindros as balas de adarme  17 para acomoda-las às espingardas à Minié.

Às 7 horas da manhã rompeu o fogo de parte à parte, revelando-se os paraguaios, como no dia anterior, péssimos atiradores.

Foi às 2 horas da tarde que os 750 homens do 6º batalhão, dirigidos pelo major, depois coronel, Luiz Gonzalez, lançaram-se ao assalto. Não o fizeram, porém, com o ardor de que Barrios fala em sua parte oficial, porque se assim fosse teriam tomado imediatamente o forte. Avançaram até o parapeito, de 4 a 5 pés de altura, e foram cruelmente dizimados pela fuzilaria das seteiras e pelas metralhas do Anhambahy. Diante das certeiras balas dos nossos 80 atiradores, dirigidos pelo 2º tenente Oliveira Mello, estacaram os paraguaios, e começaram, em coluna, a sofrer o fogo dos seus próprios navios, que, enfurecendo-se contra os defensores do forte, não fizeram mais do que lançar bombas e balas que iam cair sobre os assaltantes. Em alguns pontos o parapeito era tão baixo, que com o declive da montanha podia um homem, correndo, salta-lo facilmente. Instigados por Gonzalez e por seus oficiais, os soldados paraguaios procuraram galgar o parapeito, mas foram sempre repelidos à bala ou baioneta. Apenas 8 saltaram dentro do forte, ficando 1 prisioneiro e os outros mortos.

Gonzalez foi ferido, e perdeu neste assalto, segundo Thompson, 200 homens entre mortos e feridos. O próprio Semanário, como já vimos, confessou que ficaram fora de combate 207 homens. Do nosso lado não houve perda alguma.

Às 7 da noite cessou o fogo do inimigo; e Porto Carrero fez sair duas partidas às ordens do capitão Conrado e do 2° tenente Mello, que voltaram algum, tempo depois conduzindo 85 espingardas abandonadas e 18 feridos, havendo contado muitos cadáveres.

Soube-se então que o inimigo desembarcara novas forças, e 4 peças que se dirigiam para o cimo do monte. Tendo sido empregados nesse dia uns 5.000 cartuchos, só restavam 1.000; as balas de adarme 17, que serviam para a transformação acima referida, estavam acabadas, e extenuados de fadiga todos os soldados, auxiliares e mulheres. Porto Carrero reuniu em conselho os oficiais e o comandante do Anhambahy, e resolveu-se por unanimidade de votos a evacuação do forte: Momentos depois fez-se esta operação. Ficaram no forte os 18 feridos paraguaios e o operário contratado de que faz menção em uma nota anterior, o qual se havia embriagado, e não foi encontrado no momento do embarque.

Na madrugada de 28 desembarcaram de novo os paraguaios na margem direita, abaixo de Coimbra, e, por entre as árvores, foram subindo o morro em que está a fortificação, e estabeleceram na parte superior do mesmo uma estativa de foguetes à congrève.


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7 A Retirada do Forte de Coimbra.

O Anhambahy navegou a todo o vapor de Nova-Coimbra até Albuquerque (23), desembarcando ali uma parte da guarnição, porque levava mais do que a lotação, e continuou para Corumbá, onde estava o quartel general do chefe militar da província, e de onde o tenente-coronel Porto Carrero mandou sua participação oficial para o Rio de Janeiro (24).

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Explicações:

(23) A 13 léguas de Coimbra o Anhambahy encontrou o chefe da flotilha com os vapores Jaurú e Corumbá, que desciam do porto deste nome, levando para aquele forte um reforço de 50 artilheiros e 2 oficiais. Voltaram então os dois vapores para Corumbá, acompanhando o Anhambahy, que desembarcou em Albuquerque, como diz o Sr. Schneider, parte da guarnição de Coimbra.

(24) Parte oficial, escrita em 30 de dezembro.

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A tomada de Nova-Coimbra produziu em Albuquerque e Corumbá tal terror que da primeira dessas povoações fugiram todos os habitantes e da segunda os mais abastados, espalhando-se em todas as direções. A pequena força militar, que por ali estava retirou-se para Cuyabá, e tornou fácil aos Paraguaios a ocupação desses dois pontos.

Albuquerque (25) é uma pequena povoação à margem direita do Paraguay.

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Explicação:

(25) Também chamada Albuquerque Novo. Fica 14 léguas ao norte de Coimbra, em uma eminência, a uma légua do rio.

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Foi criada neste século, formando-se de um primitivo destacamento militar da fronteira. Sob a proteção da guarda estabeleceram-se nas vizinhanças algumas tribos de índios Guaycurús (26).

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Explicação:

(26) As aldeias dos índios Guaycurús, Kinikináos, e Guanás que lá existiam eram anteriores à criação do povoado. Foi para catequizá-los que se fundou a Missão da Misericórdia. Em 1827 para lá foi o quartel do comando geral da fronteira. Em 1835, criou-se uma freguesia que compreendia Coimbra, Albuquerque e Corumbá. A população total de Albuquerque em 1862 avaliava-se em 500, e tantas almas, afora 1.000 índios, quase todos de nação guaná, que residiam em duas aldeias, uma junto, a outra 3 léguas no Mato Grande. (A. LEVERGER, Roteiro, etc). Ia prosperando muito, quando foi destruída pelos Paraguaios. Os índios guanás, levados então prisioneiros, foram libertados em 1869 pelos Brasileiros depois das vitórias do príncipe Conde d'Eu em Peribebuy e Campo Grande.


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8. A Retirada para, Albuquerque, Corumbá, Dourados, Sará, Rio São Lourenço.

Exatamente no tempo em que rompeu a guerra tratava-se de fortificar o lugar, mas a rápida e inesperada invasão dos Paraguaios não deu tempo para isso. Como o forte perto de Corumbá também se chama Albuquerque (27), as participações militares durante a ocupação foram mais de uma vez confundidas, o que deu origem a muitos enganos. O forte em cuja vizinhança se desenvolveu o povoado aberto de Corumbá, foi edificado em 1778, e era igualmente um presídio ou posto da fronteira, junto ao qual se foi formando uma população mista de índios, portugueses e mulatos. Essa povoação adquiriu alguma importância com a, liberdade da navegação no rio Paraguay.   (Ver imagem 44, visão panorâmica da localização onde existiu o Porto de Sará; imagem 43 visão da foz do Rio São Lourenço no Rio Cuiabá; imagem 42 visão da foz do Rio Cuiabá no Paraguai; imagem 41 visão panorâmica do local do  Antigo Estaleiro e Deposito  bélico de Dourados no Rio Paraguai; imagem 40 panorama das cidades de Corumbá e Ladario; imagem 39 panorama da cidade de Corumbá; imagem  38 panorama atual do Distrito de Albuquerque)

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Explicação:

(27) Albuquerque Velho, ou Corumbá. Povoação fundada em 1778 pelo governador Luiz de Albuquerque e Cáceres. Fica umas 19 léguas ao norte de Albuquerque. Ao romper a guerra prosperava rapidamente e contava mais de 1.000 habitantes.

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Quando se trata de, uma guarnição nesses fortes ou pequenas povoações quer isso dizer um destacamento de 15 a 25 homens, que não passam de uma guarda policial ou de vigias da alfândega.

Ao tempo em que no Estado Oriental sucumbia Paysandú diante da força dos Brasileiros e dos colorados Orientais, ocupavam os Paraguaios Albuquerque em 31 de Dezembro (28), e Corumbá em 3 de Janeiro, tendo o comandante das armas, coronel Oliveira, ordenado a evacuação deste último lugar no dia 2. A bordo do Anhambahy, de algumas  chalupas e barcas dirigiram-se cerca de 500 pessoas para Sará, na confluência do S. Lourenço com o Paraguay, e dali demandaram por terra a cidade de Cuyabá, capital da província. Os artilheiros, que em Nova-Coimbra com tanto denodo se haviam batido, reunindo-se com os que se achavam em Corumbá (corpo de artilharia de Matto-Grosso) embarcaram-se em uma escuna mercante e, sob o comando do já mencionado 2º tenente João de Oliveira Mello acompanharam o vapor; o mesmo fez um contingente do 2º batalhão de artilharia (29).

Figura 11 Corumbá, antiga Fortificação, 1864. - imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna
Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938 Impresso Militar.

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Explicação:

 (28) No 1º de janeiro 1865.

(29) Em Nova Coimbra estava parte do corpo de artilharia de Matto-Grosso e em Corumbá a maior parte do 2º batalhão de artilharia a pé, como já vimos.
O comandante das armas em ofício de 28 de Dezembro participava ao presidente a chegada dos paraguaios a Nova Coimbra e acrescentava:

— “Vai já para ali regressar o vapor Jaurú que nos trouxe esta notícia, indo a seu bordo o chefe da flotilha e uma força de 50 praças com 2 oficiais do 2º batalhão de artilharia a pé. Viva animação reina em todos geralmente, sem exceção de militares e paisanos, que se me tem vindo oferecer voluntariamente para a defesa do país. Segundo informação do comandante do Jaurú, quando dali largou já havia rompido o fogo. Posso afirmar a V. Ex. que não falta á nossa gente patriotismo, orgulho e valor, mas nossos recursos tanto de pessoal, como de armamento e material de guerra, e quiçá de gêneros alimentícios, para circunstâncias tais, são escassos e de V. Ex. espero pronto socorro”.

Mas que socorro podia o presidente enviar para que Corumbá, sem fortificações, com 23 peças, das quais algumas não se achavam em estado de servir, e apenas 500 e tantos defensores, inclusive os paisanos armados e a guarnição que chegava de Coimbra, resistisse com vantagem ao ataque de Barrios, que dispunha de mais de 4.000 homens, de uma respeitável divisão naval, e de mais de 60 bocas de fogo, contadas as das esquadras?

Sem confiança no bom êxito da defesa de Corumbá, mas acreditando que o comandante das armas estivesse disposto a resistir até a última extremidade para demorar a subida dos Paraguaios, escreveu o presidente em 11 de Janeiro ao ministro da guerra:

— “... A não ser um valor sobre-humano”, é de supor que à esta hora esteja o Corumbá em poder do inimigo, podendo-se, porém, asseverar que muito cara lhe custaria essa vitória.

__ Não aconteceu assim. Com a chegada do Anhambahy, conduzindo a guarnição de Nova Coimbra, e a notícia do grande poder de que dispunha o inimigo, o comandante das armas julgou inútil tentar defender esse ponto, e resolveu evacuá-lo imediatamente.
No dia 2 de Janeiro fez embarcar precipitadamente no Anhambahy, no Jaurú, na escuna argentina Jacobina, propriedade de um italiano, e em várias lanchas, a tropa que havia em Corumbá, e muitos dos principais habitantes, seguindo rio acima em demanda da capital.

Em ofício n. 34 de 22 de Abril de 1865, disse o presidente da província ao ministro da guerra:

“Tenho a honra de passar às mãos de V. Ex. a inclusa cópia autêntica do extensíssimo ofício datado de 28 do mês próximo passado, que dirigiu-me o coronel Carlos Augusto de Oliveira, depois que chegou a esta capital, dando os motivos do fatal abandono que fez da povoação de Corumbá, e da peregrinação em debandada em que andou por espaço de 2 meses com a força que devia defender o dito ponto. Dessa exposição se conhece que o coronel Oliveira, então comandante das armas da província, ou não esperava os Paraguaios na fronteira do Baixo Paraguay, ou não tinha intenção de repeli-los, porque nenhum a providência eficaz deu para isso, e nem soube utilizar-se dos recursos de que podia dispor para uma heróica defesa.  É muito de notar-se que estando à sua disposição os armazéns de Cuyabá, Miranda, Dourados e Corumbá, nos quais havia grande cópia de munições de guerra, fosse o forte de Coimbra evacuado por falta de cartuchos de fuzilaria, tendo o dito coronel chegado a Corumbá em Outubro, e sendo aquele forte atacado em fins de Dezembro... É também para notar que opondo-se o comandante da flotilha a que se abandonasse o ponto de Corumbá, tomasse o coronel Oliveira sobre si a resolução de abandoná-lo sem o parecer de um conselho de oficiais.

Ainda mais: tendo o mencionado coronel chegado, como disse, em Outubro à povoação de Corumbá, saindo desta  capital, onde há um arsenal de guerra, com o 2° batalhão de artilharia a pé, só conhecesse que não havia cartuchos suficientes na ocasião em que os devia empregar contra o inimigo, havendo-os aliás em muito grande abundancia nos Dourados, por onde passou, e em Miranda onde esteve. Levando desta capital operários, não pode em 2 meses reparar alguma artilharia de Corumbá, onde deixou para o inimigo 20 e tantas bocas de fogo. Pólvora não podia faltar-lhe, porque até mandou em um iate, para cima, a que julgou não lhe ser precisa”.

Transcrevendo em seu relatório os trechos que acabamos de reproduzir, disse o general Albino de Carvalho:

— “... Expressando-me assim acerca do coronel Oliveira, não tive em vista agravar a sorte adversa de um camarada, nem insinuar que ele muito podia ter feito por dispor de consideráveis recursos, porquanto sou o primeiro a declarar que a província não tinha os precisos elementos de defesa; da minha exposição o que razoavelmente se deve concluir é que o coronel Oliveira podia ter feito alguma cousa em honra e glória das armas imperiais”.

O grande erro do comandante das armas foi ter proibido antes a retirada dos habitantes, prometendo até o último momento defender a povoação.  “Quando resolveu abandonar o ponto”,  diz um estrangeiro que residia na província invadida,  “tudo foi confusão, e dali tantas desventuras e o séquito imenso de desgraças que acabrunharam essa população infeliz, da qual pequena parte se salvou”.

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Quando ao subir o rio esse oficial de repente avistou o fumo dos dois vapores paraguaios, mandou sua gente sair das embarcações e fugir pela terra adentro (30): exemplo este que foi seguido por alguns botes com habitantes de Corumbá. Por espaço de oito dias estes infelizes vararam pântanos e bosques; não podendo, porém prosseguir pela fome e pelo cansaço, pararam em uma fazenda do interior, contando já mais de 100 doentes graves. Também os Paraguaios, encontrando as embarcações abandonadas, mandaram tropa perseguir e dispersar os fugitivos, dos quais a maior parte pereceu, escapando contudo os artilheiros.

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Explicação:

(30)  O 2º tenente Oliveira Mello desembarcou no sitio do Bananal, antes do Sará.

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9 Os combates no Rio São Lourenço, afluente do rio Cuiabá, e a tomada do navio brasileiro Anhambahy.

Entretanto, continuara o Anhambahy sua marcha para Sará, onde desembarcou o comandante das armas com os soldados, que se dirigiram por terra para Cuyabá. O vapor continuou a navegar, mas foi perseguido no dia 6 por 2 vapores paraguaios (31);

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Explicação:

(31) Foi perseguida essa canhoneira por 2 vapores paraguaios, o Yporá e o Rio-Apa, segundo a parte oficial de Barrios, ou por 3 vapores, segundo a do chefe da flotilha de Matto-Grosso.

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Um deles, o Yporá, comandado pelo capitão-tenente Herreros, tendo a bordo 6 peças e 1 belo canhão de bronze de 32 no convés, e sendo mais rápido, alcançou o Anhambahy (32) no rio S. Lourenço, antes que chegasse o outro vapor paraguaio. Logo que o Anhambahy ficou ao alcance de seus perseguidores, deu algumas descargas e matou um oficial no convés do Yporá.

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Explicação:

(32) O Anhambahy não era propriamente navio de guerra, mas um paquete. Tinha 2 rodízios de 32, 34 homens de guarnição, e a força de 40 cavalos.

O Yporá "moinava" 4 peças, e era em tudo muito superior ao Anhambahy. Não obstante, o apaixonado Thompson declara covarde a guarnição brasileira porque não atacou e meteu a pique o Yporá! E como a bordo do Anhambahy havia um piloto inglês de nome Jozias Baker, eleva-o Thompson ao posto de capitão comandante do navio e diz que foi a única pessoa que se portou bem a bordo. Baker dirigiu o fogo do rodízio de popa, mas lançou-se ao rio, como muitos outros, quando os paraguaios deram a abordagem.  Ao Anhambahy deu o mesmo escritor  7 canhões. Sobre a artilharia, porém (2 peças), veja-se o Relatório da marinha de 1864.

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Este não respondeu, mas aproximou-se com toda a força à sua preza; encostou-se e deu a abordagem, porque dispunha de infantaria e de uma valente marinhagem. Foi de pouca duração o combate, se é que tal nome merece a confusão que então se deu. Logo que o Yporá atracou à Anhambahy e aplicou os arpões nos parapeitos do convés e na armação, a maior parte da tripulação brasileira saltou n'agua (33) e procurou salvar-se a nado para a margem  do rio, mas foi morta pela infantaria do Yporá. O maquinista de bordo, o inglês Baker, saltou também n'agua, mas teve a felicidade de chegar são e salvo à terra e de esconder-se no mato.

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Explicação:

(33) Barrios declarou ao seu governo que o Yporá havia tido 1 oficial morto, e que “a maior parte da guarnição do Anhambahy pereceu, atirando-se ao rio, de onde se salvaram alguns, fazendo-se 7 prisioneiros, entre os quais o imediato”.   O Yporá perdeu no combate o cano e sofreu grandes avarias nas caixas das rodas. ( Moutinho, Noticia, sobre a província de Matto-Grosso, 297).

— O Anhambahy e o Jaurú haviam deixado no Sará o comandante das armas, coronel Oliveira, o tenente-coronel Camisão, comandante do 2º de artilharia, a maior parte deste corpo, guardas nacionais, empregados da alfândega de Corumbá e famílias. O Jaurú seguiu para Cuyabá, e o Anhambahy voltava com o chefe da esquadrilha para dar reboque à escuna Jacobina, que já então havia sido abandonada, pelo 2º tenente Mello, no Mangabal, quando avistou os paraguaios.  “De pronto, diz Castro Menezes em sua participação oficial, foi o Anhambahy seguido por 3 vapores inimigos e capturado às 2 1/2 da tarde”  (de 6 de Janeiro, perto do Morro de Caracará).  “O Anhambahy limitou-se a fazer o fogo que era possível em retirada, mas o único rodízio que algum dano fazia ao inimigo ao décimo terceiro tiro desmontou-se, e assim, sendo abordado por um dos vapores que de mais perto o seguia, em uma volta das mais estreitas do rio, e também impelido pela correnteza das águas, foi sobre a barranca e nessa ocasião saltou em terra quase toda a guarnição; sendo a maior parte de menores do corpo de imperiais, o que era de esperar à vista da força do inimigo que os atacava”.  Entre os mortos ficaram o piloto José Israel Alves Guimarães, que comandava o navio, o comissário Fiúza e o Dr. Albuquerque. O piloto Israel Guimarães não quis abandonar o seu posto, e morreu pelejando.

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Em poucos minutos estavam os Paraguaios senhores do navio. Todas as pessoas encontradas a bordo foram trucidadas, e as orelhas cortadas dos cadáveres enfiadas em um cordel e dependuradas no mastro grande. Quando, mais tarde, o vapor, voltando para Assumpção, se apresentou com as orelhas, enfiadas e suspensas, supondo produzir grande efeito, Solano Lopez mandou por fora tais troféus. Assim o diz Thompson, que estava então ao serviço da República.

O Semanário contestou o fato, quando os jornais de Buenos-Aires, cheios de indignação, levantaram um grande clamor (34).


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Explicação:

(34) As notícias publicadas pelas folhas de Buenos-Aires foram levadas por passageiros do vapor inglês Ranger, que subira até Corumbá. Eis alguns extratos:

“... A guarnição do Yporá ao chegar à Assumpção, no dia 14 de Janeiro, repartiu grande quantidade de gêneros roupa e muitos outros objetos, produto dos roubos em Corumbá. O comandante desse vapor, André Herreros, tem em seu poder uma caixa de madeira cheia de achados de toda a espécie, que constituem uma delicada fortuna adquirida à “la pampa”. A bordo deste mesmo vaso está à vista do público uma corda, contendo orelhas humanas postas a cecear, as quais pertencem à infeliz tripulação do Anhambahy. Com a notícia do triunfo das armas paraguaias em Matto-Grosso tem havido em Assumpção grandes festas populares e bailes. Quando o Ranger devia partir de Assumpção para Corumbá, o governo paraguaio, sob pretexto de comunicações oficiais e garantias ao vapor, mandou como passageiros o alferes Julian Nicanor de Godoy e um assistente para a expedição. Este oficial foi recebido a bordo com uma mala pequena e um saco com ofícios. Durante a viagem, apesar da dissimulação; deixou perceber o fim de sua missão: estava a bordo como espião. Chegou o vapor à Corumbá, e quando regressámos à Assumpção tivemos de receber o mesmo passageiro, com a diferença de que na volta a sua bagagem era extraordinária, compondo se de três malas carregadas de sapatos, chapéus e outros gêneros, de louça e cristal, e além disto dois ou três sacos cujo conteúdo não foi possível descobrir-se. O roubo feito em Corumbá chegou até à igreja, cujos sinos se acham hoje em Assumpção”.

Os sinos de que fala esta notícia eram de bronze e tinham as armas imperiais; Foram colocados nas torres da catedral de Assumpção. Quando visitamos essa capital, no mês de Março de 1869, tivemos conhecimento disso pelo Semanário de 4 de Fevereiro de 1865. A pedido nosso, foram esses sinos conduzidos então para Corumbá, onde se acham de novo.


Figura 12 - Imagem Cidade de Cuiabá Antiga. https://www.achetudoeregiao.com.br/mt/cuiaba/historia.htm


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10  A fuga e Retirada para Cuiabá, Capital da Província de Mato Grosso.

O comandante das armas, que oportunamente desembarcara em Sará com muita gente, entre tropa e famílias, teve com o maior esforço de atravessar matos, pântanos e rios, até chegar em princípios de Março a Cuyabá com os restos do 2º batalhão e alguma força de artilharia (35); Só em fins de Abril chegou o 1° tenente Oliveira Mello com os artilheiros que tinha feito desembarcar antes de Sará (36).

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Explicações:

(35) Leia-se com as relíquias do 2º batalhão de artilharia a pé.
 — O coronel Oliveira chegou a Cuyabá, no dia 6 de Março com 162 praças desse batalhão e de outros corpos da província (Página 24, do Relatório do Presidente Albino de Carvalho) e em fins de Abril o 2º tenente Luciano Pereira de Souza com 57 praças do mesmo batalhão, que se achavam dispersas pelos pântanos. Ao todo 219 praças. Não nos foi possível encontrar no Arq. da Sec. da Guerra os Relatórios desses dois oficiais e os ofícios do presidente de Matto-Grosso.

(36) O 2° tenente Oliveira Mello chegou a Cuyabá em 30 de Abril com 400 pessoas entre soldados, mulheres e crianças que salvou, depois de 4 meses da mais penosa viagem por lugares nunca percorridos antes. A entrada desse benemérito oficial em Cuyabá foi uma verdadeira festa popular. Da sua comitiva faziam parte 230 praças, de todos os corpos da província. Durante a viagem só perdeu 4 praças, aprisionadas pelos paraguaios. A sua perseverança e à merecida força moral de que gozava deve-se aquele resultado inesperado e honrosíssimo.


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No Rio de Janeiro causaram desagradável impressão as medidas adoptadas pelo comandante das armas, e o ministro da guerra as considerou desacertadas. A justa indignação pela perda de grande parte da província de Matto-Grosso desvairou o juízo da capital do Império, porquanto em 8 de Fevereiro ainda estava quase intacta a força militar da província, à exceção de 2.000 homens de tropa e da guarda nacional errantes nos matos, isto é, havia ainda 970 homens da guarda nacional em Cuyabá, 805 em Melgaço inclusive 152 soldados de linha, 100 e tantos em Poconé, 581 em Villa Maria inclusive 83 soldados de linha (37).

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Explicação:

 (37) Estes dados foram pelo autor extraídos do ofício de 28 de Fevereiro de 1865 do presidente de Matto-Grosso. Além das forças que menciona havia vários destacamentos nos sertões e no distrito da cidade de Matto-Grosso, e a pequena flotilha. O Sr. Schneider  se enganou quando disse que erravam nas matas 2.000 homens de tropa e da guarda nacional. O leitor já sabe que não tínhamos na fronteira tanta força. O ofício de 28 de Fevereiro refere-se às praças de linha, da guarda nacional e a todos os habitantes que haviam fugido do inimigo em número de 2.000 pessoas ao todo.

Eis as palavras do presidente:

— “A gente dispersa pelos matos e pantanais dos rios Paraguay e S. Lourenço é regulada em mais de 2.000 pessoas, das quais tem  chegado algumas a esta capital, nuas, extenuadas de miséria e fadiga. De hoje até amanhã esperam-se cento e tantas. Grande parte tem morrido de fome, de peste, afogados, etc, e outras tem sido aprisionadas”.

 — Cumpre também notar que os algarismos que o Sr. Schneider indica, representam alguma força de linha que havia ficado nesses pontos e a guarda nacional chamada a destacamento depois da notícia da invasão.

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O que podia fazer um comandante militar, à frente de milícias disseminadas em uma vastíssima superfície? Como poderia repelir o vigoroso ataque dos Paraguaios, cujo aparecimento inesperado infundira extraordinário terror, pois entregavam ao saque cada povoação e cada fazenda onde chegavam, tratavam os habitantes com requintada crueldade, já tinham tomado para cima de 100.000 cabeças de gado e sistematicamente devastavam esta região de tão escassa povoação (38)?


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Explicação:

 (38) No mesmo ofício de 28 de Fevereiro diz o presidente de Matto-Grosso (PEREIRA DA COSTA, História da guerra, etc, I. 250):

 — “Os Paraguaios têm quatro vapores, em tudo superiores aos nossos, cruzando nos rios Cuyabá e S. Lourenço, e vão aprisionando toda a gente que busca a capital. As fazendas de gado e mais estabelecimentos dos rios Cuyabá, S. Lourenço e Paraguay, estão abandonadas, avaliando-se em mais de 100.000 o número de rezes das ditas fazendas”.

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O Yporá, quando perseguia o Anhambahy, passou em frente à povoação de Dourados, onde a província tinha um depósito de armas e munições, guardado por 30 homens sob o comando do tenente Antônio João Ribeiro (39).

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10.1 A Ocupação e confronto militar na Colônia Militar de Dourados

Explicação:

(39) Há engano: o autor confunde dois lugares do mesmo nome. O tenente Antônio João Ribeiro não estava no estabelecimento de Dourados que fica à margem do Paraguay, mas na colônia militar de Dourados, situada na fronteira, a 24 léguas, SE de Nioac, à margem do rio dos Dourados, afluente do Brilhante. Tinha apenas 15 homens, como já dissemos, e foi atacado, segundo o general Caballero, por 220 Paraguaios às ordens de Urbieta, que pertencia à divisão de Resquin.

“A pequena Colônia Militar de Dourados “, diz o presidente Leverger em seu relatório de 1865, “caiu logo em poder dos invasores. O seu comandante, o bravo tenente de cavalaria Antônio João Ribeiro, não obstante a enormíssima desigualdade de força, tentou resistir e, segundo toda a aparência, sucumbiu com a pouca gente as suas ordens, sem arredar pé do lugar que lhe fora confiado”.

Segundo a parte oficial do chefe paraguaio, publicada no Semanário, foram mortos, da nossa força, o tenente Antônio João Ribeiro e 2 praças, sendo feridos 1 cabo e 1 soldado. Estes e mais 10 praças ficaram prisioneiros, o que importa dizer que não escapou um só dos 16 homens de que se compunha o destacamento: 3 foram mortos e 12 aprisionados, entre os quais 2 feridos; o soldado que faltava havia seguido antes para a colônia militar de Miranda com ofícios do tenente Antônio João, e foi aprisionado perto dessa colônia pelas forças de Resquin.

Todos os prisioneiros morreram no Paraguay, antes de terminada a guerra.

Eis a parte oficial de Urbieta, que transcrevemos por ser o único documento que existe sobre este pequeno choque em que sucumbiu um dos nossos mais intrépidos oficiais, que passava até por louco, em consequência de seu gênio arrebatado e das imprudências que praticara por vezes, quando encarregado de diligências contra malfeitores e índios bravios:

“Tenho a honra de participar a V. Ex. que ontem 29, (Dezembro,) cheguei a esta colônia de Dourados sem ser pressentido, e sendo descoberto a pequena distância, ouvi um curto toque de chamada, tomando as armas o comandante da colônia, que se adiantou com alguns homens. O tenente de infantaria cidadão Manoel Martinez, incumbido de levar o ataque, intimou-lhe que se rendesse, mas o comandante brasileiro respondeu que se lhe apresentássemos ordem do governo imperial se renderia, mas sem ela não o faria de modo algum. Com esta resposta, travou-se logo o combate, sendo mortos aos primeiros tiros o comandante de Dourados, tenente Antônio João Ribeiro e mais 2 indivíduos, e fugindo os restantes para o mato do arroio, de onde foram retirados 12, inclusos 1 cabo e 1 soldado feridos, escapando os demais da guarnição com o segundo comandante.  Da tropa; do meu comando só o tenente cidadão Benigno Dias e 1 soldado foram feridos...”

Esta parte oficial não é em tudo exata. No dia 28 Antônio João teve notícia da aproximação dos paraguaios e ordenou que os poucos habitantes da colônia, velhos, mulheres e crianças, a abandonassem, declarando-lhes que ali ficava para morrer em seu posto. Ao comandante da colônia de Miranda e ao tenente-coronel Dias da Silva, aquartelado em Nioac, enviou a noticia da invasão dos paraguaios, e a este útimo escreveu a lápis o seguinte bilhete:

— “Sei que morro, mas o meu sangue e o de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do solo da minha pátria. — Antônio João Ribeiro”

Preparou-se para receber o inimigo. Cada um dos seus soldados tinha uma espingarda e duas clavinas carregadas. O que se passou depois, no dia 29, só se sabe pela parte oficial de Urbieta e pelas descrições dos paraguaios que serviam às ordens desse chefe, e que todos foram acordes em reconhecer a bravura do comandante de Dourados.

Um pequeno vapor pertencente à companhia de navegação do Alto Paraguay, foi comprado no ano seguinte pelo governo provincial e recebeu o nome de Antônio João em honra a esse oficial. Moutinho, na sua Notícia sobre a província de Matto-Grosso, refere à pag. 191, alguns episódios da vida de Antônio João. (E também em citações  no Jornal do Comércio de 27 de abril de 1865.)

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Enquanto era capturado o vapor Anhambahy no rio S. Lourenço, 2 vapores paraguaios saídos mais tarde de Coimbra desembarcaram 500 homens em Dourados, os quais acometeram e debandaram o pequeno destacamento depois de alguma resistência. Quando o Yporá voltou, em 10 de Janeiro, encontrou os 2 navios ocupados em carregar pólvora, madeira, ferro e máquinas, e associou-se à faina. O desleixo da tripulação que levava a pólvora de terra para bordo era tal, que a iam entornando por todo o caminho desde os depósitos até ao rio. O oficial, que inspecionava o transporte, chamou a atenção de seus superiores para a possibilidade de uma explosão. Não se fez caso. O capitão-tenente Herreros, o apresador do Anhambahy, chegou a zombar do previdente oficial, mandou-o para bordo e encarregou-se de vigiar o trabalho. Apenas, porém, se aproximou dos depósitos, deu-se uma explosão que o matou juntamente, com alguns outros oficiais e 23 soldados. O cadáver de Herreros foi levado para Assumpção, onde o presidente ordenou que lhe fizessem solenes exéquias e prometeu erigir-lhe um monumento, para comemorar o aprisionamento do Anhambahy.

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11 A Ocupação Via Terrestre.


Enquanto Barrios operava na grande estrada fluvial do Paraguay, marchava a leste de Nova-Coimbra para a vila de Miranda a divisão, que, partindo da cidade da Conceição, invadira por terra Matto-Grosso, composta de vários regimentos de cavalaria (2.500 cavalos), um batalhão de infantaria e uma bateria (40).

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Explicação:

(40) Já dissemos que esta divisão constava de 5.000 homens e 6 peças, segundo declarações de prisioneiros.

 Figura 14 - Povoado de Nioaque em 1867 - imagens extraída do Livro A Epopea Da Laguna. Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar.

 Figura 13 - imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna.  Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938 Impresso Militar.

Figura 13 - imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna.  Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938 Impresso Militar.



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O coronel Resquin comandava esta divisão, mas estava subordinado ao coronel Barrios. Em Miranda havia 260 homens de infantaria, em Nioac 130 de cavalaria, que deviam ir em auxilio da guarnição ameaçada naquele ponto. Oito léguas distante de Miranda essa pequena força encontrou acampada a divisão do coronel Resquin e, reconhecendo que nada podia diante de tão desproporcional superioridade, retirou-se, com a guarnição saída de Miranda, para Cuyabá, aonde chegaram em fins de Abril. Assim se perdeu também Miranda e a sua pretensa, fortaleza, que não passava de uma área cingida de estacas, onde se principiara a construir um quartel para a guarnição. Igualmente sucumbiu a colônia de Coxim, que os Paraguaios abandonaram depois de devastada, ao passo que continuaram a ocupar Miranda (41).

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Explicação:

(41) Na nota  explicamos estes fatos. Resquin avançou pela colônia militar de Miranda e por Nioac sobre a vila de Miranda, enquanto Urbieta atacava Dourados.

Os 130 homens a que o autor se refere são os do tenente coronel Dias da Silva (corpo de cavalaria de Matto-Grosso e paisanos armados) que sustentaram algumas guerrilhas desde o Rio Feio até a ponte do Desbarrancado. Quanto a Miranda, não atende o autor a que havia a colônia de Miranda e a vila de Miranda. No sumário e na nota citada verá o leitor a ordem cronológica dos fatos. Na vila de Miranda estavam o casco do batalhão de caçadores de Matto-Grosso (89 praças, incluindo oficiais e músicos), e algumas praças do 7º batalhão da guarda nacional, ainda não organizado. Comandava a força de caçadores o capitão Pereira da Motta, e a da guarda nacional o major Caetano de Albuquerque. O tenente coronel Dias da Silva, comandante do corpo de cavalaria de Matto-Grosso, era também comandante de todo o Distrito militar da vila de Miranda, e estava em Nioac. As colônias militares de Miranda e Dourados eram os pontos mais avançados da fronteira. O Sr. Schneider dá o número exato dos combatentes que tinha o tenente coronel Dias da Silva quando o general Resquin, com mais de 2.000 homens, procurou atacá-lo: 130 homens, que o mesmo Resquin teve o desembaraço; na parte oficial que dirigiu ao ministro da guerra do Paraguay, de elevar a 200 ou 300 homens de cavalaria, do mesmo modo porque Barrios elevará a 2 ou 3.000 homens de tropas o número dos defensores de Corumbá. Na nota  já vimos que em toda a vasta província de Matto-Grosso não havia senão 128 homens de cavalaria.

Tendo sido publicada na Notícia sobre a província de Matto-Grosso essa parte oficial, reproduziremos aqui a que o tenente coronel Dias da Silva dirigiu em 31 de Janeiro ao presidente da província (uma copia acompanha o ofício n. 35 de 24 de Abril de 1865 dirigido pelo presidente ao ministro da guerra). Não nos consta que tenha sido publicada ainda a parte oficial do chefe brasileiro.   (Ver imagem 56, visão do cruzamento entre a antiga estrada da época da Guerra com a Rodovia BR-060, interligando atualmente os Município de Guia Lopes da Laguna e Maracaju)


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11.1 Confrontos nos Rio Feio, Desbarrancado, Santo Antônio .

Eis alguns trechos :

“... Chegando ao meu conhecimento no dia 30 de Dezembro, que no antecedente haviam sido tomadas as colônias de Miranda e Dourados por duas grandes forças paraguaias, fiz imediatamente partir 1 alferes do corpo com 6 praças para verificar essas notícias e observar o movimento dos invasores, enquanto aprontava o corpo para marchar, o que fiz 4 horas depois, e apenas transpus o rio Nioac mandei avançar o capitão Pedro José Rufino com 1 alferes e 20 praças, fazendo a guarda avançada da força que eu levava, a qual não excedia de 130 praças, inclusive alguns paisanos. Cheguei ao lugar denominado Desbarrancado às 8 horas da manhã, de 31”.

“Nesse lugar recebi a notícia de que a força inimiga se achava na margem oposta do Rio Feio, distante do Desbarrancado meia légua, aquém do qual parou o capitão Rufino com a força do seu comando até que, reunindo-me a ele, recebi um recado do comandante inimigo em que me fazia conhecer o desejo de falar-me sobre negócios de paz. Aquiescendo a esse desejo, transpus o precitado Rio Feio e ali aguardei a sua presença; e, tornando-se demorada, lhe dirigi a lápis uma nota, cientificando-o de que iguais desejos nutria afim de explicar-lhe as instruções que tinha do meu governo sobre o fato que nos ocupava, recebendo em solução a nota junta por cópia sob n. 1 que foi por mim respondida pela forma constante da cópia sob n. 2, na qual, repelindo a proposta humilhante que se me fazia, protestei contra a invasão que traiçoeiramente se havia feito em nosso território”.

“Poucos momentos depois da recepção de minha recusa rompeu o fogo da parte do inimigo, encetado por um tiro de artilharia, à vista do que vim retirando para aquém do rio Santo Antônio, sendo ainda forçado a abandonar esse ponto por saber que uma força de cavalaria inimiga, transpondo o dito rio pela minha esquerda, procurava passar também o rio Desbarrancado para cortar-me a retaguarda, e só ali pude reconhecer a força invasora, que calculo em 2.000 homens, composta das três armas, restando-me apenas tempo para debaixo de fogo cortar a ponte, que existia sobre este último rio, e retirar-me”.

“Tenho apenas a lamentar a morte de 2 cabos, 2 soldados e 1 paisano no ato do fogo, porém o mau estado da cavalhada, magra e cansada da viagem forçada que acabava de fazer, ocasionou o extravio da maior parte da força, da qual poucos se tem reunido ao corpo posteriormente”.

O paisano morto foi um fazendeiro das vizinhanças de Nioac, o intrépido Gabriel Barbosa , natural da Franca; na província de S. Paulo (Jornal do Comércio de 11 de abril de 1865, correspondência de Uberaba).

Em outra participação oficial, dirigida em 5 de julho ao ministro da guerra, diz o tenente coronel Dias da Silva que no Rio Feio tinha 130 homens, incluindo 20 paisanos voluntários; que foi perseguido por espaço de três léguas, e que nas guerrilhas que sustentou foram mortos 2 cabos, 5 soldados e 1 voluntário.   (Ver imagens 53, 54, 55, visão panorâmica dos Rios e estradas, Rio Feio, Rio Santo Antônio e Rio Desbarrancado, todos localizados em território do atual Município de Guia Lopes da Laguna,  Sudoeste do Mato Grosso do Sul. )


11.2 As fugas, retiradas, dispersão da população e das tropas militares brasileiras.


Nessa retirada 1 sargento e 40 e tantas praças tomaram rumo diferente, seguindo pela estrada do Coxim, e desapareceram 1 tenente, o capelão e o cirurgião do corpo (parte oficial de Dias da Silva). Resquin diz que ficaram mortos 1 oficial e 57 praças e 13 prisioneiros, sendo tomados 31 cavalos e 8 mulas, e que da sua parte só houve 1 morto e 2 feridos. Dias da Silva, seguiu apressadamente para a vila de Miranda, e ordenou ao major Caetano de Albuquerque e ao capitão Pereira da Mota que se retirassem com a guarnição, que constava de 89 caçadores e alguns guardas nacionais. A vila foi abandonada no dia 6.

Quase todos os seus habitantes fugiram embarcados, descendo o rio Miranda. Depois de se conservarem escondidos num lugar chamado "Salobra", entraram no rio Aquidauana e subiram-no até perto do porto de Souza. Ali se refugiaram nas fragosidades da serra de Maracajú, de envolta com muitos índios Guanás, Kinikináos, Laianos e Terenos.  (Ver imagem 65, visão panorâmica da localização denominada “Salobra”, o Rio e matas, que na época da invasão pertencia a Vila de Miranda.)


Alguns seguiram para Sant’Anna do Parnahyba com os restos do corpo de cavalaria.

Os que ficaram na serra de Maracajú formaram três espécies de povoados chamados os Morros.

Da guarnição de Miranda extraviou-se o cirurgião do batalhão de caçadores. Um sargento e 16 praças separaram-se e tomaram a estrada do “Tabôco” . (Ver imagem 67, visão panorâmica da região conhecida por “Taboco”, localidade, rio, matas, localizada ao Norte de Aquidauana – MS.)


No relatório que em dezembro de 1865 apresentou à assembleia provincial de Matto-Grosso, o presidente Leverger (barão de Melgaço) descreveu assim a marcha de Resquin:

“... O restante da expedição desceu a serra e passou pela colônia militar de Miranda, abandonada por seus habitantes. A imensa superioridade da sua força tornou-lhe fácil o desbaratar o corpo de cavalaria, que, vindo de Nioac, onde estava aquartelado, fez inútil esforço para disputar a passagem do rio Desbarrancado junto à fazenda do mesmo nome”.

“O comandante e os destroços do dito corpo retiraram para a vila de Miranda, onde existiam tão somente poucas praças, como já disse do batalhão de caçadores, e diminuto número de guardas nacionais do ainda não organizado 7° batalhão. Com tão poucos elementos julgaram todos inútil a resistência, e constando que os paraguaios se haviam assenhoreado de Coimbra e Corumbá e da navegação do Paraguay, trataram de retirar-se, seguindo uns pelo rio de Camapuan, outros, pelo lado do estabelecimento colonial do Taquary, fronteiro à barra do Coxim, e geralmente designado por este último nome...”

As colônias de Dourados, Miranda e Nioac eram pequenas povoações formadas de ranchos de sapé .
Em Nioac  havia um bom quartel de palha e um igrejinha.

A vila de Miranda , foi primitivamente um presídio fundado em 1778, como já dissemos, à margem direita do Miranda, afluente do Mondego. Estava florescente e possuía excelentes casas, uma igreja e um quartel magnífico, sobretudo naquela distante localidade.

A colônia militar de Dourados  foi fundada em 10 de Maio de 1861 por ordem do ministério Caxias (gabinete de 2 de Março de 1860)  “em lugar aprazível e fértil, sobre uma chapada na margem direita do primeiro e maior dos três braços que formam o rio dos Dourados, entrecortada por capões e vertentes que vão encontrar no principal galho do rio. Fica abaixo do dorso da serra de Maracajú em uma distância de 4 a 5 léguas na zona compreendida entre este rio e o Ivinheima, Paraná e Igúatemy e elevação da mesma serra para o lado do nascente, na distância de 12 léguas de Miranda, rumo geral do Sul”  Foi inaugurada com 10 colonos e um destacamento. .  (Ver imagem 52, visão panorâmica da localização onde existiu a Antiga Colonia Militar de Dourados, Localizada no Atual Município de Antonio João, Mato Grosso do Sul, atualmente está instalado o PH-CMD Parque Histórico Colônia Militar de Dourados, com um destacamento Militar e Museu)


A Colônia de Miranda  fora criada por ordem do ministro do império marques de Monte Alegre (gabinete de 29 de Setembro de 1848, aviso de 2 de Abril de 1850) mas só foi inaugurada em 23 de Novembro de 1859, com 31 colonos e um destacamento, nas cabeceiras do rio de Miranda.   (Ver imagem 52, visão panorâmica da localização onde existiu a Antiga Colonia Militar de Miranda, Localizada no Atual Município de Guia Lopes da Laguna)


A ordem para a fundação da colônia militar de Nioac  (primitivamente Anhuac) é também do marquês de Monte Alegre (21 de Maio de 1850) mas só em 1859 foi essa colônia fundada sobre o rio do mesmo nome, confluente do Miranda, onde começa a navegação deste último e existiu um destacamento militar.

A colônia militar de Taquary , mais conhecida por Coxim, foi criada por ordem do gabinete de 2 de Março, presidido pelo duque de Caxias, e inaugurada em 25 de Novembro de 1862, no Beliago, diante da confluência do Taquary e do Coxim protegendo a estrada do município de Sant’Anna do Parnahyba  à barra do Coxim. (Relatório do Ministério da Guerra de 1866).


12 As Comunidades Indígenas no sul da Província no contexto da época, lutas, resistências e participações.


No Distrito militar de Miranda havia para cima de 4.000 índios aldeados, e mais de dez aldeamentos regulares. Os Terenos; que eram os mais numerosos, estavam estabelecidos  no  Xaxedaxe, a 6 léguas da vila, no Ipégue, a 7 1/2, e na Aldeia Grande, a 3; os Kinikináos   no Agaxi, a 7 léguas N. E.; os Guanás no Eponadigô e no Láuiád; os Laianos a meia légua. Todos estes pertenciam a nação Chané. Dos Guaycurús havia aldeamentos no Lalima e perto de Nioac. Os Cadiueos moravam em Amagalobida e Nabileke, perto da sanga denominada Rio-Branco, à margem esquerda do Paraguav ("TAUNAY, Historias Brasileiras, Rio, 1 vol., 1874, e Relatório, geral da comissão de engenheiros juntos as  forças em expedição para a província de Matto-Grosso, na Revista do Instituto 1875) Quando no dia 6 de Janeiro, por ordem do tenente coronel Dias da Silva, foi abandonada a vila de Miranda, os índios saquearam a povoação, apoderam-se das armas que puderam, e, deixando suas aldeias, embrenharam-se pelos Matos, e hostilizaram os paraguaios, durante todo o tempo da ocupação (Relatório do presidente Leverger, de 1865).

“Os Guanás, Kinikináos e Laianós foram os que mais serviços prestaram: os Terenos se isolaram e os Cadiuéos assumiram atitude infensa a qualquer branco, ora atacando os paraguaios na linha do Apa, ora assassinando famílias inteiras, como aconteceu com a do infeliz Barboza, no Bonito” (TAUNAY, Historias Brasileiras.) Em 20 de janeiro e em dias de maio os Terenos bateram no Aquidauana fortes partidas paraguaias, e em agosto surpreenderam e incendiaram dois acampamentos inimigos.

Um dos encontros do Aquidauana foi no porto de Maria Domingas. Dezesseis índios, ocupados em cortar cana, foram surpreendidos por duzentos paraguaios. Não desanimaram; fizeram da mata fogo vivíssimo e obrigaram aquela grande força à retirada.

“Esse lugar foi testemunha de uma das poucas cenas de resistência no longo período da ocupação paraguaia e apresenta gloriosas mostras daquele feito de armas: várias árvores varadas por balas e cinco ossadas humanas”.  (TAUNAY, Scenas de Viagem, Cap. X).

O major Caetano de Albuquerque, pouco depois promovido a tenente-coronel, com cerca de 70 guardas nacionais do 7º batalhão, não abandonou um só momento os fugitivos de Miranda, e com eles se manteve nas matas de Maracajú, escapando sempre às pesquisas das rondas paraguaias. Estavam também qualificados guardas nacionais muitos índios Kinikináos e Terenos, assim como o chefe destes, o valente capitão José Pedro (Relatório da comissão de engenheiros, Revista do Instituto, 1875, pag. 318).

 Figura 17 - Imagem extraída do Livro Dias de Guerra e Sertão. Visconde de Taunay. Setembro de 1927. São Paulo.





13 A Situação na Capital da Província do Mato Grosso Cuiabá e região Norte.

Com isto terminou a ofensiva nesta expedição. Ainda que sempre saltassem vencedores, não deixavam Barrios e Resquin de compreender que a conquista e ocupação de toda a província estavam dependentes da capital, Cuyabá, única cidade populosa e importante. Todavia graves considerações, ou insuperáveis obstáculos, não permitiam que contra ela marchassem. O Semanário alegava serem então pouco fundas para a esquadrilha paraguaia as águas do rio São-Lourenço, que se tinha de subir para chegar a Cuyabá. Tendo, porém, durado 4 anos a ocupação da província até Sará, certamente nesse lapso de tempo deveriam as águas ter alguma vez crescido; além disso os vapores brasileiros repetidas vezes por ali navegaram e até ganharam um combate naval (42).    (Ver imagem 48, visão panorâmica da cidade de Cuiabá,  atual Capital do Estado de Mato Grosso.)


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Explicação:

(42) O combate naval do Alegre, em 11 de Julho de 1867.

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Portanto outra deve ter sido a causa de não se ter prosseguido na ocupação da província até o fim da guerra. Barrios encontrou uma corajosa resistência em Nova Coimbra, único ponto onde era possível a defesa. Albuquerque, Corumbá, Dourados (43) e Miranda os Paraguaios encontraram abandonados e as pequenas guarnições que ali havia retiraram-se para Cuyabá. As grandes provisões de artilharia, que foram encontradas e enviadas para Assumpção, faziam supor existirem na capital mais peças ainda, que, dispostas em bateria à margem do rio, seriam gravíssimo perigo para os navios.

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Explicação:

(43) Na colônia de Dourados encontrou o inimigo resistência. No porto de Dourados nenhuma. Neste último lugar estava o 2º tenente Durocher, de marinha, com 3 praças e o escrivão. Seguiram todos para Cuyabá com a notícia da invasão. Os pontos ocupados pelos Paraguaios foram: à margem do Paraguay, Nova Coimbra, Albuquerque, Corumbá e Dourados; entre o Apa, a serra de Amambay e o Taquary, as colônias de Dourados, Miranda e Nioac, e a vila de Miranda.

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Também não passou desapercebida aos Paraguaios a proclamação de 9 de Janeiro, pela qual o presidente da província, Albino de Carvalho, chamava às armas toda a povoação para repelir a iníqua invasão e por termo às barbaras crueldades do inimigo. Na verdade toda a guarda nacional da província correu às armas (44), e em fins de Abril tinha o presidente no rio Aricá duas brigadas, uma da guarda nacional mobilizada, e outra de tropa regular, enquanto a guarda nacional da reserva fazia o serviço de polícia nas cidades.

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Explicação:

(44) Eis a proclamação a que se refere o autor:

“Matto-Grossenses! — A injustificável ameaça do governo da República do Paraguay feita ao Império em sua nota de 30 de Agosto do ano passado está consumada. Em 27 de Dezembro findo uma expedição paraguaia, composta de numerosos navios a vapor e à vela com cerca de 5.000 homens, acometeu o forte de Nova Coimbra e intimou ao comandante, tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto-Carrero, a sua entrega dentro do prazo de uma hora, sob pena de romper o fogo para consegui-lo à viva força, ficando em tal caso a guarnição sujeita à sorte das armas.

Contra tão desleal agressão protestaram energicamente a guarnição do forte de Nova-Coimbra e a do vapor Anhambahy, seu auxiliar, compostas de menos de 200 bravos”. “Esse protesto ficará na história, escrito pelas armas imperiais, tintas no sangue  de centenas dos agressores que foram mortos ou mutilados durante dois dias de renhido combate.

“Foi um protesto solene e glorioso”!

“ Matto-Grossenses! Às armas! E, com elas em punho, rivalizai com os valentes soldados de Nova-Coimbra e com os intrépidos marinheiros do Anhambahy”!

“Viva o Imperador”!

“Viva a integridade do Império”!

“Palácio do governo da província, de Matto-Grosso, na cidade de Cuyabá, 9 de Janeiro de 1865.

— O presidente da província, Alexandre Manoel Albino de Carvalho, brigadeiro”.

Os briosos guardas nacionais de Matto-Grosso e toda a população da província acudiram pressurosos ao apelo do presidente, oferecendo seus serviços. A assembleia legislativa provincial deixou de funcionar porque quase todos os seus membros marcharam com os corpos destacados da guarda nacional.

A notícia da ocupação de Coimbra e Corumbá pelos paraguaios e da invasão do Distrito militar de Miranda, chegou a Cuyabá na tarde de 6 de Janeiro ou na noite de 7. O 1º batalhão da guarda nacional, pegou logo em armas; improvisou-se um corpo de 4 companhias com a denominação de Voluntários Cuyabanos; depois reuniram-se a estes os batalhões 2º e 3º de guarda nacional, das freguesias próximas, e o 4º, de Diamantino e Rozario. As notícias que chegavam de todos os pontos eram aterradoras, e esperava-se a cada momento o ataque da capital. O presidente Albino de Carvalho tomou ativas providências para armar a guarda nacional e defender Cuyabá, e, com o fim de cobrir esta cidade, mandou ocupar a mais extrema das colinas do Melgaço, 20 léguas abaixo, primeiro ponto sobranceiro à inundação que se encontra, subindo o rio, desde o porto de Dourados no rio Paraguay. Em 20 de Janeiro teve o presidente a feliz inspiração de nomear comandante superior interino da guarda nacional o venerando chefe de esquadra reformado Augusto Leverger (hoje barão de Melgaço), o qual no mesmo dia partiu para àquele ponto e deu começo às fortificações. O prestígio de seu nome, não só em Matto-Grosso como no Paraguay, onde por vezes estivera, valeu-nos um exército e conteve em respeito os invasores. Eis como um estrangeiro que então residia em Cuyabá descreve a partida do ilustre general para o Melgaço (MOUTINHO, Notícia sobre a província de Matto-Grosso:  (Ver imagem 47, visão panorâmica da cidade de Leverger e imagem 46 da cidade de Melgaço, no Sul de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso)

“... O susto e o terror da população cresceram espantosamente logo que se soube na noite de 19 de Janeiro, que a força que estava no Melgaço havia abandonado esse ponto, que a Anhambahy havia sido tomado, e que os vapores paraguaios cruzavam na foz do Cuyabá. Com às notícias chegadas no dia 7, a cidade ficara deserta, pois que a maior parte dos habitantes se havia retirado, receando a aproximação do inimigo. O desrespeito às autoridades começava a manifestar-se, e o povo a insubordinar-se, quando o general Albino, conhecendo os perigos da situação, dirigiu-se ao arsenal de marinha e mandou chamar O general Leverger o qual lhe declarou estar pronto para tomar no Melgaço o comando das forças. As providências para a sua marcha foram imediatamente dadas. A alegria e a confiança se restabeleceram de pronto entre o povo; as forças recém-chegadas, declararam que desejavam voltar sob o comando desse chefe, e todos à porfia queriam ser dos primeiros a acompanhá-lo, compartilhando com ele os perigos da guerra. O bravo Oficial, naquela avançada hora da noite, sem despedir-se de sua família, sem cuidar de si, seguiu para o Melgaço, assegurando ao povo, que a capital não seria invadida sem que no ponto cuja defesa ia tomar se houvesse dado um tiro ao menos em honra do país. Este ato de abnegação e coragem animou a população de tal modo, que no dia seguinte ferviam os empenhos para se partir para o Melgaço, que poucos dias antes era o terror de todos, e dentro em pouco tornou-se uma fortificação respeitável. As famílias que haviam abandonado suas casas, com a notícia da partida do general Leverger voltaram resolutamente, e a cidade, antes deserta e abandonada, tomou de novo a sua vida ordinária, e a tranquilidade reapareceu, porque, tolhendo o passo ao inimigo, velando pela segurança de todos  lá estava em seu posto de honra o brioso general. Soube-se mais tarde que os paraguaios, tendo notícia de que esse chefe, a quem conheciam e muito respeitavam como experiente, prudente e bravo, se achava à frente de forças mais ou menos consideráveis, resolveram não subir até a capital...”

Em princípios de Fevereiro tínhamos ali um contingente do 2º batalhão da guarda nacional e o 3º batalhão da mesma guarda, com 653 praças, um contingente de linha e a companhia de artífices, com 162 praças. Total, 805 homens, com um parque de 6 peças de calibre seis e 2 obuses de quatro e meia polegadas, (8 bocas de fogo).

Estavam também ali os pequenos vapores Cuyabá, Corumbá e Jaurú, com 2 rodízios  cada um, Alpha e Cuyabá, dá companhia de navegação, sem artilharia. Outro vapor da mesma companhia, Conselheiro Paranhos, ficou em Cuyabá.

Dias depois marcharam para o mesmo ponto 300 praças do 1º batalhão da guarda nacional, ficando a coluna às ordens do general Leverger elevado a 1.105 homens. Na Capital ficaram 670 guardas nacionais, em Poconé 100, em Villa Maria 581 e 83 praças de linha.

O general Leverger conservou-se no Melgaço até o dia 14 de Março, em que deixou o comando por desinteligências com o presidente, e porque o rio havia baixado consideravelmente, tornando impossível a subida dos vapores inimigos. Fora dias antes nomeado comandante das armas interino o tenente-coronel Camisão.

Em meados de Abril era esta a força da guarda nacional destacada (ofício do presidente, de 24 de Abril ao ministro da guerra):




“O 7° batalhão, ainda não organizado, do município de Miranda, e a companhia avulsa de Albuquerque, pertencente ao mesmo município”, diz o mapa que acompanha o citado ofício,  “acham-se dispersos em Consequência da invasão. O  8º, criado por decreto de 24 de Dezembro de 1864, não está ainda organizado. A seção de batalhão n. 1 da cidade de Matto-Grosso não foi chamada às armas”.

Em 17 de Abril o presidente Albino de Carvalho espalhou a seguinte proclamação:

“Matto-Grossenses! — Chamei-vos às armas em Janeiro em consequência da invasão paraguaia pela nossa fronteira do sul. Ao meu reclamo correstes pressurosos e dentro de poucos dias armaram-se e aquartelaram-se nesta capital os batalhões da guarda nacional ns. 1, 2 e 3, e ultimamente o n. 4, em Poconé o n. 5, e em Villa Maria o n. 6; e assim esperámos o inimigo que constava levar o seu arrojo ao ponto de pretender atacar esta capital”.

“Fosse pela nossa resolução e atitude ou pelos movimentos do exército imperial nas fronteiras do sul do Império, a invasão parou nas cercanias do Rio S. Lourenço, mas por isso não deixa de ser imensamente afrontosa”!

“ Em todo o Império se organizam corpos especiais de voluntários para comporem com o exército e a armada forças capazes de esmagar o inimigo que nos acometeu, e nesse nobre empenho é mister que tomeis o lugar de honra que vos compete em semelhante luta. Em observância do Decreto de 7 e do Aviso de 10 de Janeiro último, resolvi por ato de hoje criar nesta província um corpo de Voluntários da Pátria, sob as condições e vantagens ali estipuladas, o qual terá começo desde já pela forma designada na dita Resolução”.

“O Brasil todo espera e eu conto que o vosso concurso para a formação dessa nova milícia será tão brilhante como é entusiástico o vosso patriotismo”.

“Eia, pois, Matto-Grossenses! Correi ao chamado do governo e bradai com decisão:

— “Viva o Imperador! Viva a integridade do Império”!

“Palácio do governo da província de Matto-Grosso, na cidade de Cuyabá, em 17 de Abril de 1865.

 — Alexandre Manoel Albino de Carvalho”.

Em Maio 1865 o presidente fez marchar de Cuyabá para o Aricá, a 5 léguas de distância, duas brigadas às ordens do tenente-coronel Camisão, para cobrir a mesma capital, à vista da notícia de estarem os paraguaios em marcha desde Coxim, e por um  forte destacamento fez ocupar a difícil passagem do S. Lourenço.


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14 O Comando da Província de Mato Grosso, Cuiabá e Região Norte  passa para o General Augusto Leverger.


Em Julho estavam em armas na província 4.074 homens, do exército e da guarda nacional, e quando o presidente Albino de Carvalho passou a administração ao general Leverger , em 30 de Agosto de 1865, não tinham ainda chegado a Matto-Grosso as tropas que estavam em marcha do Rio de Janeiro, S. Paulo, Minas e Goyaz .

Os batalhões da guarda nacional 1º, 2º, 3º, 5º, 6º, e 8º ofereceram-se em massa para aquartelar, e efetivamente prestaram serviços, com todos os seus oficiais e quase todas as praças.

O núcleo colonial do Taquary, mais conhecido por Coxim, foi atacado na madrugada de 24 pelos paraguaios dirigidos por Aguero. Só tínhamos ali 7 praças, que se retiraram   aos primeiros tiros com o diretor da colônia, capitão reformado Antônio Pedro dos Santos.
No dia 30 os paraguaios abandonaram esse ponto, depois de terem caminhado umas 7 léguas para adiante, pelo caminho do Piquiry à Cuyabá.


Quaisquer que possam ter sido as razões do procedimento dos chefes paraguaios, o que é certo é que não passaram além da embocadura do rio São Lourenço, fato tanto mais singular quanto eram necessários pelo menos três meses para chegar efetivo auxílio do Rio de Janeiro à Cuyabá, e o mensageiro que levou à capital do Império a notícia da invasão gastou 30 dias, mudando de cavalos, e fazendo uma viagem sem exemplo (45).


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Explicação:
(45) O Barão de Villa Maria   chegou ao Rio de Janeiro em 22 de Fevereiro, com 47 dias de viagem, sendo 29 de marcha e 18 de falha. Só em 17 de Março chegou o correio de Cuyabá.


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As comunicações regulares se faziam em 52 dias, e sem dúvida mais tempo havia de gastar a tropa com um pesado trem de provisões, duplamente necessário nessas regiões desertas.


15 O Departamento do Alto Paraguai, assim ficou denominado a parte da Província do Mato Grosso no período que esteve sob a ocupação das Tropas Paraguaias, situação geral do domínio. Populações da Província.


Os invasores limitaram-se a proclamar a incorporação ao Paraguay de parte da província que haviam ocupado  e a denominaram:

— Departamento do Alto-Paraguay.

—Tinham, porém, pouco que governar, porque com exceção de algumas mulheres velhas, todos os habitantes das vilas e povoações haviam fugido e nenhum deles voltou durante a ocupação inimiga (46). (Ver imagens 22, 45, 49, 50, 62. Mapas com vista panorâmica dos principais pontos onde houve eventos da Guerra, sendo que a região Sul e Oeste especificamente ficaram sob o controle Da República do Paraguai, e constituiu a criação do Distrito denominado Alto Paraguai)


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Explicação:

(46) Era muito escassa a população da parte meridional da província, invadida e ocupada pelos Paraguaios.

 As duas povoações mais importantes eram Corumbá na margem direita do Paraguay (mais de 1.000 habitantes com 80 e tantas casas de telha e 140 ranchos cobertos de palha ou de carandá, uma capela, uma igreja em construção, um quartel, um barracão que servia de alfândega, armazéns do exército e da marinha, olarias, oficinas, etc.).

 E a vila de Miranda, à margem direita do Mondego ou Mobotetey (menos de 400 habitantes, pois segundo Resquin só possuía 41 casas de telha, 43 de palha, 1 igreja e 1 quartel).

Albuquerque, no Distrito de Corumbá, tinha uns 100 habitantes.

O porto de Dourados, também sobre o Paraguay, era um estabelecimento novo, com alguns ranchos de palha, e teria pouco mais de 50 almas.

 Nioac, no Distrito da vila de Miranda, possuía, segundo Resquin, 130 casas, que não eram senão ranchos de palha dos soldados e de alguns particulares, 1 quartel e um oratório.

As colônias de Miranda e Dourados constavam apenas de algumas palhoças.

Todo esse extenso território formava o município de Miranda e dividia-se em duas freguesias: a freguesia de Miranda e a de Albuquerque, cuja sede, apesar do nome, estava em Corumbá, assim como nos documentos oficiais chamava-se ainda  “alfândega de Albuquerque” à que existia em Corumbá.

Toda a população dessa vastíssima província era computada em 1863 pelo ilustre Barão de Melgaço, em 65.000 almas assim divididas:



Na mesma data, segundo um mapa comunicado à presidência do Bispo Diocesano, era esta aproximadamente a população das duas freguesias ocupadas pelos paraguaios, sem contar os militares, os índios aldeados e os errantes:



Os índios aldeados poderiam quando muito elevar-se a uns 5 ou 6.000. Total da população 8.000 e tantas almas.

Conhecendo-se estes algarismos, e sabendo-se que em todo o território invalido só havia umas 600 praças de linha e menos de 200 da guarda nacional, pode-se fazer ideia da grande proeza que praticou Lopez com semelhante conquista, empregando nela um exército de 9.200 homens e uma forte esquadrilha. Admitindo mesmo com Thompson que os invasores não fossem mais de 6.500 homens, ainda assim ninguém dirá que esse território, pobre e despovoado, tinha elementos de defesa e podia fazer frente a uma invasão inesperada, empreendida com tão superiores recursos.

O último recenseamento (1872), isto é, o único recenseamento regularmente, feito, depois da guerra, apresenta os seguintes algarismos:




A população de toda a Província era de 60.417 almas (53.750 livres e 6.667 escravas).


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Em compensação procuraram apoderar-se das fazendas e povoações, enviando patrulhas ao interior, sem nunca transporem a altura do São Lourenço. Excitados pela resistência dos habitantes e pela antipatia que estes manifestavam ao domínio intruso, praticaram os Paraguaios as mais injustificáveis crueldades. Só mencionamos o que por eles próprios foi publicado. Assim se exprime Thompson (pag. 35) (47):

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Explicação:

(47) Pag. 41 da tradução publicada em Buenos Aires.

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“As casas foram inteiramente saqueadas e alguns artigos mais preciosos enviados de presente a Lopez, que não duvidou aceitá-los. As mulheres foram muito maltratadas, sendo Barrios o primeiro a dar o exemplo. Um Brasileiro importante foi conduzido com sua filha a bordo do navio em que estava Barrios e recusando o pai entregá-la, foi violentamente arrastado à terra e ameaçado de ser fuzilado, ficando a filha em poder do general. Barrios recolheu os depoimentos de todos os prisioneiros, e os que não puderam responder as perguntas, foram por sua ordem castigados com pauladas, e alguns mortos à lança, sob o pretexto de serem espiões Em muitos lugares (48) encontraram mulheres escondidas nos bosques com tudo o que haviam salvo de suas casas. Estas infelizes foram sem exceção alguma escandalosamente tratadas e roubadas A propriedade do barão de Villa Maria, que apenas tivera tempo para salvar-se conseguindo levar uma garrafa cheia de diamantes, foi saqueada. Era o homem mais rico da província e possuía uma formosa casa, magnificamente mobiliada, adornada com quadros etc. Tinha também 80.000 cabeças de gado. Tudo isto junto com a sua carta de nobreza foi tomado pelos Paraguaios”.

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Explicação:

(48) Intercalamos no texto esta separação, que não se encontra no original alemão.

__Fizemo-lo porque o Sr. Schneider saltou muitos períodos da obra de Thompson. As palavras que se seguem são da pag. 43 da tradução feita em Buenos-Aires.

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“A carta de nobreza, assinada pelo Imperador, estava colocada em um Quadro  dourado, que algum tempo depois adornava as antessalas de Mme. Lynch, irlandesa, educada na França, que acompanhava Lopez desde que este regressara da Europa. A notícia da invasão paraguaia foi levada ao Rio de Janeiro pelo próprio barão de Villa Maria, que fez a jornada em um mês”.

Foram também publicadas pelos Brasileiros diferentes descrições do vandalismo paraguaio na parte meridional de Matto-Grosso, em forma de partes oficiais, redigidas pelo chefe de polícia de Cuyabá, Firmo de Mattos, segundo as informações dadas pelos, fugitivos da região ocupada pelos Paraguaios (49). Nós as omitimos, porque foram provavelmente feitas sob a impressão do terror e da mágoa pelas perdas sofridas.

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Explicação:

(49) Esses documentos podem ser lidos entre os anexos ao Relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros de 1865.

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Foi bem considerável a presa de guerra, que Barrios mandou de Matto-Grosso para Assumpção. Logo a primeira remessa foi de 67 canhões de bronze de todos os calibres até 32, encontrados nos depósitos de Dourados e Miranda (50). Os reparos pertencentes a estas peças eram tão defeituosos, que Barrios só mandou os canhões para que em Assumpção fossem novamente montados; Nesta cidade trabalharam 50 operários dia e noite sem interrupção para aprontarem as carretas, os armões e os carros manchegos, de modo que no decurso da guerra estas armas brasileiras foram de grande utilidade aos Paraguaios. Segundo uma relação do Semanário só em uma povoação ocupada pela cavalaria do coronel Esquina acharam 1 peça, 500 espingardas, 131 pistolas, 165 espadas, 1.090 lanças e nada menos do que 9.847 balas de artilharia (51). É verdade que não se menciona que nesse lugar existia um depósito da guarda nacional de todo o município (52).

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Explicação:

(50) Segundo o Semanário  de 14 de Dezembro os Paraguaios tomaram em Matto-Grosso 66 peças ao todo, a saber:

Em Nova Coimbra, 37;
Em Corumbá, 23;
No porto de Dourados, 2;
Em Miranda, 4.
Como o Anhambahy, tomado pelo inimigo, montava 2 bocas de fogo.

A  nossa perda em artilharia foi de 68 peças. Cumpre, porém, notar que muitas delas eram antiquíssimas e pouco serviço poderiam prestar. Em Coimbra, segundo nos informa o coronel Porto Carrero, não havia 37 peças, mas 31. Destas apenas 11 estavam montadas em seus reparos e assestadas em bateria (4 peças colubrinas de bronze de calibre. 24;  5 ditas de ferro de calibre. 30, e 2 ditas de dito calibre. 18). Estavam armazenadas e encanteiradas, por não terem reparos, 8 peças colubrinas de bronze, calibre. 32, e dadas em consumo por inservíveis, e quase todas sem reparos 12 peças de diversos calibres, sendo todas de campanha.

(51) Estes dados são extraídos de Thompson, que os tomou do Semanário, enganando-se, porém, na transcrição. É o armamento que Resquin diz ter achado na Vila de Miranda (Semanário de 28 de Janeiro), onde, segundo esse general, encontraram os paraguaios 4 canhões, 502 espingardas, 67 clavinas, 131 pistolas, 468 espadas, 1.090 lanças, além de 9.847 projetis de artilharia de diferentes calibres.

(52) O armamento apreendido em Matto-Grosso havia sido quase todo enviado pelo ministério de 2 de Março de 1861, presidido pelo Duque de Caxias. O mesmo ministério nomeou presidente dessa província o senador Ferreira Penna, habilíssimo administrador, que em um extenso ofício, lido no senado em 1865, chamou a atenção do gabinete Olinda, primeiro da situação liberal, para os armamentos do Paraguay e lembrou a adoção de muitas providências urgentes. O novo governo preocupado com outras muitas questões, nenhuma atenção prestou a tais recomendações.

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Assim teve o melhor êxito este primeiro ataque dos Paraguaios contra o Brasil. Bem que durante as negociações, nos anos de 1861 e 1862, para fixação de limites, houvesse receios de conflito com o Paraguay, e do Rio de Janeiro partissem ordens (53) para Cuyabá a fim de se proceder a preparativos militares, contudo ninguém em Matto-Grosso acreditara seriamente numa agressão militar, por parte da República, e muito menos por esse lado. Toda a desconfiança tinha adormecido; não se tratou nunca mais de por as cousas em pé de guerra. Havia abundantes recursos, mas estavam esparsos; faltavam também o exercício e a prática. Completamente atordoadas pela rapidez com que os acontecimentos se sucediam, as autoridades brasileiras desatinaram de todo: só mais tarde reapareceu a energia.
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Explicação:

(53) Estas ordens foram com efeito enviadas pelo gabinete Caxias, mas em 1861 e 1862 não houve negociação sobre limites como supõe o autor. Thompson menciona àqueles ofícios:

— “Entre os documentos acharam-se despachos do governo imperial de julho e outubro de 1861 e de janeiro de 1862, ordenando ao governo provincial que vigiasse a fronteira do Paraguay e comunicasse a notícia de qualquer movimento de tropas”. Alguns desses documentos foram publicados no Semanário de 11 de Fevereiro de 1865.

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16 A reação na Capital do Império, Rio e Janeiro,  sobre a ocupação da Província de Mato Grosso.


No Rio de Janeiro produziram essas notícias um efeito fulminante.

Não se tinha contado com a invasão paraguaia nessa direção com elementos tais e com um exército tão bem disciplinado, e reconheceu-se o desleixo que tinha havido para com àquela longínqua província (54).

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Explicação:

(54) Esse desleixo não pode ser imputado ao gabinete Caxias, mas ao que lhe sucedeu, o qual deixou de tomar as medidas que aquele ministério, por bem entendida previdência, ia tomando. O gabinete de 30 de Maio de 1862 (marquês de Olinda) foi o que operou a transição política que terminou em 1863 pela dissolução da câmara dos deputados.

Nesse ano o governo e o partido dominante estavam muito preocupados com as eleições para poderem pensar no Paraguay e na província de Matto-Grosso.

O ministério de 31 de Agosto poderia até certo ponto reparar o mal, se, após a ameaça do Paraguai, de que nenhum caso se fez, adotasse providências prontas e enérgicas. Avisado em tempo, o presidente de Matto-Grosso teria desde logo mobilizado a guarda nacional, melhorado a fortificação de Coimbra, completando-a com a do Morro Grande ou da Marinha, e acumulado forças na fronteira.

Tudo o que fez o gabinete Furtado foi enviar para Matto-Grosso em fins de Outubro um presidente e 400:000$000 em notas do tesouro.

Também, depois da invasão da província, escrevia, o ministro dos negócios estrangeiros em 7 de Janeiro o seguinte:

 “... Façam os paraguaios o que quiserem, não podendo batê-los ao mesmo tempo que aos Blancos  do Estado Oriental, só havemos de tratar séria e exclusivamente daqueles depois de desembaraçados do Uruguay”.

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Desenvolveu-se logo febril atividade em todos os sentidos, mas nem assim se satisfazia à indignação e à impaciência pública. Todos sentiram as fatais consequências das doutrinas antimilitares do parlamento, que nem sequer permitiram o aproveitamento das forças defensivas da nação. Agora queriam tudo remediar de pancada. Todos quantos podiam pegar em armas tinham que ir para Matto-Grosso; com os maiores esforços e com todos os sacrifícios possíveis devia-se repelir o inimigo daquela província. O orgulho nacional achava-se ofendido; o coração do povo pulsava agitado; todas as paixões atearam-se com máxima intensidade e concentraram-se num ponto:

 — Vingança por essa atroz, inaudita, imperdoável ofensa feita ao Brasil!
Os conselheiros militares do Imperador não se deixaram desvairar por esses ruidosos desabafos. Reconheceram que a invasão paraguaia, acarretando inevitável e longa guerra, não passava em Matto-Grosso de uma série de golpes vibrados no ar, e, com quanto fosse momentaneamente efetiva e feliz, não faria pender para o ditador Lopez a balança dos futuros destinos.

Generais e estadistas experimentados compreendiam que o Paraguay só poderia ser eficazmente agredido pelo sul, onde era possível o concurso da esquadra, e Solano Lopez, na previsão desta contingência, já resolvera a expedição de Matto-Grosso com o fim de dispersar as forças militares do Brasil e enfraquecer portanto o ataque, que o ameaçava por esse lado. Essa combinação teria sido muito acertada, se o Brasil se houvesse comprometido em operações de uma estratégia aleatória. No Rio de Janeiro não houve semelhante ilusão: mandaram-se algumas tropas regulares para S. Paulo e Goyaz, províncias limítrofes, onde deviam servir de núcleo para uma leva de 12.000 homens da guarda nacional (55);


17 A Organização de Tropas para a defesa da Província de Mato Grosso, via terrestre.


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 Explicação:


(55) Foram, com efeito, chamados às armas 12.000 guardas nacionais de Minas, S. Paulo e Goyaz, mas nunca se pude reunir nas três províncias uma força tão considerável para marchar em socorro de Matto-Grosso. No dia 1.° de Abril de 1865 saíram do Rio de Janeiro para Santos o coronel Drago, nomeado presidente e comandante das armas de Matto-Grosso, a comissão de engenheiros e vários empregados da expedição.

No dia 10 partiram de S. Paulo, com o referido coronel, o corpo de infantaria de S. Paulo, o corpo policial da mesma província, o corpo fixo da província do Paraná e uma companhia de cavalaria de S. Paulo, reunido sê-lhes depois, em Campinas, um contingente de artilharia do Amazonas.

 No dia 18 de Julho essa força reuniu-se na cidade de Uberaba (Minas) à brigada mineira, que às ordens do coronel Galvão, partira em 10 de Maio de Ouro Preto, e que se compunha do batalhão 17 de voluntários, do corpo fixo de Minas e do corpo policial da mesma província.

 A primeira força que pisou o território de Matto-Grosso foi a coluna de Goyaz, composta de 1 batalhão e 1 esquadrão de cavalaria, ao mando do tenente coronel Mendes Guimarães. Essa força acampou no Coxim no dia 7 de Setembro, e ali aguardou a chegada das tropas que marchavam de Minas e S. Paulo, as quais, depois de terem atravessado o território das províncias de S. Paulo; Minas e Goyaz, penetraram, em  Novembro, no de Matto-Grosso, e reuniram-se aos goyanos, em 20 de Dezembro , no Coxim.

Figura 19 - imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna
Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar.

A força que partiu de S. Paulo caminhou até o Coxim 253 léguas, e a de Ouro Preto 280. Depois avançaram mais 83 1/2 léguas até Nioac, e dai invadiram o Paraguay, como veremos no segundo Artigo . Em vez de 12.000 homens, porém, só chegaram a Matto-Grosso 2.500 homens um ano depois da invasão.

Sirva-nos isto de lição, para que procuremos seriamente por essa província em comunicação direta com a capital do império, sem dependência da via fluvial por entre países estrangeiros .

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As queixas dos matto-grossenses pelo abandono em que se acharam podem ser lidas nos jornais do tempo:

A Imprensa de Cuyabá dizia em 24 de Fevereiro de 1865:

“ ... Somos filhos do Brasil, pertencemos a esta grande família. Entretanto, lá se vão 7 longos meses que nenhuma comunicação temos do governo!  A última data oficial é de 22 de Julho de 1864, e as notas de ameaça do Paraguay são de 30 de Agosto...”

O correspondente do Jornal do Comércio em Cuyabá escrevia em 18 de Março:

 —“... Completam-se hoje 2 meses e 20 dias que o forte de Coimbra foi atacado pelos paraguaios, e apesar do fato tão importante e desastroso, aqui permanecemos no estado o mais desesperado possível, sem uma palavra sequer de animação do governo geral. Oitenta dias de sofrimentos fazem a prova mais exuberante da nossa resignação! A pé firme temos resistido às notícias mais aterradoras; a pé firme dispusemo-nos a morrer em defesa de nossos lares e da pátria, já que pelo governo fomos esquecidos! Não seremos nós mattogrossenses, brasileiros também?... Até hoje nem uma arma, nem um soldado, nem uma ordem! Se se tratasse de eleições teria já voado um próprio, para cá, como sucedeu em certa ocasião em que se expediu, um com ordens francas para comprar quantos cavalos quisesse, de sorte que em 30 dias tivemos notícias da corte...”


18 A organização e o envio de Tropas brasileiras para a região Sul do Império e o desfecho do domínio paraguaio.

Puseram-se em movimento transportes de munições e petrechos bélicos de toda a espécie, mas nunca o governo se esqueceu de enviar reforços de tropas e material de guerra para o Estado Oriental, onde já em fins de Fevereiro as tropas retiradas de Montevidéo estavam nas imediações de Mercedes e do Salto, preparando-se para invadir o Paraguay pelo sul. Ali, não em Matto-Grosso, tinha de decidir-se a sorte da guerra. Para esse ponto tendiam as medidas adotadas com extraordinária energia pelo governo. Sem dúvida era doloroso ao Imperador e a toda a nação deixar uma província inteira entregue aos horrores da guerra, mas o pronto socorro só era possível, se se perdesse de vista objeto principal. Os acontecimentos que logo depois se deram comprovaram a justeza com que calcularam os conselheiros militares do Imperador.

No artigo segundo, que tratará das operações das Tropas Expedicionárias que vieram em defesa do Sul da Província de Mato Grosso e que chegaram invadir o Paraguai até a Região da Fazenda Laguna ao percorrerem regiões inóspitas, quase dizimara toda a Força, conforme pode ser lido em documentos diversos, entre outros o relatório do Major Tomaz Gonçalves que assumiu o comando após o falecimento dos dois comandantes, Camisão e Juvêncio e obras do Visconde de Taunay, entre outros A Retirada da Laguna.

Sabia-se no Rio de Janeiro que se ia pelejar com um inimigo resoluto, e, pelas informações vindas de Buenos-Aires, verificara-se ser três vezes maior o exército efetivo da pequena República do Paraguay do que o do Brasil, onde o governo tinha que regatear com a oposição parlamentar 1.000 homens de mais ou de menos. Em uma nação constitucional não se podem organizar exércitos com a mesma presteza que num pas regido despoticamente, e no Brasil havia ainda a criar e regularizar tudo aquilo que Solano Lopez já preparara  e realizara com admirável energia. Sofria-se a exprobração de se ter errado na apreciação do Paraguay e de seu presidente, e de se ter de encetar agora a campanha contra um inimigo, que pelo número e natureza de seu exército havia de imprimir às operações caráter e dimensões não conhecidos até então nas guerras sul-americanas. Servia de consolação o êxito feliz do conflito com o governo Blanco no Estado Oriental, que deixava livre um pequeno exército para as novas operações (56).


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Explicação:

(56) Pretendíamos dar uma relação exata, dos mortos, feridos e prisioneiros durante a invasão de Matto-Grosso. Infelizmente, apesar das nossas diligências, não foi possível descobrir no arquivo da secretaria da guerra e no da repartição do ajudante general senão raros ofícios do presidente de Matto-Grosso. Eles foram aqui recebidos e devem estar guardados, mas ninguém soube dizer-nos onde, e isso é mais uma prova de que o governo imperial deve quanto antes mandar colecionar e publicar todas as peças oficiais relativas à última guerra, para que estejam ao alcance de todos, e não desapareçam inteiramente com o correr do tempo .

Dos documentos que examinamos apenas se colige que tínhamos nas fronteiras do Baixo Paraguay e de Miranda 583 praças pouco mais ou menos. Esta força dispersou-se, como já vimos. Alguns dos fugitivos do Distrito de Miranda foram parar em Cuyabá, reunindo-se em caminho aos fugitivos de Corumbá. Outros seguiram com o tenente-coronel Dias da Silva para Sant’Anna do Parnahyba.  À Cuyabá chegaram as seguintes praças pertencentes a todos os corpos de linha da província e à guarda nacional: (Ver imagem 68, visão panorâmica da cidade de Paranaiba, no Leste de Mato Grosso do Sul, a única povoação no Sul da Provícia de Mato Grosso que não foi invadida  pelas tropas paraguaias em operação na região)

Com o comandante das armas 162
Com o 2º tenente Luciano Pereira 57
Com o 2º tenente Mello 230

A Sant’Anna do Parnahyba chegaram 99 praças do corpo de cavalaria e do batalhão de caçadores. Ao todo 538. Extraviaram-se, pois, umas 35 praças, e, sem contarmos a guarda nacional, o número de mortos ou prisioneiros andará por cerca de 100.

Dentre os oficiais sabemos pelo Semanário que ficaram prisioneiros, e chagaram à Assumpção, o capitão Augusto Conrado, o 1º tenente Antônio de Camargo Bueno e o 2º tenente Oliveira Barbosa, todos do corpo de artilharia de Matto-Grosso, aprisionados nos pantanais do S. Lourenço; o tenente de cavalaria Ferreira de Castro, e o cirurgião Dr. Benevenuto do Lago aprisionados em uma canoa na foz do Mondego; o cirurgião Dr. Theophilo Clemente Jobim e mais dois oficiais subalternos.

Estes oficiais e alguns soldados e marinheiros aprisionados desembarcaram em Assumpção, assim como muitos paisanos, empregados públicos e negociantes brasileiros, debaixo das apupadas do povo. “Una multitud de curiosos cubria el puerto”,  diz o Semanário, “para ver ei desembarque de la família de San Balthazar, como los calificaba. Alli no faltaron las chiflas y rechiflas”.

Outros brasileiros ficaram em Corumbá, e eram obrigados a escrever para o Semanário correspondências narrando os festejos que ali se faziam. As correspondências eram assignadas pelos principais brasileiros ali retidos.

Entre os prisioneiros de Miranda sobressai o vigário Frei Marianno de Bagnaia  que foi se apresentar aos paraguaios para pedir compaixão por seus fregueses. Esse virtuoso missionário verberou por tal modo os soldados de Resquin, que sofreu sempre rigorosa prisão. Veja-se a cena que o nosso amigo Sr. Taunay descreve no Livro  de sua interessante obra Retirada da Laguna. Frei Marianno foi salvo depois da batalha de Campo Grande em 1869.

Quanto aos mortos e feridos eis aproximadamente a perda dos dois lados:




♣ ♣ ♣ ♣ ♣

Apesar das participações pomposas e dos troféus, que lhe enviava de Matto-Grosso o coronel Barrios, reconheceu logo o presidente Solano Lopez que por esse lado não alcançava o fim a que se propusera. Se do norte vinham gratas notícias de vitórias (57), sua impressão logo se desvanecia pelas que chegavam do sul a respeito da tomada de Paysandú, da declaração do bloqueio do Estado Oriental e da ocupação de Montevidéo.

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Explicação:

(57) Não houve outros combates em Matto-Grosso a não serem os de Nova Coimbra, Dourados, Rio Feio e o pequeno combate que por alguns momentos sustentou no S. Lourenço a canhoneira Anhambahy. A invasão não era esperada, como já vimos, e não havia na fronteira elementos de defesa.

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As instantes súplicas do foragido Aguirre respondera Solano Lopez com a recusa formal de auxilio, posto que; lhe fosse então mais fácil socorrer aos blancos, do que mais tarde pela marcha de Estigarribia ao longo  no Uruguay. Ao encarregado de negócios em Assumpção, Vasquez Sagustume respondeu que  “o Paraguay com a expedição de Matto-Grosso já fizera bastante, e julgava desta maneira ter auxiliado devidamente Montevidéo” (58).

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Explicação:

(58) Ler nota de rodapé 43.

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Nesta resposta do ditador transluzia a esperança de que os Brasileiros, receando ver cortada a linha eventual de retirada, desistissem do ataque de Montevidéo e mandassem ao menos parte das tropas de Menna Barreto para Matto-Grosso. As comunicações oficiais dos coronéis Barrios e Resquin a respeito de suas vitórias nunca foram publicadas (59), mas certamente continham os motivos da parada da expedição à embocadura do rio S. Lourenço, de modo que Solano Lopez não podia contar com a tomada de Cuyabá, capital da província, no mesmo curto prazo de tempo, sem isso tornava-se a ocupação de Matto-Grosso um fato sem influência no prosseguimento da guerra, servindo quando muito só para exaurir e devastar o país. Ninguém trata de despovoar uma região que pretende conservar; por isso ao observador imparcial ocorre o pensamento de que Solano Lopez já se familiarizara com a ideia de ter de abandonar Matto-Grosso. Logo que chagaram essas participações, cuja data de 14 de Janeiro é um argumento convincente, parece que o ditador resolveu dirigir suas operações para o sul, onde o perigo era iminente, e acudir, se fosse ainda possível, aos blancos do Estado Oriental. Assim pois teve o ministro dos negócios estrangeiros do Paraguay, Berges, ordem de endereçar ao governo argentino) uma nota, solicitando permissão para que as tropas de sua nação pudessem atravessar a província de Corrientes, em demanda do território brasileiro do Rio Grande do Sul. O cônsul em Buenos-Aires, Luis Caminos, foi encarregado de entregar esta nota, com a recomendação de pedir pronta resposta, que, como está subentendido, devia ser favorável”.

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Explicação:

(59) Lopez ficou somente na intenção de ajudar o partido Blanco, em Montevideu, no Uruguai.  O que na prática não conseguiu o pronto socorro prometido.

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19 A Segunda Fase das Operações no teatro da Guerra na Província de Mato Grosso.

No Artigo dois, será esboçado um resumo da retomada das regiões ocupadas pelos paraguaios, o seu recuo e confrontos. É a segunda etapa da Guerra do Paraguai na Província de Mato Grosso.


20 Mapas e imagens antigos e atuais ilustrativos em anexo dos principais locais onde ocorreram conflitos desta primeira fase de ocupação paraguaia da Provícia de Mato Grosso. (anexos)

21 Sugestões de Leituras:

Obras de Taunay: A retirada da laguna, narrativa de campanha (1872, edição francesa; 1874, edição brasileira, traduzida pelo autor);
Inocência, romance (1872);
Narrativas militares, contos (1878);
Diário do exército: Campanha do Paraguay, 1869-1870: Commando-em-Chefe de S.A. o Sr. Marechal-de-Exército Conde d'Eu.
Ierecê a Guaná: seguido de, Os índios do distrito de Miranda : vocabulário da língua guaná ou chané
OBRAS PÓSTUMAS: Reminiscências (1908); Trechos de minha vida (1911); Viagens de outrora (1921); Visões do sertão, descrições (1923); Dias de guerra e do sertão (1923);

Sites de Arquivos de livros para Leitura e ou downloads:

http://www.suaaltezaogato.com.br/site/ - BIBLIOTECA

http://www.brasiliana.usp.br/ - BIBLIOTECA

http://guerradoparaguaimatogrossodosul.blogspot.com.br/

www.portalguarani.com – Publicações

Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul – Biblioteca e site.


IMAGENS EM ANEXOS



Figura 20 imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938  Impressa Militar.


Figura 21 - Mapa do Municipio de Guia Lopes da Laguna. Local por onde havia acesso a Nioaque, Côlonias Militar de Miranda, Dourados,  e para a República do Paraguai.



Figura 22  - Rota  principal da Invasão da provícia de Mato Grosso, duas terrestre e uma naval.



Figura 23 - Visão Panorâmica de Assunção (PY) à Cuiabá e Rio de Janeiro (BR) Imagem Google Earte Pro 2016.. Data da Imagem 04/092013 – Adaptação e copilação JVD





                                Figura 24 – Colônia Militar de Dourados. Imagem atual. Blog. José Vicente Dalmolin


                            Figura 25 -  Colônia Militar de Dourados. Imagem atual. Blog. José Vicente Dalmolin





Figura 26 - http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=160


Figura 27 Localização aproximada da Extinta Colonia Militar de Miranda, atual município de Guia Lopes da Laguna - MS. Margem direita do Rio Miranda. Atualmente Fazenda de criação e gado. Propriedade particular. Imagem Google Earth Pro 2015.



Figura 28  Localização aproximada da Extinta Colonia Militar de Miranda, atual município de Guia Lopes da Laguna - MS. Margem direita do Rio Miranda. Atualmente Fazenda de criação e gado. Propriedade particular. Imagem Google Earth Pro 2015.



Figura 29  Esboço das Estradas de Igatemy à Panadero, Punta Porã, Dourados e Miranda, Conceição, Belem-Cuê, Horqueta e Paquaty, Comprehendendo os terrenos adjacentes : orgganizado segundo as informações do Major Antonio Cespedes. Ano 1865-1870. Mapa manuscrito. Biblioteca Digital Luso-Brasileira  (http://bdlb.bn.br/acervo/handle/123456789/17)



Figura 30 - Visão Panorâmica de Assunção, Capital do Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016. Data da Imagem 04/092013 – Adaptação e copilação JVD





Figura 31 - Visão Panorâmica da cidade de Concepcion, Capital do Departamento de Concepción, Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 11/08/2014 – Adaptação e copilação JVD


Figura 32 - Visão Panorâmica da cidade de Horqueta,  do Departamento de Concepción, Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 10/08/2014 – Adaptação e copilação JVD. Históricamente foi um campo de prisioneiros de famílias oriundas da Província de Mato Grosso.  Também haviam prisioneiro de origem Paraguai, os considerados traidores da Pátria.




Figura 33 -  Visão Panorâmica da "Fazenda Laguna" - Atual "Estancia Arroyo Primero",  do Departamento de Amambay, Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 05/09/2005 – Adaptação e copilação JVD



Figura 34 - Visão Panorâmica da "da cidade de Bella Vista Norte" -  do Departamento de Amambay, Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 09/08/2010 – Adaptação e copilação JVD. História “Bella Vista Norte es uno de los cuatro distritos del departamento de Amambay a orillas del río Apa, que lo separa de la ciudad brasileña de Bela Vista. Está a 469 kilómetros de Asunción y a 150 kilómetros de Pedro Juan Caballero, la capital del Amambay.
Según cuenta la historia, en 1850, la hija de don Carlos A. López le solicitó a su padre una propiedad en Mato Grosso del Sur, conocida en esa época como la Provincia de Jerez, que pertenecía al Paraguay. Es así que en 1851 se fundó la localidad de Villa Bella la que hoy es Bella Vista Norte. Desde 1860 la zona donde hoy se asienta Bella Vista Norte comenzó a poblarse y durante el gobierno de Héctor Carvallo tomó como nombre Bella Vista Norte y fue elevada a la categoría de distrito. Bella Vista Norte está unida con la ciudad brasileña de Bela Vista a través de un puente de cien metros sobre el río Apa. http://www.abc.com.py/nacionales/bella-vista-norte-cumple-112-anos-de-fundacion-612499.html.2013”. Segundo Relata Tanay em A Retirada da Laguna, que nesta ocasião da Guerra do Paraguai, Bela Vista era constituída de uma pequela Vila e um Quartel ou pequeno forte; “o forte, que apenas consistia em sólida estacada de madeira, foi ocupado, assim como a vila “... Bela Vista era o ponto mais ao Norte do Paragua na fronteira com a Província de Mato Grosso e Império do Brasil. Dga-se a Bela Vista brasileira não existia nesta época do conflito.



Figura 35 - Visão Panorâmica da "do Fuerte Olympo"  margem direita do Rio Paraguai, ao Norte  da cidade de Porto Murtinho – MS. E ao Sul do Forte de Coimbra – MS. -  do Departamento do Alto Paraguay, Paraguai.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 25/09/2013 – Adaptação e copilação JVD


Figura 36 - Visão Panorâmica da "do  Forte de Coimbra"  à margem  do Rio Paraguai, ao Sul da cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 07/07/2003 – Adaptação e copilação JVD



Figura 37 -  Visão Panorâmica da "do  Forte de Coimbra"  à margem  do Rio Paraguai, ao Sul da cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 07/07/2003 – Adaptação e copilação JVD


gura 38 - Visão Panorâmica da "Foz do rio Miranda no Rio Paraguai"  e atual Distrito de “Albuquerque”,  lime entre os municípios de Miranda e Corumbá, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 04/09/2013 – Adaptação e copilação JVD


Figura 39 - Visão Panorâmica do atual Distrito de “Albuquerque” nas proximidades entre os rios Miranda e Paraguai, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 11/12/2013 – Adaptação e copilação JVD.


Figura 40 - Visão Panorâmica do atual cidade de Corumbá e Ladario, às margens do Rio  Paraguai, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 18/09/2014 – Adaptação e copilação JVD.



Figura 41 - Visão Panorâmica do atual base fluvial da Marinha,  Ladario, às margens do Rio  Paraguai, no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 18/09/2014 – Adaptação e copilação JVD.





Figura 42 - Visão Panorâmica do antigo estaleiro e base militar de “Dourados”, às margens do Rio  Paraguai, Norte de Corumbá, (direção à Cuiabá – MT.)  no Mato Grosso do Sul -  Brasil .  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 28/05/2011 – Adaptação e copilação JVD.




Figura 43 - Visão Panorâmica do encontro das águas dos rios Cuiabá e Paraguai, Norte de Corumbá, (direção à Cuiabá – MT.)  nos limites entre  Mato Grosso do Sul e Mato Grosso -  Brasil .  O Rio Paraguai corre para Noroeste em direção de Cáceres e o Rio Cuiabá em Direção Norte, à Capital.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 04/09/2013 – Adaptação e copilação JVD.



Figura 44 - Visão Panorâmica do encontro das águas dos rios Cuiabá e São Lourençoi, Norte de Corumbá, (direção à Cuiabá – MT.)  Já em territótio do estado de Mato Grosso.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 13/07/2007 – Adaptação e copilação JVD.



Figura 45 - Visão Panorâmica do antigo “Porto Sará” à margem do rio Cuiabá e ao Norte de Corumbá, (direção à Cuiabá – MT.)  Já em territótio do estado de Mato Grosso  do Sul.   Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 10/04/2014 – Adaptação e copilação JVD.





Figura 46 -  Visão Panorâmica de Corumbá à antiga Colonia Militar de São Lourenço (no rio São Lourenço), Barão de Melgaço,  Levereger e Cuiabá ( às margens do rio Cuiabá) e a cidade de Cáceres, antiga Vila Maria, (às margens do rio Paraguai)  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 04/09/2013 – Adaptação e copilação JVD



Figura 47 -  Visão Panorâmica da cidade de Barão de Melgaço, às margens do rio Cuiabá, Estado de Mato Grosso.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 03/01/2012 – Adaptação e copilação JVD



Figura 48 - Visão Panorâmica da cidade de Santo Antonio do Leverger, às margens do rio Cuiabá, Estado de Mato Grosso.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 16/06/2015 – Adaptação e copilação JVD




Figura 49 - Visão Panorâmica da cidade de Cuiabá, às margens do rio Cuiabá, Capital do Estado de Mato Grosso,   Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 16/06/2015 – Adaptação e copilação JVD



Figura 50   http://www.antaq.gov.br/portal/PNIH/BaciaParaguai.pdf Imagem de estudos da Bacia Hidrografica do Rio Paraguai, Hidrovia, MT, MS, Paraguay.



Figura 51 - https://hidroviarioparaguai.wordpress.com/a-hidrovia/localizacao/





Figura 52 – Vista Parcial do Parque Histórico da Colonia Militar de Dourados, no município de Antonio João, Mato Grosso do Sul. Local do primeiro confronto das Tropas Paraguaias com Tropas Brasileiras, com mortes, feridos, prisioneiros, fugitivos. Morte do comandante da Colonia Tenente Antonio João Ribeiro. Em Dezembro de 1864.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 01/04/2015 – Adaptação e copilação JVD




Figura 53 - Vista Parcial do local onde existiu a antiga Colonia Militar de Miranda, as margem do córrego atoleiro, afluente do rio Miranda,  atual município de Guia Lopes da Laguna, Mato Grosso do Sul.  Deste local havia acesso das antigas estrada que interligavam Fazendas e direcionavam para a Colônia de Dourados até Concepcion, Horqueta,  Assuncão e Bella Vista  na República do Paraguai. Também era a via de acesso para a Vila de Nioaque, Miranda, Corumbá, Paranaiba, Coxim. Esta estrada primitiva cortava diversos  rios e córregos, entre outros, o Miranda, o Apa, Feio, Desbarrancado, Santo Antonio, Nioaque. Urumbeva.  Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 01/04/2015 – Adaptação e copilação JVD



Figura 54 - Vista Parcial do Rio Feio, no atual Município de Guia Lopes da Laguna, Mato Grosso do Sul, Brasil, a antiga estrada de acesso da época, por onde passaram as Tropas Paraguaia na invasão de 1864; a resistência e confronto das tropas Brasileiras sob o comando do Capitão Pedro José Rufino e do Tenente Coronel Dias da Silva.  Também por este caminho passaram as Tropas brasileiras  sob o comando do Coronel Camisão em 1867. Deste ponto  seguia para a travessia de outro rio, o Santo Antonio. Acesso para chegar a Nioaque. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 23/04/2013 – Adaptação e copilação JVD. (História. Conforme Campestrini durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), neste rio, o coronel Resquin, comandante paraguaio, intimou à rendição a tropa brasileira, comandada pelo tenente-coronel José Antônio Dias da Silva. IHG-MS.



Figura 55 - Vista Parcial do “Rio Santo Antonio”, no atual Município de Guia Lopes da Laguna, Mato Grosso do Sul, Brasil, a antiga estrada de acesso da época, por onde passaram as Tropas Paraguaia na invasão de 1864; a resistência e confronto das tropas Brasileiras sob o comando do Capitão Pedro José Rufino e do Tenente Coronel Dias da Silva.  Também por este caminho passaram as Tropas brasileiras  sob o comando do Coronel Camisão em 1867. Deste ponto  seguia para a travessia de outros rios o Feio e o Desbarrancado. Acesso para chegar a Nioaque. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 01/04/2015 – Adaptação e copilação JVD.



Figura 56 - Vista Parcial do “Rio Desbarrancado”, no atual Município de Guia Lopes da Laguna, Mato Grosso do Sul, Brasil, a antiga estrada de acesso da época, por onde passaram as Tropas Paraguaia na invasão de 1864; a resistência e confronto das tropas Brasileiras sob o comando do Capitão Pedro José Rufino e do Tenente Coronel Dias da Silva.  Também por este caminho passaram as Tropas brasileiras  sob o comando do Coronel Camisão em 1867. Deste ponto  seguia para a travessia de outros rios o Feio, Santo Antonio, Canindé e Nioaque. Acesso para chegar a Nioaque ou as Colonias Militar de Miranda, Dourados ou a fronteira da República do Paraguai. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 01/04/2015 – Adaptação e copilação JVD.


Figura 57 - Vista atual da Rodovia BR-060 que interliga Guia Lopes da Laguna à Maracaju, Dourados, e outras localidades, nas proximidades da região conhecida como "Santa Fé" e por onde atravessava a antiga estrada para chegar a Nioaque. Esta estrada até década de 1960 era conhecida pelo nome “Estrada Boiadeira”. E muito utilizada para as comitivas de gado.   Atualmente está toda demarcada por propriedades particular. Margeando a Serra de Maracaju. Por esta via transitaram os primeiros povoadores e todas as tropas combatentes, Brail e Paraguai, na então Província de Mato Grosso. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 01/04/2015 – Adaptação e copilação JVD.




Figura 58 – Vista Panoramica sobre o “Rio Canindé”, a atual ponte e estrada. Acesso a Fazenda Jardim do Guia Lopes, Nioaque, Colonia de Miranda. Localizado nas regiões limítrofes entre os Município de Guia Lopes, Maracaju e Nioaque. Os episódios mais marcantes do conflito da Guerra, ocorreram em 1867, conforme os registros de Visconde de Taunay e outros documentos referentes as operações bélicas das Tropas brasileiras  em operação no Sul da Província e Patrulhas Paraguaias. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 20/04/2013 – Adaptação e copilação JVD.






Figura 59 - Vista Panorâmica do Rio Nioaque, antiga estrada de acesso para a Vila de Nioaque, Miranda e outras. Localizado no Município de Nioaque. MS. Fundos do atua Quartel do 9º GAC, pelo Bairro Baia. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 20/04/2013 – Adaptação e copilação JVD.




Figura 60 – Vista Panorâmica da atual cidade de Nioaque, no Estado de Mato Grosso do Sul. Palco de diversos eventos do conflito da Guerra do Paraguai, antes, durante e depois. Como Ponto Estratégico Terrestre serviu de base tanto para os paraguaio durante a ocupação; quanto as tropas Brasileiras comandadas pelo Coronel Camisão em 1867. Sofreu por parte dos paraguaios duas investidas, destruição, em 1865 e 1867. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 20/04/2013 – Adaptação e copilação JVD.



Figura 61 - Vista Parcial do local onde se localizavam os antigos Quarteis, casas, e a igreja no período dos Conflitos entre Paraguaios e Brasileiros. Atualmente esta assentada a Escola Estadual Odete Ignez Resstel Villas Boas. Imagem Google Earth Pro 2016.  Data da Imagem 20/04/2013 – Adaptação e copilação JVD.




Figura 62 - Fotografia do Antigo Quartel de Nioaque, sediou o Corpo de Cavalaria. Quartel que foi reconstruído em 1872, logo após o término da Guerra do Paraguai.  Sua Localização original foi no local onde está o prédio da Atual Escola Estadual Odete Ignêz  Resstel Villas Boas. Extraído do Livro NIOAQUE NO CONTEXTO DO SÉCULO XIX - Na História do Mato Grosso do Sul  - Guerra do Paraguai – Volume 1. José Vicente Dalmolin


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Figura 63 – Panorâmica das principais localidades onde ocorreram eventos relativos ao conflito da Guerra do Paraguai, relativo à Invasão da Província de Mato Grosso. Imagem feita com marcador no Google Earth Pro 2016. Adaptacão e copilação JVD




Figura 64 - Vista Panorâmica da cidade de Miranda, as margem do mesmo rio, no Mato Grosso do Sul, Brasil.  A Antiga Vila de Miranda fora ponto estratégico do povoamento do sul da Província de Mato Grosso.  Durante a Guerra do Paraguai ali estiveram  as tropas das duas Nações, Brasil e Paraguay. Imagem 09/08/2013 Google Earth Pro 2016. Adaptacão e copilação JVD.




Figura 65 - Desenho inédito do Visconde de Taunay retratando o Quartel na Vila de Miranda  (entre setembro e dezembro de 1866) - Na parte superior, em francês: "O fogo colocado pelos paraguaios no interior da construção não se propagou a toda ela por causa de uma tempestade que desabou no dia seguinte a saída das forças inimigas. As árvores do último plano, margeiam o Rio Miranda à umas cem braças mais ou menos do quartel". A seguir, em baixo, em português: "Quartel de Miranda - Edificado no lugar da antiga estacada, a que chamavam de forte. Bons prédios acham-se todos destruídos pelo fogo: a vila oferece aspecto desolador". Entre setembro e Dezembro de 1866.  Texto imagem http://www.retiradalaguna.hpg.ig.com.br/ 18.12.2004




Figura 66 - Vista Panorâmica da região do “Salobra”.  Salobra  Rio, afluente, pela margem esquerda, do rio Miranda, no município de Bodoquena. Bacia do rio Paraguai. Suas nascentes se localizam na serra da Bodoquena; parte de seu alto curso é limite entre os municípios de Miranda e Bodoquena; sua foz se localiza no município de Miranda.  História,  na foz do Salobra refugiaram-se numerosos moradores de Miranda, em face da invasão das tropas paraguaias nos primeiros dias de 1865. Entre aqueles estava frei Mariano de Bagnaia, que logo depois seria feito prisioneiro e levado para a República do Paraguai em 1865. IHG-MS. Imagem 09/08/2013 Google Earth Pro 2016. Adaptação e copilação JVD.



Figura 67 - Vista Panorâmica da cidade de Coxim, no Norte do Estado de Mato Grosso do Sul. Localidade ocupada pelos Paraguaios na invasão e também ponte de encontro das Tropas Brasileiras que atuaram no Sul da Província de Mato Grosso.  Ponto limítrofe das tropas terrestre que marcharia para Cuiabá ao Norte ou à Miranda, Nioaque ao Sul. Imagem 01/10/2015 Google Earth Pro 2016. Adaptação e copilação JVD.




Figura 68 - Vista Panorâmica da região do Taboco: Rio, mata, estrada, localização.  Norte da cidade de Aquidauana, no cruzamento da Rodovia MS-419. “O rio Taboco é um rio do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Nasce na região de Taboco, um distrito de Corguinho que tem seu nome em homenagem ao Rio. Em seu caminho, passa pela Cidade de Cipolândia, já no Município de Aquidauana. Deságua no Rio Negro, na região do Pantanal da Nhecolândia, após aproximadamente 250 km desde sua nascente”.( https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Taboco). Imagem Google Mapa 2016. Adaptada e copilado por JVD. 




Figura 69 – Vista panorâmica da cidade de Paranaíba,  no  Leste do Estado de Mato Grosso do Sul.  Antiga denominação de “Santana do Paranayba”, na divisa com o atual estado de  Minas Gerais. Margem do Rio Paranaíba. Portal de entrada dos principais povoadores do Sul de Mato Grosso.  Também foi rota para a Capital Cuiabá. Paranaíba teve importante papel na Guerra do Paraguai, pois foi rota de apoio logístico para a fuga dos civis envolvidos nesse conflito, das regiões de Nioaque, Miranda e das Comunidades rurais.  Até mesmo parte das tropas militares que não foram  para Cuiabá, refugiaram em Paranaíba. Imagem 31/01/2014 Google Earth Pro 2016. Adaptação e copilação JVD.