CAPITULO III
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES NO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
Nioac, de 24 de janeiro a 25 de fevereiro de 1867
Imagem Nioaque atual: http://nioaquehistorias.blogspot.com.br
a) Primeiro Campo de prisioneiros de Guerra
A povoação de Nioac fora abandonada pelo inimigo a 2 de agosto de 1866; vestígios de incêndio ali mostravam-se por toda a parte. Duas casas com uma igrejinha de aspecto pitoresco foram as únicas poupadas. A disposição geral do lugar agrada ao primeiro relancear de olhos; a povoação tem a um lado um ribeirão chamado Orumbeva[1] e ao outro o rio Nioac[2], cujas águas reúnem-se quatrocentas braças[3] atrás da igreja, e deixam à direita e à esquerda duplo espaço livre em torno dela; uma colina pouco elevada fica-lhe fronteira, à curta distância.
Do alto da torre[4] a vista estende-se ao longe e segue por mais de uma légua ao Sudeste a mata que borda as margens do rio até Manoel Maria, lugar em que os paraguaios haviam reunido as famílias brasileiras prisioneiras.
Havia ali muitas cabanas, das quais a maior nos foi indicada como pertencendo a uma moça brasileira que tivera a infelicidade de agradar ao chefe inimigo; só à custa da desonra dessa mal-aventurada cessou a odiosa perseguição por ele exercida contra a família inteira.
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Notas de Referência
[1] NE – Orumbeva. Urumbeva. Afluente margem direita do rio Nioaque. Denominação dada por Joaquim Francisco Lopes, 1849. Segundo Antenor Nascente “Urumbeva, mesmo que urumbeba, planta da família das cactáceas (cactus opuntia), do Tupi – urubeba”. Já para Silveira Bueno “Urumbeba, nome de um cardo de folhas largas em forma de espátula”. Para os índios terenas nome de uma planta medicinal que era abundante nas matas das margens deste rio. http://nioaquehistorias.blogspot.com.br/2016/04/etimologias-lendas-evolucao-da-palavra.html
[2] NE – Nioac, Nioaque. Originalmente Anhuac, Aniuac. Atribuido aos Guaicurus como Clavícula Quebrada e aos Guaranis como Campo de Dormir. Primitivamente atribuído ao Rio, afluente margem direita do Miranda. Confirmado posteriormente ao povoado, hoje cidade e Município do Estado de Mato Grosso do Sul.
[3] NE – Braça é uma antiga medida de comprimento equivalente a 2,20 metros, de acodo com https://pt.wikipedia.org; acessado em 05.11.2016. Outras referencias consideram: 1 braça = 1,8288 - 1 metro e 82 centímetros.
1 m = 100 cm. Logo 400 braças x 2,20 m = 880 m. Em algumas versões atuais do Livro A Retirada da Laguna arredondam este número para 900 metros.
[4] Nas traduções atuais não constam os próximos sete parágrafos que aqui transcrevo. Não encontrei os porquês da supressão, já que são de informações históricas relevantes e que se o autor as publicou nas primiras edições, é que são verídicas.
[2] NE – Nioac, Nioaque. Originalmente Anhuac, Aniuac. Atribuido aos Guaicurus como Clavícula Quebrada e aos Guaranis como Campo de Dormir. Primitivamente atribuído ao Rio, afluente margem direita do Miranda. Confirmado posteriormente ao povoado, hoje cidade e Município do Estado de Mato Grosso do Sul.
[3] NE – Braça é uma antiga medida de comprimento equivalente a 2,20 metros, de acodo com https://pt.wikipedia.org; acessado em 05.11.2016. Outras referencias consideram: 1 braça = 1,8288 - 1 metro e 82 centímetros.
1 m = 100 cm. Logo 400 braças x 2,20 m = 880 m. Em algumas versões atuais do Livro A Retirada da Laguna arredondam este número para 900 metros.
[4] Nas traduções atuais não constam os próximos sete parágrafos que aqui transcrevo. Não encontrei os porquês da supressão, já que são de informações históricas relevantes e que se o autor as publicou nas primiras edições, é que são verídicas.
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Outras indignidades semelhantes, violências e brutalidades vergonhosas, foram cometidas no seio de uma população indefesa, devíamos chamar sobre estes fatos, assinalando-os, a vindicta[5] dos homens; não o fazemos.
A mão de Deus pesará sobre os culpados.
Único ao que sabemos, um oficial de artilharia paraguaio, comandante da Colônia de Dourados[6] (um feliz acaso deu-nos o nome dele[7]), pronunciou-se contra os escandalosos e atrozes desregramentos dos companheiros, tal foi o testemunho unanime dos brasileiros no que depuseram por ocasião do inquérito a que procedemos a 11 de abril de 1867.
Inimigo generoso, cuja proteção cobriu aos nossos compatriotas, não sem evidente perigo para si próprio, nós, oficial brasileiro, aqui lhe agradecemos e fazemos votos para que os azares da guerra o poupem e permitam-lhe ver um dia justa publicidade ligar-se ao seu nobre proceder em um canto ignorado da terra.
A este merecido testemunho não recearemos acrescentar outro em sentido diverso e vem a ser que os paraguaios parecem que compreenderam muito melhor do que nós o valor das belas regiões em que os exércitos de ambas as nações se encontravam.
Que temos feito, nós outros brasileiros, depois de tantos anos que somos delas senhores? Os paraguaios, mal as ocuparam e já executavam trabalhos consideráveis; tinham aplanado, nivelado e dividido regularmente vastas áreas destinadas por certo a fundação de um estabelecimento duradouro; tinham para logo metido energicamente mãos à obra para fazer daí um centro de vasta dominação!
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Notas de Referência
[5] NE – O mesmo que desafronta, desagravo, desforra.
[6] NE – Colônia Militar dos Dourados. Sugestão de leitura: A Epopeia de Antonio João. Autor Raul Silveira de Mello. Volume IX. IHGMS. Edição 2014.
[7] NA - Vellozo.
[6] NE – Colônia Militar dos Dourados. Sugestão de leitura: A Epopeia de Antonio João. Autor Raul Silveira de Mello. Volume IX. IHGMS. Edição 2014.
[7] NA - Vellozo.
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b) Descrição da chegada, estada, situação da povoação de Nioac 24 janeiro 1867
O nosso corpo de exército chegou a Nioac à 24 de janeiro de 1867, às onze horas da manhã. Acampamos em ordem de batalha, com à direita apoiada na margem direita do Nioac e com à esquerda no bosque de Orumbeva. As repartições administrativas ficaram na retaguarda, no lugar em que existira a povoação. Acomodou-se o hospital em duas casinhas que tinham ficado intactas e em um grande rancho que foi construído.
A nave da igreja[8], donde se haviam retirado todos os símbolos do culto que ainda ali existiam, serviu de depósito ao cartuchame e demais munições.
Por toda a parte levantaram-se cabanas de palha e dentro em pouco oficiais e soldados acharam-se tão bem acomodados quanto o permitiam as circunstâncias; bem-estar para nós desconhecido havia muitos meses, renovação de existência, sentimento de plenitude de vida que exaltava-nos o ânimo e em todos nós tornava-se em paixão por nos distinguirmos, por chamarmos com algum feito brilhante a atenção da pátria para essa expedição demasiado tempo inativa; assim a esperança e à alegria reinavam no acampamento. Havia, contudo, um perigo nesse entusiasmo e aqueles que conheciam o chefe[9] a si próprios perguntavam com secreta desconfiança, quais seriam, às suas vistas, qual a sua iniciativa?
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Notas de Referência
[8] NE – Igreja esta que nos eventos Cívicos e Culturais desde o ano de 1999, quando se deu a Primeira Marcha da Retirada da Laguna, dos tempos modernos, é realizada encenações com representação da Explosão da Igreja, conforme descreve Taunay no Capítulo 21. [9] NE – Coronel Carlos de Moraes Camisão.
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c) O Comandante Coronel Camisão
Um precedente pesava sobre ele. Por ocasião da evacuação do forte de Corumbá[10] pelo coronel Oliveira, então comandante das armas da província, posto que pessoalmente estranho, a primeira ideia dessa retirada precipitada, figurara como comandante do Segundo Batalhão de Artilharia e assumira por isso tal ou qual solidariedade de que a malevolência se apoderara contra ele. Correu impresso um soneto que estigmatizava cruelmente o procedimento dos defensores de Mato Grosso; entre outros nomes lera o seu.
A dor dessa afronta subsistia o seu pundonor[11] militar fora profundamente ferido. Foi, pois, com alacridade[12] que aceitou o oferecimento que lhe fizeram do conluiando[13] da expedição; via nisso um meio de reabilitar-se na estima pública e desde então concebeu o projeto, não de manter-se na defensiva como fora de razão com os poucos recursos de que podia dispor, mas de levar a guerra ao território inimigo, fossem quais fossem as consequências.
De dia para dia esta ideia dominava-o mais exclusivamente; sob a influência de legítimo ressentimento passou a ser propósito assentado, apesar dá sua natural indecisão de caráter, a sorte adversa impelia-o na mesma direção.
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Notas de Referência
[10] NE – Corumbá, hoje no Estado de Mato Grosso do Sul fronteira com a Bolívia. A Ocupação pela força naval do Paraguai de Corumbá, Albuquerque, Coimbra entre outras localidades esteve sob o comando do Coronel Barrios, dirigiu-se para Corumbá, em 4 de janeiro de 1865, também abandonada. Ocupa. Destrói e saqueia tudo o que pode. Nota Edição Francesa 1891, “Fora em fins de dezembro de 1864 Corumbá tomada e devastada pelos paraguaios. Era a principal praça comerciante de Mato Grosso e o inimigo ali realizou mui considerável presa. Haviam-se os habitantes refugiado nas matas vizinhas, mas Barrios os perseguiu. Saqueadas as casas, varios objetos roubados, e dos mais valiosos, remeteram-se a Lopez que não hesitou em os guardar, sobressaindo-se Barrios entre todos os que assim procederam. A um brasllelro rico, e sua filha, levaram a bordo do seu navio e quando o pai recusou deixar a menina a sós com o chefe paraguaio, arrastaram-no à força, ficando a infeliz criança no navio. Pôs Barrios em tratos todos os que Ihe cairam as mãos, quando queriam ou não podiam dar-lhe as informações pedidas, ordenando que os espancassem; foram vários lanceados como espiões.
The War in Paraguay por G. Thompson, vol. In 12, 1869. Jovem engenheiro ao serviço de Lopez, entrara o Sr. Thompson em campanha, crente que ia defender o fraco contra a opressão. A experiêncla dos fatos testemunhados dissipa-se, porém, a generosa ilusão.
[11] NE – O mesmo que brio, covardia, irritabilidade, melindre, sensibilidade.
[12] NE – O mesmo que alegria, contentamento, exultação, aleluia.
[13] NE – Conluiando vem do verbo conluiar. Conchavando; maquinando; tramando. Agregar; juntar-se com.
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Existia nos arquivos do corpo um ofício do ministro Ferraz[14], recomendando que marchasse sobre o Apa[15], caso as circunstâncias o permitissem.
Enxergou nisso, não o que de fato era uma indicação facultativa, mas uma ordem formal e peremptória[16] de marchar para a frente. Embalde[17] se lhe faziam observações acerca do assunto; levava a mal, com a sua susceptibilidade doentia quanto se lhe objetava e era incontestável.
Um dito desagradável que a seu respeito fora proferido e que acabava de lhe ser imprudentemente repetido, contribuíra ainda mais para torná-lo inflexível e surdo a tudo quanto parecia demovê-lo do seu projeto de invasão. Não que ele não lhe visse as dificuldades, mas via os nossos soldados cheios de entusiasmo e já aguerridos[18] sorria-lhe a esperança de realizar com eles grandes feitos; formava-os nas manobras com exercícios frequentes; via-os dar sob o seu comando combates simulados em que a artilharia fazia-se ouvir e de todo esse movimento resultava geral animação que também ele compartia.
Mas às vezes conhecia também que dispunha apenas de uma vanguarda de exército de operação; era obrigado à reconhecê-lo. As suas dúvidas reproduziam-se então e quando chegava o dia que fixará para nós partirmos, descobria sempre motivo para adiamento, prevalecendo-se às vezes de razão que rejeitara na véspera; ora representando em ofício ao ministro que nada podia empreender sem cavalaria, ora julgando poder dispensá-la, alternativas dolorosas entre a autoridade da sua razão calma e as aspirações do seu orgulho ofendido.
O seu procedimento era aliás sempre digno e firme em todos os ramos da administração, assinalado principalmente com o cunho de nobre integridade. Não tolerava menoscabo[19] à sua posição de chefe e sabia mantê-la, tanto mais quanto em fazê-lo punha franqueza e amenidade.
Com quarenta e sete anos de idade, de estatura baixa, de aspecto robusto, feições regulares, tez muito morena, olhos negros e vivos, tinha a testa espaçosa, bonito crâneo completamente despido, calvo, cousa que acarretou-lhe da parte dos paraguaios uma alcunha zombeteira[20].
De contínuo sério, preocupado, andava só ou em conferência com o mesmo prático daquela região, o velho explorador de quem acima falamos, José Francisco Lopes[21].
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Notas de Referência
[14] NE - Luís Pedreira do Couto Ferraz, Visconde do Bom Retiro (Rio de Janeiro, 7 de maio de 1818 — Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1886) foi um advogado e político brasileiro. Foi deputado geral, presidente da província do Rio de Janeiro, conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1867 a 1886.
[15] NE - O rio Apa é um curso de água que banha parcialmente a fronteira entre o Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil e a República do Paraguai.
O rio Apa nasce na serra de Amambai, mais precisamente no distrito de Ponta Porã denominado de Cabeceira do Apa. Tem uma extensão de aproximadamente 447 quilômetros, deságua na margem esquerda do rio Paraguai. É um divisor de fronteira internacional entre a República do Brasil e a República do Paraguai. Separa as cidades de Bela Vista, Mato Grosso do Sul, Brasil da Ciudad de Bella Vista Norte, Departamento de Amambay, distante a 469 km de Assunción, Paraguay.
[16] NE – O mesmo que categórica, decisiva, definitiva. [17] NE - O mesmo que em vão, inutilmente.
[18] NE – O mesmo que combativos.
[19] NE – O mesmo que menosprezo.
[20] NE – Crâneo pelado. Craneo desnudo.
[21] NE – José Francisco Lopes, mais conhecido pela alcunha de “Guia Lopes”. Nasceu 26 de fevereiro de 1811 e faleceu em 27 de maio 1867.
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d) José Francisco Lopes
Este merece que o estudemos, ao menos alguns momentos, antes de vê-lo no seu mister. Aqueles dentre nós que tinham presente Fenimore Cooper[22], não podiam deixar de pensar na grande e simples figura de “Olho de Falcão[23] no Prado”, ao observar o sertanejo brasileiro, como ele “homem das solidões”.
Gostara de excursões longínquas desde a infância; diziam também que um ato de violência da sua primeira mocidade lhes impusera durante algum tempo como uma necessidade; mais tarde a idade desenvolvera nesse sentido todas as suas aptidões.
Sóbrio em extremo, viajava dias inteiros sem beber, levando na garupa um saquinho de farinha de mandioca preso à parte posterior da pele macia que punha em cima da sela; nunca largava um machado de tirar palmitos.
Nascera na povoação de Piumhi em Minas Gerais e daí por várias vezes dirigira-se a todos os pontos da região que se estende do curso do Paraná ao do Paraguai. Conhecia perfeitamente as planícies que terminam no rio Apa, limite entre o Império e o Paraguai; andara por muitos lugares ainda não pisados por pé de homem, ainda selvagem; denominara em alguns, Pedra de Cal[24] entre outros; tomara posse sozinho em nome do Brasil de uma imensa floresta no meio da qual fora plantar uma cruz toscamente falquejada ali mesmo, com esta inscrição esboçada pela sua mão “P. II” (Pedro Segundo) madeiro imponente perdido no fundo do deserto à iniciativa do explorador criava domínios para o Soberano.
Em uma viagem empreendida com o alferes Ribeiro[25] afim de reconhecerem a possibilidade de navegação do rio Dourados, fizera um grave ferimento na sola do pé, de que nunca sarou completamente. Um dia, como olhássemos para essa ferida meio cicatrizada, mas ainda sangrando, disse-nos:
__ “O presidente da província prometeu-me como indenização uma recompensa de trezentos mil réis, que nunca me deu, dou por salda a dívida. Era uma condecoração que me deviam: nada mais quero”.
Estivera estabelecido sete anos com a família no Paraguai, mas ao tempo da invasão achava-se de volta ao território brasileiro em uma propriedade que possuía na margem do rio Miranda, a qual chamava Jardim[26], fertilizada pelo seu trabalho e pelo de filhos homens que já tinha. Ele e a mulher, D. Senhorinha[27], ali exerciam para com todos quantos recorriam a eles ampla hospitalidade.
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Notas de Referência
[22] NE - James Fenimore Cooper (15 de setembro de 1789 — 14 de setembro de 1851) foi um político e popular escritor dos Estados Unidos do início do século XIX. Nasceu no dia 15 de setembro, em uma vasta propriedade rural junto ao lago Oswego, em Burlington, Nova Jersey, James Fenimore Cooper, um dos mais populares romancistas do século XIX e considerado o escritor responsável pela criação de uma literatura e de uma personagem prototípica de herói genuinamente Norte-americana. Fenimore Cooper viveu a maior parte de seus anos em Cooperstown, New York cidade fundada por seu pai, atualmente localizada próxima à Nova Iorque... (https://pt.wikipedia.org/wiki/James_Fenimore_Cooper) Acessado em 20.10.2016.
[23] Olho de Falcão no Último dos Moicanos. O Último Dos Moicanos – James Fenimore Coope. “Traz como cenário a Guerra dos Sete Anos, que envolveu ingleses e franceses, de 1756 a 1763, na disputa por terras no solo americano. Cora e Alice, filhas do coronel britânico Munro, são salvas por Olho-de-Falcão (um caçador branco que vivia entre os moicanos) e seus companheiros, o velho guerreiro Chingachgook e seu filho Uncas, do ataque dos índios huronianos, Esse oficial havia sido responsável pela morte de um dos chefes huronianos, que viram na aliança com os franceses um modo de se vingar. A partir daí, cenas de bravura, amor, aventura e heroísmo alternam-se numa das mais conhecidas sagas norte-americanas”. (http://lelivros.me/book/download-o-ultimo-dos-moicanos-james-fenimore-cooper-em-epub-mobi-e-pdf) Acessado em 20.10.2016. [24] NE – Pedra de Cal. Ver mapa.
Piripucu. Rio, afluente, pela margem direita, do rio Apa, no município de Bela Vista. Bacia do rio Paraguai. História. Acyr Guimarães informa que Afonso Loureiro, Atanásio Melo e Davi Medeiros exploraram os campos do rio Piripucu, em 1874, para fazer posse. O rio era também conhecido como Pedra de Cal, cujo nome foi dado por José Francisco Lopes, o dedicado guia das forças expedicionárias de Matto Grosso, na calomitosa campanha do Apa, em 1867 (Moreira Pinto, verbete). Na obra Retirada da Laguna aparece com o nome de rio das Cruzes. Enciclopédia das Aguas MS. -IHGMS.2014.
[25] NE – Sobre está Viagem:
Em 1956 vindo pelo tibagi-paranapanema, estacionou em Nioaque, prosseguindo para Corumbá o 2º Batalhão de Artilharia a Pé, sob o comando do tenente coronel Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, mais tarde General, na guerra do Paraguai, como comandante de um Corpo de Exercito Brasileiro, determinou ao alferes José Ribeiro do Nascimento que acompanhado de quinze praças e guiado pelo pratico José Francisco Lopes fizesse exploração do rio Dourados, visando a sua nevegabilidade, até as suas cabeceiras e procurasse o marco deixado pelo capitão Engenheiro Francisco Nunes da Cunha, em local a se levantar a Colonia Militar de Dourados, quando na sua exploração da região em 1856.
A pequena expedição saindo em março daquele ano da vila de Miranda, alcançou pelo varadouro Nioaque-Brilhante, o porto Santa Rosa e fez descida pelo Brilhante em canoas para a barra do Dourados e Ivinheima. Segundo Acyr Vaz Guimarães. Mato Grosso do Sul. História dos Municípios. V.1. 1992.
[26] NE – A Fazenda Jardim, ou Estância do Jardim. Originaria do nome do córrego Bom Jardim, margem da Rodovia entre Guia Lopes da Laguna e Bonito-MS. Afluente, margem direita, do rio Miranda, no município de Guia Lopes da Laguna.
[27] NE – Senhorinha Maria Conceição Barbosa Lopes.
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Quando os paraguaios invadiram o território brasileiro em 1865, conseguira escapar-lhes, mas sozinho; a família inteira caíra nas mãos dos invasores; transferiram-na para Manuel Maria[28] onde tinham reunido todos os prisioneiros, como ficou dito e mais tarde para a povoação paraguaia de Horqueta[29], a sete léguas da sua cidade de Concepción. Quanto a José Francisco Lopes, fora reunir-se ao tenente-coronel Antônio José Dias[30], que estava em campo e retirava diante do inimigo, mas o coração do velho estava com os seus.
O coronel Camisão deparou nele pois um partidário apaixonado dos seus projetos, desde que lhes dando a conhecer, ofereceu-lhe oportunidade de ir como guia da expedição, reunir-se à família e vingar as suas afrontas; este duplo móvel que o exaltava, nunca o fez, no entanto, esquecer a posição modesta que para si tomara:
__ “Eu nada sei, dizia, sou um matuto. Os senhores que estudaram nos livros, devem saber tudo”.
O seu orgulho limitava-se a uma cousa, o conhecimento do terreno; ambição legítima, que afinal foi a nossa salvação.
__ “Eu desafio, exclamava, a todos os engenheiros com as suas agulhas (bússolas) e as suas plantas. Nos campos de Pedra de Cal[31] e de Margarida[32] sou rei. Só os cadiuéos[33] e eu conhecemos isso tudo”.
Enfim, para reatar a nossa narração, a partida de Nioac foi resolvida, posto que já tivéssemos começado a lutar com grandes dificuldades para nos fornecermos de gado.
Publicou-se a ordem[34], sem que, no entanto, se soubesse ainda aonde se ia, pensando a maior parte que apenas se tratava de fazer alguma incursão sobre algum posto inimigo.
Levava-se apenas o material indispensável para um mês de ausência. As mulheres dos soldados, com exceção de duas ou três, ficaram no acampamento.
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Notas de Referência
[28] NE – Manuel Maria, primeiro campo de concentração dos prisioneiros de Guerra efetuados por tropas do Paraguai. No momento é a única referencia que disponho.
[29] NE – Horqueta atualmente é uma cidade, um Distrito (Município) do Departamento (Estado) de Concepción, República do Paraguai. Tem uma população estimada em 55.000 habitantes e a base da sua economia é a agricultuta, pecuária e comércio.
[30] NE – Tenente-Coronel José Antonio Dias da Silva. Na ocasião da Invasão era o Comandante do Distrito Militar no Sul da Provincia de Mato Grosso, sediado em Nioac. Com a invasão paraguaia de Nioac e região as Tropas sob o comando de Dias da Silva são obrigados a retirada para Miranda, depois parte seguiram para Coxim, Paranaíba e Cuiabá.
[31] NE -Pedra de Cal
[32] NE = Morro da Margarida, atualmente no município de Bela Vista – MS.
[33] NE – Ou Cadiuéu ou Kadiwéu. Os índios são descendentes dos famosos Guaicurus, conhecidos como índios guerreiros, Cavaleiros do Pantanal. Hoje, sua principal atividade é a criação de gado, a agricultura de subsistência, caça, pesca e artesanato, destacaram-se pela força e resistência, imposta aos espanhóis e portugueses, na região da bacia do Paraguai na época da colonização do Brasil.
Como guerreiros habilidosos os Guaicurus submeteram quase todas as outras nações indígenas da região. A escravidão era uma prática comum exercida sobre outras nações indígenas.
Após um trato feito com a coroa brasileira no início do século XIX, os Guaicurus passaram a condição de súditos brasileiros lutaram em defesa de seu território, ao lado dos brasileiros na guerra do Paraguai. A guerra com o branco e o avanço dos colonizadores na região, foram paulatinamente enfraquecendo sua organização tribal, culminando com a dispersão e quase dizimação de seu povo. A delimitação do território das suas aldeias foi marcado por intensos conflitos de terras entre fazendeiros, posseiros, arrendatários e os índios. Até o final do século XX persistiam conflitos e negociações.
Os últimos remanescentes dos Gauicuru são os Kadiwéu.
Localizados atualmente entre os Município de Bodoque a Porto Murtinho, no Estado de Mato Grosso do Sul. A população se divide entre quatro aldeias: A aldeia maior, no município de Bodoquena, ao pé da Serra da Bodoquena, vizinha à aldeia Campina, no alto daquela serra. A aldeia Tomázia e a aldeia São João.
Os espanhóis colonizadores chamaram de Mbayá (termo provavelmente de origem Tupi-Guarani) aos Guaikurú (nome também de origem Tupi-guarani) dos quais descendem os Kadiwéu. Em Guarani, do Paraguai seria estrangeiro.
[34] NE – Ver os quatro documentos transcritos a seguir.
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e) Transcrição de Documentos[35] Número 01,02,03,04 Expedidos pelo Coronel Camisão em Nioac
Documento 01
Saída da Vila de Miranda
Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Matto-Grosso na Vila de Miranda, 10 de janeiro de 1867.
Não podendo, como tencionava, efetuar no dia 7 do corrente a marcha destas Forças para Nioac, como em ofício sob nº 3, de 5 deste mês comuniquei a V. Exc.ª., em consequência da falta de transporte para o material de guerra, ordenei que se levantasse acampamento no dia 11 do mês vigente, afim de se verificar a referida marcha, o que comunico a V. Exc.ª. a quem Deus Guarde.
Ilmo. e Exmo. Sr. Albano de Souza Ozorio,
Vice-presidente desta Província.
Carlos de Moraes Camisão,
Coronel Comandante.
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Documento 02
Chegada em Nioac
Quartel do Comando das Forças em operações ao Sul da Província de Matto-Grosso. Acampamento em Nioac, 27 de janeiro de 1867.
Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exc.ª. a chegada das Forças sob meu comando, no dia 24 do corrente, a este ponto, onde pretendo dar-lhes algum descanso e esperar a reunião de gado, a qual permita o prosseguimento da marcha até o Apa.
A escassez de gado, depois da ocupação do Distrito por mais de ano, pelos inimigos, torna-se hoje muito sensível e a vinda de duzentas e cinquenta e cinco rezes que remeteu o incansável e digno Presidente da Província de Goias em nosso socorro, veio remover uma das necessidades que se ia tornando iminente. Consta-me que novas remessas de gado, assim como de víveres, se acham a caminho, podendo-se presumir com todas as probabilidades de certeza, que as forças não se acharão, por em quanto, a braços com as dificuldades na alimentação, que tanto tem entorpecido a sua ação.
Além disso, na zona deste distrito que devemos percorrer ainda, existem muitas rezes; entretanto, achando-se elas espalhadas e lutando nós com a falta completa de cavalhada, não se pode confiar, senão com tardança na esperança de sua aquisição. A posição em que se acham hoje acampadas as forças, foi durante todo o tempo de estada dos Paraguayos neste distrito, o ponto de maior importância e é, portanto, o mais considerável vestígio da ocupação inimiga.
Por uns mapas de força encontrados aqui e pelo traçado do quartel, calcula-se em mil e tantos homens a força que até Junho do ano passado aqui esteve, ocupando-se na edificação de várias prédios e na cultura, em grande escala o que tudo foi destruído e entregue às chamas por ocasião de sua retirada. Restam na antiga povoação três casas de pé e a igreja, a qual, bem que despojada de seus distintivos sagrados, acha-se ainda em regular estado de conservação.
Com a brevidade possível tenho hoje a esperança de poder dirigir-me para o Apa, encetando a marcha em direção à fronteira, bem que não haja dados seguros sobre o número de inimigos que se acham guarnecendo aquele rio, e sobre a natureza e importância dos diversos fortes que ali tenham.
A força de 1400 homens, inclusive camaradas e outros empregados de que disponho, para essa empresa é diminuta, como V. Exc.ª. perfeitamente o conhece, força dizimada pelas enfermidades durante a por demais prolongada estação, no péssimo local da Vila de Miranda.
Ainda dali trouxemos muitos doentes e por isso não posso ter o prazer de apresentar o estado sanitário das forças como lisonjeiro, entretanto a paralisia reflexa, epidemia que por muitos meses lavrou nas fileiras de oficiais e praças, tem no corrente mês, feito muito menor número de vítimas; e confiado nas boas condições de salubridade deste lugar, espero que em breve se modifique aquele estado desolador.
O pessoal médico, reduzido tão somente a dois únicos facultativos, não pode dar a regularidade desejável ao serviço terapêutico, o qual pela falta completa de medicamentais e sem auxílio de um só Farmacêutico, não fornece todos os socorros da medicina que nos são, mais do que em outra qualquer parte, necessários pela natureza insalubre dos lugares que havemos percorrido.
Na Repartição Eclesiástica um único sacerdote existe para toda a Força e lutamos com faltas altamente deploráveis nesse serviço importante.
Nas mais dificultosas circunstâncias tomei posse do comando das Forças e com elas arco no comprimento da espinhosa tarefa que me foi cometida.
Asseguro, porém, a V. Exc.ª. que em qualquer Operação que empreender, serei guiado pelo espirito da mais cautelosa circunspecção e que apoiado nos bons desejos que têm os meus comandados de continuar a dar ao Governo Imperial mostras da animação e coragem, que em muitas calamitosas ocasiões a patenteado, seguirei à risca a linha de conduta que me foi traçada. Para isto acho-me possuído da mais completa resolução em desenvolver os recursos que foi possível tirar do desejo ardente em corresponder a expectativa dos meus chefes e em bem servir o meu país.
Abusando, pois, da bondade de V. Exc.ª., que tantas provas de consideração tem dado aos pedidos partidos desta Força e chamando a atenção de V. Exc.ª. para este estado de cousas irremediável aqui, remeto a relação de alguns medicamentos que se nos fazem precisos, achando-se todos os outros esgotados. Deus Guarde a V. Exc.ª.
Ilmo. e Exmo. Sr. Albano de Souza Ozorio,
Vice-Presidente da Província.
Carlos de Moraes Camisão,
Coronel Comandante.
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Documento 03
Estado sanitário das Forças e declineo das Epidemias em Nioac
Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Matto-Grosso em Nioac, 25 de fevereiro de 1867.
Tenho a satisfação de comunicar a V. Exc.ª que o estado sanitário destas Forças tem sensivelmente melhorado, graças a influência benéfica do clima do atual acampamento.
A epidemia caracterizada em seu começo pela inchação de pernas e paralisia destes membros, que por tanto tempo lavrou entre as fileiras de oficiais e soldados, felizmente parece ter desaparecido. Se pelo mapa do movimento do hospital ambulante se vê, que na Vila de Miranda durante o mês de dezembro último, o número de falecimentos causados por tão horrível enfermidade se elevou a 21, já em marcha para este ponto, menos de um terço foi o número das vítimas feitas no mês de janeiro em que apenas sucumbiram seis, tendo neste acampamento falecido do 1° até 22 do corrente somente duas praças.
Devo também comunicar a V. Exc.ª que todos os óbitos havidos depois da subida das Forças de Miranda e causados por aquela enfermidade se tem verificado em oficiais e soldados que dela foram afetados na referida Vila. Deus Guarde a V. Exc.ª.
Ilmo. e Exmo. Sr. Albano de Souza Ozorio,
Vice-presidente desta Província.
Carlos de Moraes Camisão,
Coronel Comandante.
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Documento 04
Disposições[36] Estratopedicas e Proegeticas, poucos recursos em Nioac
Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Matto-Grosso em Nioac, 24 de Fevereiro de 1867.
Conforme já o havia em comunicado a V. Exc.ª., apenas cheguei a este ponto procurei dispor as cousas no sentido de uma próxima marcha em direção á parte mais meridional deste distrito.
De estorvo considerável tem me sido a deficiência de rezes, a qual até o presente de modo algum me permitiu o cumprimento de minha resolução. Entretanto, achando-se as forças hoje de posse de 100 e poucas cabeças e a espera de outras remessas, tenciono nestes próximos dias pôr-me a caminho para a Colônia de Miranda, onde devemos, como há esperanças, obter a quantidade de rezes suficiente para o prosseguimento da marcha até o Apa.
Nesta persuasão irei até aquela Colônia, demorando-me ali o tempo preciso para a obtenção do gado e para o reconhecimento que mandarei fazer até Dourados, cuja desocupação ainda acha-se em dúvida. Os motivos de morosidade em qualquer movimento de operação, surgem aos milhares à vista da mais completa falta de tudo quanto é exigido pelas necessidades desta força, tento presentemente vencer estes embaraços com a mais decidida boa vontade e firmeza. Deus Guarde a V. Exc.ª.
Ilmo. e Exmo. Sr. Albano de Souza Ozorio,
Vice-presidente desta Província.
Carlos de Moraes Camisão,
Coronel Comandante.
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Notas de Referência
[36] NE - Este arte de las posiciones denominado Táctica se puede subdividir en:
•Táctica de Batalla - Coordinar los elementos de una arma en particular en que orden ejecutaran los movimientos en el campo de batalla.
•Táctica del Movimiento o Proegetica - Arte de hacer marchar las tropas con el menor esfuerzo posible.
•Táctica del Reposo o Estratopedica - Colocar tropas en campamento. Baseado em http://enciclopedia.us.es/ Orden de batalla en la legión romana. Fev/2017
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