CAPÍTULO XII
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES AO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
A Marcha e Combates das Forças em Retirada da Invernada da Laguna, Paraguai. Combate de 11 de maio de 1867 ou Nhandipá
Imagem José Vicente Dalmolin. Monumento Nhandipá
3º Encontro Internacional de História Militar da Tríplice Aliança, outubro 2011
Preâmbulo:
Significado do nome deste local e batalha "Nhandipá"
As Forças brasileiras e o mapa de 1874 da Comissão que traçou os limites de fronteira e a marcha dos Retirantes de Laguna tratam pelo nome de Combate, confronto, combate do Apa ou de 11 de maio. O Exército do Paraguai registraram cada um dos locais significativos destes confrontos com um nome no idioma Guarani. Assim, Akãrabebo, kambarace, entre outros.
Quanto as interpretações apresento as seguintes referências:
O Engenheiro Dr. Armando Arruda Pereira, em visita ao local onde houve o combate em 1924, publicado no Livro Heroes Abandonados, publicado em 1925, registrou:
“Nhandípá - A esquerda da estrada, na entrada de Bela Vista, existe uma cruz tosca, de aroeira, no meio do campo, no local onde estão enterrados os soldados paraguaios mortos nesse grande e memorável combate.
Nos braços dessa cruz, vê-se uma legenda em castelhano, voltada para o lado que defronta o Paraguai. Reza o seguinte:
"LA GARNICION DE BELLA VISTA A LOS (?... 97 HEROES MUERTOS EN ESTE SITIO EL 11 MAYO 1867 EN DEFENZA DE LA PATRIA".
Está o número da centena apagado, mas, de acordo com os documentos e as narrações da época sobre o combate, não há dúvida de que é o número um que ali existiu”. Assim seria 197 o número de mortos do exército paraguaio.
Quanto ao significado de Nhandipá:
NHANDIPA - Em guarani é o nome de uma arvore, mas creio, estudando a desarticulação da palavra, uma vez também que esse nome foi dado pelos paraguaios, estaremos mais certos imaginando que pretendiam significar ali haverem terminado de combater a coluna invasora do Paraguai.
“Nhande” em guarani significa "nós outros"; e “Pa”' "concluir, terminar", donde deduzimos não seja a arvore a causa de origem do nome e, sim, que os soldados de Lopez, queriam dizer que ali terminaram, ali concluíram a faina de repulsa à nossa coluna.
Outras Avaliações:
Nas narrativas dos Eventos Cívicos Culturais da Marcha da Retirada da Laguna é narrada literalmente Nhandipá, significando “Chegamos ao termo”.
No Dicionário:
Diccinario Guaraní-Castellano. Avañe’ê Poty. Felix de Guarania. Servi Libro. Asunción, Paraguay, 2011
Ñande – Nosotros – nós
Pa – sufijo que indica totalidade; que termine; terminarse; estar acabado;
SAMPAIO, M. A. Vocabulário guarani português. Porto Alegre, 1986. SAMPAIO, T. O tupi na geografia nacional. São Paulo,1987.
Nhandi (nhã-di) significa a seiva, o líquido que escorre, o látex, o grude (SAMPAIO, 1987) pa refere-se, dente outros, àquilo que está concluído, acabado (SAMPAIO, 1986. O primeiro formante da designação é de origem tupi, enquanto o outro advém do guarani.
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PARTE I – O maior combate físico entre Brasileiros e Paraguaio em terras do Brasil Império, Nhandipá, ou 11 de maio de 1867
1- Em Retirada, a emboscada paraguaia em solo brasileiro e a resistência brasileira, dispersão do gado
a- Ataque surpresa
De súbito, do fundo da escarpa que a estrada contornava, saiu um corpo de infantaria paraguaia que lançou-se sobre a nossa linha de atiradores, atravessou-a, e dirigiu-se para o Batalhão Nº. 17º a uns cem passos de distância. Enquanto este dispunha-se a receber o ataque, os nossos atiradores, tornando a si da surpresa que abrira passagem ao inimigo, tinham-se voltado e já o carregavam pelas costas, quando grupos numerosos de cavalaria surgem a galope, derribando e cortando à espada quanto encontram.
Imagem Adaptada do Google Earth Pro 2017. José Vicente Dalmlin. Ilustrando o caminho percorrido entre o pouso na margem direita do Apa e o local onde se encontra atualmente o Monumento de Nhandipá.
Foi uma pugna terrível, em que por toda a parte combatia homem contra homem e tal que o nosso Batalhão de Voluntários de Minas hesitou a princípio fazer fogo, porque a descarga devia alcançar a um tempo amigos e inimigos, apesar disso efetuou-se e juncou o chão de mortos e feridos, mas pelo menos obrigou os paraguaios a recuarem e a fugirem; cousa que também só fizeram para irem de novo formar-se alguma distância daí.
Não podíamos deixar de esperar um ataque geral.
b- A reação das Forças brasileira
Todos os corpos formaram quadrados e os canhões colocados nos ângulos começaram um fogo vivo e bem nutrido, cujos projetis alcançavam a grota em que o grosso do inimigo estava alojado.
c- Dispersão do pouco gado existente
Novo pânico do nosso gado, desta vez mais grave nos seus resultados que da primeira, veio então comprometer a nossa situação quer momentaneamente, quer para todo o resto da retirada. A boiada, aterrada com o estrondo do canhoneio, qual se não ouvira até ai, foi presa de vertiginoso terror e os animais abrindo passagem por entre os seus guardas e os soldados, precipitaram-se sobre as fileiras, principalmente na retaguarda, mais próxima do ponto em que estavam e nelas produziram a princípio uma confusão que foi notada pelo comandante inimigo e que devemos supor, sugeriu-lhe a ideia da evolução que operou-se imediatamente.
d- Organização das Forças paraguaias
Toda a sua cavalaria foi dividida em duas colunas cerradas que correram toda a brida, e, vindo passar rente com as faces laterais dos nossos quadrados, convergiam sobre a nossa retaguarda para esmagá-la, no estado de perturbação em que se achava. Esta manobra teria com efeito podido acarretar a nossa perda; mas burlou-se, graças principalmente a nossa infantaria que, postada como estava, teve o inimigo durante alguns minutos sob os seus fogos cruzados e fez-lhes cair muita gente.
Esses claros nas suas massas quebraram-lhes o ímpeto, além de verem-se embaraçados com os feridos e mortos.
e- A violência
A arma branca não os poupou mais que as balas e a metralha. Viram-se cavaleiros espetarem-se nas nossas baionetas e perecerem a golpes de espada. O Nº. 20º Batalhão distinguiu-se nessa luta encarniçada, que deu tempo a nossa retaguarda de consolidar-se contra o embate que a ameaçava.
A violência não foi tamanha como se esperava; pois os paraguaios, supondo encontrar-nos meio abalados e conhecendo pelo contrário a nossa coesão pelo vigor da resistência, foram levados a desistir do ataque e limitaram-se afinal a cercar os animais espantados que ainda corriam pelo campo. Reuni-los, dominá-los, tocá-los adiante foi para esses campeiros, os primeiros do mundo, obra de um momento; e tudo desapareceu, a planície estava livre, o combate cessara.
Os primeiros instantes foram consagrados ao prazer da vitória e as aclamações que ergueram-se espontâneas em toda a nossa linha, dominavam o clangor[1] das cornetas e os toques jubilosos.
Mas a essa cena de entusiasmo e de alegria sucedeu outra de desolação.
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Notas de Referências
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Notas de Referências
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2- No campo de batalha: Mortos, feridos, mutilações
O terreno estava coberto de inimigos moribundos e feridos, muitos dos nossos, embriagados com a pólvora e com o fogo, ocupavam-se em acabar com eles. Os nossos oficiais, tomados de horror, embalde esforçavam-se por arrancar-lhes das mãos as vítimas, lançando lhes em rosto a indignidade de semelhante carnificina. Ainda por felicidade os índios permaneciam sob a impressão das ameaças do coronel por causa da mutilação dos cadáveres e abstiveram-se de tocar em qualquer forma humana, animada ou inanimada, mas por isso mesmo foram mais cruéis para com os cavalos, dos quais não pouparam um só, quer estendidos no chão dando alguns últimos sinais de vida, quer feridos levemente e os que ainda ajaezados[2] tinham-se posto a pastar.
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[2] NE – Cavalos ainda arreados, selas.
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a- Apropriação dos espólios
Via-se demais a mais, como digno acompanhamento dessas deploráveis cenas, o saque desenfreado a que se entregavam os mercadores de retalho que seguiam o exército. As mulheres também apanhavam o seu quinhão. Os corpos eram revistados, despidos e os despojos sanguinolentos passavam de mão em mão como mercadorias, muita vez disputados com violência.
Os cadáveres paraguaios, alvo das primeiras espoliações, ficaram assim nus, estendidos ao sol. Notamos um, o de um moço de formas atléticas, cuja cabeça fora atravessada por uma bala de uma a outra têmpora, os olhos estavam tumefatos[3] nas orbitas; e depois de todo o sangue que correra em abundância, caiam-lhe ainda de sob a fronte grossas bagas que pareciam lágrimas, emblema pungente da passagem exterminadora da guerra sobre a valorosa nação sacrificada por ímpio chefe!
Que lúgubres[4] ideias não desperta um campo de batalha e principalmente nessas imensas solidões para onde o próprio gênio do mal parece ter chamado e reunido penosamente alguns mil homens afim de mutuamente se matarem, como se lhes faltasse terra para viverem em paz do seu trabalho!
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[3] NE – Aumento do volume do órgão; inchado.
[4] NE - Fúnebres; funestas.
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b- A contabilidade do número dos mortos
Os inimigos deixavam no campo mais de uma centena de mortos[5], no número dos quais encontrou-se um capitão e outro oficial cujo posto, por falta de divisas não pode ser reconhecido. É raro ver tamanho número de cadáveres paraguaios em um campo de batalha. Os que sobrevivem carregam com os que podem e até alguns dentre eles tomam a precaução de atarem-se pelo meio do corpo a uma das pontas do laço que trazem sempre consigo e de prenderem solidamente a outra ponta ao arção[6] da sela, afim de que se caírem mortos ou gravemente feridos, o cavalo acompanhando os outros na volta, leve-os aos lares, ainda que em pedaços; precaução feroz que tem tal ou qual grandeza.
Tivemos pela nossa parte dezenove homens mortos, todos do Batalhão da vanguarda ou dos atiradores que o precediam. O tenente Palestrina[7] que os comandava tivera o peito atravessado por uma lançada de que morreu alguns dias depois.
O tenente Raymundo Monteiro foi apanhado durante a ação banhado em sangue; carregaram-no em uma padiola[8] e ao passar por diante da sua companhia, bradou-lhe que vingasse a sua morte. Recebera oito lançadas, a primeira das quais derribara-o e teve ainda de sofrer mais do que ferimentos, com o pisar dos cavalos. Sarou não obstante e tivemos o prazer de ver mui prontamente restabelecido esse esforçado filho da Província de Minas.
Vinte nove feridos brasileiros tinham sido trazidos de vários pontos e foram colocados na ambulância provisória onde os nossos médicos os puseram em carros de bois, apertados é verdade e acumulados, mas recebendo todos os socorros que as circunstâncias ainda comportavam.
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[5] NE – Sobre o número de mortos - Na edição de 1874 traduzida para o Portugues registra mais de oitenta. Este registro foi do autor naquele contexto.
Na edição em francês de 1891 “Les ennemis laissaient sur le terrain plus d'une centaine de morts” fala em mais de uma centena de mortos.
Ainda em nota de rodapé, Capítulo 12 “Il y eut plus de deux cent trente hommes tués. L'affaire avait été engagée entre deux colonnes, dont le total montait tout au plus à trois mille hommes”, Havia mais de duzentos e trinta homens mortos. O caso havia sido iniciado entre duas colunas, o total foi de mais de três mil homens.
Em algumas Edições modernas em nota de rodapé “Perderam os paraguaios 184 homens, número inscrito numa grande cruz que, por ordem do Major Urbieta, ali se fincou. (A Retirada da Laguna, Visconde de Taunay, episódio da Guerra do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio)
Entretanto este numero de mortos ainda é divergente:
O próprio autor, Alfredo Taunay, no Livro Dias de Guerra e Sertão, Edição publicada em 1927 (republicada por Afonso Taunay) trás as seguintes notas:
“As 11 horas, o mortífero encontro e a carga de cavalaria que poderiam ter sido o último dia de todos nós. Dão-lhe os paraguaios o nome de combate de “Nhandipá” e pela quantidade de vitimas naquele simples quarto de hora – que tanto durou – calcule-se a intensidade do ataque. Do nosso lado tivemos 19 homens mortos e 29 feridos. Quanto ao inimigo, uma Cruz alterosa e de madeira de lei, com pomposa inscrição, conforme me narrou o coronel Isidoro, que em 1870, percorreu esses lugares todos, dando execução ao plano de cerco, por aquele lado a Solano Lopez fugitivo, esta Cruz atesta que ali morreram em “Acción de guerra 180 bravos”! Ainda em nota de rodapé “Houve, de parte a parte, mais de 230 homens mortos”
O Engenheiro Dr. Armando Arruda Pereira, em visita ao local onde houve o combate em 1924, publicado no Livro Heroes Abandonados, publicado em 1925, registrou:
“Nhandípá - A esquerda da estrada, na entrada de Bela Vista, existe uma cruz tosca, de aroeira, no meio do campo, no local onde estão enterrados os soldados paraguaios mortos nesse grande e memorável combate.
Nos braços dessa cruz, vê-se uma legenda em castelhano, voltada para o lado que defronta o Paraguai.
Reza o seguinte:
"LA GARNICION DE BELLA VISTA A LOS (?... 97 HEROES MUERTOS EN ESTE SITIO EL 11 MAYO 1867 EN DEFENZA DE LA PATRIA".
Está o número da centena apagado, mas, de acordo com os documentos e as narrações da época sobre o combate, não há dúvida de que é o número um que ali existiu”. Assim seria 197 o número de mortos do exército paraguaio.
[6] NE - Peça arqueada de madeira que faz parte da armação de uma sela. Parte dianteira ou traseira da sela à marialva, e, por extensão, da sela ordinária. "arção", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa http://www.priberam.pt [consultado em 24-10-2016].
[7] NE - As versões modernas tratam por “Tenente Palestino”. A Versão Francesa de 1891, trata por “Palestrina”, le lieutenant Palestrina. Por tratar-se de nome próprio, sigo o original.
[8] NE – Maca. Espécie de cama de couro de bovino, modernamente lona, portátil em que se transportam doentes ou feridos.
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3- A enfermeira, Negra Anna
A mulher de um soldado, a negra Anna[9], prevenira os cuidados da administração militar nessa obra caridosa. Colocada durante a ação no meio do quadrado do 17°, mostrara-se zelosa para com todos os feridos que traziam, tirando ou rasgando das próprias roupas o que era preciso para os pensar e ligar; proceder tanto mais notável e digno de admiração quanto o da mor parte das suas companheiras foi miserável. Haviam-se quase todas escondido debaixo das carretas onde disputavam lugar com horrível tumulto.
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[9] NE – Posterior será publicado um conteúdo especial não só sobre a Anna, mas sobre as mulheres que se encontravam agregadas as Forças em Operação no Sul da Província de Mato Grosso.
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4- Interrogando um paraguaio, prisioneiro
O único ferido inimigo que se achou vivo, tinha uma perna fraturada. O coronel quis vê-lo, e para interrogá-lo mandou vir o filho de Lopes que falava o espanhol paraguaio. Parecia sentir agudas dores, pediu água e bebeu avidamente; mas a sombra com que o cobrimos rodeando-o, pareceu causar-lhe ainda mais prazer.
Respondeu algumas perguntas que lhe foram dirigidas:
__ Que o comandante da força paraguaia com que viéramos às mãos, chamava-se Martin Urbieta[10], o mesmo de que já se falou, que o corpo de cavalaria que tinham mandado contra nós era de oitocentos homens e que proximamente devia chegar outro.
Quanto as informações que se lhe pediram acerca da artilharia, disse nada ter que responder, nada saber, mas deu-nos espontaneamente notícias da guerra do sul. Tendo-lhe o filho do guia perguntado se Curupaity[11] fora tomado, respondeu com uma só palavra:
__ No! “Não”!
— “E Humaitá”?
— “Nunca”!
— “Então a guerra não está para acabar”?
Depois de uma pausa durante a qual a mesma pergunta foi repetida, o moço respondeu, como saindo de um sonho e com o tom enfático que é próprio da língua daquela região:
__ "¡La terrible guerra está durmiendo!" “A terrível guerra está dormindo!”
Não falou mais, vimos que estava delirando! Levaram-no para uma das carretas da ambulância.
O que seguiu-se a este incidente, triste sucesso que não quisemos verificar foi, segundo o boato que correu, que o desgraçado, metido em um carro já muito cheio e onde foi argumentar o incômodo dos outros feridos ou moribundos que só alimentavam ódio e vingança, acabou estrangulado. É certo que durante a marcha, poucas horas depois, foi atirado morto à estrada.
Os cadáveres dos nossos compatriotas foram todos enterrados em covas que os índios tiveram ordem de cavar. Quanto aos paraguaios, deixou-se dessa vez a tarefa aos seus patrícios que sabíamos não deverem tardar a voltar ao campo depois da nossa retirada.
O coronel com os seus sentimentos de homem profundamente religioso teve disso sincero pesar. Entretanto, o número dos cadáveres era grande e o calor tornava-se acabrunhador.
Recomeçamos a marcha!
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[10] NE – Na ocasião da invasão das regiões Sul da Província de Mato Grosso. A expedição Paraguaia terrestre, fora comandada pelo Coronel de Cavalaria Ysidoro Resquín e pelo subchefe da mesma arma Major Martín Urbieta. Esta Coluna Militar contava com um efetivo de aproximadamente 2500 cavalarianos e um Batalhão de Infantaria.
A Divisão Norte, nome da Coluna que atacou por terra, partiu de Concepción em dezembro de 1864.
Resquín penetrou em Mato Grosso, vindo direto do Forte de Bella Vista (Paraguai), em seguida atravessa o atual Rio Apa.
Urbieta deslocou-se por Cerro Corá, Chiriguelo, indo a Colônia Militar do Dourados onde era comandada pelo Tenente Antônio João Ribeiro.
Após a ocupação do Sul da Provincia de Mato Grosso, o Coronel Resquin fora chamado por Solano Lopes para auxiliar nos combates pelo Sul da República do Paraguai. O Major Urbieta permaneceu comandando a região Norte da República.
[11] NE – O Forte de Corupaity, localizava-se na margem esquerda do rio Paraguai, aproximadamente cinco quilômetros ao Sul da Fortaleza de Humaitá, na República do Paraguai. No contexto da Guerra da Tríplice Aliança, (1864-1870), da mesma forma que o Forte de Curuzú, constituía-se numa defesa avançada da Fortaleza de Humaitá. Só foi ocupada pelas tropas da Tríplice Aliança em 23 de março de 1868. Da mesma forma a Fortaleza de Humaitá localizava-se à margem esquerda do rio Paraguai, em torno de 430 quilômetros ao sul Assunção. No contexto da Guerra, esta fortificação controlava o acesso por via fluvial à capital, e constituía-se no mais poderoso complexo defensivo paraguaio. Só foi abandonado pelas forças paraguaias, após ocupado pelas tropas brasileiras em 25 de Julho de 1868 e utilizada como base de operações militares.
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5- Análise da estratégia do combate de Nhandipá, segundo o Autor Alfredo Taunay
Tal foi o combate do dia 11 de maio[12], o mais importante da Retirada. Já a ação do dia 6 ensinara aos paraguaios o que valia a nossa gente. Esta confirmou o efeito no ânimo deles, semelhante impressão revelou-se na hesitação e indolência que, mais do que anteriormente, caracterizou-lhes os cometimentos. Ficou também para nós demonstrado que além da prática da guerra, carecia-lhes a ideia estratégica, aquela que por inspiração sabe apreciar os fatos no mesmo instante em que se produzem e adivinha os obstáculos para triunfar deles. O ataque de infantaria que nos trouxeram, tivera por fim levar a confusão a nossa vanguarda, de modo a entregá-la no primeiro momento de surpresa à sua cavalaria.
Imagem Adaptada do Google Earth Pro 2017. José Vicente Dalmolin. Ilustrando o local onde se encontra atualmente o Monumento de Nhandipá e campos por onde ocorreram os combates de 11 de maio de 1867
Frustrado este plano, deviam ter compreendido que a única probabilidade de êxito estava nas cargas de cavalaria mais impetuosas e sustentadas por sucessivos reforços. Algum hábito mais da guerra fá-los-ia reconhecer além disso que a nossa disposição geral era excelente e que, para medir-se conosco, era preciso combinar a arma de artilharia, visto que dispunham dela, com a de cavalaria. Sob esta dupla ação ter-nos-ia sido impossível, primeiro defender a nossa bagagem e as munições que aí trazíamos, depois manter os nossos quadrados que ofereceriam dilatado alvo as balas de canhão e então as nossas fileiras clareadas e enfraquecidas pelo desenvolvimento, não teriam podido resistir a sua cavalaria poderosa como é com as pesadas espadas de que anda armada.
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Notas de Referências
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Notas de Referências
[12] NE – Este combate de 11 de maio de 1867, é conhecido pela denominação de Nhandipá. A esta refrega deram os paraguaios o nome do combate de Nhandipá. Ocorreu onde atualmente está localizada a cidade de Bela Vista, em território brasileiro. No local há um Monumento Internacional, Memória aos mortos e feridos dos dois países, Brasil e Paraguai.
Foi a maior batalha campal ocorrida em solo sul-mato-grossense na Guerra da Tríplice Aliança. O atual Monumento foi construído por iniciativa do major Leônidas Hermes da Fonseca, comandante do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado (atual Regimento Antônio João) e inaugurado.
Segundo a nota da Edição em Frances de 1891, Houve mais de 230 mortos. Travara-se a luta entre duas colunas cujo total, quando muito, atingia 3.000 homens. A esta refrega deram os paraguaios o nome do combate de Nhandipá.
Outras notas traduzem este número para cento e oitenta e quatro homens. Este número fora gravado em uma cruz de madeira pelo Comandande Major Martin Urbieta.
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6- Indagação sobre os novos expedientes a ser adotado pelas Forças em Marcha de Retirada após o combate
Em suma a vantagem fora nossa e ainda com este excelente resultado, que o coronel crescera na opinião dos soldados em razão da calma de que dera prova. Mas não fora só isso: tínhamos perdido o nosso gado. Que ia ser de nós daí em diante sem víveres? O comandante mandou chamar vários oficiais, uns após outros, depois conversou largamente com o velho Lopes que, ao mesmo tempo que era intrépido e pode-se dizer terrível na ação apenas travada, mostrava-se mais do que ninguém nas deliberações homem de bom conselho e expedientes inesperados.
Nenhum meio de salvação se apresentava a não ser por esse lado!
Imagem José Vicente Dalmolin. Monumento Nhandipá
3º Encontro Internacional de História Militar da Tríplice Aliança, outubro 2011.
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PARTE II
Transcrição de Relatórios dos Comandantes dos Corpos sobre a atuação nos combates de 11 de maio de 1867
Documento Nº 26
Parte do Tenente Coronel em Comissão, Antonio Enéas Gustavo Galvão, Comandante do Batalhão Nº 17º de Voluntários da Pátria.
Número vinte e nove.
Quartel do Comando do Batalhão número dezessete do Voluntários da Pátria, acampamento na Cabeceira do Córrego do José Carlos, doze de Maio de mil oitocentos sessenta e sete.
Ilmo. e Exmo. Sr.
Tendo hoje recebido ordem de V. Exc.ª para com o Batalhão 17º de Voluntários da Pátria de meu comando e uma boca de fogo proteger a Retirada destas Forças na ocasião em que transpunha o Apa em direção a Nioac, cumpre-me participar que a meia légua mais ou menos encontrei uma linha de atiradores de Infantaria inimiga com cinquenta praças, a qual em distância conveniente principiou a tirotear cedendo sempre o terreno;
Repentinamente, porém, foi a nossa linha de atiradores, composta de dois Alferes e oitenta praças carregada por uma Força superior de Cavalaria, que se achava oculta pela depressão do terreno, não dando tempo para retirar-se, nem tão pouco formar círculo, resultando disto um combate de arma branca entre a nossa Cavalaria.
Ao mesmo tempo que isso se dava, trezentas e tantas praças de Cavalaria formadas em dois esquadrões, também ocultos pela referida depressão, carregaram ao Batalhão; felizmente, marchando eu nessa ocasião em coluna de grandes Divisões, fácil me foi formar quadrado e repelir o inimigo, que nas duas descargas que deu perdeu para cima de setenta e tantas praças, que foram contadas, nas proximidades do quadrado, havendo o Batalhão perdido um Primeiro sargento, dois cabos de esquadra e quinze soldados, ficando feridos dois tenentes, um cabo de esquadra e vinte soldados, como consta na relação junta, tendo a maior parte dessas mortes e ferimentos se dado na linha de atiradores.
É de justiça que não omita os nomes dos bravos Tenentes Joaquim Mathias de Assumpção Pelestino e Raymundo Fernandes Monteiro Junior, que de espada em punho heroicamente se defenderam até conseguirem entrar no quadrado, tendo o primeiro, que era comandante da linha, sido ferido mortalmente com duas lançadas no lado posterior do pulmão esquerdo, e o segundo com sete, porém, levemente, e bem assim dos Alferes Justiniano Cesario Augusto Moreira e Fortunato de Faria Gurgel, tornando-se dessa vez ainda mais conhecido pelo seu reconhecido sangue frio.
E com a maior satisfação que também comunico a V. Exc.ª o bom comportamento que o Batalhão teve nesse combate, portando-se com sangue frio e bravura o Major Fiscal José Maria Borges, que perdeu um animal que montava, Alferes Ajudante Joaquim Candido de Vasconcellos, Alferes Secretário João José de Souza, Capitão João Caetano Teixeira Muzzi, Francisco de Paula Galvão, Enoch Baptista de Figueiredo, Tenentes João Baptista de Souza Vianna, Raphael Tobias de Souza Vasconcellos, Luiz Alves Pinto, Alferes Paulo Pinto Auto Rangel, Rufino Simões de Miranda, Jose Martins de Figueiredo, Joaquim Affonso dos Santos Lage, Affonso Augusto da Silva Pêgo e Joaquim José de Senna.
É de meu dever igualmente não omitir o bizarro comportamento do Primeiro Tenente de Artilharia João Baptista Marques da Cruz, comandante da boca de fogo, pelas acertadas pontarias que fez ao inimigo.
Deus Guarde a V. Exc.ª.
Ilmo. e Exmo. Sr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Comandante em chefe destas Forças em Operações.
Antonio Enéas Gustavo Galvão,
Tenente Coronel em Comissão Comandante.
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
Quartel do Comando do Batalhão número dezessete de Voluntários da Pátria, treze de Maio de mil oitocentos e sessenta e sete.
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor.
Tendo por esquecimento omitido os nomes do Tenente Camillo Candido de Salles, Alferes Oriel Augusto Ferreira Lomba, ambos do Batalhão de meu Comando, e do Alferes de Cavalaria Ligeira Antonio Bento Monteiro Tourinho que se achava no Batalhão na ocasião em que este foi atacado pela Cavalaria e Infantaria Paraguaia, no dia onze do corrente mês, e não desejando prejudicar a esses oficiais que aliás se portaram com sangue frio e denodo, rogo a Vossa Excelência para que se digne mandar adicionar este oficio à minha parte do dia doze do corrente mês.
Deus guarde a Vossa Excelência.
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Comandante em Chefe destas Forças em Operações.
Assignado - Antonio Enéas Gustavo Galvão,
Tenente Coronel em Comissão Comandante.
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
Imagem José Vicente Dalmolin 2013
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Documento Nº 27
Parte do Capitão Pedro José Rufino, Comandante Interino do 1º Corpo de Caçadores a Cavalo
Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor.
Tenho a honra de participar a Vossa Excelência as ocorrências que tiveram lugar por ocasião do ataque do dia onze do corrente, no começo de nossa marcha, logo aquém do Rio Apa. Pelas nove a dez horas da manhã a cavalaria e infantaria inimigas carregaram repentinamente sobre a linha de atiradores do Batalhão de Voluntários da Pátria número dezessete, e envolvendo-se com a mesma, vieram contra o mesmo Batalhão, que servia. De vanguarda das nossas Forças nessa ocasião; e recebendo do mencionado Batalhão grandes descargas, dividia o inimigo sua força em dois grupos e carregou sobre os outros Corpos que os receberam com toda a galhardia pondo a força Paraguaia em debandada.
Por essa ocasião todos os oficiais e praças de meu interino comando, portaram-se com a costumada bravura mostrando muita intrepidez e coragem o Alferes de comissão Daniel Benicio de Toledo. O segundo tenente de Artilharia Cesario de Almeida Nobre de Gusmão, comandante de uma boca de fogo que guarnecia o corpo pelo flanco esquerdo, fez diversos tiros certeiros, dispersando e estragando o inimigo que colocou-se, depois do combate, em diversos grupos fora do alcance de fuzil; portou-se sempre com muita bravura e sangue frio o mencionado segundo Tenente. Sendo este combate mais um brilhante feito de nossas armas, cabe-me o dever de felicitar a V. Exc.ª, mais uma vez.
Deus Guarde a V. Exc.ª.
Acampamento em marcha do 1º Corpo de Caçadores a Cavalo, aquém do Rio Apa, 12 de Maio de 1867.
Ilmo. e Exmo. Sr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Digmo. Comte. das Forças.
Assignado - Pedro José Rufino,
Capitão comte. intr.º
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
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Documento nº 28
Parte dada pelo comandante do Batalhão nº 21 de Infantaria, Major José Thomaz Gonçalves
Acampamento do Batalhão nº 21º de Infantaria, nas Forças em Operações ao Sul da Província de Matto-Grosso, em marcha, 12 de maio de 1867.
Ilmo. e Exmo. Sr.
Tendo sido encarregado por V. Exc.ª na marcha do dia 11 do corrente, a saída de Bella Vista, de fazer com o Batalhão de meu comando a retaguarda das Forças, afim de cobri-la e protege-la, cumpre-me dever de levar ao conhecimento de V. Exc.ª. as ocorrências dadas naquela marcha com o mesmo Batalhão, assim como com a seção de Artilharia, comandada pelo 1º Tenente Napoleão Augusto Muniz Freire, que marchou unida e protegida pelo Batalhão.
Logo que se terminou a passagem da Força e da sua bagagem e que pôs-se ela em marcha, ocupei o lugar que me competia, colocando na minha frente a seção de Artilharia e estendendo na retaguarda uma linha de atiradores. Efetuou-se a marcha, sem novidade até o momento em que foram os nossos atiradores de frente atacados pela infantaria inimiga que se achava emboscada. Logo que ouvi o tiroteio na frente e que vi aparecer a força de cavalaria inimiga que carregou sobre os nossos atiradores e sobre o Batalhão da vanguarda, formei quadrado com o Batalhão e esperei os movimentos do inimigo, persuadido de que era intenção sua carregar sobre a nossa Força, procurando penetrar na bagagem, como pareciam indicar os seus movimentos para a frente aproximando-se de nós.
Essa cavalaria, porém, logo que reconheceu a infinidade de tiros com que era recebida e a galhardia com que era esperada pelas nossas baionetas, tendo sofrido já grandes perdas, assim como na sua infantaria, resolveu dar volta, fazendo a sua retirada pelo nosso flanco direito, o que efetuou logo destacando apenas de sua força um grupo de trinta a quarenta cavaleiros, desfilaram pelo nosso flanco esquerdo com o intuito de irem dispersar a nossa boiada de corte, a qual vinha marchando no flanco direito da Força, porém, com o estrondo dos tiros, tinha-se espantado e se achava um pouco na retaguarda.
O inimigo pagou, porém, bem cara a seu arrojo e, se obteve o resultado de nos dispersar e carregar o gado, foi à custa do sacrifício da vida de maior parte daqueles que vieram para tal fim.
O inimigo que não esperava talvez pela, disposição de formatura em que encontrou a nossa Força foi horrivelmente dizimado ao desfilar pelo nosso flanco esquerdo, recebendo, além dos fogos do Batalhão que guardava esse flanco, os das duas faces da esquerda e da retaguarda do quadrado do meu Batalhão, junto ao qual deixou estendidos para cima de doze homens, e baleados uns poucos cavalos. O bravo 1º Tenente Napoleão, comandante da seção de Artilharia, logo que começou o tiroteio na frente, preparou a sua peça e assestando-a para o lado direito, pelo qual tinha desfilado o grosso da força inimiga, começou a fazer fogo com a maior atividade, continuando o seu fogo para a retaguarda, desde que aquela Força ganhou essa posição, devendo ter sido os seus tiros muito nocivos a cavalaria inimiga.
Tenho o prazer de participar a V. Exc.ª que neste encontro das nossas Forças com as do inimigo, não teve o Batalhão de meu comando uma só praça morta, nem ferida. Na continuação da marcha desse dia o inimigo não cessou de incomodar-nos pela retaguarda, sendo, porém, conservado em distância pelos tiros certeiros da linha de atiradores do Batalhão, que tanto me ufano em comandar. Tendo o Batalhão recebido ordem para fazer alto, quando começou o fogo da Artilharia inimiga, afim de ser este respondido pela seção que marchava com ele, cumpri logo essa ordem e o Primeiro Tenente Comandante da seção de Artilharia assestou logo a sua peça para a Bateria inimiga, dando alguns tiros e cessando o fogo, quando tive ordem de V. Exc.ª. para avançar, afim de reunir-me ao resto da Força.
Tais foram resumidamente os episódios dados na marcha do dia 11 do corrente, data memorável para estas Forças. Orgulho-me em declarar a V. Exc.ª que o comportamento dos oficiais e praças deste Batalhão foi o mais honroso possível, distinguindo-se todos pela bravura e sangue frio que conservaram durante os momentos do perigo, mostrando assim fazer parte desse punhado de bravos, que se denomina “Expedição de Matto-Grosso”, Força que tem adquirido o Título de heroica, ao qual lhe dão o mais incontestável, direito a coragem, constância e resignação, com que tem sabido suportar os mais árduos trabalhos e os mais penosos sacrifícios. Não posso, porém, prescindir de recomendar especialmente a V. Exc.ª os nomes do capitão Delfino Rodrigues de Almeida e do Primeiro Tenente Napoleão Augusto Muniz Freire. O primeiro desses distintos oficiais fez-se notar no combate pela calma e intrepidez com que comandou a sua grande Divisão, portando-se com a bravura de que tem dado irrecusáveis provas e que lhe é geralmente reconhecida.
Do segundo, o Primeiro Tenente Napoleão, já tive ocasião de falar nele nas minhas partes dos combates anteriores calma e certeza nas pontarias, energia e sangue frio no trabalho, são qualidades que distinguem este brioso oficial de Artilharia.
Termino esta congratulando-me com V. Exc.ª. pelo brilhante sucesso do dia 11 do corrente, e pela gloria e brilho de que ali se cobriram as armas brasileiras, representadas pela pequena força que V. Exc.ª. tem a felicidade de comandar.
Deus Guarde a V. Exc.ª.
Ilmo. e Exmo. Sr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
D. Comandante das Forças.
José Thomaz Gonçalves,
Major de Comissão Comandante interino.
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
José Vicente Dalmolin. Evento Cívico-Cultural da Retirada da Laguna. Monumento de Nhandipá – Bela Vista – MS.
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Documento Nº 29
Parte do Major de Comissão, José Thomaz de Cantuaria, Comandante do Corpo Provisório de Artilharia
Acampamento do Corpo Provisório de Artilharia, em 14 ele Maio de 1867.
Ilmo. e Exmo. Sr.
Cumpre-me participar a V. Exc.ª. as ocorrências havidas no Corpo de meu comando, no dia 11 do corrente, no ataque defronte da Bella-Vista. Transposto o rio Apa, dispôs V. Exc.ª. a marcha, fazendo ocupar a vanguarda o Batalhão nº 17º de Voluntários da Pátria, o flanco direito o Batalhão nº 20º o flanco esquerdo o Corpo de Caçadores a Cavalo, e finalmente, cobriu a retaguarda o Batalhão de Infantaria nº 21º.
Formava assim a Força um grande quadrado, em cujos ângulos fiz colocar as bocas de fogo, ficando eu no ângulo formado pelos Batalhões 20º e 21º. Em lugar o mais próprio para uma emboscada, o inimigo havia colocado uma forte linha ele atiradores apoiados por cavalaria.
Seguia a Força na melhor ordem possível, mas longe de esperar o encontro do inimigo, quando este lança os seus atiradores sobre os nossos ao mesmo tempo que a cavalaria, corre sobre a frente e flanco esquerdos das nossas Forças, procurando nos envolver e estabelecer a confusão nas nossas fileiras. O inimigo é recebido pelos nossos quadrados com vivíssimo fogo, e procurando desfilar pela retaguarda, recebe do Batalhão 21º a Comando do bravo Major de Comissão José Thomaz Gonçalves, sempre se conservou fora do quadrado, ativíssimo fogo que fez cair muitos inimigos.
Ao mesmo tempo parte dos ângulos dos nossos quadrados, granadas que o inimigo tanto respeita, e os fazem fugir em debandada deixando no campo muitos mortos e feridos. Os oficiais e praças deste Corpo, ainda uma vez se portaram com bravura, e apresento a V. Exc.ª, por se terem tornado dignos de especial menção, os Primeiros Tenentes João Baptista Marques da Cruz, Napoleão Augusto Muniz Freire, 2º Tenente Ajudante Cesario de Almeida Nobre de Gusmão, Alferes de comissão Amaro Francisco de Moura e 2º Tenente de comissão Salvador Francisco Gomes da Paixão.
Deus Guarde a V. Exc.
Ilmo. e Exmo. Sr. Coronel Carlos de Moraes Camisão,
Digníssimo Comandante das Forças.
João Thomaz de Cantuaria, Major de Comissão.
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
Secretário Militar.
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Gostaria de saber o que significa baiendê 08/05/1867 e nhandipa 11/05/1867 estou confuso com essa data
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