CAPÍTULO XXII
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES NO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
Os Retirantes: A Marcha de Nioac à Porto do Canuto, no rio Aquidauana.
O adeus aos Paraguaios. Rios Urumbeva, Formiga, Areais, Taquaruçu, Dois Irmãos, Aquidauana.
Os Retirantes da Laguna, após a segunda ocupação pelo Paraguai da povoação de Nioac, a Retirada da Guarnição, o incêndio na Igreja, no dia 5 de junho de 1867, a deixam sobre os escombros das ruínas.. Imagem José Vicente Dalmolin. 12ª Jornada Cultural da Retirada da Laguna, 2016
1- Enfim, deixando a formosa povoação de Nioac, agora em ruínas
Entretanto, no dia 5 de junho de 1867, antes que a noite[1] se houvesse completamente dissipada, partíamo-nos da mísera e formosa Nioac, aniquilada enfim com a sua igreja. Seguíamos a estrada do Aquidauana e marchávamos contristados sob a impressão do funesto acontecimento da véspera.
Juncávamos a angústia ainda presente a todas as vicissitudes passadas. Era muito entretanto, era verdadeiro triunfo estarmos ainda de pé e termos batido inimigo tão encarniçado em dar-nos ruína.
O adeus à Nioac pelas Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, de 24 de janeiro a 5 de Junho de 1867.
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Notas de Referências:
[1] NE - Ao amanhecer do dia.
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2- No Urumbeva, ainda ação destruidora da Cavalaria Paraguaia
O Urumbeva foi facilmente transposto. Encontramos na margem direita destroços de carretas que os paraguaios acabavam de queimar, muitos víveres e objetos de fornecimento espalhados e misturados com terra, tais como já no-los tinham mostrado as margens do Canindé, cadernos despedaçados, folhas soltas ao vento, notas, algumas das quais o autor desta narrativa reconheceu serem de seu punho e que tornava a encontrar truncadas e já inúteis.
3- As pipas de aguardente
Há alguma distância desse rio nova cilada, mas cujo efeito longe esteve de ser trágico, aguardava-nos pelo que se pôde presumir. Duas pipas, daquelas em que se guarda aguardente de cana, ocupavam o meio da estrada. O capitão José Rufino, lembrando-se da explosão da igreja e supondo que contivessem algum líquido envenenado, mandou que lhe abrissem passagem e, atirando-se para as pipas, arrombou-as com os copos da espada. À vista do líquido que se derramava abundante, alguns soldados, não podendo conter-se, ajoelhavam-se ou debruçavam-se no chão para disputar-lhe o seu quinhão, espetáculo acolhido com gargalhadas que propagaram-se por toda a linha[2].
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Notas de Referências:
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Notas de Referências:
[2] NE – Significando a toda a tropa; os corpos de exército; a coluna militar.
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4- No córrego Formiga, pouso e encontrando gado, 5 de junho
Isso não teve outra consequência e seguimos tranquilamente o nosso caminho até ao ribeiro da Formiga[3], junto do qual acampamos, tendo ainda a felicidade, no meio da nossa recente abundância, de encontrarmos um bom número de bois em excelente estado.
A 6 de junho, tomamos a direção Nordeste[4] seguindo uma estrada a que numerosas moitas de taquaruçus[5] dão o nome e que se abre no meio de densa mata muito favorável a surpresas, mas onde nada inquietou-nos em nossa marcha. A perseguição dos paraguaios, se não cessará totalmente, tornara-se cada vez mais frouxa e inofensiva a proporção que penetrávamos em sítios que eles conheciam menos e que nos eram mais familiares.
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Notas de Referências:
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Notas de Referências:
[3] Córrego Formiga, afluente, pela margem direita, do rio Nioaque, no município de Nioaque..
[4] NE – Ao tomar a direção Nordeste, ver mapa ilustrativo, deixava o caminho para a estrada para a vila de Miranda a Noroeste e busca o ponto na Margem do Rio Aquidauana, Porto Canuto, via Rio Taquaruçu.
[5] NE – Conhecido também como taboca-gigante; taquara-brava. Nativa do Brasil.
_______________[5] NE – Conhecido também como taboca-gigante; taquara-brava. Nativa do Brasil.
5- Pousando no Córrego das Areias
Fizemos alto nesse dia perto de um ribeirão encantador, denominado das Areias[6].
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Notas de Referências:
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Notas de Referências:
[6] Córrego das Areias, afluente, pela margem direita, do rio Nioaque, no município de Nioaque.
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6- Pousando no rio Taquaruçu e enfim adeus a Cavalaria Paraguaia, retira-se de volta para a Fronteira
No dia seguinte, 7 de junho, tínhamos quase transposto as quatro léguas que há desse lugar ao rio Taquaruçu[7]. Alcançamo-lo no dia 8, e como a altura de suas águas não permitisse que o atravessássemos, acampamos na margem dele.
Noite para nós memorável, pois foi ali que os paraguaios que tornávamos a avistar à alguma distância, resolveram-se enfim a desaparecer. Por eles próprios fomos informados de que retiravam-se, com um toque prolongado dos seus clarins, é que nos davam o sinal. Nos parecesse mais triunfal para nós que para eles, as nossas cornetas associaram-se lhe com tamanho clangor[8], que por largo tempo ecoou nas solidões.
Soubemos mais tarde que se tinham dirigido para Nioac e que, tendo depois reunido todos os seus destacamentos, tinham voltado pelo Apa ao território da sua República.
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Notas de Referências:
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Notas de Referências:
[7] Rio Taquaruçu, afluente, pela margem esquerda, do rio Aquidauana, no município de Anastácio; em seu médio curso é limite entre os municípios de Anastácio e Nioaque.
[8] NE – Som forte, estridente, estrépito, como o de alguns instrumentos metálicos de sopro, trombeta, trompa, corneta.
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7- A comunicação com o Coronel Lima e Silva e novo abastecimento de gado
Quanto a nós, ainda mais abastecidos com uma ponta de gado, mandada das margens do Aquidauana depois de uma comunicação do nosso chefe ao coronel Lima e Silva, atravessamos o Taquaruçu no dia 9 e a 10 de junho, passamos, duas léguas além, um riacho denominado Dois Córregos[9].
Visão Panorâmica da marcha entre Nioac e Porto Canuto realizada pelos Retirantes da Laguna entre 5 e 11 de junho de 1867, em territórios atuais dos Municípios de Nioaque, Dois Irmãos do Buriti, Anastácio. José Vicente Dalmolin, adaptado do Google Earth Pro, 2017.
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Notas de Referências:
[9] Atualmente é conhecido como rio Dois Irmãos. Afluente, pela margem esquerda, do rio Aquidauana; limite entre os municípios de Anastácio e de Dois Irmãos do Buriti. Sua foz localiza-se em torno de 5 km na porção nordeste da serra do Camisão. Este rio é formado pelos rios Dois Irmãos (Braço Direito) e Dois Irmãos (Braço Esquerdo), assim conhecidos historicamente. História. O então tenente Taunay e pequena comitiva passaram pelo Dois Irmãos em junho de 1867.
Dois Irmãos (Braço Direito). Rio, formador, com o rio Dois Irmãos (Braço Esquerdo), do rio Dois Irmãos, no município de Dois Irmãos do Buriti. Bacia do rio Paraguai. Dois Irmãos (Braço Esquerdo). Rio formador, com o rio Dois Irmãos (Braço Direito), do rio Dois Irmãos1, no município de Dois Irmãos do Buriti. Fonte: Enciclopédia das Águas de Mato Grosso do Sul. IHGMS, 2014
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8- Enfim, a Retirada[10] chega ao fim, trinta e cinco dias, de Laguna 8 de maio à Canuto 11 de junho 1867
Chegamos no dia 11 ao Porto do Canuto, na margem esquerda do rio Aquidauana.
Foi o último pouso da nossa dolorosa volta. Ali terminou o cruel itinerário que, em expiação das nossas temeridades, nos fizera passar por tantas desventuras quantas é possível o homem suportar sem sucumbir. Nesta paragem, despimos enfim os míseros andrajos que nos cobriam, libertando-nos ao mesmo tempo desses insetos[11] dos campos que penetram na pele e nela produzem úlceras tenazes.
O rio oferecia-nos magníficos banhos para as nossas abluções!
Todos esses lugares podem denominar-se a região das águas formosas!
Panorâmica do local onde havia o Porto Canuto ou Porto do Canuto. Margem esquerda do rio Aquidauana. Atualmente no Município de Anastácio – MS. nas proximidades da Rodovia Anastácio – Campo Grande. José Vicente Dalmolin, adaptado do Google Earth Pro 2017.
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Notas de Referências:
Notas de Referências:
[10] NE – Totalizando 23 dias em maio e 12 de junho. A ordem do Dia publicada pelo Comandante é de 12 de junho. O próximo Capítulo tratará desta estada em Canuto.
[11] NE – Estes insetos que registra o autor é conhecido como carrapatos.
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