“E
eu também, disse, vou morrer”!
__
“Não podia ser senão assim”!
__
“Mas salvei a expedição”!
a)
Dados Biográficos
Nome: Carlos de Moraes Camisão
Filiação: Joaquim de Moraes Camisão
Nascimento: Província do Rio de Janeiro
em 8 de maio de 1821.
Falecimento: 29 de maio de 1867,
acampamento da margem esquerda do rio Miranda, atualmente município de
Jardim-MS. (na época, terras da Fazenda Jardim - Nioac - Província de Mato
Grosso)
Data de Praça: 02 de dezembro 1839
Vida Escolar: Real Academia Militar;
conforme o Regulamento de 1839
Vida Profissional: Imperial Corpo de
Engenheiros (ICE) 02/12/1839 a 05/04/1842; Batalhão Provisório de Linha da
Província de São Paulo 09/05/1843 a 22/05/1843; ICE 23/05/1843 a 18/10/1843; 4º
Batalhão de Artilharia 15/05/1844 a 25/10/1849; Comandante da Companhia de
Artífices da Província de Pernambuco 26/10/1849 a 02/12/1854; Fortaleza do
Brum, abril e maio de 1851; Corpo Artífices da Corte 02/12/1854 a 1858; Corpo
do Amazonas 10/1858 a 02/1860; Comandante do 2º Batalhão de Artilharia a partir
1860
Condecorações: Cavaleiro da Ordem de
Christo
Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa
Cavaleiro da Ordem de Aviz
Cursos: Engenharia e Artilharia pelo
Regulamento de 1839
2º Tenente: 02/12/1839
1º Tenente: Graduado-04/10/1842,
Efetivo: 23/07/1844
Capitão: 27/08/1849
Major Efetivo: 02/12/1854 – Merecimento
Tenente Coronel Graduado: 02/12/1861
Tenente Coronel Efetivo: 02/12/1862
Coronel Efetivo: 22/01/1866
Outros:
Foi promovido ao posto de 1º Tenente
Graduado por ter se distinguido no ataque de Santa Luzia de Sabará durante a
Revolta Liberal de 1842.
Participou da repressão à Revolução
Praieira em Pernambuco em 1848.
Comandou o 2º Batalhão de Artilharia na
Campanha do Paraguai.
Comandou as Forças Expedicionária ao Sul
da Província do Mato Grosso, conduzindo a coluna da Vila de Miranda à Laguna no
Paraguai e deste ponto até a margem esquerda do rio Miranda.
b)
No comando das Forças em Operações ao Sul da Província de
Mato Grosso
Para não ser muito repetitivo, para que
se possa compreender um pouco de todas as ações, comportamento, personalidade
como pessoa e comandante, deve-se ler o Livro a Retirada da Laguna, ou então os Capítulos que foram publicados
neste
Link:
Link:
Para socorrer a Província de Mato Grosso
depois da afronta com que nos provocou o Governo do Marechal Solano Lopes,
cujas forças invadiram, em fins de 1864, o território de Mato Grosso, o Governo
Imperial Brasileiro organizou, com contingentes do Rio, São Paulo, Minas e
Goiás, e Mato Grosso, uma Força ou Expedição ou Coluna ou Corpo de Exército,
pois há várias denominações para este contingente
que não fora composto só por militares. No Decorrer da viagem foram sedo
agregados civis, mulheres, crianças, mercadores, índios.
Camisão assumira o comando da Coluna em
1° de janeiro de 1867. Era, portanto, o seu quarto comandante, desde a partida
do Rio de Janeiro. O Coronel Drago, julgado muito moroso nas providências que
lhe foram determinadas, foi chamado à Corte.
O Brigadeiro José Antônio da Fonseca
Galvão, gravemente enfermo, teve de abandonar a missão depois de ter falecido.
O Coronel Joaquim José de Carvalho, que
sucedera ao Brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão em meados de 1866,
fizera, com suas forças, uma longa parada de 4 meses em Miranda, na região
julgada a mais insalubre do Baixo Paraguai, o que acarretou cerca de 300
baixas, entre oficiais e praças do reduzido efetivo que fora reunido.
Em 31 de Dezembro 1866, Camisão, chegou
em Miranda.
Em 1º de janeiro de 1867, vindo de
Cuiabá, assumiu o comando dos bravos soldados da Coluna Expedicionária na então
Vila de Miranda, depois de abandonada e incendiada pelo Exército do Paraguai.
A 11 Marchou para a Vila de Nioaque,
então, somente ruínas, chegando a 24 de janeiro, às 11 horas, onde acampou em
ordem de Batalha.
No
dia 25 de Fevereiro de 1867, marchou, acampou a uma légua de distância da Vila,
às margens do Rio Nioaque e a 26, acampou no Canindé.
Já ém terras do atual município de Bela
Vista-MS. A 15 de Abril, levantou acampamento, fazendo o Corpo e retaguarda,
indo atravessar o rio Miranda e acampar perto do Retiro no dia seguinte.
A 19 de Abril atravessou o córrego Taquaruçu tiroteando com os paraguaios e foi acampar no córrego Sombrero, justamente no triângulo que este forma com o Apa.
c)
O coronel bebe água do rio Apa:
Taunay,
“O coronel ao chegar, pediu que lhe dessem água, dessa mesma água do Apa e ou
porque vagas reminiscências históricas relativas a caudais famosos acordassem
na sua memória ou porque depois de tamanhas agitações de seu cérebro, tivesse
ligeira excitação febril.
__ “Vejamos, disse
sorrindo, a que horas bebemos a água deste rio”? Olhou para o relógio, bebeu e
acrescentou em tom jovial:
__ “Desejo que este
incidente seja consignado na história da expedição[1],
se a escreverem algum dia”.
A 20
de abril passou o ribeirão José Carlos,
atual córrego Machorra e tomou a
Estância da Machorra, após curto tiroteio, aí acampou.
Reiniciando a marcha a 21, atravessou o
rio Apa e tomou o Forte de Bela Vista e
aí acampou já em território do Paraguai.
Seguindo marcha, atingiu o Apa-Mi no dia 30, onde fez alto na Estância
da Laguna, indo acampar meia légua adiante. Aproximando da Invernada da Laguna.
No dia 1º de Maio, depois de uma noite
tranquila, a marcha recomeçou e continuou sem incidente até a fazenda da
Laguna, o mesmo lugar que fora indicado pelos nossos refugiados do Paraguai,
entre eles o filho, genro e sobrinho do Guia. Não restava então mais do que uma
cabana de palha que o exército paraguaio, retirando, esquecera-se de queimar.
No dia 6 ataca o acampamento paraguaio,
denominado acârâbebo, foi o primeiro confronto direto com vítimas dos dois
lados.
Depois de ter conseguido ocupar o
território da República e encurralar a Forças paraguaias, libertar as regiões
ocupadas desde Coxim, à Miranda, à Nioac, ao Apa da ocupação, um conjunto de circunstância
obrigam a recuarem, ou mais conhecido como “Retirada” para o território brasileiro.
Motivos: não encontraram gado ou outras
fontes de alimentos para sustentar mais de 1500 pessoas entre soldados à
oficiais, índios, mulheres, crianças, camaradas e até os próprios animais;
pouca munição e armamento para sustentar combate diante de uma Cavalaria,
infantaria, Artilharia Paraguai montada; O Corpo de Cavalaria, sob o comando do
Capitão Rufino, não possuíam animais para cavalgar.
d)
O Recuo
No dia 8 de maio inicia a retirada das
Forças da Laguna. Logo em seguida inicia a ofensiva paraguaia que só cessará
depois do retorno à Nioac, já no Rio Taquaruçu.
As 06:30 horas do dia 9 de Maio iniciou
a marcha tiroteando com Forças paraguaia por mais de uma hora. Neste mesmo dia acampou em uma eminência que fica a margem do rio Apa.
No dia 11 de maio, já em território
brasileiro, ocorreu a maior batalha
campal entre as duas Nações, nas imediações da atual cidade de Bela Vista-MS,
atualmente conhecida pelo nome de “Batalha de Nhandipá” com mais de 200 mortos,
a maioria do Paraguai.
Ao alvorecer do dia 12, reiniciou-se a
marcha sob incêndio atravessando o ribeirão José Carlos, onde se acamparam.
Sob intensa chuva recomeçou a marcha no
dia 18, sofrendo todos os Corpo da Coluna, cerrado tiroteio do inimigo, aliás,
sempre o repelindo. Começou a grassar o Cólera. Os dias 20 e 21 não foram por
menos: marcha sob fogo, incêndio na macega, ataque do inimigo e a “Cholera Morbus”.
No
dia 22 de Maio, acampara-se num banhado, próximo ao rio Verde, antes
identificado como Prata. E a 23, avançaram somente uma légua e meia, sendo
grande o número de coléricos. Houve um incêndio e um ataque paraguaio,
repelidos com bravura.
Taunay,
“Uma vez chegados a esse ponto, o coronel não enxergou mais obstáculo em
participar para Nioac a nossa aproximação e com a nossa, a do inimigo. A
comunicação estava livre pelo bosque do
Verde que se perde no de Miranda de modo a tornar segura a passagem.
Escolheu para essa comissão dois homens dispostos, afeitos a vida do mato,
caçadores e práticos naquelas paragens.
O
escrito de que foram portadores era dirigido ao coronel honorário que comandava
o depósito e redigido em francês para escapar pelo menos as primeiras
probabilidades de ser divulgado. Dizia
em substância que a coluna pusera-se em retirada, que chegaria provavelmente a Nioac antes do inimigo, mas que convinha
em todo o caso mandar transportar, para outra parte, e depositar o mais
depressa que fosse possível em lugar seguro as munições, os víveres, os
arquivos e alguns objetos pertencentes aos oficiais. Que cumpria principalmente
que toda a força de que pudessem dispor, fosse, sob o mando do capitão
Martinho, emboscar-se na mata do Nioac
e ali detivesse o inimigo, caso se mostrasse”.
A
marcha começou no dia 24, sempre hostilizada pelo inimigo. No dia seguinte,
acamparam no local conhecido como capão do Cambaracê.
Já em terras do atual
Município de Jardim-MS.
No
acampamento, de 25 para 26 de maio: A mais dura decisão de um comandante diante
de tantos padecimentos: fome, incêndios, temporais, enfermos coléricos.
__ “E Nioac? Exclamava.
__ “E os nossos doentes! Preferia estar no lugar de um dos
que morreram”!
Taunay
“Depois de expor em poucas palavras o estado das cousas, a urgência de uma
marcha precipitada, sem a qual estavam todos perdidos e a impossibilidade,
agora bem verificada e geralmente reconhecida, de levarmos mais longe os
doentes, declarou aos comandantes que, sob a sua responsabilidade e pela lei de
rigor que lhe impunha esse dever, os coléricos, com exceção dos convalescentes,
iam ser abandonados nesse mesmo pouso”!
Ao
raiar do dia 26, em direção a Fazenda Jardim:
e) O cólera, não lhe poupa
Taunay:
“E indo referi-lo ao comandante Camisão, foi com certo pavor que o vimos também
atacado por sua vez. Deitado de costas no chão, com o chapéu sobre o rosto,
apenas levantou-se e descobriu-se para falar-nos, reputamo-lo perdido. Os
sinais do cólera estavam nele impressos. Conservava, entretanto, uma calma que
a conjuntura tornava admirável”:
__ “E eu também, disse,
vou morrer”!
__ “Não podia ser senão
assim”!
__ “Mas salvei a
expedição”!
__ “O Senhor bem sabe”!
__ “ O Senhor di-lo-á”.
f) No dia 27 de maio, atingindo à margem do atual córrego Cachoeirinha
Taunay:
“Acampamos nesse mesmo lugar, tendo feito quatro léguas de marcha forçada,
privados como estávamos de alimentação e de sono. A necessidade coagia-nos,
penetramos no fechado do retiro.
O
coronel Camisão, o tenente-coronel Juvêncio e o nosso guia Lopes foram
acomodados em um rancho arruinado perto do qual acenderam-se grandes fogueiras
para ver se lhes restituíamos o calor.
Alguns
limões e laranjas que lhes trouxeram, acalmaram-lhes um tanto a sede.
O
doutor Gesteira quis ainda experimentar
um medicamento no coronel.
__ “Doutor, disse ele, vá ter com os soldados”!
__ “Não se canse
inutilmente comigo. Estou morto”!
g) No Acampamento
Atingindo
a margem esquerda do Miranda, limite com a sede da fazenda Jardim, do Guia
Lopes, 27,28 de maio. O Coronel Camisão,
enfraquecido, mas sempre comandante:
Taunay:
“O comandante, no próprio couro em que estava estendido quase agonizante, dava
ainda ordens, umas, é certo, incoerentes e inexequíveis, mas outras lúcidas e
práticas. Ordenou que o Corpo de Caçadores[2] Desmontados, o único que
não estava ainda inquinado de desorganização, passasse o rio o mais depressa
que pudesse e indo guarnecer a outra margem, impedisse que o pomar fosse saqueado,
até que ele próprio já pudesse apresentar-se dissera, e proceder a justa
distribuição de quanto ali se achava”.
h) As despedidas do Comandante Coronel Carlos de Moraes
Camisão, dia 29 de maio, aos 46 anos de idade *1821+1867
Taunay,
narra estas despedidas:
“No
dia 29 de maio tornou-se evidente que o coronel morreria.
O
sofrimento tinha por várias vezes dominado essa dignidade que ele tanto zelara!
Dizia:
__ “Já que dizem que a água é mortal, deem-me!
__ “Quero morrer”!
Uma
observação:
Nesta
época a medicina e consequentemente os dois médicos que acompanhavam as Forças
Brasileiras não dispunham ainda do conhecimento sobre as causas, o que
provocava realmente a contaminação pelo cholera morbus, vibrio cholerae e por
sua vez os tratamentos adequados. Entres hipóteses, sabia-se que que tinha uma
associação com alimentos e agua contaminada.
Apesar da desidratação dos
pacientes enfermos pela intensiva diarreia, era proibido beber a agua.
Quem
Ler o Livro a Retirada da Laguna, o autor registra os enfermos suplicando por
água. Os coléricos abandonados do dia 26, pediram que lhes deixassem água para
beber.
Eis, o diálogo do comandante acima!
Caiu
em um estado de torpor e de sonolência!
O
corpo cobriu-se lhe de manchas roxas!
As
sete horas e meia fez um esforço supremo. Levantou-se do couro em que estava
deitado, apoiou-se no capitão Lago e perguntou-lhe onde estava a coluna,
repetiu ainda que a salvara.
Depois,
voltando os olhos já vidrados para o seu camarada:
__ “Salvador[3],
disse com voz de comando, dá-me a minha espada e o meu revolver”.
__ “Tentou afivelar o
talim e nessa mesma ocasião, deixou-se cair no chão, murmurando:
__ “Mandem seguir as
Forças, eu vou descansar”.
__ Il rendait l'âme! E entregou a Alma!
O
coronel foi enterrado em uma cova que se tinha aberto debaixo de uma alentada
árvore no meio do mato, com o seu uniforme e as suas insígnias e em outra cova
logo à direita foi o corpo do Tenente-Coronel Juvêncio colocado pelos seus
colegas da comissão de engenheiros e por alguns oficiais do Corpo de
Artilharia.
i)
Túmulo do Coronel Camisão e de Juvêncio
De 29 de maio de 1867 a
novembro de 1940, os corpos dos dois comandantes ficaram sepultados em um
túmulo, no local hoje designado Monumento
Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna.
Segundo citação de
Taunay[4]:
“Como official de
gabinete do ministro da Guerra, Conselheiro João José de Oliveira Junqueira,
consegui a ordem de se erigir, um monumento, modesto embora a memoria daqueles
dous officiaes Carlos Moraes Camisão e
Juvêncio Cabral de Meneses, no lugar em
que haviam sido sepultados.
A Commissão de limite
entre Brasil e Paraguay deu cumprimento as ordens expedidas, conforme se vê no
seguinte documento que aqui deixo transcripto na integra:
N. 440 – Commissão de limites entre Brasil e Paraguay,
Assumpção 31 de outubro de 1874 –
Ilmo. e Exmo. Snr. –
O monumento a memoria dos benemeritos commandantes e
imediato das forças brasileiras que operaram no Sul de Matto-Grosso, acha-se
levantado a margem esquerda do Rio Miranda, junto ao passo do Jardim, no alto
de uma collina e a 16 legoas do passo de Bella Vista, no Apa.
É de Marmore e a sua
base de pedra e cal.
A lapide, que está
assentada em plano inclinado, sobre quatro peças também de marmore, olha para a
estrada da retirada das forças que passa a 50 metros a distancia.
Contem a seguinte inscrição:
A MEMORIA DOS BENEMERITOS CORONEL
CARLOS DE MORAES CAMISÃO
E TENENTE-CORONEL
JUVENCIO MANUEL CABRAL DE MENEZES,
COMMANDANTE E IMMEDIATO DAS FORÇAS EM OPERAÇÕES
AO SUL DESTA PROVINCIA,
FALLECIDOS NO DIA 29 DE MAIO DE 1867,
NA MEMORAVEL RETIRADA DAS MESMAS FORÇAS.
As sepulturas estavam
intactas e não tinham sido abertas como me informaram e foram reconhecidas pelo
sobrinho do fallecido pratico José Francisco Lopes, Gabriel Lopes, que morava
actualmente na fazenda do Jardim e acompanhou as forças.
O monumento está
dividido interiormente em dous compartimentos, contendo um os restos do
commandante e o outro do immediato.
Assignala este compartimento um
afresco dentro do qual se acha um
castello de metal dourado, que mandei collocar ao lado dos ossos, como
distinctivo da corporação a que pertenceu o ilustre finado.
No outro compartimento
mandei collocar uma granada de calibre 4. La Hitte, que ahi encontrei como
distinctivo da arma do distinto commandante das forças.
Ao lado do monumento,
mandei fazer uma sepultura de pedra e cal e nella foram depositados os restos
do destemido pratico das forças, José Francisco Lopes, conforme os desejos da
sua viuva.
Entre os dois jazidos
fiz construir outro e nelle encerrar ao ossos que se achavam espalhados de
outros bravo alli falecidos.
Mandei cercar as
sepulturas com mourões e levantar no vertice da construcção uma grande cruz de
madeira de lei.
Este pequeno cemiterio
assignala, pois esse remoto lugar, onde succumbiram tantos valentes defensores
da Patria.
Deus Guarde a V. Excia.
Ilmo. E Exmo. Snr. Conselheiro João José de Oliveira
Junqueira.
Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Guerra.
O Coronel Rufino
Enéas Gustavo Galvão”,
j)
Reconhecimento
Uma
ordem do dia[5]
do nosso intrépido chefe José Thomaz Gonçalves, que sucedeu no comando, após o
falecimento do Coronel Camisão e sub-chefe Tenente-coronel Juvêncio, foi
publicada a 12 de junho 1867, a margem esqueda do Rio Aquidauana, em Porto
Canuto, atual município de Anastácio-MS. declarando oficialmente o encerramento
da marcha dos Retirantes da Laguna, resumindo em poucas palavras os
acontecimentos dessa cruel campanha de trinta e cinco dias:
__ “Soldados,
a vossa Retirada efetuou-se em boa ordem no meio das circunstâncias mais
difíceis.
Sem cavalaria contra o
inimigo audaz que a possuía formidável, em planícies em que o incêndio da
macega continuamente aceso ameaçava devorar-vos e vos disputava o ar
respirável, extenuados pela fome, dizimados pelo cólera que vos roubava em dois
dias o vosso comandante, o seu substituto e ambos os vossos guias, todos estes
males, todos estes desastres, vós os suportastes, no meio de uma inversão de
estação sem exemplo, debaixo de chuvas torrenciais, no meio de tormentas e
através de imensas inundações, em tal desorganização da natureza que ela
própria parecia declarar-se contra vós.
Soldados,
honra a vossa constância que conservou ao Império os nossos Canhões e as nossas
Bandeiras”!
k)
9º Batalhão de Engenharia de Combate de Aquidauana
O nome do Coronel Carlos de Morais
Camisão, depois lutas com todos os tipos de adversidades no episódio da
Retirada da Laguna, ressurge pois, como um preito de justiça, no
Pavilhão-Estandarte do 9° BE da Expedição da Itália, como elo da tradição da
bravura do soldado brasileiro, ligando dois capítulos gloriosos da nossa
História Militar.
O 9º Batalhão de Engenharia de Combate,
localizado na cidade de Aquidauana, tem como Patrono, Carlos de Moraes Camisão.
Imagem José Vicente Dalmolin, 2005
l)
Translados dos Restos Mortais, 1940
Sem entrarmos em detalhes, pois este é
outro tema, em 1940 teve o início dos translados dos restos mortais do Coronel
Carlos Moraes Camisão, bem como de Juvêncio e Guia Lopes do Monumento Histórico
do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, Município de Jardim, Mato Grosso
do Sul, para o “Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados”, no Rio de Janeiro,
que teve seu início de construção ainda no ano de 1921.
Neste Monumento, repousam os arcabouços
do corpo físico destes três (entre outros) homens: José Francisco Lopes,
Juvêncio Manoel Cabral de Menezes; Carlos de Moraes Camisão.
“O Coronel Camisão é a figura curiosa de soldado que, na campanha de Mato Grosso, resgatou a preço de dedicação e nobreza, o erro que lhe atribuíram.
Ele está em atitude meditativa ao mesmo tempo que prova possuir uma grande
força d'alma. Com uma das mãos empunha a espada, com a outra, o mapa. Na atitude e no gesto, denota uma grande força de espirito, própria de grande chefe, que sem sossobrar diante da terrível difamação que lhe assacaram, maquina investir ao território inimigo quaisquer que fossem as consequências”.
(A Epopeia de Mato Grosso no Bronze da
História. Capitão Cordolino de Azevedo, 1926)
Praça General Tibúrcio - Praia Vermelha - Rio de Janeiro
Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados.
j)
No Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna
Embora nos tempos atuais, os despojos dos
três homens, Camisão, Juvêncio e Lopes não se encontram mais neste local, entretanto,
depois de ter sido quase esquecido, a partir de 1999, através da 1ª Marcha Cívica
Cultual da Retirada da Laguna dos Tempos Modernos, quando Unidades militares do Exército
Brasileiro, ligadas a 9ª Região Militar, a 4ª
Brigada de Cavalaria Mecanizada, 4ª Companhia de Engenharia de Combate
Mecanizada, entidades do poder público e privada do Município de Jardim, entre
outras e dezenas de cidadãos civis e militares, tomados um sentimento
cívico-cultural, este local, que outrora abrigou os corpos dos comandantes e
dezenas de outros que pereceram entre os
dias 27 a 31 de maio de 1867, começou a ser revitalizado e tombado como mais um
Patrimônio da História Nacional.
A partir de 2006, com a doação e
escrituração efetiva da área, passou ao Exército Brasileiro, sob os cuidados da
4ª Companhia de Engenharia.
E em 2017 prepara-se para celebrar os
150 anos da Retirada da Laguna e consequentemente deste local.
Imagens panorâmicas depois da revitalização em 2015. Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, José Vicente Dalmolin e Edimilson Lima de Souza, 2016
Exemplo e Dignidade
Homens brasileiros!
Homens de fibra no cumprimento do dever
até as últimas consequências!
Homens como todos os homens:
sentimentos, dores, mágoas, orgulho, responsabilidades, pais, esposos!
Homens com Virtudes do dever moral e
dignidade!
Homens que se esforçaram para dar o melhor de si: Pelo Brasil, pelo Mato
Grosso (Sul), pelos comandados!
Homens que foram até as últimas, sacrificando
a própria vida, para que hoje, possamos celebrar 150 anos, não de mortos, mas
de exemplos vivos de que vale apena lutar por uma “Pátria Livre ou Morrer pelo
Brasil”
Se foram “Heróis” ou “Mitos” Não Sei!
Só sei e reconheço que se esforçaram
para “Combater o bom combate” e servir de exemplo como seres humanos vivendo
experiência de vida, em provas extremas de desafios: da fome e sede à
enfermidade, e desta ao sacrifício da vida.
Algumas
Fontes:
A Retirada da Laguna e outras obras de
Alfredo D’Escragnole Taunay, Visconde de Taunay.
Monumento Histórico do Cemitério dos
Heróis da Retirada da Laguna, Edmilson Lima de Souza e José Vicente Dalmolin
Texto fornecido pelo do 9º BE Cmd de
Aquidauana – MS.
Publicações:
https://guerradoparaguaimatogrossodosul.blogspot.com.br
Notas de Referências:
[1] NE
– É o próprio autor do Livro “A Retirada da Laguna” que escreveu diversas Obras
narrando acontecimentos desde a saída da Capital do Império, Rio de Janeiro e o
regresso dos sobreviventes. Dias de Guerra e Sertões; Em Mato Grosso Invadido;
Iracê a Guaná; Marcha das Forças; Recordações de Guerra e Viagem;
Reminiscências; Inocência entre outras.
[2] NE
– Nesta ocasião o Corpo de Caçadores a Cavalo, agora à pé, pois já não mais
havia montarias, era comandado pelo então Capitão Pedro José Rufino.
[3] NE
– Muitos dos oficiais, entre eles o próprio Alfredo Taunay, tinham uma pessoa
que lhes servia em suas atividades, afazares, dando apoio, carregando e
cuidando dos seus pertences. Entre as denominações dadas encontramos como
“camaradas”, “empregados dos oficiais”. O “Salvador” citado pelo autor Taunay,
era um desde que atendia ao Coronel Camisão.
[4] VISCONDE DE TAUNAY DIAS DE GUERRA E DE SERTÃO
EDITORA COMP. MELHORAMENTOS DE S. PAULO (WEISZFLOG IRMÃOS
INCORPORADA) SÃO PAULO • CAYEIRAS • RIO - S. Paulo - Setembro de 1927. AFFONSO
DE E. TAUNAY. PAG 141 e seguintes[5]
Texto extraído do Livro Dias de Guerra e Sertão, Visconde de Taunay, 3ª Edição, publicado no ano de 1927, pela
Editora Companhia Melhoramentos de São Paulo. São Paulo, Cayeiras, Rio. As
alterações são de ordem ortografias, topográficas e algumas pontuações dos
parágrafos. E Similiar em A Retirada da Laguna, Edição em português de 1874.
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