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29 de maio de 2017

150 ANOS DO FALECIMENTO DO CORONEL CARLOS DE MORAES CAMISÃO

“E eu também, disse, vou morrer”!
__ “Não podia ser senão assim”!
__ “Mas salvei a expedição”!
Carlos de Moraes Camisão
Carlos de Moraes Camisão
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a)    Dados Biográficos

Nome: Carlos de Moraes Camisão
Filiação: Joaquim de Moraes Camisão
Nascimento: Província do Rio de Janeiro em 8 de maio de 1821.
Falecimento: 29 de maio de 1867, acampamento da margem esquerda do rio Miranda, atualmente município de Jardim-MS. (na época, terras da Fazenda Jardim - Nioac - Província de Mato Grosso)

Data de Praça: 02 de dezembro 1839
Vida Escolar: Real Academia Militar; conforme o Regulamento de 1839

Vida Profissional: Imperial Corpo de Engenheiros (ICE) 02/12/1839 a 05/04/1842; Batalhão Provisório de Linha da Província de São Paulo 09/05/1843 a 22/05/1843; ICE 23/05/1843 a 18/10/1843; 4º Batalhão de Artilharia 15/05/1844 a 25/10/1849; Comandante da Companhia de Artífices da Província de Pernambuco 26/10/1849 a 02/12/1854; Fortaleza do Brum, abril e maio de 1851; Corpo Artífices da Corte 02/12/1854 a 1858; Corpo do Amazonas 10/1858 a 02/1860; Comandante do 2º Batalhão de Artilharia a partir 1860

Condecorações: Cavaleiro da Ordem de Christo
Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa
Cavaleiro da Ordem de Aviz 
Cursos: Engenharia e Artilharia pelo Regulamento de 1839

2º Tenente: 02/12/1839
1º Tenente: Graduado-04/10/1842, Efetivo: 23/07/1844
Capitão: 27/08/1849
Major Efetivo: 02/12/1854 – Merecimento
Tenente Coronel Graduado: 02/12/1861
Tenente Coronel Efetivo: 02/12/1862
Coronel Efetivo: 22/01/1866

Outros: 
Foi promovido ao posto de 1º Tenente Graduado por ter se distinguido no ataque de Santa Luzia de Sabará durante a Revolta Liberal de 1842.

Participou da repressão à Revolução Praieira em Pernambuco em 1848.

Comandou o 2º Batalhão de Artilharia na Campanha do Paraguai.

Comandou as Forças Expedicionária ao Sul da Província do Mato Grosso, conduzindo a coluna da Vila de Miranda à Laguna no Paraguai e deste ponto até a margem esquerda do rio Miranda. 

b)   No comando das  Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso

Para não ser muito repetitivo, para que se possa compreender um pouco de todas as ações, comportamento, personalidade como pessoa e comandante, deve-se ler o Livro a Retirada da Laguna,  ou então os Capítulos que foram publicados neste 
Link:
Para socorrer a Província de Mato Grosso depois da afronta com que nos provocou o Governo do Marechal Solano Lopes, cujas forças invadiram, em fins de 1864, o território de Mato Grosso, o Governo Imperial Brasileiro organizou, com contingentes do Rio, São Paulo, Minas e Goiás, e Mato Grosso, uma Força ou Expedição ou Coluna ou Corpo de Exército, pois há várias denominações para  este contingente que não fora composto só por militares. No Decorrer da viagem foram sedo agregados civis, mulheres, crianças, mercadores, índios.

Camisão assumira o comando da Coluna em 1° de janeiro de 1867. Era, portanto, o seu quarto comandante, desde a partida do Rio de Janeiro. O Coronel Drago, julgado muito moroso nas providências que lhe foram determinadas, foi chamado à Corte.
O Brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão, gravemente enfermo, teve de abandonar a missão depois de ter falecido.
O Coronel Joaquim José de Carvalho, que sucedera ao Brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão em meados de 1866, fizera, com suas forças, uma longa parada de 4 meses em Miranda, na região julgada a mais insalubre do Baixo Paraguai, o que acarretou cerca de 300 baixas, entre oficiais e praças do reduzido efetivo que fora reunido.

Em 31 de Dezembro 1866, Camisão, chegou em Miranda.

Em 1º de janeiro de 1867, vindo de Cuiabá, assumiu o comando dos bravos soldados da Coluna Expedicionária na então Vila de Miranda, depois de abandonada e incendiada  pelo Exército do Paraguai.

A 11 Marchou para a Vila de Nioaque, então, somente ruínas, chegando a 24 de janeiro, às 11 horas, onde acampou em ordem de Batalha.

 No dia 25 de Fevereiro de 1867, marchou, acampou a uma légua de distância da Vila, às margens do Rio Nioaque e a 26, acampou no Canindé.

Acampou no Desbarrancado a 27 e no dia 2 de Março atingiram o rio Feio, onde também  acamparam, chegando no local onde foi a Colônia Militar de Miranda somente no dia 4  e ai acamparam e permaneceram  até 15 de Abril, hoje em terras do município de Guia Lopes da Laguna.
Já ém terras do atual município de Bela Vista-MS. A 15 de Abril, levantou acampamento, fazendo o Corpo e retaguarda, indo atravessar o rio Miranda e acampar perto do  Retiro no dia seguinte.

Reiniciando a marcha, acampando no lugar onde fora a Estância de Gabriel Francisco Lopes,  irmão do Guia, José Francisco Lopes, no dia 17 de Abril.

A 19 de Abril atravessou o córrego Taquaruçu tiroteando com   os paraguaios e foi acampar no córrego Sombrero, justamente no triângulo que este  forma com o Apa.
c)    O coronel bebe água do rio Apa:

Taunay, “O coronel ao chegar, pediu que lhe dessem água, dessa mesma água do Apa e ou porque vagas reminiscências históricas relativas a caudais famosos acordassem na sua memória ou porque depois de tamanhas agitações de seu cérebro, tivesse ligeira excitação febril.

__ “Vejamos, disse sorrindo, a que horas bebemos a água deste rio”? Olhou para o relógio, bebeu e acrescentou em tom jovial:

__ “Desejo que este incidente seja consignado na história da expedição[1], se a escreverem algum dia”.
A 20 de abril  passou o ribeirão José Carlos, atual córrego Machorra e   tomou a Estância da Machorra, após curto tiroteio, aí acampou.

Reiniciando a marcha a 21, atravessou o rio Apa e tomou o Forte de Bela Vista  e aí acampou já em território do Paraguai.

Seguindo marcha, atingiu o  Apa-Mi no dia 30, onde fez alto na Estância da Laguna, indo acampar meia légua adiante. Aproximando da Invernada da Laguna.

No dia 1º de Maio, depois de uma noite tranquila, a marcha recomeçou e continuou sem incidente até a fazenda da Laguna, o mesmo lugar que fora indicado pelos nossos refugiados do Paraguai, entre eles o filho, genro e sobrinho do Guia. Não restava então mais do que uma cabana de palha que o exército paraguaio, retirando, esquecera-se de queimar.

No dia 6 ataca o acampamento paraguaio, denominado acârâbebo, foi o primeiro confronto direto com vítimas dos dois lados.

Depois de ter conseguido ocupar o território da República e encurralar a Forças paraguaias, libertar as regiões ocupadas desde Coxim, à Miranda, à Nioac, ao Apa  da ocupação, um conjunto de circunstância obrigam a recuarem, ou mais conhecido como “Retirada” para  o território brasileiro.

Motivos: não encontraram gado ou outras fontes de alimentos para sustentar mais de 1500 pessoas entre soldados à oficiais, índios, mulheres, crianças, camaradas e até os próprios animais; pouca munição e armamento para sustentar combate diante de uma Cavalaria, infantaria, Artilharia Paraguai montada; O Corpo de Cavalaria, sob o comando do Capitão Rufino, não possuíam animais para cavalgar.

d)   O Recuo

No dia 8 de maio inicia a retirada das Forças da Laguna. Logo em seguida inicia a ofensiva paraguaia que só cessará depois do retorno à Nioac, já no Rio Taquaruçu.

As 06:30 horas do dia 9 de Maio iniciou a marcha tiroteando com Forças paraguaia por mais de uma hora. Neste  mesmo dia acampou em uma eminência que  fica a margem do rio Apa.

No dia 11 de maio, já em território brasileiro, ocorreu a maior  batalha campal entre as duas Nações, nas imediações da atual cidade de Bela Vista-MS, atualmente conhecida pelo nome de “Batalha de Nhandipá” com mais de 200 mortos, a maioria do Paraguai.

Ao alvorecer do dia 12, reiniciou-se a marcha sob incêndio atravessando o ribeirão José Carlos, onde se acamparam.

Novos tiroteios os paraguaios, que se aproveitava da fumaça para atacar a Coluna. Continuou a marcha através da macega incendiada, isto a 15 de maio.

Dia 16 de Maio a Coluna atravessou o rio das Cruzes (Piripucu) e continuou-se a marcha sob incêndio. A marcha do dia seguinte foi muito lenta devido aos atoleiros.


Sob intensa chuva recomeçou a marcha no dia 18, sofrendo todos os Corpo da Coluna, cerrado tiroteio do inimigo, aliás, sempre o repelindo. Começou a grassar o Cólera. Os dias 20 e 21 não foram por menos: marcha sob fogo, incêndio na macega, ataque do inimigo e a  “Cholera Morbus”.

No dia 22 de Maio, acampara-se num banhado, próximo ao rio Verde, antes identificado como Prata. E a 23, avançaram somente uma légua e meia, sendo grande o número de coléricos. Houve um incêndio e um ataque paraguaio, repelidos com bravura.

Taunay, “Uma vez chegados a esse ponto, o coronel não enxergou mais obstáculo em participar para Nioac a nossa aproximação e com a nossa, a do inimigo. A comunicação estava livre pelo bosque do Verde que se perde no de Miranda de modo a tornar segura a passagem. Escolheu para essa comissão dois homens dispostos, afeitos a vida do mato, caçadores e práticos naquelas paragens.

O escrito de que foram portadores era dirigido ao coronel honorário que comandava o depósito e redigido em francês para escapar pelo menos as primeiras probabilidades de ser divulgado.  Dizia em substância que a coluna pusera-se em retirada, que chegaria provavelmente a Nioac antes do inimigo, mas que convinha em todo o caso mandar transportar, para outra parte, e depositar o mais depressa que fosse possível em lugar seguro as munições, os víveres, os arquivos e alguns objetos pertencentes aos oficiais. Que cumpria principalmente que toda a força de que pudessem dispor, fosse, sob o mando do capitão Martinho, emboscar-se na mata do Nioac e ali detivesse o inimigo, caso se mostrasse”.

A marcha começou no dia 24, sempre hostilizada pelo inimigo. No dia seguinte, acamparam no local conhecido como capão do Cambaracê.

Já em terras do atual Município de Jardim-MS.

No acampamento, de 25 para 26 de maio: A mais dura decisão de um comandante diante de tantos padecimentos: fome, incêndios, temporais, enfermos coléricos.

__  “E Nioac? Exclamava.

__ “E os nossos doentes! Preferia estar no lugar de um dos que morreram”! 

Taunay “Depois de expor em poucas palavras o estado das cousas, a urgência de uma marcha precipitada, sem a qual estavam todos perdidos e a impossibilidade, agora bem verificada e geralmente reconhecida, de levarmos mais longe os doentes, declarou aos comandantes que, sob a sua responsabilidade e pela lei de rigor que lhe impunha esse dever, os coléricos, com exceção dos convalescentes, iam ser abandonados nesse mesmo pouso”!

Ao raiar do dia 26, em direção a Fazenda Jardim:

     e)    O cólera, não lhe poupa

Taunay: “E indo referi-lo ao comandante Camisão, foi com certo pavor que o vimos também atacado por sua vez. Deitado de costas no chão, com o chapéu sobre o rosto, apenas levantou-se e descobriu-se para falar-nos, reputamo-lo perdido. Os sinais do cólera estavam nele impressos. Conservava, entretanto, uma calma que a conjuntura tornava admirável”:

__ “E eu também, disse, vou morrer”!
__ “Não podia ser senão assim”!
__ “Mas salvei a expedição”!
__ “O Senhor bem sabe”!
__ “ O Senhor di-lo-á”.

    f)     No dia 27 de maio, atingindo à margem  do atual córrego Cachoeirinha

Taunay: “Acampamos nesse mesmo lugar, tendo feito quatro léguas de marcha forçada, privados como estávamos de alimentação e de sono. A necessidade coagia-nos, penetramos no fechado do retiro.

O coronel Camisão, o tenente-coronel Juvêncio e o nosso guia Lopes foram acomodados em um rancho arruinado perto do qual acenderam-se grandes fogueiras para ver se lhes restituíamos o calor.

Alguns limões e laranjas que lhes trouxeram, acalmaram-lhes um tanto a sede.

O doutor  Gesteira quis ainda experimentar um medicamento no coronel.

__  “Doutor, disse ele, vá ter com os soldados”!
__ “Não se canse inutilmente comigo. Estou morto”!

    g)   No Acampamento

Atingindo a margem esquerda do Miranda, limite com a sede da fazenda Jardim, do Guia Lopes, 27,28 de maio. O Coronel Camisão, enfraquecido, mas sempre comandante:

Taunay: “O comandante, no próprio couro em que estava estendido quase agonizante, dava ainda ordens, umas, é certo, incoerentes e inexequíveis, mas outras lúcidas e práticas. Ordenou que o Corpo de Caçadores[2] Desmontados, o único que não estava ainda inquinado de desorganização, passasse o rio o mais depressa que pudesse e indo guarnecer a outra margem, impedisse que o pomar fosse saqueado, até que ele próprio já pudesse apresentar-se dissera, e proceder a justa distribuição de quanto ali se achava”.

    h)   As despedidas do Comandante Coronel Carlos de Moraes Camisão, dia 29 de maio, aos 46 anos de idade *1821+1867

Taunay, narra estas despedidas:
“No dia 29 de maio tornou-se evidente que o coronel morreria.

O sofrimento tinha por várias vezes dominado essa dignidade que ele tanto zelara!

Dizia:
__  “Já que dizem que a água é mortal,  deem-me!
__  “Quero morrer”!

Uma observação:
Nesta época a medicina e consequentemente os dois médicos que acompanhavam as Forças Brasileiras não dispunham ainda do conhecimento sobre as causas, o que provocava realmente a contaminação pelo cholera morbus, vibrio cholerae e por sua vez os tratamentos adequados. Entres hipóteses, sabia-se que que tinha uma associação com alimentos e agua contaminada.  Apesar da desidratação  dos pacientes enfermos pela intensiva diarreia, era proibido beber a agua.

Quem Ler o Livro a Retirada da Laguna, o autor registra os enfermos suplicando por água. Os coléricos abandonados do dia 26, pediram que lhes deixassem água para beber.

Eis,  o diálogo do comandante acima!

Caiu em um estado de torpor e de sonolência!

O corpo cobriu-se lhe de manchas roxas!

As sete horas e meia fez um esforço supremo. Levantou-se do couro em que estava deitado, apoiou-se no capitão Lago e perguntou-lhe onde estava a coluna, repetiu ainda que a salvara.

Depois, voltando os olhos já vidrados para o seu camarada:

__ “Salvador[3], disse com voz de comando, dá-me a minha espada e o meu revolver”.

__ “Tentou afivelar o talim e nessa mesma ocasião, deixou-se cair no chão, murmurando:

__ “Mandem seguir as Forças, eu vou descansar”.

__ Il rendait l'âme! E entregou a Alma!

O coronel foi enterrado em uma cova que se tinha aberto debaixo de uma alentada árvore no meio do mato, com o seu uniforme e as suas insígnias e em outra cova logo à direita foi o corpo do Tenente-Coronel Juvêncio colocado pelos seus colegas da comissão de engenheiros e por alguns oficiais do Corpo de Artilharia.

i)     Túmulo do Coronel Camisão e de Juvêncio

De 29 de maio de 1867 a novembro de 1940, os corpos dos dois comandantes ficaram sepultados em um túmulo, no local hoje designado Monumento  Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna.
Túmulo Camisão e Juvêncio, 1905

Segundo citação de Taunay[4]:
“Como official de gabinete do ministro da Guerra, Conselheiro João José de Oliveira Junqueira, consegui a ordem de se erigir, um monumento, modesto embora a memoria daqueles dous officiaes  Carlos Moraes Camisão e Juvêncio  Cabral de Meneses, no lugar em que haviam sido sepultados.

A Commissão de limite entre Brasil e Paraguay deu cumprimento as ordens expedidas, conforme se vê no seguinte documento que aqui deixo transcripto na integra:

N. 440 – Commissão de limites entre Brasil e Paraguay,
Assumpção 31 de outubro de 1874 –
Ilmo. e  Exmo. Snr. –

O monumento a memoria dos benemeritos commandantes e imediato das forças brasileiras que operaram no Sul de Matto-Grosso, acha-se levantado a margem esquerda do Rio Miranda, junto ao passo do Jardim, no alto de uma collina e a 16 legoas do passo de Bella Vista, no Apa.
 É de Marmore e a sua base de pedra e cal.
 A lapide, que está assentada em plano inclinado, sobre quatro peças também de marmore, olha para a estrada da retirada das forças que passa a 50 metros a distancia.
Contem a seguinte inscrição:

A MEMORIA DOS BENEMERITOS CORONEL
CARLOS DE MORAES CAMISÃO
E TENENTE-CORONEL
JUVENCIO MANUEL CABRAL DE MENEZES,
COMMANDANTE E IMMEDIATO DAS FORÇAS EM OPERAÇÕES
AO SUL DESTA PROVINCIA,
FALLECIDOS NO DIA 29 DE MAIO DE 1867,
NA MEMORAVEL RETIRADA DAS MESMAS FORÇAS.
O GOVERNO IMPERIAL MANDOU ERIGIR ESTE MONUMENTO 1874



As sepulturas estavam intactas e não tinham sido abertas como me informaram e foram reconhecidas pelo sobrinho do fallecido pratico José Francisco Lopes, Gabriel Lopes, que morava actualmente na fazenda do Jardim e acompanhou as forças.

O monumento está dividido interiormente em dous compartimentos, contendo um os restos do commandante e o outro do immediato.   Assignala este  compartimento um afresco  dentro do qual se acha um castello de metal dourado, que mandei collocar ao lado dos ossos, como distinctivo da corporação a que pertenceu o ilustre finado.

No outro compartimento mandei collocar uma granada de calibre 4. La Hitte, que ahi encontrei como distinctivo da arma do distinto commandante das forças.
Ao lado do monumento, mandei fazer uma sepultura de pedra e cal e nella foram depositados os restos do destemido pratico das forças, José Francisco Lopes, conforme os desejos da sua viuva.

Entre os dois jazidos fiz construir outro e nelle encerrar ao ossos que se achavam espalhados de outros bravo alli falecidos.

Mandei cercar as sepulturas com mourões e levantar no vertice da construcção uma grande cruz de madeira de lei.

Este pequeno cemiterio assignala, pois esse remoto lugar, onde succumbiram tantos valentes defensores da Patria.

Deus Guarde a V. Excia.
Ilmo. E Exmo. Snr. Conselheiro João José de Oliveira Junqueira.
Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Guerra.
O Coronel Rufino  Enéas Gustavo Galvão”,
(Visconde de Maracaju)

j)     Reconhecimento

Uma ordem do dia[5] do nosso intrépido chefe José Thomaz Gonçalves, que sucedeu no comando, após o falecimento do Coronel Camisão e sub-chefe Tenente-coronel Juvêncio, foi publicada a 12 de junho 1867, a margem esqueda do Rio Aquidauana, em Porto Canuto, atual município de Anastácio-MS. declarando oficialmente o encerramento da marcha dos Retirantes da Laguna, resumindo em poucas palavras os acontecimentos dessa cruel campanha de trinta e cinco dias:

__  “Soldados, a vossa Retirada efetuou-se em boa ordem no meio das circunstâncias mais difíceis.
Sem cavalaria contra o inimigo audaz que a possuía formidável, em planícies em que o incêndio da macega continuamente aceso ameaçava devorar-vos e vos disputava o ar respirável, extenuados pela fome, dizimados pelo cólera que vos roubava em dois dias o vosso comandante, o seu substituto e ambos os vossos guias, todos estes males, todos estes desastres, vós os suportastes, no meio de uma inversão de estação sem exemplo, debaixo de chuvas torrenciais, no meio de tormentas e através de imensas inundações, em tal desorganização da natureza que ela própria parecia declarar-se contra vós.

Soldados, honra a vossa constância que conservou ao Império os nossos Canhões e as nossas Bandeiras”!

k)    9º Batalhão de Engenharia de Combate de Aquidauana

O nome do Coronel Carlos de Morais Camisão, depois lutas com todos os tipos de adversidades no episódio da Retirada da Laguna, ressurge pois, como um preito de justiça, no Pavilhão-Estandarte do 9° BE da Expedição da Itália, como elo da tradição da bravura do soldado brasileiro, ligando dois capítulos gloriosos da nossa História Militar.

O 9º Batalhão de Engenharia de Combate, localizado na cidade de Aquidauana, tem como Patrono, Carlos de Moraes Camisão.
Imagem José Vicente Dalmolin, 2005

l)     Translados dos Restos Mortais, 1940

Sem entrarmos em detalhes, pois este é outro tema, em 1940 teve o início dos translados dos restos mortais do Coronel Carlos Moraes Camisão, bem como de Juvêncio e Guia Lopes do Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, Município de Jardim, Mato Grosso do Sul, para o “Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados”, no Rio de Janeiro, que teve seu início de construção ainda no ano de 1921.

Neste Monumento, repousam os arcabouços do corpo físico destes três (entre outros) homens: José Francisco Lopes, Juvêncio Manoel Cabral de Menezes; Carlos de Moraes Camisão.

O Coronel Camisão

“O Coronel Camisão é a figura curiosa de soldado que, na campanha de Mato Grosso, resgatou a preço de dedicação e nobreza, o erro que lhe atribuíram.
Ele está em atitude meditativa ao mesmo tempo que prova possuir uma grande
força d'alma. Com uma das mãos empunha a espada, com a outra, o mapa. Na atitude e no gesto, denota uma grande força de espirito, própria de grande chefe, que sem sossobrar diante da terrível difamação que lhe assacaram, maquina investir ao  território inimigo quaisquer que fossem as consequências”.
(A Epopeia de Mato Grosso no Bronze da História. Capitão Cordolino de Azevedo, 1926)



Praça General Tibúrcio -  Praia Vermelha  - Rio de Janeiro
Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados. 
Imagens: Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, José Vicente Dalmolin e Edimilson Lima de Souza, 2016

j)  No Monumento Histórico  do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna

Embora nos tempos atuais, os despojos dos três homens, Camisão, Juvêncio e Lopes não se encontram mais neste local, entretanto, depois de ter sido quase esquecido, a partir de 1999, através da 1ª Marcha Cívica Cultual da Retirada da Laguna dos Tempos Modernos,  quando Unidades militares do Exército Brasileiro, ligadas a 9ª Região Militar, a 4ª  Brigada de Cavalaria Mecanizada, 4ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada, entidades do poder público e privada do Município de Jardim, entre outras e dezenas de cidadãos civis e militares, tomados um sentimento cívico-cultural, este local, que outrora abrigou os corpos dos comandantes e dezenas  de outros que pereceram entre os dias 27 a 31 de maio de 1867, começou a ser revitalizado e tombado como mais um Patrimônio da História Nacional.

A partir de 2006, com a doação e escrituração efetiva da área, passou ao Exército Brasileiro, sob os cuidados da 4ª Companhia de Engenharia.


E em 2017 prepara-se para celebrar os 150 anos da Retirada da Laguna e consequentemente deste local.



Imagens panorâmicas depois da revitalização em 2015. Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, José Vicente Dalmolin e Edimilson Lima de Souza, 2016

Exemplo e Dignidade

Homens brasileiros!
Homens de fibra no cumprimento do dever até as últimas consequências!
Homens como todos os homens: sentimentos, dores, mágoas, orgulho, responsabilidades, pais, esposos!
Homens com Virtudes do dever moral e dignidade!
Homens que se esforçaram para  dar o melhor de si: Pelo Brasil, pelo Mato Grosso (Sul), pelos comandados!
Homens que foram até as últimas, sacrificando a própria vida, para que hoje, possamos celebrar 150 anos, não de mortos, mas de exemplos vivos de que vale apena lutar por uma “Pátria Livre ou Morrer pelo Brasil”

Se foram “Heróis” ou “Mitos” Não Sei!

Só sei e reconheço que se esforçaram para “Combater o bom combate” e servir de exemplo como seres humanos vivendo experiência de vida, em provas extremas de desafios: da fome e sede à enfermidade, e desta ao sacrifício da vida.

Algumas Fontes:
A Retirada da Laguna e outras obras de Alfredo D’Escragnole Taunay, Visconde de Taunay.
Monumento Histórico do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, Edmilson Lima de Souza e José Vicente Dalmolin
Texto fornecido pelo do 9º BE Cmd de Aquidauana – MS.
Publicações: https://guerradoparaguaimatogrossodosul.blogspot.com.br

Notas de Referências:
[1] NE – É o próprio autor do Livro “A Retirada da Laguna” que escreveu diversas Obras narrando acontecimentos desde a saída da Capital do Império, Rio de Janeiro e o regresso dos sobreviventes. Dias de Guerra e Sertões; Em Mato Grosso Invadido; Iracê a Guaná; Marcha das Forças; Recordações de Guerra e Viagem; Reminiscências;  Inocência entre outras.
[2] NE – Nesta ocasião o Corpo de Caçadores a Cavalo, agora à pé, pois já não mais havia montarias, era comandado pelo então Capitão Pedro José Rufino.
[3] NE – Muitos dos oficiais, entre eles o próprio Alfredo Taunay, tinham uma pessoa que lhes servia em suas atividades, afazares, dando apoio, carregando e cuidando dos seus pertences. Entre as denominações dadas encontramos como “camaradas”, “empregados dos oficiais”. O “Salvador” citado pelo autor Taunay, era um desde que atendia ao Coronel Camisão.
[4] VISCONDE DE TAUNAY DIAS DE GUERRA E DE SERTÃO
EDITORA COMP. MELHORAMENTOS DE S. PAULO (WEISZFLOG IRMÃOS INCORPORADA) SÃO PAULO • CAYEIRAS • RIO - S. Paulo - Setembro de 1927. AFFONSO DE E. TAUNAY. PAG 141 e seguintes[5] Texto extraído do Livro Dias de Guerra e Sertão, Visconde de Taunay,  3ª Edição, publicado no ano de 1927, pela Editora Companhia Melhoramentos de São Paulo. São Paulo, Cayeiras, Rio. As alterações são de ordem ortografias, topográficas e algumas pontuações dos parágrafos. E Similiar em A Retirada da Laguna, Edição em português de 1874.

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