CAPÍTULO XXIII
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES AO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
Em Porto Canuto, Fim da Marcha em Retirada da Laguna
12 de Junho 1867
Monumento simbólico construído em Bloco de Rocha Arenito, abundante na região, cuja coloração avermelhada, representa o sangue de todos os que pereceram em combate ou epidemias na operação das Forças que atuaram ao Sul da então Província de Mato Grosso.
Nele a uma placa de bronze afixada com os dizeres transcritos pelo autor Tenente Alfredo Taunay, no Livro A Retirada da Laguna, na proclama da Ordem do Dia nº 3 do comandante interino, Major José Thomaz Gonçalves a todos os sobreviventes.
Homenagem ao fim da Marcha da Retirada da Laguna
8 de maio, Invernada da Laguna, Paraguai a 12 de junho de 1867
Porto Canuto – Margem do rio Aquidauana – (Anastácio – MS.) Brasil
1- A proclama da Ordem do Dia, do comandante Major Thomaz Gonçalves aos comandados
Uma ordem do dia do nosso intrépido chefe José Thomaz Gonçalves foi publicada a 12 de junho, resumindo em poucas palavras os acontecimentos dessa cruel campanha de trinta e cinco dias:
__ “Soldados, a vossa Retirada efetuou-se em boa ordem no meio das circunstâncias mais difíceis.
Sem cavalaria contra o inimigo audaz que a possuía formidável, em planícies em que o incêndio da macega continuamente aceso ameaçava devorar-vos e vos disputava o ar respirável, extenuados pela fome, dizimados pelo cólera que vos roubava em dois dias o vosso comandante, o seu substituto e ambos os vossos guias, todos estes males, todos estes desastres, vós os suportastes, no meio de uma inversão de estação sem exemplo, debaixo de chuvas torrenciais, no meio de tormentas e através de imensas inundações, em tal desorganização da natureza que ela própria parecia declarar-se contra vós.
Soldados, honra a vossa constância que conservou ao Império os nossos Canhões e as nossas Bandeiras”!
No dia da invasão do território paraguaio, isto é, em 6 de abril de 1867, era o efetivo da Coluna de 1680 soldados. A 11 de junho reduzira-se a 700 combatentes. Perdêramos, pois, 980 soldados pela cólera e o fogo. Morrera além disto grande número de índios, mulheres, crianças e homens negociantes ou camaradas que haviam acompanhado a marcha agressiva do nosso corpo.
2- Documento nº 37
Ordem do Dia nº 3 de 12 de junho de 1867, oficializando o termino da Marcha dos Retirantes da Invernada da Laguna, no Paraguai
Ordem do Dia do Comandante Interino das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, Major José Thomaz Gonçalves
Quartel do Comando interino das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso.
Acampamento junto à margem esquerda do Rio Aquidauana, 12 de junho de 1867.
Ordem do Dia Nº 3
Acha-se resolvido pelas Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso um dos mais difíceis problemas da táctica; uma Retirada em ordem, sem a menor força de Cavalaria, tendo de lutar com um inimigo audaz, perfeitamente montado e de posse da melhor combinação para seus ataques: a Cavalaria e a Artilharia.
Acha-se concluída a mais melindrosa operação de guerra rodeada dos mais ingentes e extraordinários obstáculos que num conjunto de circunstâncias muito especiais jamais acometeram as Forças tão diminutas.
Todos os elementos de desorganização a um tempo procuraram-nos, acabrunhar: o inimigo sempre desleal em suas agressões, o cholera morbus, ceifando os melhores soldados de nossas fileiras, arrebatando num só dia ao Chefe e ao seu imediato, a fome alquebrando as forças físicas, abatendo o moral, a inclemência contínua do tempo, a passagem por lugares nunca trilhados, formaram uma dura provança que deve, com tudo, encher de orgulho o coração daqueles que o souberam arrastar tantos perigos com o rosto sereno, e aceitar tantos sofrimentos com coragem.
Os erros militares que se deram nessa Retirada gloriosa, vieram tão somente elevar mais o conceito em que era tido o militar brasileiro, pois a eles se devem o argumento de dificuldades que, entorpecendo a marcha sobre Nioac, jamais puderam, com tudo, tolher os passos de nossa briosa Força. Honra a esses que venceram a tenacidade do inimigo, superaram as intempéries, resignaram-se aos golpes fatais da epidemia e, mudos na desgraça, rodearam sempre as suas bandeiras, emblema de honra que lhes exigiam o cumprimento do dever. Exausto de fadiga, esperava o soldado achar conforto e descanso no ponto militar de Nioac. Ali, ainda foi necessário fazer um apelo à sua abnegação heroica.
O ponto fora abandonado, e meia dúzia de inimigos tão somente entregaram às chamas o que deverá servir de conforto à Força, depois de tão espantosos esforços caminharam-se mais algumas dezenas de léguas para chegar a este lugar, onde o repouso é possível a par da abundância.
Nessa série de acontecimentos, dois fatos se apresentam, por destacados um do outro, isolados: um é a nossa marcha retrógada, digna e nobre; outro é o abandono de Nioac, apesar de severas instruções que constituem um responsável, e portanto, indigitam um culpado.
Desses dois fatos resultaram a recompensa e o castigo, louros e reprovação.
O país os julgará!
O Brasil os proclamará!
Os combates de 6, 8, 9, 11, tiroteios de 11, 16, 18, 19, 23, 25, 26 de maio, são páginas gloriosas que os fastos militares do Império registrarão com gosto.
Remeto breve ao Governo Imperial as partes dos Comandantes dos Corpos, as quais se acham no arquivo da Secretaria deste Comando, e que descrevem estes dias, fazendo menção dos militares que neles mais, se distinguiram[1]. Pouco acrescentarei.
O falecimento do Coronel Camisão impediu a justa manifestação de nomes de oficiais que compunham o seu Estado Maior, o que passo a fazer com imenso contentamento.
Vi sempre portarem-se no exercício de suas penosas funções os Srs. Capitão Bacharel Augusto Florencio Pereira do Lago, Assistente do Ajudante General e 1º Tenente José Eduardo Barbosa, Assistente do Quartel Mestre General, com bizarria e sangue frio dignos de menção.
Os Srs. Engenheiros Tenente Bacharel Catão Augusto dos Santos Roxo e o 2º Tenente Bacharel Alfredo d'Escragnolle Taunay, nos combates transmitiam as ordens do Coronel Comandante com muita calma e inteligência, além de se ocuparem nos trabalhos de construções de pontes e sua destruição, coadjuvados por vezes pelo denodado e ativíssimo Major Fiscal do Batalhão 17º de Voluntários da Pátria José Maria Borges.
O Alferes de comissão, secretário então do comando, Amaro Francisco de Moura, oferecendo-se para ir servir numa Bateria, ali se portou com bravura.
Cada comandante de Corpo cumpria com o seu dever por modo acima de elogio.
A intrepidez e ousadia do Capitão Pedro José Rufino, comandante do Corpo de Caçadores a Cavalo.
A reflexão e coragem do Tenente Coronel de Comissão Antonio Enéas Gustavo Galvão, Comandante do Batalhão nº 17º de Voluntários da Pátria.
O sangue frio e bravura do Capitão Joaquim Pereira de Paiva, comandante do Batalhão nº 20º de Infantaria.
A placidez, energia e tenacidade do Major de Comissão Bel. João Thomaz de Cantuaria, foram patentes as Forças, e cada uma dessas qualidades distintas em várias ocasiões, refletiram-se sobre os respectivos Batalhões.
Nos encontros com o inimigo comandava eu o Batalhão nº 21º de Infantaria, e com orgulho consegui que em muitas ocasiões a atitude que tomou aquele Batalhão mereceu os aplausos de todos.
Os 1ºs Cirurgiães Drs. Candido Manoel de Oliveira Quintana e Manoel de Aragão Gesteira, muito se distinguiram nessas jornadas de glória no curativo dos feridos, não se enfraquecendo a sua caridade e dedicação nos funéreos dias do cholera-morbus. Honra a esses nobres facultativos!
Merecem ainda e muito os meus elogios o Sr. Coronel chefe de Repartição Fiscal Francisco Augusto de Lima e Silva, pela atividade, zelo e inteligência com que cumpriu a ordem do finado Coronel Comandante das Forças, pondo em lugar seguro a Caixa Militar e muitos objetos da Fazenda Nacional que perigaram com o possível ataque dos Paraguaios em Nioac.
O Sr. Major Candido Pires de Vasconcellos, o qual, acompanhando as Forças, portou-se sempre com sangue frio não vulgar.
O Sr. Capitão da Guarda Nacional Caetano da Silva Albuquerque e o Sr. Tenente de Comissão Antonio Bento Monteiro Tourinho citado com honra na parte que dele dá o comandante do Batalhão nº 20º.
O encarregado da tropa de cartuchames Alferes Manoel Climaco dos Santos Souza, pela atividade que desenvolveu, assim como, o Alferes Sabino Fernandes de Souza e Alferes da Guarda Nacional João Pacheco de Almeida, pelo bem que se portou.
Por fim, mando sujeitar a conselho de investigação o Sr. Capitão Martinho José Ribeiro, devendo posteriormente responder a conselho de guerra, pelo abandono do posto de honra que lhe fora confiado.
José Thomaz Gonçalves,
Major de Comissão Comandante interino.
2º Tenente Bel. Alfredo D’Escragnolle Taunay
Secretário Militar.
Rio Aquidauana - Nas imediações onde existia o "Porto Canuto" Final da Marcha dos Retirantes da Invernada da Laguna, no Paraguai Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso 12 junho 1867. Imagem e arquivo José Vicente Dalmolin, 2011.
3- Documento Nº 38
Parte do 1º cirurgião, dr. Cândido Manoel de Oliveira Quintana, sobre a epidemia do cholera morbus e os ferimentos havidos na expedição de Mato Grosso
Ilmo. Sr.
Havendo V. S. exigido de mim uma parte sobre a epidemia e ferimentos havidos na Expedição de Mato Grosso, passo muito perfunctoriamente a expender o seguinte:
Que no dia dez de maio, na Bella Vista, foi-me trazido à consulta um índio que sofria de diarreia abundante e que no dia seguinte faleceu.
Este doente, por causa da longa marcha e dos muitos outros que tínhamos a tratar, faleceu, sem que tivéssemos bem observado sua enfermidade.
No dia 17, às 11 horas da noite, pouco mais ou menos, entraram mais dois enfermos para a Enfermaria, os quais atraíram a atenção pelos grandes gritos que davam em consequência de câimbras e pela semelhança dos sintomas de ambos que eram grande sede, supressão de urina, vômitos, evacuações alvinas abundantíssimas, resfriamento das extremidades.
E no dia seguinte, os que morreram estavam desfigurados pela magreza de rosto, então julgamos que tínhamos em presença a horrenda epidemia do cholera-morbus, que no dia subsequente tornou-se evidente pela entrada de muitos atacados com os sintomas seguintes: vômitos, evacuações alvinas abundantes de uma matéria semelhante a água de arroz, grande sede, dispneia, pulso pequeno frequente, supressão de urinas, mudança extrema no metal da voz e mesmo afonia, pele fria, cianose, magreza e desfiguramento rápido de rosto, etc.
A falta de víveres, de barracas e roupa suficiente na estação do inverno, muito deveria concorrer para aumentar o número de atacados, os quais, entrando nas enfermarias, também aí não achavam abrigo contra as intempéries.
Os medicamentos no fim de poucos dias estavam todos acabados. As marchas muitas vezes durante o dia inteiro, algumas vezes de noite, a péssima condução em carros puxados a bois, em que os doentes comprimiam-se mutuamente pela exiguidade de espaço, deviam ter grande parte no acréscimo da mortalidade, que era de quase todos os atacados.
Afinal todos os carros foram queimados por necessidade. Os doentes eram conduzidos em padiolas por soldados enfraquecidos pela fome, estropiados, que se recusavam a carregá-los e que os deixavam atirados no caminho sempre que o podiam fazer.
Os sãos já mal eram suficientes para conduzir os doentes, sendo preciso caminhar com presteza, pois que já nenhum alimento tínhamos além das poucas rezes que puxavam a Artilharia.
À vista disto, foram os doentes de cholera-morbus deixados no pouso por ordem superior, no dia 26 de maio.
Até o dia 1º de junho, a epidemia ainda não tinha cessado. Nesse dia, tendo as Forças começado a marcha, quase à noite, debaixo de chuva fortíssima, caminhou seis léguas. Durante este trajeto, que terminou no dia 2 à tarde, morreram alguns coléricos e no dia 3, o último doente grave dessa enfermidade que ainda restava.
Nesse dia, 3 de junho, a epidemia cessou.
Quanto aos feridos em combate, também tiveram de sofrer as mesmas faltas. Nenhuma operação de a alta cirurgia foi necessária praticar. Deram-se pontos de sutura, fizeram-se compressões nas artérias para suprimir hemorragias, cauterização com nitrato de prata, etc.
Os médicos que se achavam nas Forças eram as eu e o 1º Cirurgião Dr. Manoel de Aragão Gesteira.
O número de feridos foi de 41, sendo 37 praças e 4 oficiais.
O de coléricos que ficaram em caminho, quase todos moribundos, foi de 122, incluindo tanto os que ficaram por ordem Superior, como os que eram deixados pelos soldados que os conduziam.
É o que tenho a participar a V. S.ª, a quem Deus Guarde.
Margem esquerda do Rio Aquidauana, 15 de junho de 1867.
Ilmo. Sr. Major José Thomaz Gonçalves, Comandante interino das Forças.
(Assignado) Dr. Candido Manoel de Oliveira Quintana, 1º Cirurgião.
2º Ten. Bel. Alfredo D'Escragnolle Taunay.
4- As últimas impressões, tarefas e as despedidas[2] do 1º Tenente Alfredo Taunay, no Porto Canuto, antes de viajar para o Rio de Janeiro
“A caminhada, porém para a margem esquerda do Aquidauana e em direção ao porto do Canuto, onde aproveitando as primeiras dobras da serra de Maracaju, o Coronel Lima e Silva se havia abrigado com a gente as repartições de Nioac, éramos outros e deixei bem assinalado, na minuciosa narração dos nossos sofrimentos e desastres, o sentimento de orgulho e alegria, com que ouvimos pela última vez, os clarins paraguaios executarem prolongada fanfarra ao se retirarem, abandonando a perseguição da Coluna.
Estávamos salvos!
Estávamos livres e por cima com boas e incontestáveis razões, podíamos nos considerar vencedores, depois de termos resistidos a um conjunto de calamidades, como difícil é sequer imaginar!
Era então impossível a perspectiva, que tanto nos aterrara o espírito combalido, de sermos levados às tenebrosas masmorras de Assunção para ali sofrermos os últimos suplícios até a morte obscura inglória!
Figure-se a exaltação da convalescença em plena agonia!
Com que justa altaneira cada qual considerava os trabalhos vencidos, a salvação conseguida pelo esforço comum!
Ah! Foram deveras esplendidos esses dias, até chegarmos ao Aquidauana! Perto dali, daquele Porto do Canuto, ficavam os Morros, a minha saudosa pousada de outrora.
À certo dia, a 9 ou 10 de junho, paramos mais algum tempo perto do límpido e copioso ribeirão, o Taquarussu. Aproveitamos a folga para livrar-nos das odiosas “muquiranas”, flagelo inevitável de tão provada tropa como a nossa.
Quantas vezes José Thomaz Gonçalves não se chegava a mim e com uma gargalhada grossa e comunicativa, não me dizia, vermelho sempre como um pimentão:
__ “Ataque-me um soco no meio das costas, Taunay, uma muquirana está me ferrando formidável dentada!”
Que parasita esse! Produto da imundície, muito comum nas prisões e nos ajuntamentos de gente suja, anda agarrado à roupa. Se dá a ferroada com a boca, ficando preso pelas patinhas trazeiras, de maneira que nunca se o agarra a querer guiar-se pela dor aguda que causa.
É preciso proceder a verdadeira caçada nas vestes. Um alemão, talvez o único europeu alistado como soldado nas fileiras da Coluna, a este respeito observava gravemente:
__ “Pulgue branco muite manse: não pule”!
No dia 11 de junho de 1867 chegamos ao Aquidauana. Estava terminada com honra a Retirada da Laguna!
Que prazer o primeiro banho de corpo inteiro tomado naquelas cristalinas águas, após tantas semanas de misérias! Que ablação deliciosa e purificadora! Quando me reporto a aqueles momentos, como que experimento ainda o gozo infindo que senti, ao entrar em rio tão claro e formoso, rodeado das cenas alegres e pujantes de um rejuvenescimento geral!
Rio Aquidauana - Nas imediações onde existia o "Porto Canuto" Final da Marcha dos Retirantes da Invernada da Laguna, no Paraguai Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso 12 junho 1867. Imagem e arquivo José Vicente Dalmolin, 2011.
Pensava eu arranjar uns quinze dias de licença, quando no dia seguinte logo o Lago veio dizer-me:
__ “Você apronte todos os papéis e ofícios relativos à Retirada que acabamos de fazer, arranje uma bonita ordem do dia e prepare-se para partir. É quem vai levar ao Rio de Janeiro as notícias do que nos sucedeu. O José Thomaz aprovou muito a indicação que lhe fiz. E você está contente?”
Apertado abraço foi a resposta! Tive inexcedível contentamento! Voltar ao Rio, ver a família, meu pai, minha mãe! Tratei de cumprir o que me havia sido ordenado.
A tarde era linda, a ordem do dia, que redigi em um jato, concisa e vibrante, ei-la:
“A Retirada, soldados, que acabais de efetuar, fez-se em boa ordem, ainda que no meio das circunstancias mais difíceis.
Sem cavalaria contra o inimigo audaz que a possuía formidável, em campos onde o incêndio das macegas, continuamente aceso, ameaçava devorar-vos e vos disputava o ar respirável, extenuados pela fome, dizimados pelo Cholera que vos roubava em dois dias o vosso comandante, o seu substituto e ambos os vossos guias, todos esses males, todos esses desastres vós os suportastes numa inversão de estações sem exemplo, debaixo de chuvas torrenciais, no meio de tormentos e através de imensas inundações, em tal desorganização da natureza que parecia conspirar contra vós.
Soldados, honra a Vossa Constância que conservou ao Império os nossos Canhões e as nossas Bandeiras”!
O trabalho de escrita que tive naquela semana foi extraordinário. Embora ajudado na cópia pelo excelente companheiro Tenente Amaro Francisco de Moura, tinha que atender a tudo: relatar minuciosamente os fatos ocorridos ao Ministro da Guerra, aos Presidentes de Mato Grosso, Goiás, Minas e São Paulo; oficiar a muitas autoridades; organizar as partes dos Corpos, que incessantemente recorriam a mim; em suma, uma lida imensa, que me brigava a escrever o, dia inteiro, entrando por horas adiantada da noite e deixando-me exausto e com a cabeça oca.
Procurei ser sempre verdadeiro ao contar os sucessos e imparcial nos elogios que distribui. Tudo, tudo ficou entregue a mim, ao meu critério, à minha discrição e tenho consciência de não haver discrepado de uma linha.
Cinco dias de incessante atividade e todas as comunicações ficaram prontas, duplicatas feitas e cópias tiradas.
Despedi-me então do comandante José Thomaz Gonçalves e dos meus camaradas mais chegados, companheiros de tantas misérias e tamanhos padecimentos.
Baixote, gordo, cara vermelha e simpática, muito franco de modos, tinha aquele bom oficial de Infantaria condições para ser, como em toda a carreira foi, tão popular entre os soldados, a quem, contudo não poupava severidades e castigos. Nos combates mostrou sempre muita decisão e coragem e nos dias mais dolorosos da Retirada, nunca pôs de lado a habitual alegria.
Dando como de costume, gargalhadas enormes e que estrondavam longe, concorrendo esta continua e grossa alacridade para levantar o moral de não poucos dentre nós.
Sopitando a comoção que sentia, tratei de mostrar-me superior a ela, e as dez horas da manhã de 27 de junho de 1867, deixei o acampamento do Canuto, junto ao rio Aquidauana, em direção a Santana do Paranaíba , através do tão despovoado, quanto extenso sertão de Camapuã”.
Taunay, seu camarada e a pequena comitiva que o acompanhava chegaram a Capital do Império, Rio de Janeiro em 1 de agosto de 1867.
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Notas de Referências:
Notas de Referências:
[1] “Essas partes, publicadas na revista O Archivo, de Matto-Grosso, as dou publicidade neste folheto, graças á gentileza do 1º tenente pharmaceutico Emydio Joaquim Pereira Caldas que nos confiou para constituirem os documentos comprobantes da minha Conferencia” – Nota do Autor Lobo Vianna. A Epopeia da Laguna, 1938.
[2] Texto extraído do Livro Dias de Guerra e Sertão, Visconde de Taunay, 3ª Edição, publicado no ano de 1927, pela Editora Companhia Melhoramentos de São Paulo. São Paulo, Cayeiras, Rio. As alterações são de ordem ortografias, topográficas e algumas pontuações dos parágrafos.
Como obter os dados pessoais do Comandante José Thomaz Gonçalves? Local de nascimento: data, cidade, estado, etc.; estado civil; tempo/anos de caserna; lugares onde serviu; patentes e postos militares; homenagens militares e civis; local e data do falecimento. Os dados destinam-se a compor um folheto familiar - família Thomaz Gonçalves - a pedido de um familiar residente em Juiz de Fora-MG
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