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1 de outubro de 2014

MEMORIAL LAGUNA E DOURADOR - TRANSLADO RESTOS MORTAIS DO "GUIA LOPES" E OUTROS

UNIDADE VI
O TRANSLADO E O MONUMENTO AOS HERÓIS DE LAGUNA E DOURADOS


1. As Origens do Monumento

Praça General Tiburcio com o Morro da Urca ao fundo – Foto Arquivo dos Autores

Ao elaboramos este Memorial descritivo sobre o Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, tínhamos uma questão a responder: Porque foi feito o translado dos restos mortais do Guia Lopes, Coronel Camisão e Juvêncio para o Rio de Janeiro? Oferecemos aos leitores do nosso trabalho detalhes que provocaram este translado cuja origem inicia-se em 1929 e é concluído em 1941. Ressaltamos que o Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados foi inaugurado oficialmente em 1938 e os restos mortais depositados na cripta em 1941, depois de uma longa peregrinação. Lembramos ainda, que nesta data, as cidades de Guia Lopes da Laguna e Jardim, estavam no inicio de suas fundações.

Hoje, o CHRL, apresenta aspecto de relativa conservação, o que não ocorrida nos idos da década de 1930/40. Quando ouvimos algumas pessoas comentarem que deveria retorna para a origem os restos mortais, entre eles o do Guia Lopes, acreditamos, que após a leitura desta Unidade, mudarão de opinião, e que eles repousam em paz onde estão. Parte do texto seguinte fora escrito por Flamarion Pinto de Campos[1] com alguns comentários inseridos por nossas análises.

1 As origens do Monumento

“Em 20 de maio de 1920, no Clube Militar, o emérito professor General José Feliciano Lobo Viana, como dissera, “ante um seleto e intelectual auditório, não farto de quimeras não bordado de sonhos, mas tecido, rendilhado de realidades real” relembrou, com tintas vivas, o 53º aniversario da morte do Coronel Carlos de Moraes Camisão, e Tenente-Coronel Manuel Cabral de Menezes, respectivamente, chefe e vice-chefe do Corpo Expedicionário de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Amazonas, de 1865, que rumou para o norte do Paraguai, como revide a uma afronta à Pátria.

Aí presentes estavam: o representante do Presidente da Republica, Dr. Epitácio da Silva Pessoa; o Ministro da Guerra, Dr. João Pandiá Callogeras; Marechal João José da Luz, um dos sobreviventes da Retirada e da época, Alferes do 17º Batalhão Voluntários da Pátria; a Exma. Sra. Constança Elizza Camisão, irmã do Coronel Camisão; o Marechal Chefe do Estado Maior do Exército; o Chefe da Missão Militar Francesa. General Maurice Gamellin; oficiais generais; oficiais; juventude militar; senhoras e senhores.

O conferencista, em linguagem escorreita e fluente, faz um relato minucioso, completo, vivo e impressionante, da cruciante jornada da Laguna, o qual não só encantou sobremaneira e sensibilizou os quantos o ouviram como mereceu de imediato, do Senhor Ministro da Guerra, a determinação para a impressão de 2.000 exemplares desse primoroso trabalho, para distribuição a autoridades, quartéis, escolas e bibliotecas.

Essa conferência ultrapassou os umbrais do Clube Militar e repercutiu longe. Na imprensa, o “O Jornal” de 14 de junho de 1920, focalizou o assunto aí tratado, com esmero e patriotismo vigoroso, atendendo ao apelo do insigne mestre, para que se desse um aspecto condigno as sepulturas dos Heróis da Retirada da Laguna, abandonadas nos ermos de Mato Grosso, ao mesmo tempo em que convocava os brasileiros a tanto.


Praça General Tiburcio com o Pão de Açúcar ao fundo - – Foto Arquivo dos Autores

Na Escola Militar, entretanto, a repercussão foi ao máximo e o entusiasmo tomou conta dos alunos, ultrapassando todos os limites do mais sadio civismo. Ante esse estado de espírito da fina flor da juventude militar, o presidente da Sociedade Bibliotecária (SBA) aluno Osório Tuyuty de Oliveira Freitas, convoca uma reunião para tratar desse relevante assunto, a fim de se concretizar a idéia em ebulição, no dia 24 de Agosto de 1920. No decorrer da sessão, após acalorados pareceres, o aluno Napoleão de Alencastro Guimarães, propõe que “os membros da Diretoria da SBA e do Corpo Redatorial da Revista Cruzada, constituíssem a Comissão, para tratar do que estava em pauta”. Sem discussão qualquer e por aclamação, essa proposição foi aprovada unanimemente. Aí estava presente o 1º Tenente Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo, da Escola, que, aproveitando o ensejo faz a sua proposta “para que se saldasse, de maneira mais significativa, a dívida contraída pela Pátria, para com os Heróis da Laguna e de Dourados, erigindo-se-lhes um grande e majestoso monumento. Como a proposta anterior, mas vibrante e entusiasticamente e de pé, ela foi aclamada por unanimidade.

Ficou, então, de lado a reparação das sepulturas, senão a sua conservação condigna, até ulterior deliberação. No auge daquele ardor cívico, o aluno Tuyuty propõe para Presidente da Comissão o Tenente Cordolino. Sem discussão e de imediato, foi aceita essa indicação e aclamado por todos os presentes, o ardoroso oficial.[2] 

Após essa data, devida e respeitosamente convidada, é constituída a Comissão Julgadora do Projeto do Monumento, a qual se reúne com freqüência e é composta das seguintes personalidades: Dr. João Pandiá Callogeras, Ministro da Guerra e seu Presidente; Coronel Eduardo Monteiro de Barros, depois General de Brigada, comandante da Escola Militar; deputado Félix Pacheco, emérito jornalista; professor Correia Lima, da Escola Nacional de Belas Artes; 1º Tenente José Norival Francisco de Lemos, engenheiro militar, arquiteto e secretario da Comissão; 1º Tenente Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo, Presidente da Comissão Central do Monumento.

Esta Comissão elaborou, a seguir, o edital da concorrência para a construção do Monumento e sua seleção, o que se deu em 22 de Outubro de 1921.

O vencedor, dentre 15 concorrentes, foi o escultor brasileiro, Antonio Pinto de Mattos, com o pseudônimo: “Veritas et Labor”. O contrato foi assinado em 25 de outubro seguinte, no valor de 320:000$000 (trezentos e vinte contos de réis).


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

Todo o bronze já havia sido doado pelo Ministro Callogeras, que mandou recolhê-lo das fortalezas e fortes desativados de todo o Brasil.

O granito viria de Petrópolis.

Duzentos contos seriam para as esculturas e a fundição.

Cem contos para a arquitetônica.

Vinte contos para a construção do alicerce.

O pagamento seria parcelado, de acordo com as peças prontas na fundição Cavina e o andamento da obra, que tinha o prazo mínimo de vinte quatro meses e o máximo de trinta e seis meses para a sua entrega.

O local preferido, escolhido e designado pela Prefeitura, foi nos terrenos da Ponta do Calabouço, porque daí partiram as tropas para o Paraguai. O Prefeito Alaor Pata foi à Escola Militar em 26 de Julho de 1925 e, aí, recebeu uma caneta de ouro, para a assinatura do decreto de doação desse terreno, o que foi feito na sala da Sociedade Acadêmica Militar. Infelizmente, foi constatado, o terreno não suportaria o peso do Monumento, cerca de trezentas toneladas e, por isso, outro local seria designado.

Passou-se, então a trabalhar no sentido de conseguir-se outro local, o qual, após penosos, árduos e longos anos, foi encontrado na Praia Vermelha, onde está e bem localizado porque entre os morros da Babilônia e Urca, além, o Pão de Açúcar, ao fundo o mar e, de um lado a ECEME e do outro, o IME, formando e doutorando novos elementos de escol do Exército e recordando, com o carinho devido, a antiga Escola Militar da Praia Vermelha, que deu um sem-número de vultos de notável saber, mestres e chefes insignes, sempre presentes que nos legaram exemplos dignificantes!

Mas logo após as reuniões de 24 a 26 de agosto de 1929, na Escola Militar, começaram a ser expedidas as listas as autoridades, quartéis e para todo o Brasil, a fim de angariar donativos para a construção do Monumento.

Ao mesmo tempo, foi lembrado e solicitou-se ao Capitão Genserico de Vasconcellos, escritor militar, para que escrevesse algo para a venda em prol do Monumento e ele fez, especialmente a monografia: “Guerra do Paraguay no Theatro de Mato Grosso”, que teve grande acolhida e rendeu bem.

Do mesmo modo, a venda de cartões postais sobre a parada de 7 de setembro de 1922, mandados fazer pela Comissão, tiveram saída rápida e renderam bastante.

O Orçamento inicial foi de 200:000$000 (duzentos contos de réis). As primeiras contribuições nas listas dos alunos foram do:

· Dr. Epitácio da Silva Pessoa, Presidente da República, com um dia do seu subsídio 333$333 (trezentos e trinta e três mil e trezentos e trinta e três réis); 

· Do Dr. Pandiá Callogeras, então Ministro da Guerra, com um dia do seu subsídio, 327$226 (trezentos e vinte e sete mil e duzentos e vinte e seis réis);

· Do Dr. Arthur da Silva Bernardes, Presidente do Estado de Minas Gerais, com 100$000 (cem mil réis);

· E dos Quartéis, a primeira contribuição que chegou foi a do 1º Regimento de Infantaria.

· Em 1921, o Governo Federal contribuiu com a quantia de 100:000$000 (cem contos de réis);

· E do Conselho Municipal do então Distrito Federal com 50:000$000 (cinqüenta contas de réis).

Perfazendo nessa ocasião a arrecadação da importância de 230:709$429 (duzentos e trinta contos, setecentos e nove mil, quatrocentos e vinte e nove réis). Vibração intensa por isso! 

O encerramento da coleta dos donativos, no entanto, estava prevista, para o dia 15 de Janeiro de 1921 e a data para estar pronto o Monumento era para o centenário da Proclamação da Independência[3] do Brasil, 7 de setembro de 1922 e seria uma contribuição da Escola Militar para estas festividades do Calendário Cívico da Pátria.

Por motivos diversos e poderosos, isso não pode ser realizado e inicia-se então uma verdadeira Via Crucis[4] para todos aqueles idealistas que se dispuseram a levar avante a magnífica Obra em homenagem e gratidão aos Heróis da Pátria em defesa do solo das fronteira do sul da então Província de Mato Grosso: Dourados e Laguna, mais especialmente.

Os abnegados brasileiros, patriotas da linha de frente, não esmoreceram e nas pegadas do Mestre Cordolino, continuaram em campo, lutaram e venceram todos os obstáculos. Em fim, a Obra do Monumento foi iniciada.

Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

O Monumento, de autoria do escultor Antonino Pinto de Mattos, depois da base circular, vai subindo e se adelgaçando. No início da circunferência de 53 metros em granito branco de Petrópolis, forma o pé do Monumento, que serve de apoio à porção mais impressionante da obra estrutural. Nesta é que se desenha e ressalta emocionante e vívida, a seqüência dos fatos culminantes da Retirada:

· Um alto-relevo que se desdobra por 16,50 metros de extensão circular, por 1,80 metros de altura, representando a marcha forçada entre as estátuas de Antonio João e Guia Lopes;

· O salvamento dos canhões, entre esta e a do Coronel Carlos Moraes Camisão;

· E o transporte dos coléricos, onde está em evidência e bem esculpida a abnegada Ana Mamuda, entre a do Guia Lopes e a de Antonio João;


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

· Acima dessa, está, em pedestal quadrangular, a estátua da Pátria; correspondendo à do Guia Lopes, a da espada; acima da de Camisão, a da História.


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

· Subindo pelo centro, uma coluna granítica estilizada em tubo-alma de canhão, delgada, para não dar idéia de força, eleva-se a da Glória, que, lá de cima, emergindo dos episódios, símbolos e figuras apresentadas, alada, grácil, esplendorosa, dá a impressão de comunicação entre ela e aquelas cenas da dolorosa provação!

Ainda abaixo das três figuras máximas:


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

· Antonio João, Camisão e Guia Lopes, há três baixos-relevos de 1,30 x 1,00 metros, que relembram, respectivamente:

1º O Combate do Forte de Coimbra, no qual 167 homens e 11 canhões, do comando do Tenente-Coronel Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero, contra uma esquadrilha de doze navios, com cinco mil homens e sessenta e três canhões, do comando de Barrios, bateram-se denotadamente;

2º A Retirada de Oliveira Mello, o valoroso Tenente, que pelo pantanal, levou os habitantes de Corumbá e soldados, durante quatro meses, até Cuiabá, a Capital da Província Mato-grossense, salvando-os dos invasores;



Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados – Foto Arquivo dos Autores

3º E por fim, o combate do Alegre, revivendo a retomada do vapor Jaurú, pelo intrépido Tenente Balduíno, que saindo de Corumbá em direção a Cuiabá, perseguidos por dois navios paraguaios, foi capturado e pouco depois, reconquistado, vendo-se nesse baixo-relevo, ao fundo, Corumbá retomada e a figura do seu herói, Tenente-Coronel Antonio Maria Coelho.


Memorial aos Heróis de Laguna e Dourados - – Foto Arquivo dos Autores

Na base do Monumento há uma cripta, graças ao Exmo.sr. Ministro Eurico Gaspar Dutra que proporcionou os meios para a sua construção. Ali estão os restos mortais do Tenente-Coronel Carlos de Moraes Camisão, chefe da Expedição e vítima da Cólera morbus em 29 de maio de 1867; do Tenente Coronel Juvêncio Cabral de Menezes, subcomandante da Expedição, morto também no mesmo dia e do mesmo mal; do Guia Lopes, nome de Guerra imortalizado por Visconde de Taunay, no livro A Retirada da Laguna. O mineiro-sul-mato-grossense José Francisco Lopes; sertanista, profundo conhecedor dos sertões, principalmente do sudoeste do atual Estado de Mato Grosso do Sul e do Tenente Antonio João Ribeiro, valorosos heróis, inesquecidos da resistência de Dourados.

Fazendo um parêntese no contexto da História do país e nos panteões dos heróis, o Guia Lopes, é um dos poucos civis entre os militares que ocupam os altares dos homens devotados e imortalizados, não pelos seus defeitos e fraquezas, mas por atitudes de altruísmo, patriotismo, ao dever, sacrificando a própria vida. 

2 Os translados dos restos mortais

No principio de 1940, iniciou-se os translados dos restos mortais do Cemitério dos Heróis, município de Jardim-MS para a cidade de Aquidauna, utilizando as viaturas automotoras da época.

Da cidade de Aquidauana, então parte do Mato Grosso uno, no mês de Novembro de 1941, os restos mortais, do Coronel Camisão, Coronel Juvêncio, Guia Lopes, Tenente Antonio João embarcam em um vagão de trem especial com destino ao campo santo idealizado por devotados militares e colaborados do início da década de 1929.

O trem, em vagão especial, passando por diversas cidades, recebeu significativas homenagens do povo, militares, autoridades. Em Campo Grande recebera homenagem da 9º Região Militar e do povo. Durante o trajeto até São Paulo, receberam inúmeras manifestações cívicas, as mais calorosas e emocionantes, quando das paradas normais nas estações ferroviárias. Em São Paulo, as urnas foram levadas para a Igreja de São Bento, onde receberam homenagens, sendo celebrada uma missa e visitação do povo. 

Nessa ocasião, incorporou as urnas com os restos mortais vindos de Mato Grosso[5], a uma outra chegada de Alfenas, Minas Gerais, com os restos Mortais do General João Antonio da Costa Campos, Alferes do 21º Batalhão de Infantaria na Retirada da Laguna e pai do acompanhante desses despojos, o então Capitão de Artilharia Flammarion Pinto de Campos, do serviço de material bélico da 9º Região Militar.

Partiram de São Paulo no dia 14 de Novembro de 1941, acompanhadas de elementos da Comissão Central do Monumento, com manifestação expressiva da 2º Região Militar e do povo.


Praça General Tiburcio - Foto Arquivo dos A

No trajeto até o Rio de Janeiro, receberam carinhosas manifestações por onde passaram e pararam, chegando ao Rio de Janeiro, no dia 15 de Novembro de 1941, aniversário da Proclamação da República do Brasil[6]. Recebida solenemente as cinco urnas foram transportadas com escolta para o Monumento. Aguardava-nos, aí, o Dr. Getulio Vargas, Chefe do Governo; General Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra; Almirante Aristides Guilherme, Ministro da Marinha; Dr Joaquim Pedro Salgado Filho, Ministro da Aeronáutica; Bispo Dom Aquino Correa[7], orador oficial; General Góis Monteiro, oficiais generais, Tenente Coronel Cordolino, autoridades, oficiais, cadetes, escolas, estandartes de Organizações Militares (OM) e de associações varias e o povo. A solenidade transcorreu em ambiente de civismo, significativas culminando com o discurso de Dom Aquino, que proporcionou uma magnífica aula de História que sensibilizou e empolgou a todos os que ouviram.

O major Lopes Novais[8] assim proferiu em sua conferência em comemoração do dia da Retirada da Laguna e Morte do Guia Lopes: 

“Meus senhores, antes de encerrar a presente conferencia, compre-me prestar singela homenagem ao então Arcebisto de Cuiabá.Dom Francisco de Aquino Correia, lendo três estrofes de poema de sua autoria que fora lido na manhã do dia 15 de Novembro de 1941, por ocasião da cerimônia da transladação das cinzas dos bravos heróis da Laguna e Dourados para a cripta do monumento.


Dom Aquino Correa

Assim vós, ó heróis de minha terra,
Prostados pelo monstro atroz da guerra,
Viestes nesta praia repousar,
Onde hão de nos falar, eternamente,
Das vossas glórias a montanha e o mal

Camisão! Mártir do dever, que expiras,
Pedindo ainda a espada com que firas
A última pugna em prol dos teus ideais,
Guia Lopes! Espectro venerado
Dum novo Cid Campeador, salvando.
Quase morto, as bandeiras nacionais!

E lá, do pícaro do Corcovado, 
Numa apoteose imensa, lado a lado,
Cristo vos abre os braços, desde os céus, 
Que o bravo como vós, que de alma forte
Na fé e no dever, até a morte
Cai pela Pátria, voa para Deus”.

3 Nomes dos Homenageados através dos Medalhões dentro da Cripta

Dentro da cripta, há dez medalhões de bronze, que lá estão para relembrar, com esfinges, personagens de proa da épica jornada:

Tenente-Coronel Juvêncio Cabral de Menezes, chefe da comissão de Engenheiros; 
1º Tenente Alfredo D’Escragnolle Taunay, imortal autor da Retirada da Laguna e Secretário da Comissão de Engenheiros; 
Major de Comunicações José Thomaz Gonçalves, comandante do 21º Batalhão de Infantaria e substituto do Coronel Camisão após a sua morte; 
Tenente-Coronel Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero, Comandante do Forte de Coimbra, apresentou resistência a esquadra paraguaia solicitando a sua rendição; 
Tenente João de Oliveira Mello, comandante da Retirada de Corumbá; 
Capitão Pedro José Rufino, comandante interino do 1º Corpo de Caçadores a Cavalo; 
Major de Comunicações João Thomaz Cantuária, Comandante do Corpo Provisório de Artilharia; 
Tenente Coronel de Comunicações Antonio Enéas Gustavo Galvão, Comandante do 17º Batalhão de Voluntários da Pátria; 
Dr. Manuel de Aragão Gesteira, 1º Cirurgião da Expedição. 

Além desses medalhões individuais, há dois outros maiores onde estão inscritos os nomes, nove do primeiro e oito no segundo medalhão dos seguintes militares distinguidos da Expedição de Mato Grosso a Laguna.

No primeiro Medalhão são homenageados os seguintes militares em virtude dos seus serviços, atitudes heróica, patriótica no cumprimento do dever, são eles:

1. Tenente-Coronel José Antonio da Fonseca Galvão, que faleceu próximo ao povoado de Coxim, como 2º Comandante da Expedição, já Brigadeiro;

2. 2º Tenente de Artilharia Cesário de Almeida Nobre de Gusmão, comandante da 4ª Seção de Artilharia;

3. Capitão Antonio Florêncio Pereira do Lago, da Comissão de Engenheiros e assistente do Ajudante-General;

4. 1º Tenente de Artilharia João Baptista Marques da Cruz, comandante da 1ª Bateria;

5. Major José Maria Borges, fiscal do 17º Batalhão de Voluntários da Pátria;

6. Capitão Delfino Rodrigues de Almeida Pires Flores, valente Oficial da Guarda Nacional do 21º Batalhão de Infantaria;

7. Alferes de Comunicações Amaro Francisco de Moura, Secretário Militar das Forças;

8. 1º Tenente José Eduardo Barbosa, assistente do Quartel-Mestre-General;

9. Soldado Damazio, que salvou um canhão que caíra no rio Miranda.

No outro medalhão constam os nomes de oito homenageados entre civis e militares por atitudes de bravura, civismo, altruísmo, são eles:

Dr. Candido Manuel de Oliveira Quintana que desempenhava a função de 1º Cirurgião na Expedição; 
Capitão-Tenente Balduino José Ferreira de Aguiar, o bravo comandante do navio à vapor Amambahy, que salvou o pessoal do Forte de Coimbra, após heróica resistência.; 
Capitão Joaquim Ferreira de Paiva, digno Comandante do 20º Batalhão de Infantaria; 
Tenente do Estado Maior da 1ª Classe Catão Augusto dos Santos Roxo, Assistente do Quartel-Mestre-General; 
1º Tenente de Artilharia Napoleão Augusto Muniz Freire, Comandante da 3ª Seção de Artilharia e Bravo Soldado; 
Tenente-Coronel José Miranda da Silva Reis 1º Chefe da Comissão de Engenheiros da Província de Mato Grosso e, depois Ajudante-General junto as Forças; 
Tenente Joaquim Pinto Chichorro da Gama, da Comissão de Engenheiros; 
Anna Mamuda, o Anjo da Caridade. 

Ana Mamuda e outros

Soldado Damasio e outros

Ten. João de Oliveira Mello


1º Ten. Alfredo D’Escragnolle Taunay 


Major de Comunicações José Thomaz Gonçalves 


Ten. Cel. de Comunicações Antonio Enéas Gustavo Galvão


Ten. Cel. Juvêncio Cabral de Menezes

Os despojos, isto é, os restos mortais das urnas vindas de Alfenas no Estado de Minas Gerais e do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, em Mato Grosso foram depositárias das seguintes personalidades do teatro da Guerra que envolveu o Brasil e Paraguai, no Sul da Província de Mato Grosso.

Destacam-se no Sarcófago maior da Cripta, vindas do Mato Grosso:

1. Coronel Carlos de Moraes Camisão;
2. Tenente-Coronel Juvêncio Cabral de Menezes;
3. Tenente Antonio João Ribeiro[9];
4. José Francisco Lopes, o Guia Lopes.



No Sarcófago menor da direita, os restos mortais do:

1. General Costa Campos.

No Sarcófago menor da esquerda, destacam os restos mortais de:

1. Dr. Gesteira que viera da cidade de Ouro Preto, translado feito em Janeiro de 1939;

2. Dr. Quintana que viera transferido da cidade de Alegrete, no Estado do Rio Grande do Sul, em 27 de maio de 1978.

E neste ambiente augusto, de guarda, está a estátua de bronze de um Soldado de Cavalaria do Império, com sua lança perfilada, grandioso trabalho de Leão Veloso.

4 Fechando a Cripta

Fechando a cripta, há uma porta de bronze, na qual a estátua de bronze de um Soldado de Infantaria do Império, arma em posição de funeral, magnífico trabalho do escultor Calmon Barreto[10], doação feita pelo Dr. Arnaldo Guinle.

4.1 Material do Monumento

O material empregado na construção do monumento em homenagem aos heróis que faleceram no teatro de operações da Guerra em defesa do solo da Pátria Brasileira está resumido assim:

· Aproximadamente 300 toneladas de granito Branco oriundos de Petrópolis, Rio de Janeiro;

· Aproximadamente 20 toneladas de bronze proveniente das seguintes localidades: Tabatinga, Forte de Coimbra, Príncipe da Beira (MT); Cabedelo (PB); Desterro (SC); Barra e Rio de Janeiro; e outros, não citados pelo autor.

5. Inauguração Oficial do Monumento

A inauguração oficial do Monumento ocorreu no dia 29 de Dezembro do ano de 1938. Estavam presente a este ato solene as seguintes personalidades:

· Dr. Getulio Vargas, Exmo Sr. Presidente da República do Brasil;

· Ministros; autoridades generais; oficiais; cadetes; escolas; estandartes das OM; associações várias; tropas militares;

· Tenente-Coronel Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo, figura máxima desse empreendimento do memorial Histórico e também orador oficial, que encheu sua alma de alegria e extravasou, em puro civismo, o que transmitira aos presentes, pelo cumprimento da significativa missão que assumira em 1929 com os outros devotados companheiros e que naquele instante solene contemplava, senão genuflexo, mas com humildade cristã, como era de seu feitio, o coroamento da obra; e o seu discurso emocionou a todos.

· General Raphael Tobias de Souza Vasconcellos, herói e último sobrevivente, que na ocasião da Retirada da Laguna era Alferes do 17º Batalhão de Voluntários da Pátria, e aí nessa oportunidade feliz, foi condecorado pelo Governo com a medalha Ordem do Mérito Militar.

Assim, estava inaugurado o Monumento aos Heróis da Laguna e Dourados, fruto do esforço de uma plêiade de bons brasileiros, amantes da História, da Cultura, do Civismo e amor a Pátria. Exemplo a ser seguido pelas autoridades, estudantes e o povo do Nosso Estado de Mato Grosso, respeito e resgate dos locais sagrados por aqueles brasileiros que percorreram nos dizeres do Título da Obra do Historiador Acyr Vaz Guimarães – “Seiscentas Léguas a Pé” para a defesa das terras sul-mato-grossenses.


Praça General Tiburcio - Foto Arquivo dos Autores


Parque Histórico Colônia Militar de Dourados, em Antônio João (MS)
(www.exercito.gov.br/NE/1998/NE/ne9477/heroi477.htm)


Foto do Guia Lopes - Arquivo PH-CMD


Restos Mortais do Guia Lopes - José Francisco Lopes - antes dos translados









[1] Matéria extraída de Conferência proferida pelo autor, em 25 de dezembro de 1988, do Arquivo Histórico do Exército, ao ensejo do cinqüentenário da inauguração do monumento aos heróis de Laguna e Dourados, erguido na Praia Vermelha, Rio de Janeiro - RJ.

[2] Notas do autor do texto. É grato e justo relembrar, aqui essa primeira Comissão e elementos de outros mais, a seguir:
1920 – 

Presidente – 1º Tenente Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo.
Vice-Presidente – Aluno Osório Tuyuty de Oliveira Freitas
Primeiro Secretário - Aluno Mario Portella Fagundes
Segundo Secretário – Aluno Orlando Santiago (falecido em 1925)
Primeiro Tesoureiro – Aluno Pericles Telles Carneiro da Cunha
Segundo Tesoureiro – Ubirajara Galvão Paiva
Vogais: Aluno Scipião de Carvalho
Edmundo Macedo Soares e Silva
Aluno Arthur da Costa e Silva
Aluno Humberto de Alencar Castello Branco
Aluno Adaucto Castello Branco Vieira
Aluno Alcino Nunes Pereira
Aluno Olintho de França Almeida e Sá
Aluno Alberto Seggiaro
Aluno Ernesto Bandeira Coelho.

A partir de 1920 até o final da construção do Monumento e de sua inauguração, o Presidente foi sempre o 1º Tenente, depois Capitão, Major e Tenente Coronel Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo e o 1º Tesoureiro o subsecretário da Escola, Senhor João Carlos Martins, até 29 de Dezembro de 1938, quando se fez a liquidação das contas e a entrega do acervo ao Arquivo Nacional.

1921 – Vice-presidente – aluno Osório Tuyuty de Oliveira Freitas; 1º Secretário – aluno Mario Portella Fagundes.

1922 – Vice-Presidente - Salm de Miranda; Vogal – aluno Riograndino da Costa e Silva.

1923 – Vice-Presidente – Newton O’Reilly de Souza; Secretário Geral aluno Ramiro Pessoa Souto Mayor (falecido em 1925); Vogal – aluno Isaac Nahon.

1924 – Vice-Presidene – Aluno Djalma Leite de Rezendes (falecido em 1925); Secretario Geral Aluno Carlos Luiz Guedes; Vogais – Alunos Antonio Carlos da Silva Muricy e Isaac Nahon.

1925 – Vice-Presidente – Carlos Luiz Guedes; Secretario Geral Aluno Aurélio de Lyra Tavares; Vogais – Aluno Antonio Carlos da Silva Muricy e Isaac Nahon.

1926 – Vice-Presidente – Aluno Frederico Guilherme Klumb; Secretario Geral Aluno Érico da Fonseca Moraes; Vogais – Alunos Jacy Leite Guimarães e Flammarion Pinto de Campos.

1927 –Vice-Presidente – Aluno Aluízio de Andrade Moura; Secretario Geral Aluno Flammarion Pinto de Campos.

1928 – Vice-Presidente – aluno Sergio Bezerra Marinho; 2º Secretário aluno Flammarion Pinto de Campos.

1929 – Vice-Presidente – Aluno João Alberto Dale Coutinho; 1º Secretario Aluno Flammarion Pinto de Campos.

1930 – Vice-Presidente – Aluno Geraldo de Menezes Côrtes; Secretário Geral aluno Flammarion Pinto de Campos.

1931 – Cadete Flammarion Pinto de Campos.

1932 – Vice-Presidente – Cadete Umbelino Dornelles Vargas.

1934 - Vice-Presidente – Cadete Plínio Dornelles Vargas.

1935 – Vice-Presidente – Capitão Frederico Guilherme Klumb; 1º Secretário 1º Tenente Hugo Mendes Villela; Vogal 1º Tenente Flammarion Pinto de Campos.

1938 – Última Comissão:

Presidente - Tenente Coronel Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo;

Vice-Presidente - Capitão Juracy Montenegro Magalhães;

1º Secretário - Capitão Jayme Alves de Lemos;

2º Secretário - Capitão Hugo Mendes Villela;

Tesoureiro – Senhor João Carlos Martins;

Vogais – Capitão Cyro Perdigão da Silveira, Mario Guimarães Carneiro, Reynaldo Pessoa Sobral, Fabio de Castro, Cadete Gilberto Pessoa.

Aí, estão alguns dos prezados companheiros, dentre muitos outros, que deram o seu patriotismo e eficiente esforço, no sentido de ser atingido o tão sonhado objetivo de 1920.

[3] A Proclamação da Independência do Brasil é oficialmente comemorada no dia 7 de setembro, o ano da proclamação foi em 1822, por Dom Pedro I.

[4] Expressão para designar um longo caminho de peregrinação, de sofrimento, de luta, esforço, dificuldades; a caminho do calvário; caminho da Cruz.

[5] Até 11 de outubro de 1977, o Mato Grosso era um território uno, através da Lei Complementar n° 31 a Constituição Federal, divide o Território do Estado e no desmembramento, cria-se o atual Estado de Mato Grosso do Sul, daí, deve-se entender que todos os fatos históricos até esta data diz respeito a Mato Grosso, mesmo que ocorridos onde hoje faz parte do novo Estado, no caso deste estudo, os translados dos restos mortais dos nossos líderes vitimados durante os combates na Guerra do Paraguai.

[6] A República Brasileira foi proclamada no dia 15 de Novembro de 1889, pelo então Marechal Deodoro da Fonseca e demais, substituindo a forma de Governo Monárquica.

[7] Francisco de Aquino Correa, Bispo de Cuiabá, assumiu o Governo de Mato Grosso em 22 de Janeiro de 1918, no cargo de Presidente do Estado, até 1922, nos dizeres de Demosthenes Martins, História de Mato Grosso s/d. “Titular de nome consagrado nos cimos da cultura nacional”. Poeta, escritor, intelectual, religioso, político, filosofo, foi o criador da Academia Mato-grossense de Letras.

[8] Major Int. Jacy Lopes Novais – Conferencia pronunciada no circulo militar de Campo grande em 27 de maio de 1959, data do falecimento do Guia Lopes.

[9] Foto cedida pelo Centro de Informações Turísticas de Jardim. Original encontra-se no Quartel na cidade de Bela Vista (MS)

[10] Calmon Barreto nasceu em Araxá, em 1909. Ainda um menino de onze anos, deixou os sertões do Triângulo Mineiro e foi em busca de conhecimentos na antiga capital, Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1967. Na Casa da Moeda deram-se seus primeiros estudos de Arte. Lá, aprendeu o desenho e a gravura em aço. Breve estaria criando uma série de moedas (as chamadas vicentinas) lançadas em circulação em todo o país. Aos 14 anos, iniciou os estudos na Escola Nacional de Belas Artes, especializando-se em desenho e escultura. Depois de obter as premiações preliminares do Salão Nacional de Belas Artes conquistou, em 1929, o grande prêmio de viagem. Nos dois anos seguintes, cursou Escolas de Arte em Roma e peregrinou pelos museus de toda a Europa. Retornando ao Rio de Janeiro, passou a colaborar com as principais revistas e periódicos da Capital, criando cerca de mil e quinhentas ilustrações de contos, crônicas, livros etc. Também executou um grande número de esculturas, medalhões, camafeus etc. O monumento dedicado aos "Heróis da Laguna e Dourados" na Praia Vermelha é constituído por várias peças suas; a sede do Banco de Crédito de Minas Gerais

4 comentários:

  1. OBRIGADO, MEU GRANDE AVÔ PATERNO !!! JAMAIS PODEREI ESQUECER VOSSA AÇÃO EM ABNEGADA E HEROICA MISSÃO. HONRA-ME SER O DEPOSITÁRIO DE VOSSA CARTA PATENTE ASSINADA PELA PRINCESA ISABEL. VOSSO NETO, CORONEL DE INFANTARIA SÉRGIO AUGUSTO PINTO DE CAMPOS.

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  2. MEU AMADO E EXEMPLAR PAI, GENERAL DE DIVISÃO FLAMMARION PINTO DE CAMPOS, OBRIGADO POR DAR-ME A HONRA DE SEGUIR OS PASSOS DE VOSSO PAI E MEU AVÔ, MARECHAL DO IMPÉRIO JOÃO ANTÔNIO DA COSTA CAMPOS, BEM COMO O VOSSO EXEMPLO. CORONEL DE INFANTARIA SÉRGIO AUGUSTO PINTO DE CAMPOS.

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  3. OBRIGADO, MEU GRANDE AVÔ PATERNO !!! JAMAIS PODEREI ESQUECER VOSSA AÇÃO EM ABNEGADA E HEROICA MISSÃO. HONRA-ME SER O DEPOSITÁRIO DE VOSSA CARTA PATENTE ASSINADA PELA PRINCESA ISABEL. VOSSO NETO, CORONEL DE INFANTARIA SÉRGIO AUGUSTO PINTO DE CAMPOS.

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  4. Os restos mortais do tenente Antônio João Ribeiro deveriam voltar às suas origens

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