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29 de abril de 2017

À CAMINHO DO APA, LAGUNA PARAGUAI - 01 DE COXIM À MIRANDA

CAPÍTULO I
AS FORÇAS EM OPERAÇÕES NO SUL DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO
A marcha do Rio de Janeiro à Miranda no Mato Grosso (Sul) 1865-1866[1] 


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1- Um contexto preliminar

Para dar uma ideia[2], algum tanto exata, dos lugares onde, em 1867, ocorreram os acontecimentos cuja narrativa se vai ler, convém lembrar que, ao finalizar de 1864, havendo o Paraguai atacado e invadido, simultaneamente, o Império do Brasil e a República Argentina, achava-se, decorridos dois anos, após tal investida, reduzido a defender o próprio território, invadido do lado do sul, pelas forças conjuntas das duas potências aliadas, a quem coadjuvava pequeno contingente de tropas da República do Uruguai. Ao sul oferecia o caudaloso Paraguai mais vantagens à expugnação da fortaleza de Humaitá, que, pela posição especial, se convertera na chave estratégica do país, assumindo, nesta porfia encarniçada, a importância de Sebastopol, na Campanha da Crimeia.

Ao Norte, do lado de Mato Grosso, eram as operações infinitamente mais difíceis, não só porque ocorriam a milhares de quilômetros do litoral atlântico, onde se concentram todos os recursos do Brasil, como ainda por causa das inundações do rio Paraguai, que cortando na parte superior do curso terras baixas e planas, transborda anualmente, a submergir então regiões extensíssimas. Consistia o plano de ataque mais natural em subir as águas do Paraguai, do lado da Argentina, até o coração da república inimiga e, do Brasil, descê-las a partir de Cuiabá, a capital mato-grossense que os paraguaios não haviam ocupado.

Teria impedido à guerra arrastar-se durante cinco anos consecutivos esta conjugação de esforços simultâneos. Mas era-lhe a realização extraordinariamente difícil, devido às enormes distâncias a transpor. Basta lançar os olhos sobre um mapa da América do Sul e examinar o interior do Brasil, em grande parte desabitado, para que qualquer observador de tal se convença logo.

No momento em que se enceta esta narrativa, estava, pois, a atenção geral das potências aliadas quase exclusivamente voltada para o Sul, para as operações de guerra, travadas em torno de Curupaiti e Humaitá. Quanto ao plano primitivo fora ele mais ou menos abandonado; quando muito ia servir de pretexto a que se infligissem as mais terríveis provações a uma pequena coluna expedicionária, quase perdida nos imensos e desertos sertões brasileiros.

Em 1865, ao abrir-se a guerra que o presidente do Paraguai, Lopez, sem outro motivo mais que a sua ambição pessoal, suscitou na América do Sul, cobrindo-se apenas com o vão pretexto de nela manter o equilíbrio internacional, o Brasil, obrigado a salvaguardar a própria honra e a própria independência, dispôs-se denodadamente para a luta; lançou as vistas para todos os pontos em que podia operar contra o agressor. A invasão do Paraguai pelo Norte acendia naturalmente ao espirito; então, preparou-se uma expedição por esse lado.
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Notas de Referências:
[1]RELATÓRIO COMENTADO da Comissão de Engenheiros desde o rio Taqnary até a Villa de Miranda, com documentos anexos e trabalhos parciais de alguns ajudantes da mesma comissão junto ás Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso. 1866. Livro Em Mato Grosso Invadido, Visconde de Taunay, 1929. Pag. 58. 
Quando a coluna expedicionária chegou ao Coxim, passou a denominar-se Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, conforme autorizara o governo imperial. Nas correspondências expedidas pelo Coronel Camisão ao Senhor Albano de Souza Ozorio, Vice-Presidente da Província de Mato Grosso, também emprega esta denominação, Quartel do Comando das Forças em Operações ao Sul da Província de Mato Grosso, na Colonia de Miranda.
Dentro deste pressuposto, adoto em todos o conjunto das publicações esta denominação para designar este conjunto de Civis, militares, brancos, negros, mulatos, índios, homens, mulheres, crianças, animais, mercadores que estiveram envolvidos nesta Operação Militar que operaram no Norte da República do Paraguai e na Província do Mato Grosso.
[2] Nas primeiras edições era tido como Introdução. Na publicação francesa de 1891, Introduz como Capítulo Primeiro.
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a) As adversidades das Forças iniciam muito antes de entrarem em confronto no território do Paraguai

Infelizmente o projeto de diversão[3] tão bem concebido não se realizou em proporções adequadas à sua importância. Mas infelizmente ainda os contingentes acessórios com que se havia contado para engrossar o corpo de exército durante a sua marcha pelas províncias de São Paulo, Goias e Minas, falharam em grande parte ou vieram a desaparecer por efeito de cruel epidemia de varíola e pelas deserções que motivou. 

A marcha foi lenta! 

A demora dependia de muitas causas, e principalmente da dificuldade de fornecimento de víveres. Só no mês de julho, a saída da capital[4] dera-se em abril 1865, pôde a expedição ficar organizada em Uberaba, sobre o Paraná superior, em uma brigada mais ou menos regular, graças à junção de muitos corpos que o coronel José Antônio da Fonseca Galvão trouxera de Ouro Preto[5].

Não parecendo essa Força ainda suficiente[6], o comandante em chefe Manoel Pedro Drago dirigiu-a para a capital de Mato Grosso[7] para ali completá-la. Nesse intuito subira para nordeste até ás margens do rio Paranahyba[8], quando despachos ministeriais ali o alcançaram, levando-lhe ordem formal de marchar direto ao Distrito de Miranda[9], ocupado então pelo inimigo.

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Notas de Referências:
[3]Diversão, em francês “diversion”. Não possui aqui a significação de “Divertir”, mas em sentido militar: “Operação militar ou manobra que tem por fim desviar a atenção do inimigo do ponto que se pretende atacar”. ( http://www.dicionarioinformal.com.br/ entre outros. Jan. 2017)
[4] Na cidade do Rio de Janeiro estava localizada a Capital do Império do Brasil.
[5] Neste período correspondente ao Conflito com a República do Paraguai e o Império do Brasil, a cidade de Ouro Preto era a Capital da Província de Minas Gerais.
[6] O efetivo da tropa inclusive o reforço recebido, estimado por uns 2.500 homens combatentes, subdivididos em duas Brigadas. Dividiam-se essas duas brigadas: a primeira com 1.157 praças, composta do Batalhão Nº 17 de Voluntários mineiros, do Nº 21 de Infantaria de linha (paulistas) e do Corpo de artilharia do Amazonas; a segunda com 914 praças, do esquadrão de cavalaria de Goiás, do Nº 20 de linha da mesma província e dos voluntários policiais de S. Paulo e Minas Gerais. Faziam parte da coluna, uma comissão de engenheiros, outra de saúde, um auditor de guerra Dr. Gonçalves ele Carvalho, um sacerdote padre Antonio Augusto do Carmo, pessoal afeito às repartições de ajudante general e quartel mestre general, 34 oficiais de estado-maior, número sem dúvida superior às necessidades do serviço, mas que as moléstias, as retiradas e a morte em breve deviam diminuir e demasiado reduzir. Extraído do Livro Narrativas Militares, de Visconde de Taunay.
[7] O projeto inicial desta Expedição era marchar para Cuiabá, a Capital da Província de Mato Grosso com objetivo de obter reforços, alimentos, protege-la. E não para a região Sul fronteira com o Paraguai.
[8] O rio Paranaíba é um curso de água que nasce no estado de Minas Gerais, sendo um dos formadores do rio Paraná juntamente com o Rio Grande, no ponto que marca o encontro entre os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Na região Leste do Estado de Mato Grosso do Sul está localiza a cidade e Município de Paranaíba, que na Guerra do Paraguai, com a invasão e ocupação de áreas terrestres entre outras Nioaque, Miranda e Coxim foi de apoio logístico para a fuga dos civis envolvidos nesse conflito.
[9] Nota que o emprego do termo “Distrito de Miranda” é uma alusão não somente a Vila de Miranda, hoje cidade e Município do Mato Grosso do Sul, mas toda a regão Sul da Província de Mato Grosso banhada pelo Rio Miranda e uma vasta rede de córregos, rios, entre outros o Aquidauana, Taquarussu, Nioaque, Urumbeva, Canindé, Santo Antonio, Feio, Desbarrancado, Prata. Também Distrito de Miranda refere-se as povoações existentes na época, além dos aldeamentos indígenas nas regiões do Miranda e Aquidauana, haviam um número muito expressivo de propriedades rurais com benfeitorias, produções agrícolas e criação de animais. Os quatro principais núcleos populacionais eram a Vila de Miranda, a Vila de Nioac, a Colonia Militar de Miranda, a Colonia Militar de Dourados, todos alicerçados em bases militares. Haviam também pequenos portos fluviais, no Rio Brilhante e no Aquidauana.
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2- A marcha Coxim à Miranda os pantanais, as enfermidades, as mortes

Esta determinação, no ponto a que chegara o corpo de exército, trazia como consequência forçada obrigá-lo a tornar a descer para o rio Cochim e a contornar depois a cordilheira de Maracaju na sua base Ocidental que é todos os anos invadida pelas águas. A expedição estava condenada a atravessar a região das febres paludosas.


Chegamos a Cochim[10] a 20 de dezembro 1865, sob as ordens do coronel Galvão[11], recentemente investido do comando em chefe e que um tanto mais tarde foi promovido ao posto de general.

O acampamento de Cochim, sem valor algum estratégico, achava-se em uma elevação que lhe garantia salubridade, mas dentro em breve o crescimento das águas tendo-o cercado e isolado, a força viu-se ali submetida às mais cruéis privações, à própria fome.

Depois de longas hesitações forçoso foi arriscá-la por entre os pântanos pestilenciais do sopé das montanhas[12]. Foi a princípio presa das febres e uma das primeiras vítimas foi o próprio e mal-aventurado chefe[13] que perdeu a vida nas margens do rio Negro. 

Arrastou-se com extremas dificuldades até à povoação de Miranda[14].


Ali uma epidemia[15] climatérica de novo gênero, de que esse lugar se tornou foco, a paralisia reflexa, empenhou-se em dizimá-la ainda.

Quase dois anos inteiros haviam decorrido desde que nos partíramos do Rio de Janeiro[16]. 

Descrevêramos lentamente um imenso circuito de dois mil cento e doze quilômetros (trezentas e vinte léguas[17], conforme texto original), um terço da nossa gente perecera.

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Notas de Referências:
[10] Coxim, atualmente cidade e Município situada na região Norte de Mato Grosso do Sul.
[11] Brigadeiro José António da Fonseca Galvão. Pai do TC em Comissão Antonio Enéas Gustavo Galvão, que fora o Comandante do Batalhão Nº 17º de Voluntários da Pátria.
[12] A exploração do caminho entre Coxim e Miranda, por entre pantanais, brejos desde as margens do Taquari até os campos do Aquidauana, confluente do rio Miranda, numa extensão de cinquenta léguas, foi realizada pelo capitão Pereira Lago, 1º tenente Escragnolle Taunay, por ordem do então coronel José Antonio da Fonseca Galvão, comandante das Forças, conforme relatório geral da comissão de engenheiros junto às forças em operações ao sul da província de Mato Grosso, em 1866, publicado Em Matto-Grosso Invadido, 1929.
[13] Com a morte do Comandante José Antonio Galvão, em 13 de Junho de 1866, á margem do rio Negro, foi substituído temporariamente pelo Coronel Joaquim José de Carvalho.
[14] 60 léguas ao sul de Coxim. Na segunda quinzena de setembro de 1866 chegava nas ruínas da Vila de Miranda as Forças.
[15] NE - Neste primeiro momento duas enfermidades atacou as Forças em Operação. Meses depois foi a vez do Cholora Morbus a dizimar muitos outros combatentes. A epizootia dizimou praticamente quase toda a tropas de cavalos e muares. E o Beribéri atacou as tropas. O beribéri é uma doença nutricional causada pela falta de vitamina B1 (tiamina) no organismo, resultando em fraqueza muscular, alterações nervosas, cerebrais, cardíacas, problemas gastro-intestinais e dificuldades respiratórias. (http://www.abc.med.br/. Jan. 2017)
Essa Moléstia que causou verdadeiro terror no meio da Coluna tinha entre os soldados o nome popular de “perneira”, porque atacava em primeiro lugar os pés e as pernas. Era o Beribéri uma das suas formas. Desde os primeiros dias de sua invasão até as últimas vitimas em Nioac levou para cima de 400 homens, num total inferior a 3000. (nota nº 1 do Livro Em Matto-Grosso Invadido, pag. 75, edição de 1929
[16]Abril 1865 – Janeiro 1867. O número de vítimas neste trecho consumiu a metade do efetivo, conforme o autor: “Sem exageração, haviam morrido em menos de seis meses mais de 2.000 praças, sendo pequeno o desfalque por deserção, pois com a chegada do Batalhão de Voluntários goianos, no Coxim, se haviam reunido quase 4.000 homens”. Visconde de Taunay, Em Matto-Grosso Invadido. São Paulo 1929.
[17] NE -Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, de Caldas Aulete, de 1881, légua é medida itinerária cuja extensão varia segundo as épocas e países: 
6,6 km - Brasil, antigamente, chamada légua de sesmaria; o mesmo valor está em nota na edição francesa de 1891 - La lieue brésilienne a 6,600 mètres. Essa medida confere, com os registros deixados pelo Autor Visconde de Taunay no livro “Marcha das Forças”, no último Capítulo que registra as distâncias percorridas pelas Tropas Brasileiras. Editora Melhoramentos, São Paulo 1928.
Se tomarmos por base, 1 légua = a 6,6 Quilômetros. Então 320 x 6,6 = 2.112 km, aproximadamente.


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