7. Diminuição
de peixes é problema grave na região do Rio Paraguai
10/08/2014 08h45 - Atualizado em 11/08/2014
11h40
LINK PARA ASSISTIR O VÍDEO DIRETO DO SITE DO G1
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Equipe do Globo Rural percorreu o
Rio desde a nascente até Corumbá nas últimas semanas. Peixes são base da cadeia
alimentar do Pantanal.
José Hamilton Ribeiro e Eunice Ramos Do Globo Natureza, com
informações do Globo Rural
Uma das maiores riquezas do Rio Paraguai é a
incrível quantidade e variedade de peixes que vivem em suas águas. Peixes que
servem de alimentos a outros animais como aves, répteis e alguns mamíferos. É
uma das bases da cadeia alimentar. Sem peixe, a riqueza da fauna pantaneira não
existiria.
Para mostrar os peixes do rio, fomos a um afluente
do Paraguai, na fazenda Porto São Pedro. O mergulhador e documentarista de
natureza Lawrence Wahba acompanha a equipe de reportagem.
“Essa região tem três rios de água muito clara e
que possibilita a gente observar esses mesmos peixes que depois, quando vão
para o Rio Paraguai, não são observáveis, é difícil de filmá-los porque a
visibilidade é muito reduzida”.
O Paraguai é um rio com 270 espécies de peixes,
além de outros bichos mais assustadores, mas que nem se incomodam com a
presença da equipe. Um cardume de Corimbatás e uma arraia nadando rente ao
fundo do rio. Peixinhos coloridos contrastam com a vegetação aquática.
Um problema grave é que toda a riqueza aquática
está ameaçada. O dono da fazenda onde mergulhamos, Armando Lacerda, faz um
alerta: “existe uma sobrepesca no Rio Paraguai. Costumo dizer que o peixe não
está tendo descanso mais, durante o dia você tem uma intensa atividade de pesca
turística e durante à noite, os pescadores profissionais. Então, o peixe não
tem mais o direito de descansar”.
Muitas pessoas pensam como Armando. Na despensa de
um restaurante de Corumbá, MS, encontramos peixes de vários locais, nenhum da
região do Pantanal. Tinha filé de pintado de cativeiro, que veio de um criador
a 700 quilômetros de distância. Tambaqui, peixe da Amazônia e filé de Pangá, um
peixe do sudeste asiático, do Vietnã, do outro lado do mundo.
Hoje em dia, a pesca na região funciona assim: o
pescador profissional tem cota de 400 quilos de peixe por mês; o amador, o
turista, pode levar dez quilos de peixe e mais um exemplar – seja de que peso
for e ainda cinco piranhas. Além disso, todo ano tem tanto tempo de defeso,
quando é proibido qualquer pescaria.
Para alguns especialistas, é preciso um novo modelo
da fauna aquática pantaneira. O professor Thomaz Lipparelli foi chefe do
serviço de recursos pesqueiros de Mato Grosso do Sul durante muito tempo:
“Temos aqui um processo de gestão totalmente equivocado e que nós chegamos ao
limite da irresponsabilidade”, alerta.
Existe um projeto de lei no Congresso Nacional
propondo moratória de cinco anos na pesca do Pantanal para recuperar os
estoques. Apresentado em dezembro de 2011, o projeto ainda não foi votado. “É
uma medida, que já deveria ter sido tomada há pelo menos uns dez anos,
excelente. Com ele, nós vamos ter uma paralisação da atividade pesqueira, tempo
suficiente para que os estoques possam se recompor”, lembra o professor.
Além da pesca excessiva, existem outras ameaças,
como a construção de usinas e barragens nos afluentes do Rio Paraguai. Mais de
40 já estão funcionando. Um risco grande para os peixes que perdem locais de
abrigo, alimentação e reprodução. “Hoje existe a previsão de instalação de mais
de 120 empreendimentos hidrelétricos que, caso implementados, podem impactar de
forma muito significativa o Pantanal, inclusive com a falência de todo o
ecossistema”, diz o procurador da república Wilson Rocha.
A erosão das margens do Paraguai e afluentes é
outro ponto que afeta a qualidade da água do rio. A pesca esportiva no Paraguai
e seus afluentes é a grande atração do turismo no Pantanal. E ela sustenta
outro tipo de trabalho: fomos a Porto da Manga para conhecer os isqueiros,
gente que pega a isca que vai ser usada pelos pescadores.
A principal isca é o peixe Tuvira é estima-se em
2000 o número de coletores dessa isca no Pantanal. “A tuvira pega
pintado, pega todos os peixes de couro”, diz Eliene, isqueira.
A luta pela tuvira começa com uma caçada no mato
pra achar cupim. Mas tem que ser o cupim que está nas árvores, que tem bastante
bicho. O cupim que está no chão não serve para ser isca de pegar tuvira. Com a
isca da isca na bagagem, Eliene e o marido, Adão, chegam ao local do serviço.
A pesca da isca é arriscada pela presença de cobras
e porque só pode ser pescada no escuro. Se tudo correr bem, o casal consegue
tirar até R$ 200 por noite, mas também pode voltar pra casa de mãos vazias.
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