4. Margens
do Rio Paraguai no MS já foram berço de nações indígenas
03/08/2014 08h45 - Atualizado em 05/08/2014 11h06
Atualmente resta apenas um
pequeno grupo descendente dos índios guatós.
Terceiro episódio da série também mostra como é feita a sinalização do rio.
José Hamilton Ribeiro e Eunice Ramos Do Globo Natureza, com
informações do Globo Rural
O terceiro episódio da série sobre o Rio Paraguai
mostra uma região conhecida como Pantanal profundo. O Globo Rural percorreu o
Paraguai desde as nascentes até a divisa de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul,
e agora vai até Corumbá.
Os repórteres Eunice Ramos e José Hamilton Ribeiro
visitaram a comunidade dos índios guatós e acompanharam como é feita a
sinalização do rio.
Quando o Rio Paraguai se aproxima da divisa de Mato
Grosso com Mato Grosso do Sul, as águas se espraiam e formam uma grande baía.
Das nascentes até este trecho do rio, que faz
fronteira entre o Brasil e a Bolívia, o Rio Paraguai é exclusivamente
brasileiro. Um monumento sinaliza o início de um trecho onde de um lado é
Brasil e do outro já é a Bolívia.
Nesta região isolada, cada país tem seu
destacamento militar para vigiar a fronteira. O pelotão brasileiro ocupa uma
área de 400 hectares na Ilha Ínsua e atua ao longo de cem quilômetros do Rio
Paraguai, na vigilância do território.
A partir daí a morraria se torna mais saliente,
formando a Serra do Amolar: uma linha poderosa de montanhas. A serra tem 80
quilômetros de extensão e a planície em volta fica alagada praticamente o ano
todo. Apenas algumas centenas de habitantes vivem nesse Pantanal profundo.
A primeira notícia que o mundo teve sobre o Rio
Paraguai veio através do livro de um autor chamado Cabeça de Vaca. O navegante
espanhol subiu o Rio Paraguai até esse ponto conhecido como Pantanal profundo
em 1534 e foi anotando nas duas margens do rio a presença de nações indígenas.
Ele relacionou mais de 15 nações indígenas, vivendo ao longo do Rio Paraguai
neste trecho. Todas as etnias que o Cabeça de Vaca anotou foram exterminadas.
Atualmente, neste trecho só se encontra na Ilha
Ínsua um grupo renascido dos guatós. A Aldeia Guató tem um núcleo central com
um porto, casa do cacique, igreja, escola, o postinho de saúde. Os guatós são
conhecidos como os índios canoeirios. Hoje vivem no local cerca de 35 famílias.
Zequinha é um ‘guató de sangue’. “O guató é gente
boa, são educados por natureza. Os puros que tinham aqui, que criou sozinho
nesse matão, mas com tudo é uma delicadeza”.
Os guatós puros, como o Zequinha falou, o Globo
Rural conheceu há doze anos. Nossa reportagem mostrava a volta de um grupo de
guatós para cá, na beira do Rio Paraguai. Alguns poucos, ainda falavam a
língua, como Veridiano, antigo cacique, e duas irmãs velhinhas, que até
recordavam antigas canções guatós. Hoje, os velhos já se foram e os novos têm
dificuldade para falar o guató.
Severo Ferreira foi o líder que realizou essa
proeza, doze anos atrás. Mestiço de mãe guató e pai branco, cacique
Severo funcionou como um Moisés moderno para convencer seu povo a se reunir na
Ilha Ínsua. Hoje ele avalia o que melhorou nesse tempo.
“Melhorou bastante coisa, nós temos a luz, nós
temos a nossa escola, nós temos posto de saúde, temos água tratada também”,
comenta Severo Ferreira, cacique da tribo guató.
No entanto ainda faltam algumas coisas. “A gente
precisa de um trator bom pra limpar a terra e de uma pessoa que instruísse a
plantação para nós”, diz Severo Ferreira, cacique da tribo guató. Zequinha tem
outra reclamação. Ele diz que tem muita cobra no local, e que já foi picado
seis vezes.
Na Serra do Amolar, descendo o rio, se vê mais casa
de moradia e mais entrada de fazenda. Em uma delas mora Valdemar Magalhães,
morador típico da região. Valdemar passa bem o ano todo sem companhia.
Montou casa em Corumbá e lá ficam sua mulher e o filho e só se reúnem nas
férias.
“Aqui é ruim porque não tem comunicação. Se eu
tenho uma queda a cavalo ou acontece qualquer acidente aqui com uma pessoa, tem
que ir lá no Porto Chanel. Daqui até lá vai levar uma hora”, diz Valdemar
Magalhães.
Ao longo do rio, é possível observar os marcos.
Eles indicam o canal, o ponto mais favorável para navegar. A hidrovia do
Rio Paraguai vai desde Cáceres, Mato Grosso, e vai até Nova Palmira, no
Uruguai, e Buenos Aires, na Argentina, chegando ao Oceano Atlântico.
São 3.440 quilômetros. Desse total, 2.200
quilômetros de rio Paraguai. Serve a cinco países: Brasil, Bolívia, Paraguai,
Argentina e Uruguai. No Brasil, é a terceira maior hidrovia em volume
transportado.
Desde 1955, a Marinha é responsável pela
sinalização e atualização das cartas náuticas no trecho brasileiro.
"Principalmente o navegante mais modesto, o ribeirinho, que depende
principalmente do que ele vê, os sinais visíveis, essa sistemática de
balizamento é muito importante”, explica o capitão Rogério de Oliveira.
O monitoramento deve ser constante. Nos períodos de
chuva, ocorrem alterações nas margens do rio e nos bancos de areia. A própria
Marinha confecciona todo o material de sinalização do Rio Paraguai. São dezenas
de placas e balizas que são substituídas ou acrescentadas, de acordo com a
necessidade. Esse trabalho de sinalização da Marinha é fundamental para todo o
tipo de navegação, desde canoas usada pelos ribeirinhos, até barcos com
tecnologia e requinte para turismo e pesca esportiva.
Até mesmo o atendimento médico chega às comunidades
mais distantes de barco. Fomos de helicóptero até a Barra de São Lourenço, no
Pantanal, para conhecer esse serviço da Marinha.
O barco hospital da Marinha foi totalmente adaptado e equipado para atender os
ribeirinhos.
Para as famílias que vivem nesta região,
deslocamento para buscar atendimento médico é difícil e caro por causa da
distância. No barco, além dos exames, os ribeirinhos recebem remédio de graça,
vacinas e orientações para melhorar a qualidade de vida.
“É longe demais, não tem como, uma dor no dente,
uma febre, nós precisamos desse atendimento hospitalar aqui”, afirma Leonora
Ayres de Sousa, ribeirinha
"Tem paciente que a gente vê com 112 anos, sozinho numa casinha, na beira do rio, sem ter como ir pra cidade. Só da gente chegar lá, eles ficam contentes. A gente vê que eles precisam muito daquilo e isso emociona demais", declara Leonildo Peres Júnior, médico.
"Tem paciente que a gente vê com 112 anos, sozinho numa casinha, na beira do rio, sem ter como ir pra cidade. Só da gente chegar lá, eles ficam contentes. A gente vê que eles precisam muito daquilo e isso emociona demais", declara Leonildo Peres Júnior, médico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário