6. Disputa
pelo Rio Paraguai motivou guerra entre brasileiros e paraguaios
Edição do dia 10/08/2014
10/08/2014 09h00 - Atualizado em 11/08/2014 11h45
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Conflito foi o mais sangrento
entre países sul-americanos. Em quase seis anos, cerca de 50 mil brasileiros e
300 mil paraguaios morreram.
José Hamilton Ribeiro e Eunice Ramos Do Globo Natureza, com
informações do Globo Rural
A partir de Corumbá, conforme o Rio Paraguai vai
descendo rumo à foz, as histórias de um grande conflito se tornam mais
presentes. A Guerra do Paraguai começou há 150 anos. Em quase seis anos,
morreram entre 50 e 60 mil brasileiros – ou nas batalhas ou de doença. Do lado
paraguaio, os números são mais espantosos: 300 mil mortos.
Foi pelas águas do Rio Paraguai, na região de
Corumbá, que começou a invasão paraguaia, em 1864. A guerra durou mais de cinco
anos e se tornou o mais sangrento conflito entre países sul-americanos. De um
lado estava a chamada tríplice aliança, formada por Brasil, Argentina e
Uruguai. De outro, o Paraguai. O motivo central do conflito era a liberdade de
navegação pelo Rio Paraguai.
Os paraguaios chegaram a Corumbá pelo rio e tomaram
a cidade. A guarnição militar bateu em retirada e a população se escondeu onde
pôde. O escritor Hildebrando Campestrini, presidente do Instituto Histórico do
Mato Grosso do Sul e um estudioso deste conflito, explica: “Os paraguaios
chegam, saqueiam tudo o que tem valor e mandam para Assunção. O que é de menos
valor é distribuído entre eles. Os homens foram presos e mandados para o
Paraguai e as mulheres sofreram todos os abusos de uma guerra”.
A cerca de 100 quilômetros de Corumbá, rio abaixo,
fica o Forte Coimbra, erguido pelos portugueses em 1775. Ele foi invadido logo
no começo da guerra e ficou em poder dos paraguaios por três anos. “A esquadra
paraguaia se aproximou subindo o rio e a guarnição foi avisada, na verdade, por
um indígena, que observara essas esquadras subindo o rio e a guarnição já se
posicionou. O Brasil cedeu, porque eram 2300 homens contra 200 pessoas que
havia aqui no forte. Quando terminada a munição e terminados os mantimentos, o
comandante à época decidiu evacuar o forte para que não houvesse aqui um massacre”,
explica o major Cavalcante, comandante do Forte Coimbra.
Em Mato Grosso do Sul, o Rio Paraguai só passa por
dois municípios: Corumbá e Porto Murtinho, onde nas ruas da cidade estão
casarões antigos, monumentos homenageando os índios que viviam na região e uma
referência à natureza e ao tuiuiú, a ave símbolo do Pantanal.
No século XIX, a região viveu momento de riqueza
levada pelo comércio da erva-mate, uma planta nativa. A exportação para a
Europa e Estados Unidos era feita pelo porto Murtinho, no Rio Paraguai.
Com o declínio do comércio da erva-mate, outros
produtos ganharam destaque, como o charque e o tanino, extraído de algumas
espécies de árvores. O produto, usado no processo de curtimento de couro e na
fabricação de tintas e roupas, era exportado principalmente para países da
Ruropa. Atualmente, a maior fonte de renda do município é o turismo da pesca e
de natureza.
Em Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, está o Rio
Apa, o último afluente do Rio Paraguai em terras brasileiras. Foi na outra
margem do rio, já é solo paraguaio, que começou a ação militar do Brasil contra
a invasão de Mato Grosso. Uma coluna do exército brasileiro atravessou o Apa e
foi atacar Laguna.
O resultado dessa invasão foi um desastre e, pelo
menos, 2300 brasileiros morreram na fuga, de fome, de cólera ou abatidos pelo
inimigo. “A retirada da Laguna teve um objetivo simbólico muito importante:
invadir em retorno um país que nos tinha invadido. Teve também um objetivo
logístico, já que eles tinham notícias de que no retiro de uma fazenda próxima
havia uma grande quantidade de gado, que era o alimento consumido naquela
época”, explica o coronel Francisco Mineiro, estudioso da história militar.
A coluna chegou ao Paraguai com 1680 combatentes,
embora arrastasse, como era comum naquela época, cerca de cinco mil pessoas
entre os familiares dos militares, negociantes, mascates, fornecedores,
ferreiros e mulheres, as chamadas vivandeiras, que prestavam todo tipo de
serviço para os militares e eram remuneradas por isso.
“A invasão não deu certo porque à medida que a
coluna camisão se aproximava, os paraguaios retiraram todo o gado mais para o
lado de Conceição e a tropa ficou sem alimentação”, relata o historiador
Hildebrando Campestrini.
No lugar chamado de Cambaracê, aconteceu um dos
episódios mais tenebrosos da guerra do Paraguai. A coluna do exército
brasileiro que invadiu o país e foi até Laguna teve que bater em retirada.
Perseguida por soldados inimigos, a tropa, para andar mais rápido, abandonou no
local mais de 100 doentes e feridos, que foram mortos pelos paraguaios a facão.
Entre os abandonados, não havia nenhum oficial, só praças. Suspeita-se que a
maioria era de negros, daí a expressão paraguaia, Cambaracê, que quer dizer:
lugar onde o negro chorou.
O episódio produziu um herói diferente na guerra do
Paraguai. Deixado para morrer em Cambaracê, um mineiro se amoitou entre os
corpos dos companheiros e escapou. O cabo Calixto Medeiros tinha recebido um
tiro na cabeça e não se sabe se ele estava com cólera.
O sobrevivente esperou, escondido entre os mortos,
que os paraguaios fossem dormir e, engatinhando, foi até uma árvore onde estava
amarrado um cavalo paraguaio, montou e saiu passo a passo. “Ele tinha o
espírito de guerra, um patriota, tanto é que ele incorporou-se novamente à
coluna, alcançou a coluna e continuou participando da guerra”, explica o
jornalista e historiador Pedro Popó.
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